TREASURIES, GUERRA E FISCAL IMPÕEM PERDAS A ATIVOS DOMÉSTICOS EM OUTUBRO

Outubro chega ao fim com um gosto amargo para os detentores de ativos brasileiros. Os juros tiveram alta forte, a Bolsa caiu quase 3% e o dólar, ainda que menos impactado entre os três principais segmentos, fechou abaixo de R$ 5 em apenas 2 dos 21 pregões do mês. O vetor externo foi predominante, ante a reprecificação dos juros longos nos Estados Unidos e a cautela com a guerra entre Israel e o Hamas. Na questão interna, as dúvidas fiscais voltaram com força total nas últimas sessões, à medida que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a ceder à pressão do Congresso e do PT por uma abordagem menos regrada que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o novo arcabouço das contas públicas prometem. Na sessão de hoje, as pressões ficaram mais de lado, numa correção de excessos recentes. Os juros futuros caminham para terminar perto dos ajustes da véspera, o Ibovespa subiu 0,54%, aos 113.143,67 pontos, e o dólar à vista caiu aos R$ 5,0414 (-0,11%). O investidor prepara-se ainda para a “Superquarta”, com decisões de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos. Lá fora, hoje, a T-note de 10 anos avançou hoje a 4,898%, quase 40 pontos acima do nível do fim de setembro. O Dow Jones subiu 0,38%, o S&P 500 avançou 0,65% e o Nasdaq ganhou 0,48% – mas perderam mensalmente 1,36%, 2,20% e 2,78%, respectivamente.

•JUROS

•BOLSA

•CÂMBIO

•MERCADOS INTERNACIONAIS

JUROS

Os juros futuros percorreram esta última sessão de outubro sem firmar tendência clara, alternando altas e baixas moderadas. O mercado testou uma correção após a escalada das taxas ontem, aparando exageros relacionados às declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a meta fiscal, que, contudo, segue em risco. Essa trégua foi possibilitada também pelo comportamento hoje mais neutro da curva dos Treasuries, com o mercado em compasso de espera pela reunião do Federal Reserve amanhã, que também tem decisão de política monetária no Brasil. As taxas fecharam o mês acumulando alta em todos os vértices, com destaque para o trecho intermediário, o que mais subiu.

Às 17h20, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 11,100%, de 11,126% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026, em 11,08%, de 11,03% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2027 subia de 11,20% para 11,27% e a do DI para janeiro de 2029, de 11,58% para 11,63%. No mês, a ponta curta avançava em torno de 25 pontos, enquanto os DIs de médio prazo saltavam 45 pontos, ante o fechamento de setembro. Os longos acumulavam ganho de cerca de 30 pontos.

Segundo profissionais da área de renda fixa, a dinâmica do mercado mesclou correções técnicas após os fortes movimentos de stop loss entre sexta-feira e ontem, incluindo ainda os ajustes de posições em carteiras típicos de fim de mês, e devolução de excessos com releitura da fala de Haddad ontem. A percepção de que a meta de zerar o déficit primário em 2024 não deve resistir segue na mesa, mas houve uma reconsideração sobre o que isso pode significar para a credibilidade do ministro.

“O que vimos ontem foi mais um fogo de palha, seria normal o mercado estressar. Não era sustentável a especulação até de que Haddad poderia cair. Houve exagero e o mercado corrigiu”, disse o sócio e economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho. Para Velho, é fato que os resultados fiscais serão ruins, com déficit bem maior que o esperado, “mas não é o término dele como ministro”.

O mercado ontem se incomodou com o fato de Haddad não ter defendido de forma contundente a meta zero quando perguntado pelos jornalistas, após o presidente Lula ter questionado a viabilidade do objetivo na sexta-feira. O mercado nunca apostou nisso de fato, mas valorizava o comprometimento do governo em atingi-lo. Mais cedo, circularam na imprensa informações de que o cenário mais provável é de uma alteração da meta para déficit de 0,25% ou 0,50%.

