WALLER ESFRIA APOSTAS DE CORTE MAIS INTENSO DO FED E GERA ONDA DE AVERSÃO AO RISCO

O humor do mercado, que já estava ruim desde a manhã, piorou sensivelmente à tarde
após declarações do diretor do Federal Reserve Christopher Waller contrárias a uma
redução mais intensa dos juros nos Estados Unidos. De acordo com ele, ocorrerão três
reduções de 25 pontos-base nos Fed Funds em 2024, num total de 75 pontos. O cenário
do dirigente, que tem poder de voto permanente no Comitê Federal de Mercado Aberto
(Fomc), contrasta com o que o mercado trabalhava, de redução até 175 pontos este ano.
Somada a dados que mostram a resiliência da economia americana na virada do ano, a
fala de Waller se tornou um gatilho para uma liquidação em posições muito otimistas
com o corte de juros do Federal Reserve – embora não as tenha eliminado do cenário. A
curva da CME apontava ao fim da tarde 66,9% de chance de redução de juros em março
(de 81,0% ontem), enquanto o ciclo total precificado era de baixa de 150 pontos este ano.
Os juros dos Treasuries mais longos também tiveram forte avanço, com a T-note de 10
anos atingindo 4,056%. As bolsas caíram e o índice DXY chegou a 103,357 pontos no
fechamento (+0,74%). No Brasil, os ativos seguiram a tendência externa. Os juros futuros
saltaram 20 pontos em alguns dos principais vértices. No Ibovespa, o sinal de baixa foi
quase unânime. Somente um papel (SLC Agrícola, +1,97%) dos 87 da carteira teórica
subiu. O índice recuou aos 129.294,04 pontos (-1,69%). O dólar à vista deu uma
arrancada e terminou o dia em R$ 4,9256 (+1,22%), maior nível em um mês.
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•JUROS
•BOLSA
•CÂMBIO
MERCADOS INTERNACIONAIS
Os retornos dos Treasuries renovaram o fôlego ao longo da tarde, após o diretor do
Federal Reserve (Fed) Christopher Waller sinalizar cortes nos juros americanos a nível
menor do que o precificado atualmente pelo mercado para o acumulado de 2024. A força
dos rendimentos impôs pressão às bolsas de Nova York, que fecharam em queda após
um pregão inteiro negativo. O cenário, por sua vez, foi positivo para o dólar, que subiu ante
divisas fortes e emergentes, enquanto o dólar blue renovou recorde de alta ante o peso
argentino. Assim, o petróleo ficou misto na sessão, com conflitos geopolíticos no Oriente
Médio, tema este mencionado durante reunião no Fórum Econômico Mundial, em Davos,
que também trouxe a política monetária global como foco.
Durante evento, Waller, que tem poder de voto nas decisões do Fed, afirmou que o
cenário da inflação americana poderá permitir que o BC americano corte os juros em 75
pontos-base em 2024, menor que os 175 pb previstos anteriormente pelo mercado,
segundo a ferramenta FedWatch do CME Group.
Com as falas, entretanto, o cenário mudou para o mercado, que passou a prever uma
redução menos robusta da taxa dos Fed Funds, de 150 pb. No fim da tarde, a plataforma
ainda registrava chance mais forte de um relaxamento de 150 pb (37,4%) em 2024, ante
29% de ontem. Já a possibilidade de um corte de 175 pb era de 35,8%, ante 39,3%. Já para
a expectativa de corte de 25 pb em março caiu de 76,9% a 65,2% de ontem para hoje,
enquanto a possibilidade de manutenção subiu de 19% a 33,1%.
Apesar do discurso, o Goldman Sachs destaca que a fala não levou a nenhuma alteração
na sua previsão de que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês)
deverá realizar três cortes consecutivos na taxa em março, maio e junho, antes de
desacelerar para reduções trimestrais. “No entanto, vemos os comentários de Waller
como um aumento do risco de que o primeiro relaxamento monetário possa ocorrer um
pouco mais tarde ou de que o FOMC possa preferir cortar uma vez por trimestre desde o
início”.
