PMI FRACO DOS EUA LEVA DÓLAR PARA BAIXO, MAS BOLSA IGNORA NY COM PESO DE SIDERURGIA

O dólar à vista emendou a terceira sessão seguida de perdas ante o real e baixou à menor
cotação em 10 dias, motivado pela perda de força da moeda americana no exterior. O
Índice dos Gerentes de Compras (PMI) Composto dos Estados Unidos no menor nível em
4 meses deu novo gás às apostas de dois cortes de juros pelo Federal Reserve este ano,
levando a um alívio generalizado. O dólar e os juros dos Treasuries caíram, ao passo que
as bolsas de Nova York subiram. Aqui, o real foi uma das moedas mais bem posicionadas
no mundo hoje. O dólar à vista recuou a R$ 5,1304 (-0,74%), menor cotação de
fechamento desde 12 de abril. Apesar do apetite ao risco, o Ibovespa não conseguiu se
firmar no azul. O setor siderúrgico foi afetado pela frustração com números trimestrais da
Usiminas PNA (-13,91%). Nem mesmo o anúncio de medidas de proteção ao mercado de
aço interno agradaram. O índice caiu aos 125.148,07 pontos (-0,34%). Nos juros futuros,
houve volatilidade no fim da tarde à medida que a baixa dos rendimentos dos títulos
americanos perdia força. O câmbio e a percepção de melhora da relação do governo com
o Congresso foram contraponto.
•CÂMBIO
•BOLSA
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•JUROS
CÂMBIO
O dólar emendou o terceiro pregão consecutivo de baixa firme no mercado doméstico de
câmbio na sessão desta terça-feira, 23, acompanhando a onda de enfraquecimento
global da moeda americana e o recuo das taxas dos Treasuries. Sinais de perda de força
da economia do EUA, após a divulgação de índices de gerentes de compras (PMI, na sigla
em inglês) referentes a abril, elevaram as chances de o Federal Reserve promover dois
cortes da taxa de juros neste ano.
Tirando um movimento limitado de alta na primeira hora de negócios, antes da divulgação
de indicadores americanos, a divisa trabalhou em queda no restante do pregão. Com
aprofundamento das perdas ao longo da tarde, em sintonia com o exterior, o dólar
registrou mínima a R$ 5,1195. No fim do dia, a moeda recuava 0,74%, a R$ 5,1304 – menor
valor de fechamento em dez dias. Nos três últimos pregões, a divisa acumulou queda de
2,28%. Em abril, contudo, o dólar ainda apresenta valorização de 2,29% ante o real.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho da moeda americana em relação a
seis divisas fortes, em especial o euro – voltou a trabalhar abaixo da linha dos 106,000
pontos, com mínima aos 105,614 pontos. Entre as principais divisas emergentes e de
países exportadores de commodities, os maiores ganhos foram do peso mexicano e do
real. Trata-se de uma recuperação esperada dado que ambas as moedas ainda
acumulam as piores perdas entre emergentes no mês.
“O movimento de alta do dólar foi muito forte na semana passada e está sendo revertido
aos poucos. O dólar está voltando também em relação a outras moedas. E aqui os
exportadores estão trazendo recursos para aproveitar a taxa de câmbio mais alta”, afirma
o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima. “O BC acertou em não intervir. Os
fundamentos mudaram e não fazia sentido atuar para mascarar esse processo”.
Nos EUA, o PMI composto divulgado pela S&P Global caiu de 52,1 em março para 50,9 em
abril, no menor nível em quatro meses. Analistas esperavam alta para 52,5. O PMI
Industrial recuou de 51,9 para 49,9. Leituras abaixo de 50 indicam contração da atividade.
Ferramenta dos CME Group mostrou aumento das chances de redução de 50 pontosbase de juros pelo Fed neste ano, que passaram a se situar um pouco acima das apostas
em corte de apenas 25 pontos-base.
“Esses PMIs são geralmente dados secundários. Mas hoje fizeram preço. Isso mostra o
mercado muito sensível a qualquer informação marginal depois de o próprio Fed dizer
que está mais ‘data dependent”, afirma Lima, ressaltando que, em fala na semana
passada, o presidente do BC americano, Jerome Powell, adotou um tom mais
conservador, evitando se comprometer com queda dos juros neste ano. Na sexta-feira,
26, sai o índice preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês), medida de
inflação preferida pelo Fed.