Em reunião hoje de Lula com aliados no Planalto, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse que o tema não entrou na pauta e o foco foi a necessidade de aprovar no Congresso projetos que aumentam as receitas do governo. Segundo apurou o Broadcast Político junto a fontes, porém, Lula voltou a indicar que poderá alterar a meta. Teria expressado que não quer contingenciar despesas e deu a entender que pretende executar todos os gastos previstos no Orçamento que for aprovado para o próximo ano.

Nos aspectos mais técnicos, o sócio-gestor e estrategista de renda fixa da Garin Investimentos, Felipe Beckel, lembra que o mês foi muito negativo para os fundos multimercados, que têm bastante participação de renda fixa e câmbio nas carteiras. “Ninguém quer tomar posições muito estruturais e os fundos preferem operar mesmo o curto prazo, ainda mais neste cenário externo delicado”, disse, avaliando que a escalada das tensões no Oriente Médio parece estar se dando de forma “silenciosa”. Para Beckel, um exemplo de falta de tendência e de apostas mais firmes é o descolamento entre a ponta curta do DI, que hoje esteve mais comportada, e as taxas das NTN-B de curto prazo, que abriam cerca de 15 pontos nesta tarde.

Para o Copom, com as apostas no corte de 0,5 ponto porcentual bem consolidadas, a expectativa se volta ao comunicado e à sinalização sobre os próximos passos do ciclo, além das considerações dos diretores sobre os impactos do aumento dos juros longos nos EUA e a mais recente escalada do risco fiscal doméstico.

Para o economista-chefe do Bradesco, Fernando Honorato Barbosa, o texto deverá remover a discussão sobre a aceleração do ritmo de redução da Selic. “Porque a discussão de hoje não é de acelerar os cortes”, avaliou Honorato, em referência ao trecho do comunicado e das duas últimas atas, em que o colegiado citou três condicionantes para a eventual aceleração. A avaliação foi feita em live da Warren Rena sobre as perspectivas para o Copom. Para ele, porém, os trechos em que reforça que o ritmo de cortes de 0,50 ponto é o apropriado para as próximas reuniões deverá ser mantido – e no plural, reforçando que esse será o ritmo dos próximos encontros.

Na agenda do dia, a Pnad Contínua trouxe que a taxa de desemprego no trimestre até setembro ficou em 7,7%, em linha com a mediana das estimativas e sem impacto nos preços dos ativos.

BOLSA

Ao contrário do dia anterior, quando não conseguiu acompanhar ganhos acima de 1% nos três principais índices de ações de Nova York, o Ibovespa teve recuperação moderada nesta terça-feira, embora sem conseguir apagar perda de 0,14% acumulada nessas duas primeiras sessões de semana mais curta e que convida à cautela, com o feriado da quinta-feira no Brasil, pós-Copom. Assim, a referência da B3 oscilou dos 112.098,12 aos 113.597,32 pontos, da mínima à máxima do dia, encerrando em alta de 0,54%, aos 113.143,67 pontos, com giro financeiro a R$ 19,0 bilhões.

O Ibovespa terminou outubro acumulando perda de 2,94% no mês, vindo de ganho de 0,71% em setembro, que havia sucedido queda de 5,09% em agosto – um mergulho que tinha interrompido uma sequência positiva entre abril e julho, que levava então o índice da B3 a acumular, em 31 de julho, alta de 11,13% no ano. Com a correção que se impôs a partir de agosto, e que se mantém neste fim de outubro com fatores de risco como a guerra no Oriente Médio e a escalada dos rendimentos dos Treasuries longos nos Estados Unidos, o Ibovespa mostra agora avanço de apenas 3,11% em 2023.