De qualquer forma, os comentários ajudaram a impulsionar os retornos dos Treasuries,
apesar de não o bastante para renovar as máximas em várias semanas, testadas no
começo do mês. No entanto, o Bank of America (BofA) prevê que os retornos
permanecerão atrativos, mas destaca que o juro da T-note de 10 anos deverá ficar no nível
entre 3,75% e 4,25% no médio prazo. No fim da tarde, o retorno da T-note de 2 anos subia
a 4,240%, o da T-note de 10 anos avançava a 4,056% e o do T-bond de 30 anos tinha alta a
4,302%.
O avanço dos rendimentos pressionou ainda mais os mercados acionários no exterior,
que já eram pressionados por ações importantes, como a Apple (-1,23%). O papel da
gigante do iPhone foi prejudicado após a Suprema Corte dos Estados Unidos rejeitar um
recurso da companhia em um processo da desenvolvedora Epic Games, decisão que se
juntou ao fato de que a fabricante vem oferecendo descontos em seus modelos mais
recentes do aparelho na China, em um sinal de demanda enfraquecida. Já a Jetblue subiu
4,91% e a Spirit Airlines despencou 47,09%, após juiz federal americano barrar acordo de
fusão das empresas.
Da mesma forma, balanços de grandes bancos americanos também puxaram para baixo
os índices de Nova York, após o Morgan Stanley (-4,16%) apresenta queda no lucro no
quarto trimestre de 2023, enquanto o Goldman Sachs, apesar de ter operado em queda
durante grande parte da tarde, fechou em alta de 0,71%, após ter superado previsões de
lucro e receita no mesmo período. Entretanto, outras instituições não tiveram a mesma
sorte, como o Bank of America (BofA) (-2,07%) e o Citigroup (-1,43%). Assim, o índice Dow
Jones cedeu 0,62%, o S&P 500 caiu 0,37% e o Nasdaq teve queda de 0,19%.
Por outro lado, o dólar se manteve em alta ante rivais, com o euro prejudicado por falas de
dirigentes do Banco Central Europeu (BCE). Em Davos, o presidente do BC da França,
François Villeroy de Galhau, previu que o BCE provavelmente cortará juros neste ano,
apesar de não dar detalhes de quanto, enquanto o dirigente Mario Centeno não descartou
um corte e disse que todas as opções devem ser discutidas.
Para o Brown Brothers Harriman (BBH), ao longo das últimas semanas, as leituras da
economia dos EUA têm sido majoritariamente positivas e, por isso, “continuamos a
acreditar que as atuais expectativas de flexibilização do mercado ainda precisam de se
ajustar significativamente”. Por volta das 18h (de Brasília), o índice DXY, que mede a divisa
dos EUA ante seis rivais fortes, avançou 0,74%, a 103,357 pontos. No mesmo horário, o
euro caía a US$ 1,0872, a libra cedia a 1,2632 e o dólar subia a 147,23 ienes.
Já entre emergentes, o dólar blue subiu 4,42%, a 1180 pesos argentinos, segundo o jornal
Ámbito Financiero, enquanto o presidente do país, Javier Milei, está em Davos – apesar de
notícias de que ele não falará sobre o país, mas sim sobre suas ideias libertárias.
Neste contexto, o petróleo ficou misto, após a Dow Jones Newswire reportar que a Shell
suspendeu por tempo indeterminado o transporte de produtos pelo Mar Vermelho, mas
de olho em preocupações com a demanda. “Surpreendentemente, a escalada mais
recente das tensões no Oriente Médio não provocou um salto nos preços [do petróleo].
Achamos que isso se deve ao fato de que, até agora, a produção de petróleo não foi
afetada”, comentou a Capital Economics. Na Nymex, divisão de metais da New York
Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para fevereiro caiu 0,38% (US$ 0,28), a US$
72,40 o barril. Na Intercontinental Exchange (ICE), o Brent para março fechou em alta de
0,24% (US$ 0,14), a US$ 78,29 o barril.
JUROS
Os juros futuros avançaram em bloco nesta terça-feira, com altas de quase 20 pontosbase nos trechos intermediário e longo da curva. O firme aumento dos rendimentos dos
Treasuries deu o tom para o mercado doméstico de renda fixa. Investidores passaram o
dia calibrando apostas na trajetória da política monetária americana.
Lá e aqui, as taxas subiram desde a manhã, mas ganharam novo impulso à tarde, com
declarações do diretor do Federal Reserve (Fed) Christopher Waller. Em um evento nos
Estados Unidos, ele disse ver espaço para apenas três cortes de juros de 0,25 ponto
porcentual este ano – bem menos do que o precificado na curva de juros.
