POWELL CHANCELA APOSTA DO MERCADO EM ADIAMENTO DE CORTE E T-NOTE DE 2 ANOS TOCA 5%

Declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, nesta tarde impulsionaram
os movimentos de alta dos juros dos Treasuries e do dólar, dando sequência à
reprecificação global de ativos. Powell sancionou as apostas do mercado em um
adiamento do corte de juros ao ressaltar que os dados recentes de inflação mostram que
deve demorar mais tempo até que o BC americano tenha confiança em iniciar o
relaxamento monetário. As chances de um só corte de juros em 2024 ganharam ainda
mais musculatura e, por consequência, o rendimento da T-note de 2 anos superou no
pico da sessão os 5%. Ao fim da tarde, estava em 4,974%. O índice DXY subiu a 106,257
pontos. E as bolsas de Nova York terminaram sem direção clara – balanços melhores que
o esperado seguraram o Dow Jones no azul (+0,17%). A incerteza externa se somou à má
recepção do investidor às mudanças nas metas fiscais, ainda na esteira do movimento de
ontem. De Washington, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse não ver razão
para ruído com a meta, mas reconheceu que a forma de o governo comunicar a política
fiscal precisa melhorar. A cautela demandou mais mecanismos de proteção das
carteiras, levando o dólar à vista aos R$ 5,2688 (+1,61%). Operadores relatam saída de
recursos da bolsa doméstica e aumento da demanda por dólares por parte de
estrangeiros no segmento futuro. O movimento cambial puxou de novo os juros futuros,
que tiveram mais um dia de forte acúmulo de prêmios, acima dos 30 pontos-base. Neste
cenário, o Ibovespa foi penalizado de novo. O índice desceu aos 124.388,62 pontos (-
0,75%).
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•CÂMBIO
•JUROS
•BOLSA
MERCADOS INTERNACIONAIS
O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, reconheceu que os dados recentes
da inflação americana devem significar que os juros ficarão elevados por mais tempo, o
que fez as apostas do mercado por um único corte em 2024 se intensificarem, segundo
monitoramento do CME Group. Depois de Powell, o dólar se fortaleceu e os retornos dos
Treasuries aceleraram alta, com o da T-note de 2 anos ficando acima dos 5% na máxima
intraday. Em Nova York, as bolsas terminaram a sessão sem direção única. No setor de
commodities, o ouro continuou seu rali recente, ficando acima de US$ 2.400 no
fechamento pela primeira vez na história, enquanto o petróleo se movimentou de lado, no
aguardo de atualizações sobre o conflito Irã e Israel.
Em conversa com sua contraparte canadense, Tiff Macklem, Powell reconheceu a força
da inflação americana demonstrada em dados recentes, o que se coloca como um
empecilho para a redução de juros pelo Federal Reserve. Segundo ele, vai demorar mais
tempo até que a autoridade monetária tenha a confiança necessária para cortar juros.
Com isso, os mercados consolidaram apostas por manutenção na reunião do Fed em
julho, agora com chance de 55,6% de manutenção, contra 51,1% mais cedo, de acordo
com o CME. No acumulado do ano, a maior probabilidade oscila entre um único corte de
25 pontos-base (33,1%) ou cortes acumulados de 50 PB (34%).
Neste cenário de juros elevados por mais tempo, o retorno da T-note de 2 anos chegou a
tocar 5% outra vez na máxima intraday, embora não tenha conseguido se sustentar e
tenha devolvido parte dos ganhos. Mesmo assim, os juros atingiram os maiores valores
desde novembro. Perto do fechamento de Nova York, o rendimento da T-note de 2 anos
subia a 4,974%; o da T-note de 10 anos subia a 4,661%; e o do T-bond de 30 anos tinha
ganhos a 4,764%.