Após ter cedido 7,16% no primeiro trimestre, com perdas acumuladas em fevereiro (-7,49%) e março (-2,91%), no que foi seu pior trimestre de abertura de ano desde 2020 (o primeiro da pandemia), o Ibovespa teve boa recuperação no intervalo abril-junho de 2023, quando avançou 15,9%, puxado em especial pelo salto de 9% em junho, que colocou o primeiro semestre no positivo (+7,61%).

Com a correção após julho, o Ibovespa, na moeda americana, fechou setembro a 23.188,74, um pouco mais ‘barato’ do que no encerramento de agosto, quando mostrava 23.376,98 pontos, mês em que, além da retração de 5,09% para o índice de ações nominal, houve avanço de 4,69% para o dólar frente ao real – em setembro, tais variações ficaram, respectivamente, em +0,71% e +1,53%, com o dólar, de volta a R$ 5, em alta mais forte do que a do índice de ações no mês.

Agora em outubro, com o dólar a R$ 5,04 no fechamento desta última sessão do mês, o Ibovespa, na moeda americana, foi a 22.442,90 pontos, abaixo dos níveis registrados nos dois meses anteriores. Em outubro, o dólar teve variação contida em relação ao real, em alta de 0,29% no intervalo.

Na mínima de hoje, pouco acima do limiar de 112 mil pontos, o Ibovespa tocou o menor nível desde 6 de outubro no gráfico intradiário, tendo batido durante aquela sessão nos 111.598,57 pontos. Desde o último dia 20, o índice da B3 tem operado em parte da sessão abaixo dos 113 mil pontos, tendo encerrado na faixa dos 112 mil em três oportunidades no mês, nos dias 30, 25 e 23 de outubro.

Graficamente, “se o Ibovespa perder a região dos 112 mil pontos, perde também a média móvel de 200 períodos, referência observada de perto pelo mercado, na medida em que, abaixo desse nível, pode abrir caminho para quedas mais abruptas, que o levariam, provavelmente, aos 108,3 mil pontos, a região de suporte seguinte”, diz Stefany Oliveira, head de análise de trade da Toro Investimentos.

Nesta última sessão do mês, o Ibovespa mostrou à tarde avanço semelhante ao dos índices de Nova York, que mostraram alta de 0,38% (Dow Jones), 0,48% (Nasdaq) e 0,65% (S&P 500) no encerramento do dia, majoritariamente positivo também nos mercados da Europa e da Ásia, ainda que em grau moderado.

Aqui, os investidores, ajustando as carteiras em fim de mês, deixaram em segundo plano as preocupações com a perspectiva para o fiscal no Brasil, após os controversos sinais deixados nas duas sessões anteriores pelo presidente Lula e, de certa forma, também pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com relação ao compromisso de zeragem do déficit primário no próximo ano, previsto no arcabouço fiscal aprovado pelo Congresso.

“Nos Estados Unidos, a situação também não é muito favorável. De forma resumida, há um receio similar por lá, com despesas e dívidas crescentes, que vêm pressionando o juro longo”, observa Matheus Sanches, sócio e analista da Ticker Research.

Por aqui, o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, disse hoje que a meta fiscal não foi discutida na reunião do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com líderes de partidos aliados. Além de Padilha e de Haddad, estavam na reunião, no Palácio do Planalto, os ministros Simone Tebet (Planejamento) e Rui Costa (Casa Civil).

“Antes da abertura, os dados divulgados bem cedo no exterior, como o PMI chinês em contração, decepcionaram, mas, no Brasil, veio uma leitura favorável sobre a taxa de desemprego, pela manhã. Haddad decepcionou ontem ao deixar em aberto a questão do déficit zero para 2024, o que preocupa pelo lado fiscal. Mas tivemos queda hoje na curva de juros, o que sempre ajuda a Bolsa”, diz Rafael Schmidt, sócio da One Investimentos.

