TREASURIES E GUERRA PENALIZAM BUSCA GLOBAL POR RISCO, COM BAIXA FORTE DAS BOLSAS

A alta dos juros dos Treasuries de longo prazo voltou a balizar os mercados nesta quarta-feira, com fuga do risco por parte dos investidores. De novo, dúvidas sobre o período em que as taxas permanecerão em nível restritivo – na esteira de recentes dados resilientes de atividade dos Estados Unidos – incentivaram a abertura da curva. A questão fiscal americana também preocupa. Temores de escalada das hostilidades na guerra entre Israel e o Hamas reforçaram tanto alta forte do petróleo (um fator inflacionário) quanto montagem de posições cautelosas. Embora já se desenhasse nos bastidores, como mostrou o Broadcast, o veto dos Estados Unidos no Conselho de Segurança da ONU à resolução brasileira sobre o conflito deu uma mostra de como será difícil mediar os interesses em jogo. Foi neste ambiente que as bolsas americanas tiveram forte queda, entre 0,98% (Dow Jones) e 1,62% (Nasdaq). Aqui, o Ibovespa só conseguiu manter no fechamento a linha dos 114 mil pontos porque Petrobras (ON +2,34% e PN +2,26%) ajudou. A ação da petroleira renovou o seu pico histórico hoje. O índice acionário baixou aos 114.059,64 pontos, desvalorização de 1,60%. Na contramão, o dólar subiu aos R$ 5,0545 (+0,38%), reflexo da demanda por segurança. Por fim, na renda fixa, a sessão foi de bastante volatilidade, com o sinal de alta prevalecendo. Os agentes desse mercado monitoraram também falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que negou ter afirmado, em reunião fechada no Marrocos com investidores na quarta-feira passada, ser maior a probabilidade de uma desaceleração do que uma aceleração no ritmo de cortes da Selic.

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MERCADOS INTERNACIONAIS

A divulgação do Livro Bege pelo Federal Reserve (Fed), que alertou que os preços devem continuar aumentando e que as condições do trabalho tinham alívio, teve pouca reação no mercado exterior e acabou ficando em segundo plano. Assim, investidores ainda olhavam para preocupações sobre a escalada do conflito entre Israel e o grupo Hamas, após projeto de resolução do Brasil ter sido rejeitado no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), e a tensão ajudou a impulsionar o petróleo e os rendimentos dos Treasuries. O cenário, porém, pressionou as bolsas de Nova York, que operavam antes de balanços da Tesla (-4,78%) e da Netflix (-2,68%), após o fechamento dos mercados. O dólar, por sua vez, também foi beneficiado pelas tensões como ativo seguro e subia ante moedas fortes, enquanto o dólar blue, no mercado paralelo da Argentina, recuava 8% ante o peso argentino, em meio a intervenções do Banco Central da República Argentina (BCRA).

O Livro Bege, uma espécie de sumário das condições econômicas do país e que serve de base para as decisões de política monetária do BC americano, não trouxe novidades significativas para as avaliações de política monetária dos Estados Unidos. Segundo avaliação da Oxford Economics, a publicação “pintou um quadro de uma economia em crescimento a ritmo mais moderado do que alguns dados econômicos recentes sugerem”.

Entretanto, os investidores seguiram repercutindo desdobramentos do conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas. Mais cedo, o presidente americano, Joe Biden, defendeu que Israel não foi responsável pelo ataque em hospital na Faixa de Gaza e anunciou que pedirá ao Congresso americano a aprovação de um pacote de defesa “sem precedentes” para o país, pouco antes de votar contra resolução do Brasil na ONU sobre guerra, sob justificativa de que o documento não fazia menção aos direitos de autodefesa de Israel. Em resposta a isso, o embaixador brasileiro e representante do País na Organização das Nações Unidas (ONU), Sérgio Danese, afirmou que o veto representa que o Conselho não está cumprindo seu papel.

As dúvidas sobre quando o conflito terminaria deram fôlego ao petróleo, também após o Irã pedir embargo de exportações do óleo para Israel. Na visão da Oanda, o “mercado petrolífero continuará muito apertado daqui para frente e o próximo movimento com os preços dependerá se os riscos geopolíticos perturbaram os fluxos de petróleo”. O WTI para dezembro fechou em alta de 2,14% (US$ 1,83), a US$ 87,27 o barril na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para o mesmo mês avançou 1,77% (US$ 1,60), a US$ 91,50 o barril , na Intercontinental Exchange (ICE).

