As palavras do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, tiveram o condão de tirar
parcialmente a pressão que os dados fortes da economia dos Estados Unidos exerciam
sobre os preços dos ativos. Ainda que tenha sido uma repetição de tom, a “novidade” para
o mercado foi o chairman manter a linha argumentativa mesmo diante de nova rodada de
números firmes. Como principal mensagem, Powell reforçou que é preciso ter mais
confiança na trajetória da inflação antes de decidir cortar os juros. Foi neste ambiente
que os juros dos Treasuries caíram, o dólar perdeu força globalmente e as bolsas
americanas terminaram em um cenário benigno (Nasdaq subiu 0,23% e S&P 500, 0,11%).
Aqui no Brasil, contudo, apenas o real conseguiu virar para o azul seguindo a onda
externa. Isso porque a questão fiscal segue incômoda. O impasse em torno da
prorrogação da desoneração da folha de pagamento de municípios se junta a declarações
de autoridades sinalizando que dificuldades no front fiscal por causa do desempenho das
receitas. O dólar à vista terminou o dia em R$ 5,0405 (-0,35%). Os juros futuros exibiam
viés de alta neste fim de tarde. E o Ibovespa caiu aos 127.318,39 pontos (-0,18%).
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MERCADOS INTERNACIONAIS
O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, manteve o tom recente e disse que
é preciso ter mais confiança na trajetória da inflação, antes de decidir cortar juros nos
Estados Unidos. Após as declarações nesta tarde, os juros dos Treasuries perderam
fôlego, em quadro misto, e o dólar estendeu perdas frente a outras moedas principais. A
fraqueza do dólar contribuiu para o petróleo confirmar ganho modesto, ainda em
máximas em cinco meses, enquanto nas bolsas de Nova York houve volatilidade, com
fechamento misto.
Powell afirmou que não seria apropriado reduzir juros antes de haver mais confiança de
que a inflação caminha de modo sustentável à meta de 2%. Em discurso na Universidade
Stanford, ele reafirmou que os dados trarão o norte para as decisões, e disse que é cedo
para concluir se dados recentes mais elevados da inflação foram apenas “um solavanco”
ou poderiam sugerir movimento sustentado. Para reafirmar sua postura cautelosa,
mencionou riscos tanto de um corte prematuro quanto de relaxamento tardio.
A postura de Powell está bem alinhada com suas declarações recentes, e a reação nos
mercados foi modesta. Nos Treasuries, houve alguma perda de fôlego. No fim da tarde em
Nova York, o juro da T-note de 2 anos caía a 4,671%, o da T-note de 10 anos recuava a
4,346% e o do T-bond de 30 anos tinha alta a 4,503%.
No câmbio, houve ampliação da perdas depois da fala do presidente do Fed. No horário
citado, euro avançava a US$ 1,0836 e a libra tinha alta a US$ 1,2651. A moeda americana,
contudo, subia a 151,68 ienes. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas
fortes, registrou baixa de 0,54%, a 104,249 pontos.
Na avaliação do ANZ, Powell “reiterou a paciência”, dependente de dados. “A mensagem
principal é que a economia está no caminho certo e o Fed não tem pressa para cortar os
juros”, diz o banco. O BMO Capital destacava que as falas da autoridade influíram no
mercado de Treasuries, mas também via Powell reiterando o tom recente. Entre outros
dirigentes, Raphael Bostic (Atlanta) reiterou que só espera um único corte de juros em
2024 nos EUA, no quarto trimestre, caso a economia se desenrole conforme sua
expectativa.
No monitoramento do CME Group, havia no horário citado pequeno aumento na chance
de manutenção nos juros até junho (de 36,3% ontem a 37,5%), mas a expectativa
majoritária continuava a ser por corte de juros, em 62,5%.
Nas bolsas de Nova York, o Dow Jones fechou em queda de 0,11%, em 39.127,14 pontos,
o S&P 500 avançou 0,11%, a 5.211,49 pontos, e o Nasdaq subiu 0,23%, a 16.277,46
pontos. Houve perda de fôlego à tarde, com a ação da Boeing (-1,66%) pesando no Dow
Jones, após reportagem da Reuters revelar queda acentuada nas últimas semanas da
produção do avião 737 MAX da empresa. Nesse quadro, companhias aéreas ficaram sob
pressão: American Airlines recuou 1,67% e United Airlines, 2,26%. Entre outros papéis em
foco hoje, Tesla chegou a estender perdas de ontem, após resultado fraco de vendas no
primeiro trimestre, mas inverteu o sinal e subiu 1,05%, e Intel recuou 8,22%, diante de
prejuízo operacional em sua divisão de fabricação de chips relativo ao ano passado.