Durante as falas de Powell, o índice DXY – que mede a força do dólar contra rivais
desenvolvidos – também tocou máximas desde outubro. Também pela tarde, em evento
do Clube Econômico de Nova York, o dirigente do Banco Central Europeu (BCE) François
Villeroy de Galhau disse para o presidente do Fed de Nova York, John Williams, que a
autoridade europeia reduzirá juros em junho, a menos que ocorra um “grande choque” na
economia do bloco. Em entrevista ao Fundo Monetário Internacional (FMI), o líder do
Banco da Inglaterra (BoE), Andrew Bailey, reconheceu o progresso do Reino Unido no
arrefecimento inflacionário, embora ele destaque que a inflação segue muito acima da
meta.
Em meio a tudo isso, o iene renovou mínimas em 34 anos. A Spartan Capital avalia que
operadores estariam “testando a paciência” do Banco do Japão (BoJ, na sigla em inglês),
que poderia intervir na economia “a qualquer momento”. No fim da tarde em Nova York, o
dólar subia a 154,70 ienes, o euro recuava a US$ 1,0625 e a libra tinha baixa a US$ 1,2432.
O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou alta de 0,05%,
a 106,257 pontos.
A cautela global em meio a um quadro geopolítico ainda tenso no Oriente Médio
contribuiu também para a força do dólar enquanto ativo de segurança. Hoje, o presidente
do Irã Ebrahim Raisi disse que o país responderá de forma severa a qualquer ataque
israelense. Israel, por sua vez, planeja uma resposta “limitada”, segundo fontes do
governo americano, a fim de não permitir uma escalada do conflito. Enquanto as tensões
seguem elevadas, o ouro continua sua escalada e hoje fechou a US$ 2.407 por onça-troy,
novo recorde histórico. Entre as demais commodities, o petróleo se movimentou de lado
e registrou pequena queda, enquanto investidores também acompanham os dados
chineses.
Na última madrugada, a leitura do Produto Interno Bruto (PIB) chinês no primeiro
trimestre veio acima do esperado e alimentou expectativas de investidores por uma
demanda interna mais aquecida. A Oxford Economics, por sua vez, pondera que preços
mais altos do petróleo podem fazer o Fed manter os juros altos por mais tempo,
“sobretudo se as expectativas de inflação baseadas no mercado avançarem”. O WTI para
maio fechou em queda de 0,06% (US$ 0,05), a US$ 85,36 o barril, na Nymex, e o Brent
para junho recuou 0,02% (US$ 0,08), a US$ 90,02 o barril, na ICE.
Diante da instabilidade global, as bolsas de Nova York fecharam mistas, também de olho
na agenda de balanços corporativos. O bom desempenho do lucro e receita do Morgan
Stanley fez os papéis do banco avançarem 2,47% hoje, enquanto a ação do Bank of
America recuou 3,53%, com queda no lucro e receita no primeiro tri. A ação da Apple
também recuou (1,92%), depois de um relatório da Evercore destacar uma série de riscos
que a companhia tem pela frente. No fechamento, o índice Dow Jones subiu 0,17%, aos
37.798,97 pontos; o S&P 500 teve queda de 0,21%, aos 5.051,41 pontos; e o Nasdaq caiu
0,12%, aos 15.865,25 pontos.
CÂMBIO
O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 16, em alta de 1,61%, cotado R$
5,2688, após ter flertado no fim da manhã com o nível de R$ 5,29, ao registrar máxima a
R$ 5,2875. Foi o quinto pregão consecutivo de avanço da moeda americana, período em
que acumulou ganhos de 5,21%. No ano, o dólar apresenta valorização de 8,56%.
A avaliação crescente de que há cada vez menos espaço para cortes de juros nos EUA
neste ano provocou nova rodada de alta das taxa dos Treasuries, castigando divisas
emergentes. O real sofre ainda com o aumento da percepção de risco fiscal doméstico
após sinais de erosão do arcabouço fiscal, que culminaram ontem com anúncio de
alteração de metas de resultado primário.