O movimento também levou os rendimentos dos Treasuries a subirem e, na avaliação do BMO, o retorno da T-note de 10 anos tem chances de chegar a operar a 5% em breve, após o juro ter chegado a operar na máxima de 4,931% nesta quarta-feira. O banco canadense agora chama atenção para o discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, amanhã. Segundo análise, “não é difícil imaginar um cenário em que o discurso de Powell no Clube Econômico de Nova York seja interpretado como menos agressivo”, que deverá, portanto, pressionar os rendimentos da T-note de 2 anos, “enquanto os investidores repensam as chances de o Fed aumentar novamente em 2023”. Assim, o rendimento da T-note de 2 anos subiu a 5,212%, o da T-note de 10 anos avançou a 4,897% e o do T-bond de 30 anos teve alta a 4,989%.

Na contramão, as bolsas de Nova York foram pressionadas pelas incertezas e caíram mais de 1%, enquanto o índice VIX de volatilidade subiu 8,84%. Entre as quedas, estava a Tesla, que cedeu 4,78%, antes da publicação do balanço de seu terceiro trimestre. Na visão da CMC Markets, a fraqueza de Wall Street ocorria à medida que investidores fugiram do risco, seguindo o aumento das tensões no Oriente. Na visão de Igor Lucena, doutor em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, “Biden tentou acalmar os mercados internacionais tentando fazer alguma mediação no Oriente Médio, mas não deu certo. Não conseguiu reuniões com líderes árabes, focou extremamente em Israel. Isso gerou um clima de animosidade no mercado”. Assim, o índice Dow Jones caiu 0,98%, o S&P 500 cedeu 1,34% e o Nasdaq operou em queda de 1,62%.

Nesse cenário, o dólar operou em alta ante moedas rivais. Na visão da Convera, os fortes dados econômicos recentes apoiam a tese de um crescimento de 4% no Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre do país, o que apagou os ganhos da libra de mais cedo, após o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) do Reino Unido vir acima do esperado. Já o dólar blue cedeu 8,12%, a 905 pesos, após intervenções do BC para segurar o câmbio dias antes das eleições. No fim da tarde em Nova York, o dólar subia a 149,89 ienes, o euro caía a US$ 1,0537 e a libra tinha baixa a US$ 1,2138. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou alta de 0,30%, a 106,565 pontos

BOLSA

O Ibovespa registrou hoje seu menor nível de fechamento desde 5 de outubro, antes do ataque sem precedentes do Hamas a Israel no dia 7, encerrando a sessão desta quarta-feira em baixa de 1,60%, a 114.059,64 pontos. Em porcentual, foi a pior queda do índice desde 21 de setembro, quando cedeu 2,15%. A princípio, o ‘spike’ do petróleo havia contribuído para algum equilíbrio ao Ibovespa nesse intervalo de incerteza global, mas hoje o avanço de Petrobras (ON +2,34%, PN +2,26%), com o Brent acima de US$ 91 por barril, foi contraponto insuficiente para a queda de 3,67% em Vale (ON) e de até 2,09% (Itaú PN) entre os grandes bancos.

Hoje, oscilou entre mínima de 113.952,11, no fim da tarde, e máxima de 115.907,04 pontos, correspondente ao nível de abertura. Com o Ibovespa no negativo ao longo de toda a sessão, e acentuando perda do meio para o fim do dia, o giro financeiro desta quarta-feira, a R$ 49,2 bilhões, foi fortalecido pelo vencimento de opções sobre o índice. Na semana, o Ibovespa passa hoje ao negativo (-1,46%), ampliando a 2,15% a perda acumulada no mês. No ano, ainda avança 3,94%.