Depois dos comentários, a taxa da T-Note de dez anos foi a uma máxima de 4,079%, o
maior patamar intradiário desde 13 de dezembro. Aqui, o juro do mais negociado contrato
de depósito interfinanceiro (DI) do dia, para janeiro de 2026, subiu até 9,815%, 0,19 ponto
porcentual acima do ajuste anterior, de 9,628%.
O movimento amainou ao longo da tarde, mas, no fim do dia, a taxa do DI para janeiro de
2026 ainda era de 9,810%, 0,18 ponto maior que no ajuste. O DI para janeiro de 2025
passou de 10,054% no ajuste para 10,135%, e o para janeiro de 2027, de 9,761% para
9,965%. A taxa do contrato para janeiro de 2029 passou de 10,163% para 10,360%.
O diferencial entre os contratos para janeiro de 2025 e janeiro de 2029, métrica da
inclinação da curva, passou de 10,9 pontos-base no ajuste de ontem para 22,5 pontos no
fechamento de hoje.
A maior parte das taxas fechou no maior nível desde 12 de dezembro. Com a alta de hoje,
a curva passou a precificar uma taxa Selic de 9,50% no fim de 2024, ante 9,25% na última
sexta-feira, segundo os cálculos do economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano.
Para a próxima decisão do Copom, na semana que vem, a precificação é de corte de 0,5
ponto.
Para o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal, a alta das taxas, hoje, é
explicada principalmente pelos ajustes nas apostas de cortes de juros nos Estados
Unidos. Esse movimento vem após um rali que derrubou os juros, lá e aqui, em dezembro,
depois de sinais mais dovish do Fed, lembra.
“De fato, talvez o mercado tenha sido otimista demais com o que o Fed iria fazer, inclusive
porque a previsão dos próprios dirigentes é de três cortes ao longo deste ano, e o
mercado está precificando seis”, afirma o analista. “O mercado quer apostar em seis
cortes, mas vira e mexe tem uma reversão parcial desse sentimento, e hoje é um bom
exemplo disso.”
Leal lembra que mesmo números mais fracos de atividade americana ficaram em
segundo plano hoje, mesmo que, em teoria, pudessem sinalizar espaço para redução dos
juros. O índice Empire State de atividade industrial, elaborado pelo próprio Fed de Nova
York, caiu de -14,5 em dezembro para -43,7 em janeiro – bem mais do que o consenso do
mercado, de -6,5.
Aqui, a incerteza fiscal continua em segundo plano, segundo o estrategista, apesar de
poucos impactos diretos. “Sempre volta a discussão sobre a questão fiscal, apesar dos
poucos acontecimentos, mas todo mundo fica mais reticente em tomar risco enquanto
não tem mais clareza”, explica.
O estrategista da RB Investimentos Gustavo Cruz também atribui o movimento dos juros
domésticos hoje à alta dos Treasuries, que influencia a precificação de cortes da taxa
Selic. “Por mais que alguns falem que não, uma demora maior em cortar os juros
americanos também faria com que o BC daqui fosse mais devagar”, afirma.
Para o analista, é improvável que o Fed consiga começar a cortar juros já em março –
inclusive, levando em conta que os próprios dirigentes do BC americano têm dito não
esperar por isso. Cruz afirma que, caso o ciclo comece no meio do ano e o Fed diminua os
juros à casa de 4% no fim de 2024, o saldo já será positivo
BOLSA
O Ibovespa perdeu a linha de 130 mil pontos, encerrando o dia no menor nível desde 12
de dezembro passado – também o primeiro fechamento de 2024 abaixo daquele limiar -,
hoje aos 129,2 mil. Nesta terça-feira, o índice da B3 oscilou dos 129.146,61 aos
131.516,52 pontos, saindo de abertura aos 131.514,92 pontos – ou seja, praticamente
operou apenas no negativo ao longo do dia. O giro desta terça-feira, pós-feriado nos
Estados Unidos, subiu a R$ 23,5 bilhões. Nas duas primeiras sessões da semana, o
Ibovespa recua 1,29%, com perda a 3,65% no mês.
