PETRÓLEO SALTA 5% COM ISRAEL-HAMAS E ATIVOS LOCAIS REAGEM À GUERRA COM CAUTELA

O temor de uma escalada do conflito entre Israel e o grupo Hamas ao longo do fim de semana disparou o modo cautela nos mercados nesta sexta-feira. Externamente, o ativo que mais sentiu essa pressão foi o petróleo, com o barril do Brent voltando a superar a marca de US$ 90, em uma elevação diária de 5,69% e semanal de 7,46%. Houve uma tradicional corrida para a segurança dos títulos de longo prazo dos Estados Unidos. O yield da T-note de 10 anos chega ao fim da semana aos 4,626% e o de 30 anos, a 4,773%. Mas mesmo com a queda dos rendimentos hoje, os juros dos Treasuries permanecem em níveis mais altos que antes da divulgação da inflação ao consumidor dos Estados Unidos (CPI), ontem de manhã, dado que reforçou a percepção de que os preços estão resilientes. No Brasil, os preços tiveram de fazer um duplo ajuste: tanto em relação às condições do mercado ontem, ruins para a tomada de risco por temores referentes ao Federal Reserve, quanto para as de hoje, de ordem geopolítica. Assim, nem mesmo a subida firme da Petrobras (ON +3,15% e PN +3,30%) foi capaz de segurar o Ibovespa na marca psicológica dos 116 mil pontos. O índice encerrou o dia aos 115.754,08 pontos (-1,11%). Mas assim como Dow Jones (+0,79%) e S&P 500 (+0,45%), teve ganho semanal (+1,39%). O dólar à vista subiu aos R$ 5,0885 (+0,77%), mas caiu 1,43% ante a sexta-feira passada. Nos juros futuros, houve acúmulo de prêmios, com o investidor de olho também nos efeitos inflacionários da guerra no Oriente Médio e suas consequências para a trajetória da Selic.

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•BOLSA

•CÂMBIO

•JUROS

MERCADOS INTERNACIONAIS

Novos riscos relacionados ao conflito entre Israel e o grupo extremista Hamas e a possibilidade de a crise se expandir para o Oriente Médio levaram o petróleo a disparar e fechar em alta de mais de 5%. Os temores de uma escalada da guerra pesaram também nas bolsas de Nova York, apesar de o Dow Jones ter conseguido subir levemente, com ganhos de bancos americanos após balanços melhores que o esperado e declarações de dirigente do Federal Reserve (Fed) de que o ciclo de aperto monetário dos EUA chegou ao fim. Da mesma forma, entre ativos seguros, os retornos dos Treasuries voltaram a cair, após demonstrarem alta seguindo o CPI dos EUA mais quente que as expectativas do mercado ontem. A fraqueza dos rendimentos também pressionou o dólar ante moedas fortes, apesar de o índice DXY apresentar alta na semana.

Hoje, as forças armadas de Israel informaram à Organização das Nações Unidas que deseja a retirada em 24 horas de toda a população no norte da Faixa de Gaza, movimento que deve envolver mais de um milhão de pessoas e que levaria “consequências humanitárias devastadoras”, segundo o porta-voz da ONU, Stéphane Dujarric. Do outro lado, o Hamas disse que os palestinos não deveriam deixar suas casas. Também hoje, o grupo libanês Hezbollah reafirmou apoio ao Hamas, e houve relatos de trocas de tiros na fronteira entre Líbano e Israel.

Os temores de uma expansão do conflito para outras regiões do Oriente Médio deu fôlego ao petróleo neste pregão, também “depois de o Irã ter alertado Israel sobre as consequências de uma invasão terrestre, levantando preocupações de que poderíamos ver perturbações no Estreito de Ormuz” (responsável por transportar uma parte considerável do petróleo do mundo). O WTI para novembro fechou em alta de 5,77% (US$ 4,78), em US$ 87,69 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para dezembro subiu 5,69% (US$ 4,89), a US$ 90,89 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE). Na comparação semanal, o WTI registrou alta de 5,92% e o Brent, de 7,46%.

Da mesma forma, as bolsas de Nova York fecharam mistas no pregão, “à medida que os investidores digeriram um início impressionante de lucros, aumentando as expectativas de inflação e aumentando as tensões com o conflito entre Israel e o Hamas”. Hoje, o Citigroup (-0,24%) apresentou avanço no lucro no 3º trimestre, enquanto o JPMorgan (+1,50%) e o Wells Fargo (+3,07%) ampliaram lucro e receita no mesmo período. Assim, o índice Dow Jones subiu 0,12%, o S&P caiu 0,50% e o Nasdaq teve queda de 1,23%.