“Há um cenário de incerteza global profunda, em que se acrescenta um conflito no Oriente Médio às dúvidas sobre o nível de juros nos Estados Unidos. De duas semanas para cá, ficou bem menos claro se o Federal Reserve poderá fazer ou não uma pausa em dezembro no ciclo de elevação dos juros de referência. Está bem mais difícil para o investidor montar posição ante o grau geral de incerteza. E isso num contexto de redução significativa da liquidez, do ano passado para cá, o que amplifica o efeito de cada movimento sobre as ações”, diz Adriano Yamamoto, diretor comercial da corretora do C6 Bank.

Se no ano passado, o volume diário na B3 estava na faixa de R$ 32 bilhões a R$ 33 bilhões, em 2023 tem ficado entre R$ 20 bilhões e R$ 21 bilhões, aponta Yamamoto – e quando se expurga a participação aproximada de operações de alta frequência, a presença relativa de assets e dos investidores institucionais pode ter se suavizado ainda mais do que o número agregado sugere. Além disso, há a retração do investidor estrangeiro, que chegou a comprar quando os institucionais e os de varejo já buscavam acomodação na Selic.

O cenário de juros longos em torno de 5% nos Estados Unidos drena fluxo antes destinado em parte a emergentes, onde a renda fixa vinha se mostrando muito atrativa também em países como o Brasil, com a Selic em dois dígitos, mesmo quando se considera pontos de entrada favoráveis, em termos de fundamento das empresas e de análise do Ibovespa, vis-à-vis os preços disponíveis. Ou seja, está bem difícil oferecer Bolsa aos investidores como alternativa aos juros, em cenário macro ainda pautado por elevado nível de incerteza e de aversão a risco, apesar dos descontos que vão se acumulando em certos papéis.

Nesta quarta-feira, em evento promovido pelo Credit Suisse, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, apontou que o ‘spike’ global observado nos juros de mercado tem um componente que reflete a piora na percepção fiscal – ou seja, os investidores estão exigindo taxas maiores para financiar os governos, ante o ritmo dos gastos públicos. Campos Neto observou também que o Credit Default Swap (CDS) dos Estados Unidos, usado como métrica de risco-país, tem mostrado piora relevante que, segundo ele, parece estar relacionada ao risco fiscal, reportam os jornalistas Cícero Cotrim e Eduardo Rodrigues, do Broadcast.

Nesse contexto, “a única notícia positiva para o mercado financeiro, hoje, foi o PIB da China no terceiro trimestre, acima do esperado, com a injeção de dinheiro na economia para tentar alcançar a meta de crescimento do ano, de 5%. Por outro lado, quando se vê as leituras combinadas dos dados do varejo e do setor de construção nos Estados Unidos, ressurge a preocupação sobre a inflação americana, que colocou hoje os juros de 10 anos a 4,90% no país, em nível muito alto”, diz Marco Prado, CIO da BullSide Capital.

Ele acrescenta que o movimento nos juros de mercado nos EUA mais uma vez estressou as bolsas em todo o mundo. “Só não foi pior na B3 porque Petrobras voltou a subir hoje, em máxima histórica para a ação, contrariando a tudo e a todos”, acrescenta Prado, em referência à percepção dos que acreditavam que a precificação do ativo pioraria sob o novo governo.

Na ponta ganhadora do Ibovespa nesta quarta-feira, além de Petrobras, destaque também para Magazine Luiza (+2,37%), JBS (+1,05%) e BB Seguridade (+0,89%) – na sessão, 14 dos 86 papéis da carteira do índice conseguiram evitar perdas. No lado oposto, MRV (-10,08%), Gol (-7,18%) e Assai (-6,48%).

17:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 114059.64 -1.59504

Máxima 115907.04 -0.00

Mínima 113952.11 -1.69

Volume (R$ Bilhões) 4.91B

Volume (US$ Bilhões) 9.72B

17:31

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 114420 -1.13195

Máxima 115565 -0.14

Mínima 114400 -1.15

CÂMBIO

O dólar à vista encerrou a sessão desta quarta-feira, 18, em alta no mercado doméstico de câmbio, em dia marcado por valorização da moeda americana no exterior e avanço firme das taxas dos Treasuries mais longos. Com mínima a R$ 5,0302 e máxima a R$ 5,0759, a divisa fechou cotada a R$ 5,0545, valorização de 0,38%. Na semana, a moeda ainda acumula baixa de 0,67%, graças ao tombo de 1,01% na segunda-feira, 16. O real, que costuma apanhar mais em períodos de aversão ao risco, hoje apresentou o melhor desempenho entre pares latino-americanos. Pesos colombiano e mexicano amargaram perdas superiores a 1%.