Para Lima, dados de atividade e inflação nos EUA, que vão balizar as apostas em torno
dos próximos passos do Fed, ainda são determinantes para a trajetória do dólar. Não se
pode desconsiderar, contudo, os impactos dos “fatores idiossincráticos” domésticos.
Apesar do fortalecimento da moeda americana no exterior em abril, o real poderia ter se
depreciado menos não fossem questões locais, como a novela em torno dos dividendos
da Petrobras e a mudança das metas fiscais no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO).
No momento, as atenções se voltam para os esforços do ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, para desmontar a pauta-bomba no Congresso que pode engordar os gastos em
R$ 70 bilhões. Após reunião hoje com o presidente da Câmara, Artur Lira (PP-AL), Haddad
disse houve acordo para votação do projeto de lei que reformula o Programa Emergencial
de Retomada do Setor de Eventos (Perse), com custo fixo de R$ 15 bilhões até 2026.
Pela manhã, a Receita Federal informou que a arrecadação de impostos e contribuições
federais somou R$ 190,611 bilhões em março de 2024, uma alta real (descontada a
inflação) de 7,22% na comparação anual. O resultado veio levemente abaixo da mediana
de Projeções Broadcast (R$ 191,1 bilhões). Nos três primeiros meses de 2024, a
arrecadação federal somou R$ 657,769 bilhões – o melhor resultado em ternos reais da
série histórica para um primeiro trimestre. Esses números, porém, não animam o
mercado a apostar no cumprimento da meta de superávit primário zero neste ano.
Para o Citi, o aumento do risco fiscal local ajuda a explicar a depreciação recente do real
e deve levar o dólar a oscilar em torno de R$ 5,10 no fim de 2024. Antes, o banco esperava
que a taxa de câmbio se mantivesse abaixo de R$ 5,00, dada a solidez das contas
externas. “A depreciação do real, combinada a um aumento do CDS [Credit Default Swap]
do Brasil acima da média dos emergentes, indica que os preços dos ativos domésticos
não estão reagindo só a fatores externos”, diz o banco.
17:32
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.12990 -0.7507 5.18950 5.11950
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5134.000 -0.8019 5192.500 5122.000
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5143.000 -0.7909 5172.500 5139.000
BOLSA
Na contramão de Nova York, onde os ganhos chegaram a 1,59% (Nasdaq) na sessão, o
Ibovespa interrompeu nesta terça-feira sequência de três altas, encerrando o dia aos
125.148,07 pontos, em leve baixa de 0,34% e com giro a R$ 21,2 bilhões. Apesar da
recuperação vista entre os grandes bancos, com destaque para Itaú (PN +1,49%), o dia foi
ruim para o setor metálico, em especial para as siderúrgicas, após a decepção com os
resultados trimestrais da Usiminas (PNA -13,91%), na abertura da temporada brasileira
referente ao primeiro trimestre. Na semana, o Ibovespa sobe 0,02% e no mês cede 2,31%,
colocando as perdas do ano a 6,73%.
A frustração com os resultados da Usiminas puxou para baixo nomes como Gerdau (PN –
4,03%) e CSN (ON -2,44%), e reverberou também em Vale (ON -0,87%) que divulga,
depois do fechamento da quarta-feira, o balanço trimestral. Além do setor metálico, outra
referência das commodities, Petrobras, recuou hoje (ON -0,69%, PN -0,19%). Na ponta
perdedora do Ibovespa na sessão, além de Usiminas e Gerdau, destaque também para
Magazine Luiza (-5,88%) e Casas Bahia (-4,48%). No lado oposto, Pão de Açúcar
(+11,69%), Fleury (+5,07%) e 3R Petroleum (+4,11%).
“A ação da Usiminas caiu acentuadamente devido a uma significativa redução de 93% no
lucro líquido reportado para o 1T24 comparado ao mesmo período do ano anterior. Além
disso, a empresa enfrenta desafios com o aumento de importações de aço, e na
teleconferência o CFO disse esperar que o volume na mineração, em 2024, seja menor do
que em 2023″, diz Lucas Almeida, sócio da AVG Capital.