Pela manhã, os dados do IBGE sobre a taxa de desemprego deram suporte à percepção de que a economia se mantém resiliente, gerando postos de trabalho com carteira assinada, o que ampara o consumo das famílias. No trimestre até setembro, a taxa de desemprego foi a menor desde 2014, para intervalo mensal equivalente, e a menor, independente do período de medição, desde fevereiro de 2015. E a população ocupada chegou agora a nível recorde na série histórica iniciada em 2012.

“A taxa de desemprego no trimestre até setembro de 2023 ficou em 7,7%, uma queda de 1,0 p.p. em relação ao mesmo período do ano passado e uma diminuição de 0,1 p.p. em relação ao mês anterior”, aponta o economista Rafael Perez, da Suno Research, acrescentando que os dados do mês mostram um mercado de trabalho “resiliente e aquecido”.

Na ponta do Ibovespa nesta última sessão do mês, destaque para Gol (+8,92%), Pão de Açúcar (+8,38%) e BRF (+6,17%), com Braskem (-3,08%), Magazine Luiza (-2,92%) e Bradesco (PN -1,41%) no canto oposto. Entre as ações de commodities, o dia foi positivo para Vale (ON +1,20%), mas negativo para Petrobras (ON -0,86%, PN -0,97%), com o petróleo em baixa de 1,5% na sessão. Os grandes bancos fecharam na maioria em queda, à exceção de Santander, em alta de 0,79%.

17:32

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 113143.67 0.54398

Máxima 113597.32 +0.95

Mínima 112098.12 -0.39

Volume (R$ Bilhões) 1.90B

Volume (US$ Bilhões) 3.76B

17:41

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 114570 0.65009

Máxima 114970 +1.00

Mínima 113435 -0.35

CÂMBIO

Em meio à instabilidade e trocas de sinal, o dólar à vista se firmou em baixa no fim da tarde e encerrou a sessão desta terça-feira, 31, em queda de 0,11%, cotado a R$ 5,0414. A divisa encerra outubro com ganhos de 0,29%, mas longe dos níveis vistos na primeira semana do mês, quando chegou a fechar acima da linha de R$ 5,15.

Na véspera da decisão de política monetária aqui e nos Estados Unidos, o comportamento da taxa de câmbio foi muito influenciado por fatores técnicos, como a disputa pela formação da última taxa Ptax de outubro e a rolagem de posições no mercado futuro. Houve variação de cerca de sete centavos entre mínima (R$ 5,0090) e máxima (R$ 5,0705).

A pauta fiscal doméstica seguiu no radar dos investidores, em meio a negociações em Brasília entre o governo e o Congresso para aprovar projetos que levem ao aumento da arrecadação. Analistas observam que a perspectiva crescente de que a meta de déficit primário zero seja abandonada inibe apostas favoráveis ao real no curto prazo.

Segundo apuração do Broadcast Político, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a aliados hoje, em reunião com ministros e líderes de bancadas na Câmara no Palácio do Planalto, que não quer contingenciar despesas em 2024. O petista teria reforçado que pode alterar a meta fiscal, em linha com declarações a jornalistas, na sexta-feira, 27.

Após ter se irritado ontem com jornalistas por questionamentos sobre eventual abandono da meta fiscal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se esquivou do assunto hoje em fala antes de encontro com Lula. Em Brasília, é dado como certo que a meta será alterada para um déficit em torno de 0,50% do PIB no ano que vem.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, as declarações de Lula na sexta-feira, acenando com abandono da meta de déficit zero, e as declarações de Haddad ontem em entrevista “foram muito ruins”. Embora já se soubesse que o objetivo estabelecido dificilmente fosse alcançado, não se esperava que o governo propusesse uma mudança de forma tão prematura.

“O que ficou claro é que Lula não quer contingenciar gastos e avisou que, se as medidas tributárias não forem aprovadas, vai mudar a meta. As medidas para ampliar a arrecadação são difíceis de aprovar e podem ser alteradas no Congresso. Já é quase certeza de que a meta vai ser alterada”, diz Lima.