Operadores relatam saída de recursos da bolsa doméstica e aumento da demanda por
dólares por parte de estrangeiros no segmento futuro. Mais uma vez, o giro com contrato
de dólar futuro para maio foi robusto, acima de US$ 24 bilhões. Dados da B3 mostram que
ontem o investidor não residente aumentou a posição comprada em derivativos cambiais
(dólar futuro, mini contratos, cupom cambial e swaps) em quase US$ 3 bilhões, para
cerca de US$ 69 bilhões.
Temores de escalada do conflito no Oriente Médio, com eventual revide de Israel ao Irã
após ataques a solo israelense no fim de semana, contribuem para a busca por dólares.
No exterior, o índice DXY – termômetro do comportamento da moeda americana em
relação a seis divisas fortes – operou em leve alta ao longo do dia e chegou a superar os
106,500 pontos. O dólar renovou máxima em quase 34 anos em relação ao iene.
O real apresentou o segundo pior desempenho entre divisas emergentes. As maiores
perdas foram do peso mexicano, em movimento da aparente realização de lucros. Até
ontem, a divisa mexicana era a única moeda emergente relevante que apresentava
ganhos em relação ao dólar no ano. Entre commodities, as cotações do petróleo
fecharam em ligeira queda, com o Brent ainda acima de US$ 90 o barril. Já o minério de
ferro recuou após indicadores de indústria e varejo na China em março subirem menos
que o esperado.
“O aumento das tensões geopolíticas, que faz investidores procurarem ativos mais
seguros, e essa reprecificação do corte de juros nos EUA aumentaram muito a procura
pelo dólar. E hoje Powell disse que o corte de juros pode vir mais adiante”, afirma o
economista e CIO da Medici Asset, Gustavo Corradi Matos, em referência a declarações
do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, à tarde.
As taxas da Treasuries avançaram, com o retorno da T-note de 2 anos – mais ligado às
expectativas par ao rumo dos juro nos EUA neste ano – renovando máxima (5,007%)
justamente em meio à fala de Powell. Ferramenta de monitoramento do CME Group
mostrou leve aumento das chances de apenas uma redução de juros de 25 pontos-base
neste ano, para pouco mais de 35% – acima da probabilidade de corte de 50 pontos-base,
que está perto de 33%.
Em evento, Powell disse que as leituras recentes de inflação sugerem que levará mais
tempo para que o BC americano adquira confiança suficiente para cortar os juros. Dada a
“falta de progresso” no processo de levar à inflação à meta de 2% seria “apropriado”
manter a política monetária restritiva por mais tempo.
Matos, da Medici Asset, observa que o movimento global de fortalecimento do dólar se dá
exatamente no momento em que investidores tendem a pedir mais prêmios de risco para
carregar ativos domésticos, em razão da piora do quadro fiscal. “O mercado já sabia que
haveria mudança da meta, mas há uma reação quando a intenção de mudar se torna
realidade. Isso acaba prejudicando o real”, diz o gestor, que vê R$ 5,20 como um novo piso
para a taxa de câmbio.
Em conversa com jornalistas em Washington, onde participa de reuniões de primavera do
Fundo Monetário Internacional (FMI), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que
o ambiente externo explica dois terços do movimento dos ativos brasileiros. “Tem muita
coisa que está fazendo com que o mundo esteja atento ao que está acontecendo nos
Estados Unidos e o dólar está se valorizando frente às demais moedas”, disse Haddad,
ressaltando que hoje o peso mexicano sofreu mais que o real.
Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, a credibilidade do arcabouço fiscal e
das próprias metas de resultado primários foi abalada. “Fica claro que o arcabouço é para
expandir gastos com qualquer receita adicional, o que aumenta o prêmio de risco
embutido no dólar e na curva de juros”, diz Velho, para quem o Banco Central pode
interferir no mercado de câmbio nesta semana, caso julgue a volatilidade da taxa de
câmbio exagerada
17:39
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.26880 1.6123 5.28750 5.19850
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5283.000 1.7037 5295.000 5205.500
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5289.000 1.6334 5300.000 5249.500
JUROS
Os juros futuros voltaram a disparar, com os longos abrindo 30 pontos-base nas máximas
da tarde, refletindo a escalada das preocupações com o ambiente externo e fiscal, que
também levaram o dólar para perto de R$ 5,30. A perspectiva sobre os juros nos Estados
Unidos ficou mais sombria após discursos de dirigentes do Federal Reserve, incluindo o
presidente Jerome Powell.
