PONDERAÇÃO SOBRE CORTE DO FED EM MARÇO PREVALECE EM NY, MAS REAL E BOLSA RESISTEM

A volatilidade no mercado externo seguiu na tarde desta sexta-feira, ainda com o investidor dissecando os dados do relatório de emprego dos Estados Unidos (payroll). O tom negativo para os ativos de risco, contudo, prevaleceu no encerramento. Depois do headline forte de criação de vagas em dezembro inibir apostas de corte pelo Federal Reserve em março, as atenções se voltaram às revisões dos meses anteriores, o que alguns analistas dizem ser reflexo já da desaceleração econômica. A leitura do índice de gerentes de compras (PMI) do setor de serviços pelo ISM, abaixo do consenso do mercado, contribuiu para essa interpretação no começo da tarde. Porém, à medida que a sessão caminhava para o final, certa cautela se impôs. O reflexo principal foi a subida do juro da T-note de 10 anos a 4,041%, subida de 4,6 pontos-base em relação a ontem e de 16,2 pontos ante a sexta-feira passada. As bolsas de Nova York terminaram em alta leve, mas sem muito entusiasmo, depois de muitas trocas de sinais nas horas finais. Na semana, as perdas foram de 0,59% no Dow Jones, 1,52% no S&P 500 e 3,25% no Nasdaq. O índice para o dólar DXY avançou no intraday e no cômputo semanal. Só que a toada ruim do pregão externo hoje encontrou respaldo interno somente no mercado de juros, com alta das taxas. A subida do petróleo, diante de tensões geopolíticas, sustentou a valorização de moedas e outros ativos ligados a commodities. O resultado foi fechamento do dólar a R$ 4,8722, queda de 0,73%, o que aparou a alta da primeira semana do ano a 0,39%. O Ibovespa subiu aos 132.022,92 pontos (0,61%), mas ainda assim amarga perda de 1,61% neste começo de 2024.

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•CÂMBIO

•BOLSA

•JUROS

MERCADOS INTERNACIONAIS

Com recuperação dos juros dos Treasuries de um lado e uma onda de compra de ações de bancos do outro, as bolsas de Nova York trocaram repetidamente de sinal ao longo do dia e fecharam o pregão em baixa/alta, com firmes perdas semanais. A volatilidade do dia seguia os reajustes nas apostas sobre quando o Federal Reserve (Fed) irá iniciar o aguardado relaxamento monetário, após dados divergentes sobre a economia americana. O cenário majoritário, entretanto, ainda era de que o início dos cortes de juros iniciariam em março, o que não foi favorável ao dólar, que caiu ante divisas rivais fortes e emergentes. A falta de pressão do câmbio contribuiu com o petróleo, que ainda reagia às dúvidas sobre possível deterioração das perspectivas para a oferta diante de tensões no Oriente Médio.

O retorno da T-note de 10 anos voltou a operar acima de 4% no pregão, após o payroll dos Estados Unidos registrar número de vagas acima do esperado pelo mercado e indicar que a taxa de desemprego permaneceu em 3,7%, enquanto a expectativa era de alta a 3,8%. O dado fez com que o Bank of America (BofA) mantivesse sua expectativa de corte de juros em 25 pontos-base em março.

Entretanto, o BMO alerta para a defasagem dos dados de emprego, indicando que o índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços aquém do esperado é um dado mais “em tempo real”. Ainda assim, o banco canadense destaca que não há “nada na combinação do relatório de emprego e do PMI que possa convencer a Fed a cortar no primeiro trimestre”. Já o City Index ressalta que os dados apoiam a visão de que o mercado estava muito à frente no que diz respeito aos cortes nas taxas. Às 18h (de Brasília), o retorno da T-note de 2 anos subia a 4,399%, o da T-note de 10 anos avançava a 4,041%, e o do T-bond de 30 anos tinha ganhos a 4,199%. Na semana, os retornos dos três títulos subiram.

Ainda assim, no fim da tarde de Nova York, plataforma de monitoramento do CME Group indicava 66,4% de chance de que o primeiro corte de juros iniciasse em março, abaixo dos 70% registrados mais cedo. Já a possibilidade de que a redução acumulada de 2024 fosse de 150 pontos-base era de 35%.