O economista-chefe da Western ressalta que, apesar da alta recente do dólar, a piora da taxa de câmbio por causa dos ruídos fiscais foi bem contida em comparação com o comportamento dos juros futuros. O real ainda é sustentando por preços de termos de trocas favoráveis, que levam a saldos comerciais robustos, e pela taxas de juros elevadas.

“O Banco Central vai ter de ser o guardião nesse processo para ancorar as expectativas. A taxa de juros pode cair menos do que se imaginava no ciclo total em razão do fiscal. Isso tem segurado o câmbio, que piorou menos do que os juros”, diz Lima, ressaltando que, por ora, espera que o Comitê de Política Monetária, que anuncia sua decisão amanhã, mantenha a sinalização de cortes da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual.

Lá fora, o índice DXY avançou mais de 0,50% e operava no fim da tarde ao redor dos 106,650 pontos. Entre os indicadores dos EUA, destaque para a alta dos preços de casas em agosto para novo recorde histórico. Houve ganhos firmes do dólar em relação ao euro, após PIB no terceiro trimestre e inflação ao consumidor em outubro na zona do euro virem abaixo do esperado, reforçando a perspectiva de recessão na região. O iene apresentou perdas de mais de 1,5% na esteira da decisão do Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês) manter taxas inalteradas.

O dólar apresentou sinal misto em relação a moedas emergentes e de países exportadores de commodities. Pares relevantes do real, como pesos mexicano, chileno e rand sul-africano, se valorizaram, em meio à expectativa de estímulos econômicas na China, após dados fracos da indústria no país. Já o peso colombiano, que lidera os ganhos em relação ao dólar no ano, recuou mais de 1,5%. O BC da Colômbia manteve a taxa básica do país em 13,25% ao ano pela quarta reunião seguida, em decisão dívida.

Nos EUA, as apostas são quase unânimes de que o Federal Reserve vai manter a taxa básica inalterada de manhã, mas deixará a porta aberta para um possível aperto adicional, de 25 pontos-base, em dezembro. Há expectativa de que o BC americano possa trazer em seu comunicado, como fizeram diversos de seus integrantes nas últimas semanas, a avaliação de que a alta dos juros longos já representa um aperto monetário e pode ajudar a conter a inflação.

17:41

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.04140 -0.109 5.07050 5.00900

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5057.000 0.23786 5067.000 5008.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5058.500 -0.1579 5089.500 5027.500

MERCADOS INTERNACIONAIS

Em quadro de expectativa pelo Federal Reserve (Fed) de amanhã, os juros dos Treasuries avançaram, enquanto o dólar se fortaleceu ante outras moedas principais, atento também a indicadores dos Estados Unidos. O euro, nesse contexto, caiu, após sinais modestos da economia da zona do euro e com vários dirigentes do Banco Central Europeu (BCE) em defesa de que o nível atual dos juros é suficiente para levar a inflação à meta, embora a instituição ressalte que não há pressa em relaxar a política monetária e alguns dirigentes não descartem mais aperto, se necessário. O petróleo, por sua vez, fechou em baixa, após o índice de gerentes de compras (PMI) da China decepcionar, encerrando mês bastante negativo para a commodity, mesmo com o conflito em andamento no Oriente Médio. Já as bolsas de Nova York exibiram ganho, após sessão volátil e em meio à temporada de balanços.

O dólar hoje se fortaleceu ante moedas estrangeiras, com destaque para o iene, após o Banco do Japão (BoJ) ter mantido sua política ultra-acomodatícia praticamente inalterada, o que surpreendeu o mercado, que segundo o CMC Markets aguardava uma ação mais forte do BoJ. A libra caiu frente ao dólar, enquanto os mercados acompanham o PMI industrial do Reino Unido, que sai amanhã cedo, e a decisão de política monetária do Banco da Inglaterra (BoE), na manhã da quinta-feira.