Segundo operadores, mais uma vez a formação da taxa de câmbio foi ditada pelo quadro externo, com as questões fiscais domésticas sendo apenas monitoradas. Aos temores relacionados aos desdobramentos geopolítico da guerra entre Israel e o grupo palestino Hamas se somam preocupações com a situação fiscal dos EUA, em meio ao ressurgimento do fantasma de paralisação da máquina pública (shutdown). Há risco de aumento de gastos com ajuda militar americana a Israel e, em um pior cenário, envolvimento direto dos EUA no conflito. O governo do Irã pediu aos países muçulmanos que lancem um embargo petrolífero a Israel em retaliação à explosão de um hospital na Faixa de Gaza. As cotações do petróleo voltaram a subir, com o contrato do tipo Brent para dezembro acima de US$ 91 o barril.

A força do dólar no exterior também deriva da perspectiva de que, após uma esperada pausa no aperto monetário em novembro, o Federal Reserve possa promover uma alta adicional dos juros em dezembro. Mesmo com integrantes do BC americano argumentando que a alta das taxas dos Treasuries representa aperto das condições financeiras e pode fazer o “trabalho sujo da política monetária”, é mantido o discurso de juros elevados por período prolongado. Divulgado à tarde, o livro Bege – sumário das condições econômicas elaborado pelo Fed – mostrou pouca ou nenhuma mudança no quadro da atividade.

O economista chefe da Western Asset, Adauto Lima, observa que dados recentes mais fortes de atividade nos EUA, que enfrentam déficit fiscal crescente, e questões técnicas de oferta e demanda de títulos estão por trás do estresse das taxas dos Treasuries. E a alta dos juros longos dos EUA, por sua vez, é a principal responsável pela depreciação das divisas emergentes. “Isso tem dominado o cenário. Ao contrário do que se poderia imaginar em momentos de aversão ao risco, quando há alocação em Treasuries e as taxas caem, vemos um movimento contrário”, diz Lima, observado que o avanço dos yields dos títulos americanos, que começou entre meados de julho e início de agosto, se intensificou em outubro.

Segundo Lima, diferentemente do que se observou na primeira onda de alta dos juros longos nos EUA, desta vez as moedas emergentes não apresentam o mesmo grau de depreciação. “Não é um movimento tão coordenado como foi lá trás. O real tem tido um desempenho na margem melhor, ajudado pela alta do petróleo e de outras commodities”, diz Lima, que ainda vê riscos de piora do humor lá fora, dada a “inconsistência fiscal” nos EUA, que pode se acentuar com “esforços de guerra”, e as incertezas sobre onde as taxas americanas vão se acomodar.

O presidente dos EUA, Joe Biden, afirmou hoje, em discurso em Tel-Aviv, que vai pedir ao Congresso americano que aprove um “pacote de defesa sem precedentes a Israel”, e enfatizou que os EUA vão apoiar o país até o fim da guerra. Resolução sugerida pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU que propunha “pausa humanitária” em Gaza para socorrer civis foi vetada pelos EUA. Em meio a impasse em torno da eleição de um novo presidente para a Câmara dos Representantes, o Congresso americano tem de aprovar o Orçamento Federal dos EUA até novembro para evitar uma paralisação parcial da máquina pública.

Dados da China divulgados ontem à noite não conseguiram animar os investidores. O PIB chinês cresceu 4,9% no terceiro trimestre (na comparação anual), bem acima das estimativas de analistas (4,3%). No acumulado do ano até setembro, a economia chinesa registrou expansão de 5,2%, acima da meta estipulada pelo governo chinês, em torno de 5,0%. Esses números foram eclipsados em parte pela queda anual de 3,2% das vendas de moradias na China (entre janeiro e setembro).