No Brasil, a expectativa para o cenário fiscal piorou após a leitura detalhada do Projeto de
Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO), que foi além da mudança da meta fiscal para
2025, colocando em xeque a credibilidade do arcabouço fiscal. Na seara geopolítica, o Irã
prometeu agir de forma severa a eventuais ataques de Israel.
Às 17h21, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava
em 10,33%, de 10,141% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 10,71%,
de 10,40% ontem. O DI para janeiro de 2027 rompeu a marca de 11%, não vista desde
1º/11/2023, com taxa de 11,10%, de 10,76% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de
2029 saltava a 10,66%, de 11,31% ontem.
O expressivo volume de contratos negociados, associado ao nível de abertura das taxas,
sugere que o mercado seguiu com movimentos de “stop loss” (zeragem) de posições
vendidas, diante do aumento da aversão ao risco externo e fiscal. O DI mais líquido, para
janeiro de 2025, negociava 2,9 milhões de contratos no horário acima, ante média diária
de 981 mil nos últimos 30 dias. Do mesmo modo, a curva ganhou ainda mais inclinação,
com o diferencial entre os vencimentos de janeiro de 2025 e janeiro de 2029 batendo em
133 pontos no fim da tarde.
O mercado continuou sob o jugo da tríade de fatores que vêm penalizando os ativos
desde a semana passada: incerteza sobre os juros nos EUA, conflitos no Oriente Médio e
cena fiscal brasileira. “O ‘higher for longer’ nos EUA é o principal, seguido pela questão
geopolítica. A mudança da meta fiscal foi a cereja do bolo”, resume o economista da
Guide Investimentos Victor Beyruti.
As taxas dos Treasuries voltaram a ter alta firme, com a da T-Note de 2 anos atingindo
5,00% nas máximas do dia e a da T-Note de 10 anos, 4,69%, na sequência da fala de
Powell em evento no Fórum de Washington sobre a Economia Canadense. Ele admitiu
que os dados de inflação indicam que vai demorar mais até que a autoridade monetária
tenha a confiança necessária para cortar juros. Mais cedo, o vice-presidente do Fed,
Philip Jefferson, já havia dito que se a inflação se mostrar persistente, os juros poderiam
permanecer estáveis por mais tempo. Nesse contexto, aumentaram as chances de
apenas uma queda do juro de 25 pontos em dezembro.
No que diz respeito ao Oriente Médio, o foco é, ao menos num primeiro momento, o
impacto no mercado de petróleo, na medida em que a defasagem dos preços da gasolina
já chega a 20% em relação às cotações internacionais. Caso Israel promova uma
contraofensiva aos ataques do último sábado e o Irã responda, o conflito pode escalar e
levar a uma nova disparada da commodity.
Num cenário externo já delicado, os ruídos fiscais deixam o mercado ainda mais sensível
a qualquer tipo de risco. O PLDO não só alterou a meta de 2025 de superávit de 0,5% do
PIB para resultado zero, como também mudou o objetivos para 2026 (de superávit de 1%
para 0,25%), com bandas de variação de 0,25 ponto.
A Warren Investimentos chama a atenção para o fato de que a meta zero em 2025 poderá
ser “cumprida” com um déficit de 0,32% do PIB porque o projeto exclui, para fins de meta,
os gastos com precatórios. O saldo negativo pode se transformar em 0,57% se levado em
conta o limite de 0,25 ponto. “Podemos considerar o aumento da probabilidade de um
cenário mais pessimista na política fiscal. Não pelo mecanismo do precatório, que deriva
de decisão do STF, mas pelo seu uso para fixar uma meta zero, quando o alvo efetivo é um
resultado negativo de quase 0,6% do PIB”, escreveram os economistas Felipe Salto, Josué
Pellegrini e Gabriel Garrote.