O dia foi de correção bem distribuída pelas ações de maior peso no índice, como Vale
(ON -1,30%), Petrobras (ON -1,10%, PN -1,24%) e as de grandes bancos (Bradesco ON –
1,60%, Santander Unit -1,75%, Itaú PN -1,41%), além das siderúrgicas (CSN ON -3,64%,
Gerdau PN -2,82%). Apenas uma (SLC Agrícola +1,97%) das 87 ações que integram a
carteira teórica do Ibovespa conseguiu evitar perdas na sessão. Em porcentual, a queda
de 1,69% no fechamento desta terça-feira, aos 129.294,04 pontos, foi a maior para o
Ibovespa desde 21 de setembro (-2,15%).
Na ponta perdedora na sessão, destaque para Soma (-6,18%), Cosan (-6,14%), Azul (-
5,28%), Raízen (-5,25%) e Pão de Açúcar (-4,80%). A aversão a risco desde o exterior
resultou em pressão sobre o câmbio nesta terça-feira – elevando o dólar a R$ 4,93 na
máxima do dia – e também na curva de juros doméstica, que respondeu ao ajuste nos
rendimentos dos Treasuries: combinação que levou o Ibovespa a renovar mínimas da
sessão ao longo da tarde, chegando a cair 1,81% no pior momento.
Em Nova York, os três principais índices de ações fecharam em baixa, com Dow Jones à
frente (-0,62%) nas perdas. O dia foi marcado pelo prosseguimento da reprecificação de
expectativas quanto aos juros do Federal Reserve, com efeito direto para a curva futura
nos Estados Unidos e resquícios para a dos DIs, no Brasil. Os rendimentos dos Treasuries
voltaram a operar acima do limiar de 4% nesta terça-feira, desde vencimentos curtos,
como o de 2 anos, a 4,26% na máxima da sessão, como também nos mais longos, de 10
anos (4,07%) e 30 anos (4,32%).
“Dia negativo para os ativos de risco lá fora, com os juros abrindo e, também, apreciação
global para o dólar. Nesta semana, a política monetária permanece no foco das atenções,
com falas de autoridades de BCs, como o da zona do euro (BCE), expressando cautela
quanto aos juros, sobre quando poderão começar a cair. E hoje, nos Estados Unidos,
Christopher Waller [diretor do Fed] ainda mostrou cautela com relação aos juros
americanos”, diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas. Ele acrescenta que
o noticiário doméstico, sem muitas definições e em marcha lenta, reforça a reação dos
ativos do Brasil a desdobramentos externos.
Nos Estados Unidos, Waller observou que a inflação parece estar retornando à meta de
2%, com reequilíbrio no mercado de trabalho, e dados recentes positivos, o que deve
permitir ao Federal Reserve cortar os juros de referência em 75 pontos-base em 2024 – o
correspondente a três reduções de 25 pontos-base, até dezembro.
Após a fala de Waller, no começo da tarde, a curva de juros americana mostrou redução
significativa das apostas em relaxamento monetário agressivo nos EUA este ano. Antes
das declarações, o mercado trabalhava com cenário mais provável de 175 pontos-base
em redução da taxa básica do Fed até dezembro – ou seja, sete cortes se for considerado
o ritmo de baixa em 25 pontos-base por reunião. Com o ajuste na curva visto nesta terçafeira, a hipótese mais forte passou a ser de alívio um pouco mais suave, de 150 pontosbase (seis baixas de 25 pb), opção que cresceu de 29%, ontem, para 39,4% nesta tarde.
Em Nova York, contribuindo para enfraquecer o apetite dos investidores por risco, a atual
temporada de resultados trimestrais dos grandes bancos americanos tem se mostrado
“mista”, observa Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos, destacando, nesta terçafeira, os números apresentados pelo Morgan Stanley, com queda de lucro, o que resultou
em perda de quase 5% para a ação do banco durante o dia. “Os resultados dos bancos
têm mostrado a sensibilidade do setor ao nível de juros por lá, que permanece o maior em
15 anos”, acrescenta.
18:21
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 129294.04 -1.69317
Máxima 131516.52 -0.00
Mínima 129146.61 -1.81
Volume (R$ Bilhões) 2.34B
Volume (US$ Bilhões) 4.78B
18:21
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 130085 -1.91517
Máxima 132030 -0.45
Mínima 130015 -1.97
CÂMBIO
A percepção de que os juros dos Estados Unidos podem cair mais lentamente do que o
mercado espera, somada às preocupações dos investidores com o ritmo de crescimento
da China e com o conflito no Mar Vermelho, que aumentaram a aversão ao risco e a busca
por ativos considerados seguros, favoreceram o dólar em escala global, levando a moeda
americana a subir mais de 1% na comparação com o real.