Contra o euro, o dólar subiu após os dados da inflação da zona do euro caírem mais do que o esperado e uma série de dirigentes se pronunciarem a respeito. Dirigente do BCE, o alemão Joachim Nagel disse hoje que a inflação ainda segue muito alta e é preciso manter níveis restritivos para trazer a alta de preços à meta de 2%. O vice-presidente do BCE, Luis de Guindos, indicou que os juros já estão em níveis restritivos, e que a inflação tende a voltar à meta caso, seja mantido o nível atual. Por fim, o dirigente grego do BCE, Yannis Stournaras, pontuou que vai considerar cortes de taxas no próximo ano, caso os preços sigam o fluxo de redução atual. No fim da tarde em Nova York, o dólar subia a 151,57 ienes, o euro caía a US$ 1,0583 e a libra tinha baixa a US$ 1,2153. O índice DXY do dólar avançou 0,51%, a 106,663 pontos.

A reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) de amanhã aponta para uma pausa na taxa de juros americana, como apontado por diversos analistas, mas o comitê ainda pode dar pistas sobre os planos futuros do Fed em seu comunicado, e os olhos do mercado se voltam para isso. Segundo a Mizuho, ainda há um risco de aumento das taxas em dezembro, “uma vez que o último gráfico de pontos aponta para mais uma subida antes do final do ano”.

Já de olho na decisão de política monetária do Fed, os Treasuries subiram hoje, sob a expectativa de que os juros devem ficar mais altos por mais tempo, com o BMO Capital lembrando que cortes devem ser uma questão apenas em 2024. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos subia a 5,058%, o da T-note de 10 anos tinha alta a 4,898% e o do T-bond de 30 anos recuava a 5,063%. Os rendimentos da ponta longa subiram amplamente durante outubro, visto que na última sessão de setembro, o juro da T-note de 2 anos estava em 5,037%, o da T-note de 10 anos estava em 4,570% e o do T-bond de 30 anos, em 4,700%.

No mercado acionário, a alta dos rendimentos dos Treasuries fez as bolsas fecharem o mês em baixa, apesar dos índices de Nova York terem subido hoje, acompanhando os dados mistos de emprego e de confiança do consumidor dos EUA, que saíram pela manhã, bem como as quedas dos papéis da Caterpillar e da Jetblue, que publicaram balanços trimestrais. No último dia de outubro, o índice Dow Jones subiu 0,38%, aos 33.052,61 pontos, o S&P 500 avançou 0,65%, aos 4.193,78 pontos e o Nasdaq fechou em alta de 0,48%, aos 12.851,24 pontos. No mês, houve baixas de 1,36%, 2,20% e 2,78%, respectivamente, respectivamente.

Já o petróleo acumulou perdas no mês, com o WTI fechando outubro abaixo do preço em que era negociado antes do conflito Israel-Hamas, o que para o analista da Oanda Craig Erlam indica “ou que o prêmio de risco geopolítico foi drasticamente reduzido, ou que as preocupações econômicas globais aumentaram – talvez uma combinação da dois”. Hoje, o petróleo hoje seguiu seu movimento de baixa, com o WTI para dezembro fechando em queda de 1,56%, a US$ 81,02 o barril. Enquanto isso, o Brent para janeiro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), recuou 1,54%, a US$ 85,02.

A baixa de hoje acompanha as preocupações de menor demanda da economia chinesa, que registrou índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial abaixo de 50 pontos, o que aponta para uma contração do setor industrial da China. Segundo o Bannockburn, o feriado prolongado na China no início deste mês parece ter atenuado a atividade no país, enquanto isso, o aumento do déficit do governo central deste ano e o aumento dos empréstimos sinalizados ainda não tiveram tempo de gerar impacto, e tampouco se sabe se de fato vão gerar algum. (Gabriel Tassi Lara, [email protected])