Neste cenário, mesmo com pressão dos rendimentos dos Treasuries, as bolsas conseguiram fechar em leve alta, com o setor financeiro em destaque. Segundo o Bank of America (BofA), 2024 deverá ser um bom ano para o setor bancário, com expectativas do corte de juros e do possível pouso suave da economia. Assim, o Wells Fargo avançou 1,30% e o próprio BofA teve alta de 1,86%.

Na contramão, a Apple firmou queda e fechou em baixa de 0,40%, após reportagem revelar que o Departamento de Justiça (DoJ) dos Estados Unidos está nos estágios finais de uma investigação sobre a empresa, o que pode culminar em um processo judicial antitruste. O índice Dow Jones subiu 0,07%, o S&P 500 teve alta de 0,18% e o Nasdaq avançou 0,09%.

O dólar, por sua vez, operou perto da estabilidade em relação a moedas rivais. Apesar de indicar que o “forte” início da moeda em 2024 foi parcialmente revertido, a Capital Economics destaca que o dólar manteve-se em alta durante a semana, “à medida que as expectativas das taxas de juro recuperaram e o sentimento de risco azedou durante os primeiros dias de negociação do ano”.

Ainda, o Brown Brothers Harriman (BBH) reforça que a percepção é de que os mercados estão percebendo que a economia dos EUA permaneceu robusta no quarto trimestre e provavelmente continuará assim em 2024, “o que certamente não exigiria seis cortes de taxas por parte da Fed este ano. Dito isto, uma recuperação sustentada do dólar dependerá dos dados dos EUA. Ao longo das últimas semanas, as leituras têm sido bastante firmes e por isso continuamos a acreditar que as atuais expectativas de flexibilização do mercado estão completamente erradas”. No fim da tarde, o dólar se valorizava a 144,72 ienes, o euro caía a US$ 1,0943 e a libra tinha alta a US$ 1,2721. Já o índice DXY – que mede o dólar ante seis rivais fortes – fechou praticamente estável, com queda de 0,01%, a 102,412 pontos.

Assim, o petróleo conseguiu fechar o pregão e a semana em alta, com dúvidas sobre como a escalada de conflitos no Oriente Médio, como explosão no Irã, aumento de tom do Hezbollah e novos ataques dos Houthi no Mar Vermelho, poderá afetar a oferta da commodity. Segundo a Capital Economics, “o risco de um conflito mais amplo que poderia envolver os principais produtores de petróleo bruto não desapareceu”. Ainda, a consultoria britânica aponta para uma recuperação da demanda em 2024, o que deve favorecer os preços do óleo. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para fevereiro de 2024 subiu 2,24% (US$ 1,62), a US$ 73,81 o barril, enquanto o Brent para março, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), avançou 1,50% (US$ 1,17), a US$ 78,76 o barril.

CÂMBIO

O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 5, em queda de 0,73%, cotado a R$ 4,8722 no mercado doméstico de câmbio. O dia foi marcado por perdas moeda americana em relação a divisas emergentes, favorecidas pela valorização das commodities, em especial do petróleo, e pelo leve aumento das chances de cortes de juros nos EUA ainda neste primeiro trimestre. A despeito do tombo hoje, o dólar ainda encerra a semana com alta de 0,39%, fruto do avanço de 1,29% da moeda no primeiro pregão do ano, refletindo aumento das tensões geopolíticas no Oriente Médio.

Apesar da agenda doméstica carregada, os negócios foram pautados pela divulgação de indicadores da economia americana. Dado mais aguardado da semana, o relatório oficial de emprego (payroll) de dezembro mostrou geração de 126 mil vagas de trabalho, superando as expectativas dos analistas. A mediana da pesquisa Projeções Broadcast era de 175 mil.

Em um primeiro momento, os ativos de risco sofreram, e o dólar se fortaleceu, atingindo máxima de R$ 4,9391 no mercado doméstico. Afinal, um mercado de trabalho aperto sugere resiliência inflacionária e pouco espaço para redução dos juros. Logo em seguida, porém, uma leitura mais atenta do payroll e indicador fraco do setor de serviços promoveram uma reviravolta, levando a alta das bolsas e baixa da moeda americana. Por aqui, o dólar desceu até a mínima de R$ 4,8610.