De Washington, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que não vê razão para
ruído em decorrência da mudança da meta para os próximos anos, argumentando que a
trajetória “está completamente em linha com o que se espera no médio prazo de
estabilidade da dívida”. Admitiu que é necessário controlar as despesas e que o déficit
primário não vai cair ao nível que o governo gostaria, na medida em que várias medidas
têm de ser negociadas e, nesse processo, a Fazenda acaba ficando “desfalcada de algum
pedaço que era importante para o fechamento das contas”.
Tal contexto tem provocado ampla reprecificação nos ativos domésticos, com a curva a
termo apontando cada vez mais chances de Selic terminal acima de 10%, muito como
efeito das zeragens de posição vendida. Beyturi, da Guide, afirma que é grande o risco de
o Copom desacelerar o ritmo de corte em junho para 25 pontos, uma vez que já alterou o
forward guidance de corte de 0,5 ponto apenas para a “próxima reunião” no último
comunicado justamente em função das incertezas também do quadro externo. A redução
de 0,50 ponto da Selic em maio, por ora, está assegurada, “a não ser que o ambiente piore
muito mais até lá”. “O juro real está em nível muito alto e a inflação está desacelerando.
Seria cedo para reduzir o ritmo”, diz
BOLSA
Em meio ao prosseguimento da pressão sobre o câmbio, que colocou o dólar a R$ 5,2875
na máxima desta terça-feira, o Ibovespa estendeu a série negativa pela quinta sessão, a
mais longa para o índice desde outubro, quando também encadeou cinco perdas entre os
dias 17 e 23. Hoje, oscilou dos 123.756,08 aos 125.315,63, da abertura, e fechou em baixa
de 0,75%, aos 124.388,62 pontos, com giro a R$ 26,5 bilhões. Na semana, cede 1,24% e,
no mês, 2,90%, colocando as perdas do ano a 7,30%. No fechamento, o Ibovespa foi ao
menor nível de encerramento desde 14 de novembro (123.165,76).
O sinal em Nova York foi misto, entre -0,21% (S&P 500) e +0,17% (Dow Jones), refletindo
ainda a cautela com relação aos acontecimentos do fim de semana em Israel, em
situação movediça no Oriente Médio que traz receio quanto a efeitos inflacionários sobre
os custos de energia, no momento em que o mercado já havia atrasado, a princípio de
junho ou julho para setembro, a expectativa quanto ao início dos cortes de juros nos EUA
pelo Federal Reserve, o BC americano.
Para além da conjuntura externa desfavorável ao apetite por risco, no Brasil, “o governo
tem postergado o déficit zero, sempre falando em aumento de gastos sem contrapartida
em receita, o que traz insegurança aos investidores”, diz Raony Rossetti, CEO da Melver.
“Somado a isso, o corte de juros nos Estados Unidos, que não começa. Esperavam-se
quatro cortes neste ano, depois mudou para três, e muitos profissionais estão esperando
agora só um corte, em novembro”, acrescenta.
A probabilidade de o Fed reduzir os juros em apenas 25 pontos-base em 2024 subiu hoje,
em meio às falas do presidente da instituição, Jerome Powell, nesta tarde, firmando-se
como a mais provável, reporta Maria Ligia Barros, do Broadcast. A chance avançou a
35,6% depois de o dirigente ter iniciado discurso, comparada a 33,9% instantes antes, de
acordo com o monitoramento do CME Group. Antes do discurso, esse cenário era quase
tão provável quanto a hipótese de cortes de 50 pontos-base, cuja chance caiu de 33,7%
para 32,9%.