Para além da questão setorial, “o cenário econômico brasileiro para 2024 apresenta
desafios significativos, refletidos na reação do mercado às recentes projeções do Boletim
Focus. A taxa Selic projetada para 9,5% e o aumento nas projeções do IPCA para os anos
de 2024 e 2025 indicam cautela, com ajustes nas curvas de juros futuros e perspectiva
mais conservadora quanto à inflação”, aponta em nota Marcelo Boragini, sócio e
especialista em renda variável da Davos Investimentos.
“Esse panorama afeta diretamente os ativos ligados à economia doméstica, com o setor
varejista – incluindo grandes empresas como Magazine Luiza, Casas Bahia e Arezzo –
enfrentando desafios. Em resposta a essas condições, Magazine Luiza planeja uma
assembleia extraordinária para discutir um grupamento de ações na proporção de 10 para
1, uma estratégia que visa reduzir a volatilidade das ações sem alterar o patrimônio dos
investidores”, acrescenta Boragini, observando que a medida reflete uma “busca por
estabilidade” no mercado de ações, “um esforço para mitigar os efeitos das incertezas
econômicas atuais”.
Em relatório mensal sobre o cenário econômico brasileiro, a equipe de pesquisa do Citi
constata que a reavaliação em andamento sobre a política monetária nos Estados Unidos
e o anúncio, na semana passada, de uma consolidação fiscal mais “suave” no Brasil
resultam em depreciação do real frente ao dólar. Em paralelo, indicadores de atividade
dão suporte a uma aceleração do crescimento, em ambiente no qual o mercado de
trabalho se mantém aquecido, aponta o banco americano. Considerando as condições
do momento, o Citi avalia que o ciclo de corte de juros tende a ser mais curto do que se
previa.
Para o Citi, o Comitê de Política Monetária (Copom), ante a elevação das incertezas,
tende a adotar uma abordagem para os juros mais “dependente dos dados” – o banco
americano vê a Selic ainda a dois dígitos no fechamento de 2024, a 10%, ante consenso
do Focus a 9,5% para o mesmo intervalo.
“O dia começou negativo para Bolsa como para o câmbio e para os juros futuros
domésticos, mas depois tanto o real frente ao dólar como a curva doméstica de juros
reagiram – dados do PMI nos Estados Unidos divulgados hoje, abaixo do esperado tanto
para a indústria como para os serviços, tiraram parte da pressão” que tem sido vista nos
rendimentos dos Treasuries, o que favoreceu avanço dos índices de ações em Nova York
nesta terça-feira, observa Diego Faust, operador de renda variável da Manchester
Investimentos. Em Nova York, os principais índices de ações fecharam em alta de 0,69%
(Dow Jones), 1,20% (S&P 500) e 1,59% (Nasdaq).
Aqui, “o Ibovespa abriu o dia em queda mais forte, na casa de -0,7%, -0,8%, mas o PMI
americano, que saiu logo cedo, acabou ajudando a estabilizar o índice da B3 ao longo do
dia. Desaceleração da economia americana era algo que todos estavam esperando, pelo
efeito para a política monetária do Federal Reserve. A curva de juros americana esteve
sob grande estresse, recentemente, e juros altos por lá roubam fluxo de emergentes como
o Brasil”, diz Thiago Pedroso, responsável pela área de renda variável da Criteria,
destacando em especial a desaceleração do setor de serviços nos Estados Unidos, na
leitura divulgada nesta manhã.
“Após o Roberto Campos Neto [presidente do BC] ter deixado na semana passada as
coisas mais em aberto, a expectativa é de que haja espaço para o Copom continuar a
cortar os juros na próxima reunião – e os números sobre a atividade americana que vieram
hoje ajudam nisso”, acrescenta Pedroso, observando que a semana reserva outros dois
dados importantes, com potencial para mexer com o humor do mercado: a primeira
leitura sobre o PIB dos EUA no trimestre janeiro-março e o PCE, métrica de inflação ao
consumidor acompanhada de perto pelo Fed, o BC americano.
“Os PMIs da Europa, do Japão e Reino Unido superaram as expectativas, enquanto o dos
Estados Unidos não atendeu às previsões. A divergência é vista com bons olhos pelo
mercado: sugere crescimento mais equilibrado globalmente, em contraste com o temor
de que os EUA cresçam a um ritmo muito superior ao do resto do mundo. Isso poderia
levar a uma política monetária mais rígida nos EUA por período prolongado, com taxas de
juros potencialmente mais altas para conter a inflação, enquanto outras economias
poderiam reduzir suas taxas para estimular o crescimento”, observa em nota Gustavo
Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, acrescentando que a leitura do mercado
sobre os dados agregados refletiu-se, hoje, em depreciação do dólar e em alívio na curva
de juros no Brasil.