Por aqui, o Banco Central informou à tarde que o fluxo cambial na semana passada (entre 9 e 13 de outubro) foi negativo em US$ 1,468 bilhão, com saídas líquidas de US$ 883 milhões pelo canal financeiro. No acumulado do mês (até o dia 13), contudo, o fluxo ainda é positivo em 4,078 bilhões, com entrada líquida de 1,133 bilhão pelo lado financeiro e de US$ 2,945 bilhões via comércio exterior

17:31

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.05450 0.3813 5.07590 5.03020

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5066.500 0.27709 5085.000 5038.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5078.000 0.3359 5096.000 5078.000

JUROS

Os juros futuros tiveram uma sessão volátil, mas o sinal de alta prevaleceu na maior parte do dia sobre as taxas, que chegaram a testar um alívio em parte da tarde, zerando o avanço e passando a oscilar em baixa, mesmo com o ambiente externo mantendo-se negativo e os rendimentos dos Treasuries em escalada. Mas não resistiram e voltaram a subir. De maneira geral, o estresse do mercado internacional, sobretudo vindo da curva americana, continuou conduzindo os negócios, hoje agravado pelo noticiário sobre a guerra entre Israel e Hamas.

Às 17h18, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 11,10%, de 11,03% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 passava de 10,89% para 10,99%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 11,16% (11,07% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 subia de 11,50% para 11,53%.

A melhora da curva entre o começo até o meio da tarde, segundo profissionais da renda fixa, não teve gatilho específico, atribuída a ajustes técnicos relacionados aos prêmios elevados embutidos nos vencimentos, especialmente os de longo prazo. A ponta curta também chegou a virar para baixo, com alguns players destacando a fala do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

Durante evento promovido pelo Credit Suisse, ele negou ter afirmado que, em reunião fechada com investidores no último dia 11, ser maior a probabilidade de uma desaceleração do que uma aceleração no ritmo de cortes da Selic. “Eu em nenhum momento falei nada nem remotamente parecido com o que foi interpretado, de que a probabilidade de uma coisa era maior do que a outra”, disse. “Se um dia a gente fosse dar uma mensagem como essa, jamais seria uma reunião fechada, seria em uma reunião aberta como essa”, enfatizou. Campos Neto ainda aproveitou para reforçar que o BC entende que o ritmo de cortes de 0,5 ponto porcentual é adequado.

A economista-chefe do TC, Marianna Costa, acredita que o Copom “vai mesmo de 0,5 em 0,5”, até porque os dados recentes de atividade no Brasil dão margem para a manutenção do ritmo ao mostrarem menor impulso, sugerindo estagnação da economia ou até PIB negativo no terceiro trimestre. Hoje as vendas do varejo restrito mostraram queda de 0,2% em agosto ante julho, melhor do que a mediana das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast de -0,8%, mas no conceito ampliado houve redução de 1,3%, maior do que o consenso que também era de -0,8%. “Mas há dúvida sobre até onde é possível chegar com o ciclo de cortes”, pondera.

Assim como visto ontem após a divulgação da Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), hoje o mercado mal teve tempo de repercutir as vendas do varejo. O aumento da pressão dos Treasuries se sobrepôs, com os yields renovando máximas após o presidente dos EUA, Joe Biden, ter reiterado apoio a Israel. Num momento em que as preocupações fiscais no país já são crescentes, Biden disse que pedirá ao Congresso um pacote “sem precedentes” para envio de equipamento de defesa e ajuda humanitária. Nas máximas, a taxa da T-Note de dez anos, referência para ativo livre de risco, chegou a 4,93%.

Uma das ameaças inflacionárias globais vem do petróleo, que hoje voltou a superar US$ 90 no caso do Brent, em meio às incertezas no Oriente Médio. O governo do Irã pediu aos países muçulmanos que lancem um embargo petrolífero a Israel em retaliação à explosão de um hospital na Faixa de Gaza. E o veto dos EUA à resolução proposta pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU joga um balde de água fria nas perspectivas de solução para os conflitos.

Marianna Costa, do TC, afirma que ainda não há clareza sobre os efeitos da guerra sobre os ativos, ao menos enquanto o conflito estiver restrito à região. “Se houver impacto no petróleo, traz risco inflacionário, mas se este for mais duradouro, de longo prazo, contaminará a atividade global”, afirma.

Nesta tarde, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse não haver por ora indícios de que guerra impacte preço de combustíveis no Brasil e não acreditar que a tensão Israel-Hamas vá se alastrar no curto prazo.