Powell afirmou hoje que os dados recentes sobre a inflação nos Estados Unidos indicam
que vai levar mais tempo até que se tenha a confiança necessária para cortar juros. Em
evento no Fórum de Washington sobre a Economia Canadense, Powell ressaltou o
“significativo” arrefecimento dos preços no segundo semestre de 2023, mas admitiu que
os dados do começo de 2024 apontaram “falta de progressos” adicionais no objetivo de
fazer com que a inflação retorne à meta de 2% ao ano.
Em Washington para os encontros de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI) e
do Banco Mundial, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje que uma
reprecificação de ativos está em curso no mundo, e que é preciso atenção à inflação nos
Estados Unidos e à escalada das tensões no Oriente Médio. “Cenário externo explica dois
terços do que está acontecendo no Brasil”, disse o ministro, mencionando em especial a
incerteza sobre o Oriente Médio. “Ninguém sabe como o conflito [na região] vai se
desdobrar”, observou Haddad.
Ele admitiu, contudo, ser preciso “explicar melhor o que vai acontecer com as contas
públicas no Brasil”. O país, segundo disse Haddad, “está gastando mais do que arrecada
há 10 anos” e, “ao gastar mais do que arrecada, o Brasil não consegue crescer”. “Déficit
primário vai cair a nível que não é o que nós gostaríamos”, acrescentou o ministro da
Fazenda.
Nesse contexto de dúvidas sobre a trajetória do endividamento público no Brasil, em meio
a um cenário externo desafiador – com dois conflitos militares em andamento no mundo,
na Europa e no Oriente Médio, quando a atenção segue concentrada na inflação e no nível
global dos juros -, o apetite por ações se manteve deprimido nesta terça na B3, com
Ibovespa no negativo desde a abertura.
“A curva de juros doméstica continuou bem estressada na sessão, com mais pedido de
prêmio pelo mercado e vários trechos fazendo máximas, em meio aos temores
geopolíticos. Apesar do desempenho do petróleo na sessão [quase estável no
fechamento], ainda há receio de repique inflacionário a partir dos preços da commodity”,
diz João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos.
As perdas na carteira teórica não foram piores porque Petrobras (ON +0,49%, PN +0,46%)
conseguiu avançar na sessão, negativa para outros pesos-pesados do índice, como Vale
(ON -0,89%) – que está para divulgar relatório de produção, observa a Guide – e grandes
bancos (BB ON -1,13%, Bradesco ON -1,05%, Itaú PN -0,75% e Santander Unit -0,85%, na
mínima do dia no fechamento).
Na ponta ganhadora do Ibovespa, WEG (+3,00%), Eztec (+2,97%), MRV (+2,34%) e Lojas
Renner (+1,39%). No lado oposto, Assaí (-5,32%), Alpargatas (-5,05%), Carrefour Brasil (-
4,40%) e Locaweb (-4,34%), com ambas as pontas ocupadas em geral por ações
correlacionadas ao ciclo doméstico, em um dia negativo também para as de commodities
e para as empresas com exposição à demanda externa.
Em outro desdobramento do dia, desfavorável para a Bolsa brasileira, “na China um
conjunto de novos dados indicou que a recuperação do país permaneceu irregular”,
destaca a Guide Investimentos, em nota. “O PIB do primeiro trimestre e os investimentos
fixos superaram as previsões, porém, as vendas do varejo e a produção industrial ficaram
aquém do consenso. A agência de estatísticas do país alertou que as bases para uma
economia estável ainda são frágeis, face aos crescentes ventos contrários do exterior. E o
setor imobiliário caiu mais de 1,5%, com os preços de novas residências na China em sua
maior queda em quase nove anos no último mês.”
17:34
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 124388.62 -0.7542
Máxima 125315.63 -0.01
Mínima 123756.08 -1.26
Volume (R$ Bilhões) 2.64B
Volume (US$ Bilhões) 5.02B
17:39
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. % INDICE BOVESPA Var. %
Último 124350 -0.6630 128480 -0.3776
Máxima 125280 +0.08 128485 -0.37
Mínima 123760 -1.13 128455 -0.40