Por outro lado, no cenário doméstico – aponta Pedroso, da Criteria -, o mercado segue
atento ao estremecimento da relação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), com
o Palácio do Planalto, no momento em que se teme o efeito de “pautas-bomba”, como a
PEC do Quinquênio, sobre as contas públicas, além da agenda econômica de interesse
do governo – e que depende de aprovação do Congresso.
17:29
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 125148.07 -0.3385
Máxima 125825.70 +0.20
Mínima 124310.10 -1.01
Volume (R$ Bilhões) 2.12B
Volume (US$ Bilhões) 4.10B
17:32
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 126635 -0.5849
Máxima 127420 +0.03
Mínima 125765 -1.27
MERCADOS INTERNACIONAIS
O petróleo contornou o viés de baixa visto mais cedo e fechou com ganhos de mais de
1%, pesando mais o lado da demanda – onde há otimismo. A commodity também
recebeu apoio do dólar mais fraco ante moedas rivais, na repercussão dos índices de
gerentes de preços (PMIs) dos EUA deixaram o mercado especular cortes de juros um
pouco maiores. As bolsas de Nova York tiveram ganhos expressivos, com alta de mais de
1% nos índices Nasdaq e S&P 500 e o setor de tecnologia em foco em meio à temporada
de balanços. A ponta mais longa dos juros do Treasuries inverteu o sinal e operava em
alta, ao passo que o resto da curva recuava, depois de uma pressão pontual de leilão de
títulos com demanda forte.
Mesmo com a percepção de abrandamento nas tensões entre Irã e Israel, o petróleo WTI
para junho fechou em alta de 1,78% (US$ 1,46), a US$ 83,36 o barril, na New York
Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para julho subiu 1,53% (US$ 1,32), a US$ 87,39 o
barril, na Intercontinental Exchange.
Analistas do BOC Financial comentaram que os investidores têm voltado sua atenção
para a demanda sazonal da commodity e para a produção nos países. No geral,
expectativas de cortes de juros – como existem para EUA e Europa neste ano – elevam o
otimismo com os níveis de consumo.
O petróleo também ficou mais atrativo para operadores de outras divisas face à
desvalorização do dólar, com um ajuste dovish nas apostas para a trajetória de juros dos
EUA. As leituras de PMIs locais pela manhã impulsionaram esse movimento, e o mercado
voltou a ver maior probabilidade no cenário de cortes de juros acumulados de 50 pontosbase em 2024 – deixando a hipótese de apenas um corte de 25 pontos-base como a
segunda mais provável.
No fim da tarde em Nova York, o dólar caía a 154,81 ienes, o euro avançava a US$ 1,0706
e a libra tinha alta a US$ 1,2453. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de
moedas fortes, registrou queda de 0,38%, a 105,675 pontos.
As bolsas de Nova York mantiveram a alta até o fechamento do pregão. Foi uma sessão
forte para as ações de tecnologia: Nvidia subiu 3,65% e Meta avançou 2,9%. Microsoft,
Alphabet e Amazon tiveram altas de mais de 1%, antes de divulgarem balanços. Entre as
empresas que informaram resultados trimestrais hoje, GM subiu 4,37%, Netflix ganhou
4,13%, Spotify valorizou 11% e Jetblue tombou 18%.
O índice Dow Jones fechou com alta de +0,69%, a 38.503,69 pontos; o S&P 500 ganhou
1,20%, a 5.070,55 pontos; e o Nasdaq avançou 1,59%, a 15.696,64 pontos.
Os retornos dos Treasuries chegaram ao fim da tarde sem direção única, depois de
passarem a manhã em baixa. No início da tarde, um leilão de T-notes de 2 anos com
demanda mais forte que a média adicionou mais pressão à curva. No entanto, o
rendimento de 30 anos ganhou fôlego ao longo da tarde, embora com oscilações. No
horário citado, o juro da T-note de 2 anos caía a 4,924%, o da T-note de 10 anos recuava a
4,600% e o do T-bond de 30 anos tinha alta a 4,725%.