O dólar à vista subiu 1,22%, a R$ 4,9256, mas na máxima intradia atingiu R$ 4,9333
(+1,37%). O contrato futuro da moeda para fevereiro subia 1,54%, aos R$ 4,9390, por volta
das 18h20, mas na cotação mais alta do pregão chegou a R$ 4,9430 (+1,62%).
No final do ano passado, os investidores aumentaram as apostas de que o Federal
Reserve começaria a reduzir os juros rapidamente a partir de março, mas nas últimas
semanas parte desta expectativa se desfez, tanto por indicadores apontando para a
resiliência do mercado de trabalho e de alguns componentes da inflação quanto por
declarações das autoridades do banco central americano sugerindo que a instituição
será conservadora ao afrouxar a política monetária.
Hoje, foi mais uma destas falas que ajudou a dar força ao dólar. Christopher Waller, um
dos diretores do Fed, disse que a inflação nos Estados Unidos parece estar retornando à
meta de 2% e que isso deve abrir espaço para cortes nos juros do país. A previsão dele,
porém, é de um recuo de 75 pontos-base em 2024, enquanto o mercado espera
praticamente o dobro de cortes, segundo dados da Ferramenta CME FedWatch.
A declaração de Waller desapontou o mercado, segundo Gabriel Meira, economista da
Valor Investimentos, em particular porque Waller sugeriu não ver motivos para acelerar o
ritmo de cortes enquanto os indicadores não justificarem este movimento. “Como a gente
tem visto economia em pleno emprego, desemprego demorando a voltar, inflação
controlada mas nem tanto, veio esse balde de água fria”, acrescentou.
Diante disso, as taxas dos Treasuries renovaram as máximas intradia, o que ajudou a
impulsionar o dólar. “Depois da fala dele o mercado piorou. O dólar subiu mais, tanto na
comparação com o real quanto o DXY”, disse Apolo Duarte, head de renda variável e sócio
da AVG Capital. “É mais uma valorização do dólar do que uma queda do real”,
acrescentou.
Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank, ressaltou que há dúvida também sobre a
trajetória dos juros na Europa, o que também contribui para fortalecer a moeda
americana. “Isso acaba gerando incerteza e, portanto, pressão no câmbio.”
O dólar, porém, já subia desde cedo, diante do clima de aversão ao risco no exterior na
volta do feriado nos Estados Unidos, com o mercado monitorando atentamente o conflito
no Mar Vermelho, onde ataques do grupo armado Houthi a navios atrapalham as rotas de
comércio marítimo e aumentam a tensão entre os Estados Unidos e o Irã, e à espera dos
dados sobre a atividade econômica da China que serão publicados hoje à noite.
Quartaroli ressalta que, embora o governo chinês tenha antecipado que a economia do
país cresceu 5,2% em 2023 – mais que a meta de 5,0% -, o mercado continuou receoso
porque quer ver também os indicadores de produção industrial e de vendas no varejo de
dezembro antes de tirar conclusões. “A expectativa é de números mais fracos, isso
aumenta a aversão ao risco e pressiona o câmbio”, acrescentou.
Para o curto prazo, a tendência é que os componentes externos continuem exercendo
mais influência sobre a cotação do dólar do que os fatores internos – entre eles, a
negociação no Congresso para a reoneração da folha de pagamentos -, segundo os
especialistas. Para Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, o dólar pode
receber suporte, nos próximos dias, do ajuste de posições de alguns investidores que
estavam apostando num afrouxamento mais intenso da política monetária dos EUA.
“O dólar estava compatível com uma queda de juros mais precoce. Nosso cenário é
queda de juros em maio, mas tem muita gente do mercado que tinha ido para março.
Nesse sentido, alguns players podem estar sendo surpreendidos e fazendo calibragem
nos portfólios”, disse Damico. Feito o ajuste, acrescentou a economista, a tendência é de
que o real volte a ganhar um pouco de força.
18:21
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 4.92560 1.2207 4.93330 4.88730
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 4939.000 1.54194 4943.000 4895.500
DOLAR COMERCIAL FUTURO 4949.000 1.24795 4949.000 4946.500