Entre os setores do S&P 500, energia esteve entre as altas, com ajuda do petróleo. O
contrato do WTI para maio fechou em alta de 0,33%, a US$ 85,43 o barril, na Nymex, e o
Brent para junho avançou 0,48%, a US$ 89,35 o barril, na ICE, após a Organização dos
Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) manter os planos no controle da oferta
e com ajuda do dólar fraco
CÂMBIO
O dólar à vista perdeu fôlego ao longo da tarde em meio a declarações do presidente do
Federal Reserve, Jerome Powell, e encerrou a sessão desta quarta-feira, 3, em baixa de
0,35%, cotado a R$ 5,0405, com mínima a R$ 5,0368. Pela manhã, a divisa operou
descolada do sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior e se
aproximou R$ 5,10 na máxima (R$ 5,0918), com relatos de saídas de recursos do mercado
doméstico.
Powell desfez parte do mau humor que reinou pela manhã com a divulgação dados fortes
do mercado de trabalho americano. Relatório ADP mostrou criação de 184 mil vagas no
setor privado americano em março, bem acima do esperado (150 mil) – o que levou as
taxas dos Treasuries aos maiores níveis desde novembro de 2023, com a T-note de 10
anos tocando 4,42% na máxima.
As taxas longas dos Treasuries desaceleraram com a fala de Powell e o retorno da T-note
de 2 anos – mais ligada às expectativas para o rumo da taxa de juros no curto prazo –
passou a cair. Já em baixa pela manhã, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar
em relação a uma cesta de seis divisas fortes – acelerou a queda e tocou mínima aos
104,231 pontos.
O real – que ontem amargou o pior desempenho entre pares – hoje se recuperou,
apresentando o segundo maior ganho em relação ao dólar entre as divisas latinoamericanas. A liderança ficou com o peso chileno, que exibiu alta superior a 2%, graças à
escalada da cotação do cobre para o maior nível em um ano e à decisão do BC chileno
ontem de reduzir o ritmo de cortes de juros.
“A fala de Powell não trouxe nada de muito novo, mas o mercado estava estressado com a
pesquisa ADP. O mercado de trabalho americano continua aquecido e a expectativa é que
o payroll venha forte na sexta-feira, voltando a pressionar o dólar”, afirma o economista
André Galhardo, consultor econômico da Remessa Online, para quem a taxa de câmbio
deve permanecer acima do nível de R$ 5,00. “Não vejo uma desvalorização grande do
real, mas o quadro é de cautela com o exterior. A alta do petróleo pode pressionar a
inflação americana em abril.”
Em discurso na Universidade de Stanford, o presidente do Fed reiterou que a taxa de juros
já atingiu seu pico e que a maioria dos integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto
(Fomc, na sigla em inglês) espera que os juros comecem a cair em algum momento neste
ano. Mais uma vez, Powell afirmou que o Fed está no modo “data dependente” e que
necessita de “mais confiança” no processo de desinflação para começar a cortar a taxa
básica. Uma redução prematura, disse Powell, pode comprometer o progresso no
combate à inflação, ao passo cortes tardios enfraqueceriam a atividade econômica.
Por aqui, as atenções se voltam à dinâmica no mercado futuro, diante da expectativa de
que o Banco Central possa voltar a intervir. Investidores absorveram ontem a oferta total
de US$ 1 bilhão em swaps cambiais, que equivale à venda de dólar futuro. O objetivo da
operação, segundo o BC, era manter o “funcionamento regular do mercado de câmbio”
em meio a resgates de NTN-A3 em 15 de abril.
Quando esses títulos vencem, os detentores podem ir ao mercado para recompor sua
posição, o que aumenta a demanda por compra no mercado futuro. A entrada de um
comprador relevante provoca uma escalada maior do dólar. Operadores dizem que a
atuação do BC na ponta da venda evita solavancos maiores na taxa de câmbio. Como nos
últimos dias, o contrato de dólar futuro mais líquido, para maio, teve giro forte, acima de
US$ 17 bilhões.