Investidores também acompanharam o discurso do presidente da distrital da Filadélfia do Fed, Patrick Harker, que afirmou hoje que um “pouso suave na economia” tem se mostrado cada vez mais provável nos Estados Unidos, e que, a partir dos dados atuais, as taxas de juros do país não devem subir mais.

Assim, os rendimentos dos Treasuries operaram em queda, em movimento de correção após a alta de ontem. Entretanto, segundo a Oxford Economics, a projeção é que os rendimentos do Tesouro possam novamente testar níveis mais elevados no curto prazo, “uma vez que os dados decepcionantes do CPI e a fraca procura pelos leilões do Tesouro da semana passada sugerem que a melhoria recente foi o resultado da procura temporária de portos seguros devido aos crescentes riscos no Oriente Médio e uma condição técnica de sobrevenda agora aliviada no final da curva”. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos tinha baixa a 5,041%, o da T-note de 10 anos recuava a 4,626% e o do T-bond de 30 anos caía a 4,773%.

O dólar também apresentou movimento de queda, perdendo força ante moedas rivais. Na visão da Convera, “a perda de ímpeto desta semana foi causada pelos rendimentos dos títulos do governo, que interromperam a sua subida de vários meses, num contexto em que as autoridades do Fed sinalizavam um provável fim do ciclo de aperto”. Assim, a casa de análise destaca que os dados de vendas no varejo, produção industrial, indicadores imobiliários e o Livro Bege do Fed serão acompanhados “de perto” na próxima semana. No fim da tarde em Nova York, o dólar caía a 149,50 ienes, o euro recuava a US$ 1,0515 e a libra tinha baixa a US$ 1,2139. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou alta de 0,05%, a 106,648 pontos. Na semana, o DXY subiu 0,57%.

BOLSA

Na retomada dos negócios após o feriado de ontem, o Ibovespa não conseguiu evitar o sinal negativo que se impôs em Nova York nessas últimas duas sessões da semana. Assim, a referência da B3 buscou mínimas no meio da tarde, em linha com a piora em NY, onde os índices de ações haviam subido em parte da manhã, mas perderam fôlego não muito tempo depois da abertura com a leitura sobre o índice de confiança do consumidor nos Estados Unidos em setembro, que se coadunou com o resultado acima do esperado para a inflação (CPI), divulgada na manhã anterior.

Hoje, após ganhos nas quatro sessões anteriores, o Ibovespa oscilou entre mínima de 115.658,27 (-1,19%) e máxima de 117.070,35 (+0,02%), encerrando o dia em baixa de 1,11%, a 115.754,08 pontos, com giro financeiro a R$ 21,2 bilhões. Na semana, o índice da B3 subiu 1,39%, vindo de perda de 2,06% acumulada no intervalo anterior. No mês, com a retração no pregão desta sexta-feira, volta a mostrar sinal negativo (-0,70%), limitando o avanço do ano a 5,49%.

Em Nova York, Dow Jones obteve leve ganho de 0,12% no fechamento desta sexta-feira, com perda de 0,50% para o S&P 500 e de 1,23% para o Nasdaq na sessão – na semana, o Dow Jones avançou 0,79% e o S&P 500, 0,45%, enquanto o Nasdaq cedeu 0,18%. Nesta sexta-feira, a perda de gás em Nova York acompanhou sinais de deterioração da confiança do consumidor americano, na métrica da Universidade de Michigan, em leitura que trouxe também aumento das expectativas dos consumidores para a inflação nos Estados Unidos.

“Os ativos brasileiros fizeram um catch up [realinhamento] com o que se viu desde ontem lá fora, com o clima mais tenso no exterior. Voltamos a ter pressão na curva de juros americana, que havia aliviado um pouco entre terça e quarta-feira, e agora volta a pressionar não apenas ativos de risco, como ações, mas a apreciar o dólar [com a busca por proteção]”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, referindo-se à “iminência” da entrada de tropas de Israel na Faixa de Gaza. Nesta sexta-feira, o dólar à vista fechou em alta de 0,77%, a R$ 5,0885.

De ontem para hoje, Israel deu ultimato de 24 horas para que civis sejam retirados da Cidade de Gaza e da faixa norte do território sob controle do Hamas, o que foi interpretado como sinal de que as forças de defesa do país estão prestes a ocupar essa área palestina.

Refletindo também a possibilidade de que terceiras partes se envolvam no conflito – o que já acontece com o grupo Hezbollah, que atua a partir do sul do Líbano, e com alguns ataques palestinos a partir da fronteira da Síria com Israel -, o petróleo voltou a operar muito pressionado nesta sexta-feira, após algum alívio observado antes do feriado no Brasil. A atenção está concentrada no Irã, grande produtor da commodity, e que a princípio buscou distância do ataque feito no último sábado, 7, pelo Hamas – um aliado histórico da teocracia persa.

