O corte da Selic em 0,75 ponto porcentual na noite de ontem, que pegou a maioria dos analistas e investidores de surpresa, somou-se à contínua incerteza política e à latente percepção de piora fiscal domésticas para colocar os ativos brasileiros na contramão do apetite por risco visto no exterior. O real voltou a ter o pior comportamento ante o dólar quando comparado a uma cesta de 34 moedas e a moeda dos EUA renovou máxima nominal histórica mais uma vez, ao subir 2,43%, a R$ 5,8409. Com a expectativa de que o Brasil terá, em breve, juro real negativo, uma vez que o Copom deixou a porta aberta para outro corte de 0,75 ponto em junho, e sem nenhuma outra forma de atrair recursos diante da deterioração das projeções para a atividade, houve novo fluxo de saída de dólares. E o avanço, o quinto consecutivo, só não foi maior porque o Banco Central atuou por duas vezes via oferta de swaps: perto do meio do dia e já nos minutos finais, quando a moeda era negociada a R$ 5,86, próxima das máximas do dia. No ano, a moeda dos EUA já sobe quase 46% ante o real. O câmbio pressionado e a leitura negativa sobre a política fiscal brasileira foram combustível para ampliar a inclinação técnica que a curva de juros futuros já tenderia a sofrer após a decisão do Banco Central. Enquanto as taxas curtas tiveram queda, ainda que limitadas pelo dólar, os vencimentos longos acumularam ao redor de 20 pontos em prêmios, num claro sinal de piora de percepção sobre o País, o que, inclusive, pode comprometer os efeitos do afrouxamento monetário. Tanto que, apesar das expectativas majoritárias de corte de 0,75 ponto da Selic em junho captadas em levantamento do Projeções Broadcast, os juros terminaram o dia precificando 44% de chances de afrouxamento de 0,25 ponto e outros 56% de possibilidade de 0,50 ponto. Na hora do almoço, declarações do presidente Jair Bolsonaro, de que seguiria a recomendação do ministro da Economia, Paulo Guedes, e vetaria a possibilidade de reajustes a servidores que foi incluída no projeto de socorro a Estados e municípios aprovado no Congresso minimizaram o mau humor, mas foram rapidamente absorvidas. O Ibovespa, que abriu o dia com ganhos, alinhado a Nova York, e virou para o negativo no fim da manhã, chegou a retomar o sinal de alta no começo da tarde, após esse sinal positivo para o fiscal e para o titular da Economia, que surgia como o grande derrotado nessa história. Mas a percepção ruim sobre a atividade, com novas revisões em baixa para o PIB e aumento forte no número de mortes e casos de coronavírus, e a política no Brasil se sobrepôs na sequência e a Bolsa terminou o pregão com baixa de 1,20%, aos 78.118,57 pontos. Em Wall Street, a despeito da queda do petróleo, a perspectiva de reabertura gradual da economia dos EUA e o avanço de papéis de tecnologia e serviços de comunicação puxaram para cima os principais índices, com destaque para o Nasdaq.
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