Em evento na cidade de São Paulo, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto,
disse hoje que a oferta adiciona de swaps não foi provocada pelo movimento da taxa de
câmbio. “Estávamos vendo que poderia ter uma disfunção e foi feita uma intervenção,
colocamos no texto da intervenção isso”, disse Campos Neto, acrescentando que o BC
voltará a atuar se houver “disfuncionalidade” no mercado.
Para o consultor da Remessa Online, ao promover a oferta extra de swaps, o BC passou ao
mercado o “recado” de que está atento à dinâmica do câmbio e não vai deixar o real se
descolar de seus pares. “Há a explicação mais técnica do vencimento da NTN-A3, mas o
fato é que o dólar saiu do corredor entre R$ 4,80 e R$ 5,00 e se estabeleceu firmemente
acima de R$ 5,00. Talvez o BC esteja interessado em mitigar esse processo de
depreciação do real”, afirma.
17:33
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.04050 -0.3519 5.09180 5.03580
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5052.500 -0.5903 5105.000 5049.000
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5076.000 -0.2358 5076.000 5076.000
JUROS
O discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, trouxe um respiro aos
mercados, estacando no começo da tarde o movimento de alta que os juros futuros
exibiam desde a abertura dos negócios. As declarações soaram levemente dovish em
relação às da semana passada no que se refere ao ciclo de corte de juros nos Estados
Unidos, mas não o suficiente para as curvas, nem lá nem aqui, engatarem uma correção
em baixa. No Brasil, a questão fiscal segue trazendo desconforto, com a possibilidade
crescente de revisão das metas, simultaneamente à percepção de atritos entre a Fazenda
e o Senado.
Às 17h03, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava
em 9,960%, de 9,947% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 passava de 9,96%
para 9,97%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,27% (de 10,26% ontem) e o DI para
janeiro de 2029, taxa de 10,82% (de 10,81%).
Pela manhã, as taxas chegaram novamente a abrir mais de dez pontos-base nos
vencimentos de longo prazo, que vêm sendo os mais penalizados. O avanço seguiu
atrelado à escalada dos Treasuries, com o retorno da T-Note de dez anos hoje atingindo
4,42% nas máximas, apoiado na surpresa com dados fortes da pesquisa ADP, sobre o
mercado de trabalho no setor privado americano, e nas declarações de Raphael Bostic,
presidente do Fed de Atlanta, reiterando que espera apenas um corte de juros em 2024.
Quando os juros caminhavam para a sexta sessão seguida de alta no caso dos
vencimentos médios e longos, veio Powell para aliviar a pressão nos ativos. “Na margem,
o discurso foi de neutro para ligeiramente dove, mas sem mudar o cenário. Ele deixou
claro que ainda não há informação suficiente para decidir sobre os cortes e tudo segue na
dependência dos dados”, afirmou Leonardo Monoli, sócio e diretor de gestão da Azimut
Brasil Wealth Management.
Entre outros pontos, Powell reforçou que a taxa básica atingiu o pico no ciclo atual e
lembrou que a maioria dos integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc, na
sigla em inglês) espera que os juros comecem a cair em algum momento neste ano. Por
outro lado, alertou que um corte de juros prematuro poderia reverter os progressos no
combate à inflação e exigir uma política mais apertada à frente, mas também que um
relaxamento tardio potencialmente enfraqueceria a atividade econômica e o emprego.
Depois das declarações, o rendimento da T-Note de dez anos voltou para 4,36%, trazendo
as taxas locais para perto dos ajustes anteriores. Contudo, o mercado evitou partir para
uma realização firme de lucros antes de conhecer o relatório de emprego dos EUA na
sexta-feira. “O payroll precisa dar um alívio, caso contrário a assimetria de riscos pode
piorar ainda mais”, prevê Monoli.
Além da espera pelo payroll, o contexto doméstico também não autoriza uma correção do
forte movimento recente. O sócio e economista-sênior da Tendências, Silvio Campos
Neto, menciona que há crescente percepção de dificuldades para o alcance das metas,
citando declarações da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, que,
segundo ele, preparam terreno para mudança das metas em 2024 e, principalmente,