Apesar da geração de vagas acima do esperado em dezembro, houve revisão para baixo dos números de outubro (de 150 mil para 105 mil) e de novembro (de 199 mil para 173 mil). No início da tarde, o Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), informou que o índice de gerente de compras (PMI) do setor de serviços nos EUA caiu de 52,7 em novembro para 50,06 em dezembro, enquanto analistas esperavam 52,6. Leituras abaixo de 50 indicam contração da atividade.

Lá fora, o índice DXY – que mede o comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes – operavam em leve queda no fim da tarde, ao redor dos 102,300 pontos, após ter rompido o piso dos 102,000 pontos na mínima (101,908 pontos). Entre divisas emergentes, os maiores ganhos foram de dois pares do real, o peso colombiano e mexicano.

“O mercado foi muito dominando hoje pelo resultado do payroll. O número veio um pouco mais forte e a reação inicial foi negativa, com o dólar disparando até R$ 4,93. Mas depois o mercado viu que o resultado não era ruim em termos de perspectiva para os juros nos Estados Unidos e os ativos de risco se recuperaram”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, para quem o dólar à vista poderia estar ao redor de R$ 4,75 não fosse a questão fiscal doméstica. “Na cotação atual, o dólar já incorpora que o governo não vai cumprir a meta de déficit fiscal zero. Do ponto de vista de arrecadação, parece não haver mais o que fazer”.

Pela manhã, o Banco Central divulgou que o setor público consolidado (Governo Central, Estados, municípios e estatais, com exceção de Petrobras e Eletrobras) registrou déficit primário de R$ 37,270 bilhões em novembro, maior do que a mediana da pesquisa Projeções Broadcast (R$ 34 bilhões).

À tarde, a Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que a balança comercial brasileira registrou superávit de US$ 9,36 bilhões em dezembro, encerrando 2023 com saldo positivo de US$ 98,838 bilhões – resultado anual recorde e 60,6% maior que o registrado em 2022.

O Mdic prevê superávit comercial de US$ 94,4 bilhões em 2024, uma queda 4,5% ante 2023. A expectativa é de que as exportações, que foram de US$ 339,7 bilhões no ano passado (recorde da série histórica) saltem para US$ 348,2 bilhões neste ano. O saldo comercial será menor, nas estimativas da pasta, em razão do crescimento mais forte das importações

18:26

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.87220 -0.7274 4.93910 4.86100

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4890.000 -0.4884 4957.500 4877.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4947.500 0.08091 4948.500 4947.500

BOLSA

O Ibovespa encerrou a primeira semana do ano acumulando perda de 1,61%, frente a ajuste negativo entre 0,59% (Dow Jones) e 3,25% (Nasdaq) no mesmo intervalo em Nova York. Após ter avançado nas três semanas anteriores, em progressão que o alçou a novas máximas históricas no fim de 2023, as quatro sessões inaugurais de 2024 foram pautadas na B3 por fatores externos, principalmente o realinhamento das expectativas em torno do momento em que os juros dos EUA começarão a ser cortados pelo Federal Reserve.

O entusiasmo que havia prevalecido em dezembro, de que redução dos juros de referência do Fed viria já em março, foi matizado nesta abertura de ano por cautela dos investidores, com base na ata da mais recente reunião de política monetária do BC dos Estados Unidos e em nova fornada de dados econômicos, que culminou nesta sexta-feira com o payroll de dezembro.

Hoje, o Ibovespa, que chegou a subir pouco mais de 1% no melhor momento do dia, mostrou fechamento ainda positivo, com ganho limitado a 0,61%, aos 132.022,92 pontos, entre mínima de 130.578,83 e máxima de 132.634,81 pontos na sessão. O giro financeiro foi de R$ 19,5 bilhões nesta sexta-feira, abaixo das duas sessões anteriores, quando havia avançado para a casa de R$ 21 bilhões.

Após reação inicial negativa aos números do mercado de trabalho americano divulgados pela manhã, as revisões para baixo na geração de vagas nos dois meses anteriores – que ajudaram a absorver a leitura acima do esperado para dezembro – acabaram prevalecendo na interpretação, moderadamente favorável, dos dados do payroll nesta sexta-feira. Também contribuiu para alguma estabilização do humor dos investidores a leitura mais fraca para o índice de atividade (PMI) de serviços, do Instituto para Gestão da Oferta (ISM).