JUROS
O mercado de juros experimentou alguma volatilidade no fim da tarde, na medida em que
os juros dos Treasuries reduziram o ritmo de queda, num esforço para manter as taxas
perto da estabilidade para qual haviam migrado após subirem pela manhã. O dólar em
queda firme e a percepção de melhora nas negociações do governo com o Congresso,
especialmente com o engajamento pessoal do presidente Lula, contribuíram para limitar
a piora da curva local.
Às 17h15, as taxas voltavam a exibir viés de alta. A do contrato de Depósito Interfinanceiro
(DI) para janeiro de 2025 estava em 10,310%, de 10,296% ontem no ajuste, e a do DI para
janeiro de 2026 passava de 10,49% para 10,53%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de
10,83%, de 10,79%. A taxa do DI para janeiro de 2029 era de 11,29% (de 11,26%).
A primeira parte dos negócios foi marcada pelo avanço das taxas, especialmente as de
longo prazo que respondem principalmente aos riscos fiscais e externo. As preocupações
com o cenário das contas públicas, em especial o andamento da chamada “pauta
bomba” de R$ 70 bilhões combinada à arrecadação de março abaixo do esperado, e
ajustes técnicos relacionados ao leilão do Tesouro pesavam sobre a curva. O Tesouro fez
uma oferta muito maior de NTN-B, com risco para o mercado mais de 300% superior ao
da semana passada.
No começo da tarde, passado o leilão, o cenário desanuviou quando o dólar acelerou as
perdas e a T-Note de dez anos se firmou abaixo de 4,60%, respondendo inicialmente a
dados mais fracos de atividade nos EUA e depois a um leilão de papéis de 2 anos com
demanda acima da média. PMIs preliminares de abril vieram abaixo do esperado, o que
levou o mercado a ampliar as apostas nos cortes de juros este ano pelo Federal Reserve.
Assim, as taxas aqui zeraram o avanço.
Para Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, há pouco espaço
para novas altas das taxas na medida em que o mercado exagerou na reprecificação na
semana passada. “O movimento foi violento, com o dólar perto de R$ 5,30 e a curva
projetando Selic terminal de 10,50%. Acho que passou do ponto e os dados de atividade
mais fracos hoje nos EUA abriram margem para alguma melhora. O mercado aproveitou a
trégua externa para comer um pouco dos prêmios”, disse, ressaltando que os dados, de
abril, indicam que uma acomodação da economia americana pode estar a caminho no
segundo trimestre.
Ele vê o câmbio como o grande vetor de “price action” dos ativos e o retorno da moeda
para perto dos R$ 5,10 sugere que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto,
pode ter se precipitado ao falar do risco de desaceleração do ritmo de cortes da Selic em
maio. O dólar hoje fechou em R$ 5,1304 (-0,74%).
Internamente, apesar da nova piora nas expectativas de inflação mostrada hoje na
pesquisa Focus, o que mais preocupa é a situação fiscal, com pressões por aumentos de
gastos em várias frentes e margem pequena de manobra para o governo para reduzir
subsídios. A boa notícia foi o acordo fechado com o Legislativo para a reformulação do
Perse, que terá uma trava para impedir que o custo dos benefícios ultrapasse o teto de R$
15 bilhões em três anos.
Por outro lado, o presidente Lula confirmou que o governo prepara “aumento de salário
para todas as carreiras” do funcionalismo, em café da manhã com jornalistas nesta terçafeira. Ele criticou a visão de que despesas com educação, saúde e programas sociais para
os mais pobres são gasto. O petista disse, de forma irônica, que “tudo no Brasil é gasto” e
“a única coisa que parece investimento é o superávit primário”, em referência ao esforço
para equilibrar as contas públicas.
Pelo lado das receitas, a arrecadação de impostos e contribuições federais somou R$
190,611 bilhões em março de 2024, levemente abaixo da mediana das expectativas, de
R$ 191,1 bilhões.
Borsoi nota que houve um certo “apaziguamento” na seara política, o que melhora a
perspectiva para a agenda econômica que depende do Congresso. “Lula parece que
escanteou Padilha e tenta se aproximar de Lira e de Pacheco. E Haddad está de volta para
reforçar as negociações”, disse. Lula negou que o governo tenha problemas com o
Congresso e confirmou que se encontrou com Lira domingo, mas se recusou a detalhar o
conteúdo da conversa