“Logo que os dados do payroll saíram, de manhã, os juros dos Treasuries foram acima de 4%”, observa Fernando Ferrer, analista da Empiricus Research. Posteriormente, ainda que em viés de alta na sessão, houve alguma acomodação dos rendimentos livres de risco em comparação ao que se viu nas máximas do dia, quando o yield de 10 anos foi a 4,10%; o de 30 anos, a 4,23%, e o de 2 anos, mais correlacionado à perspectiva de curto prazo para a política monetária dos Estados Unidos, a 4,47%.

Num segundo momento, diz Ferrer, o mercado passou a dar atenção às revisões para baixo nos dados sobre a criação de vagas em outubro e novembro, o que compensou a geração “extra” de empregos em dezembro, tranquilizando um pouco os investidores e estabilizando as bolsas. Dessa forma, após essa reavaliação dos dados de emprego pelo viés do copo meio cheio, a expectativa de que o Fed poderá cortar a taxa de referência ainda em março voltou a 66,4%, de acordo com a plataforma da CME, depois de retroceder nos últimos dias, atingindo ontem 64,2%.

“O PMI de serviços [do ISM] veio em expansão em dezembro, mas em ritmo menor, o que contribuiu para a percepção de que há um arrefecimento de atividade”, acrescenta o analista. À espera de cortes na taxa de juros do Fed, menos tem sido mais na apreciação de dados econômicos pelo mercado, com a noção, que tem se consolidado, de que o BC americano operou os instrumentos de forma a assegurar um pouso suave para a economia.

Hoje, a secretária do Tesouro dos Estados Unidos e ex-presidente do Fed, Janet Yellen, expressou essa visão, em entrevista à CNN. “Tivemos 23 meses seguidos com o desemprego abaixo de 4%, algo que não víamos há 50 anos”, disse Yellen, para quem os Estados Unidos conseguiram reduzir a inflação sem impor danos drásticos à atividade econômica e ao mercado de trabalho.

Por sua vez, o economista-chefe do JPMorgan, Bruce Kasman, avalia que o payroll de dezembro, mais forte do que o esperado, contrasta com o otimismo ainda visto nos mercados com relação ao momento em que a flexibilização monetária, de fato, começará. “[O relatório] põe em questão o otimismo de que podemos conseguir uma flexibilização monetária agressiva e antecipada, a partir de março.”

Aqui, o mercado começou 2024 um pouco menos otimista sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo, conforme mostra o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Na comparação com o último levantamento, relativo à semana que antecedeu o Natal (18 a 22/12), a fatia dos profissionais que espera alta do Ibovespa na próxima semana caiu de 57,14% para 44,44%. Entre os que esperam estabilidade, a porcentagem também recuou, de 28,57% para 22,22%. E os que projetam queda para o índice passaram de 14,29% para 33,33%, no mesmo intervalo.

Nesta sexta-feira, o bom desempenho das ações de grandes bancos – destaque para Itaú PN (+2,34%), na máxima da sessão no fechamento – assegurou sinal positivo para o Ibovespa, em dia discreto para Petrobras (ON +0,87%, PN +0,23%) e ainda negativo para Vale (ON -1,28%). Na ponta do índice de referência da B3, destaque para Soma (+6,85%), Cielo (+5,40%), Alpargatas (+4,57%) e Hapvida (+3,89%). No lado oposto, Pão de Açúcar (-7,87%), Braskem (-2,71%) e IRB (-2,55%).

18:22

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 132022.92 0.60736

Máxima 132634.81 +1.07

Mínima 130578.83 -0.49

Volume (R$ Bilhões) 1.94B

Volume (US$ Bilhões) 3.98B

18:26

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 133460 0.74734

Máxima 134040 +1.19

Mínima 131840 -0.48

JUROS

Os juros futuros encerraram o dia próximos dos ajustes da véspera, mas com leve viés de alta. Mais uma vez, a curva doméstica refletiu o aumento discreto dos Treasuries. O mercado ainda tenta adequar as apostas em quando o banco central dos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed), começará a reduzir os juros.

Mas a queda do dólar em relação ao real – de 0,73%, a R$ 4,8722 – e alguns dados de inflação mais baixos, hoje, fizeram com que as taxas domésticas encerrassem o dia com aumento mais modesto do que as americanas, segundo analistas.

Assim como ontem, dados do mercado de trabalho dos EUA foram o destaque da sessão. O relatório de empregos do país, o payroll, mostrou criação de 216 mil vagas em dezembro – acima do consenso, de 175 mil. Mas revisões na série reduziram o saldo de outubro e novembro em 71 mil empregos, mais do que compensando a surpresa.

Num primeiro momento, os Treasuries avançaram e puxaram os juros domésticos, sob a visão de que o mercado de trabalho mais forte limitaria o espaço para um corte de juros. Depois, as taxas chegaram a cair, enquanto investidores retomavam a expectativa pelo início do afrouxamento monetário já em março.

No fim do dia, os contratos de depósito interfinanceiro (DI) estavam próximos dos ajustes da véspera. O DI para janeiro de 2025, mais negociado na sessão, passou de 10,044% para 10,075%. A alta também foi moderada nos contratos para janeiro de 2026 (9,675% para 9,680%), janeiro de 2027 (9,798% para 9,805%) e janeiro de 2029 (10,196% para 10,210%).

As Treasuries também tiveram alta modesta, mas a taxa da T-Note de dez anos chegou ao fim da sessão em 4,041% – acima, portanto, da marca psicológica de 4%. No vencimento mais curto, de dois anos, a T-Note subiu de 4,395% ontem para 4,399% hoje.

Segundo o economista-chefe da Oriz Partners, Marcos de Marchi, o mercado de juros brasileiro está basicamente refletindo o comportamento da curva americana desde meados de novembro. Neste início de ano, é natural que esse comportamento permaneça. “Estamos na dependência dos Treasuries, mesmo porque, no Brasil, não tem muitas notícias”, afirma.

Marchi diz que os números do payroll reforçaram a perspectiva de uma “desaceleração ordenada” da economia americana. A média móvel trimestral de criação de empregos no país, ele destaca, passou de 180 mil até novembro para 165 mil em dezembro – em desaceleração, mas ainda num ritmo forte.

O economista afirma que os números continuam sugerindo que o Fed começará a diminuir os juros entre o fim do segundo trimestre e o início do terceiro, enquanto o mercado espera o primeiro corte em março. Tudo isso é compatível, ele diz, com rendimentos em torno de 4% para as Treasuries, o que limita o espaço para queda dos juros aqui.

“Temos visto bancos, corretoras e assets fazendo revisões nas projeções de Selic para baixo de 9%, a 8,5% ou algo perto disso. Achamos que não é o caso, mas temos notado que esse movimento tem acontecido de algumas semanas para cá, especialmente depois da decisão do Fed em dezembro, que mudou a cabeça do mercado”, diz Marchi, que vê queda da Selic a 9% no fim do ciclo, em setembro.

Para o diretor da Wagner Investimentos, José Faria Júnior, a queda do dólar ante o real e os resultados mais fracos de alguns indicadores de inflação no Brasil ajudaram a moderar o aumento dos juros domésticos hoje.

O IPC-Fipe, que mede a inflação na cidade de São Paulo, desacelerou de 0,43% em novembro para 0,38% em dezembro – bem abaixo das expectativas, entre 0,50% e 0,55%. O índice subiu 3,15% em 2023, a menor taxa desde 2018 (3,02%). Já o IGP-DI avançou 0,64% em novembro, pouco abaixo do consenso do mercado, de 0,65%.

“Nós já tínhamos visto um ajuste pré-payroll nos Treasuries, com a ata do Fed e com o relatório ADP, que fizeram os juros americanos subirem e a nossa curva subir, assim como o IPCA-15 mais forte”, diz o economista. “Hoje, eu vejo como um dia em que o IGP e o IPC-Fipe um pouco mais brandos ajudaram os DIs.”

A semana termina com ganho de inclinação para a curva, resultado de um aumento de 6 pontos-base na taxa do DI para janeiro de 2025 e de 14 pontos-base no contrato para janeiro de 2029. Com isso, o diferencial entre os juros desses dois papéis passou de 5,6 pontos-base no ajuste do dia 28, última sessão de 2023, para 13,5 pontos-base hoje.

Na semana que vem, todas as atenções estarão voltadas para a quinta-feira, 11, quando EUA e Brasil divulgarão seus dados de inflação ao consumidor de dezembro – o CPI e o IPCA, respectivamente. Os números são aguardados para balizar as apostas na condução da política monetária, lá e aqui.