Assim, com o petróleo Brent e WTI em alta acima de 5% no fechamento desta sexta-feira, o desempenho de Petrobras (ON +3,15%, PN +3,30%) contribuiu para evitar queda ainda maior para o Ibovespa ao longo do dia. Na ponta ganhadora do índice, além da estatal, destaque para as petrolíferas Prio (+5,04%) e 3R Petroleum (+3,19%), além de Suzano (+3,37%). No canto oposto, Grupo Casas Bahia (-8,20%), Soma (-7,26%) e Natura (-7,01%). Na semana, Petrobras ON e PN subiram, respectivamente, 8,11% e 8,27%.

“Mais um dia de queda para as bolsas, nos Estados Unidos e na Europa, e aqui no Brasil não foi diferente, apesar de Petrobras ter aproveitado a alta do petróleo”, diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos. “Ontem, os juros americanos de 10 anos tinham disparado, após os dados sobre a inflação dos Estados Unidos – um movimento que tira dinheiro de ativos no mundo inteiro, principalmente dos emergentes”, acrescenta o economista.

Afora Petrobras, as demais ações de peso e liquidez na B3 – entre as quais Vale (ON -1,14%), mesmo com a alta de 1,45% no minério de ferro em Dalian (China) – cederam terreno na sessão. Na semana, a ação da mineradora caiu 0,40%. Entre os grandes bancos, o dia também foi de correção, com destaque para a queda de 1,79% em Santander (Unit) – que avançou, contudo, 1,07% na semana, em intervalo também levemente positivo para Bradesco (ON +0,24%, PN +0,14% na semana).

Do exterior, de ontem para hoje, destaque ainda para a divulgação de nova rodada de indicadores sobre a economia chinesa, com atenção especial para os dados de comércio exterior. Tanto as exportações como as importações chinesas recuaram 6,2% no mês passado, ante o mesmo intervalo de 2022, com as vendas para o exterior mostrando retração pelo quinto mês consecutivo – ainda assim, a leitura veio melhor do que a estimativa de consenso, de queda de 8,3% para setembro, conforme a FactSet.

Na China, também foram divulgadas leituras sobre inflação e concessão de crédito pelos bancos. O índice de preços ao consumidor (CPI) permaneceu estável em setembro, na comparação anual, enquanto a inflação ao produtor (PPI) recuou 2,5% na mesma base de comparação. Por fim, a concessão de novos empréstimos por bancos chineses avançou com intensidade em setembro, bem acima da leitura de agosto, atingindo agora a marca de 2,31 trilhões de yuans, o correspondente a US$ 316,31 bilhões – no entanto, ficou um pouco abaixo da expectativa de consenso para o mês, de 2,63 trilhões de yuans, segundo analistas ouvidos por The Wall Street Journal.

Apesar da aversão a risco que deu o tom aos negócios na semana em todo o mundo, a maioria dos participantes do Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira acredita que o Ibovespa terá desempenho positivo no agregado das próximas cinco sessões. Os que esperam alta para o índice são 60,00%, leve abrandamento em relação aos 62,50% que estimavam tal movimento na semana passada. Os que acreditam em estabilidade passaram de 25,00% para 40%. Não houve estimativas de queda, ao passo que na sexta-feira passada esse contingente era de 12,50%. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:32

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 115754.08 -1.10778

Máxima 117070.35 +0.02

Mínima 115658.27 -1.19

Volume (R$ Bilhões) 2.11B

Volume (US$ Bilhões) 4.18B

17:33

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 115805 -1.32498

Máxima 117180 -0.15

Mínima 115690 -1.42

CÂMBIO

O dólar à vista acelerou os ganhos ao longo da tarde e, após registrar máxima a R$ 5,1027, encerrou a sessão desta sexta-feira, 13, em alta de 0,77%, cotado a R$ 5,0885. Em meio a incertezas provocadas por eventual escalada do conflito o Oriente Médio ao longo do fim de semana, diante de provável invasão terrestre da Faixa de Gaza por tropas israelenses, investidores intensificaram a busca por proteção na moeda americana durante a segunda etapa de negócios. Israel deu 24 horas para evacuação do norte de Gaza, algo rechaçado pelo grupo palestino Hamas e visto como inviável pela comunidade internacional.

Apesar do estresse hoje, a divisa encerra a semana em baixa de 1,43%, refletindo a perspectiva crescente de que não haverá alta de juros nos EUA em novembro, após discursos de diversos dirigentes do Federal Reserve nos últimos dias ponderando que a taxa básica americana já está em nível restritivo. Em outubro, contudo, o dólar ainda acumula valorização de 1,23%, em razão da disparada na primeira semana do mês.

Além da questão geopolítica, houve nesta sexta-feira um ajuste de posições à nova leva de indicadores dos Estados Unidos. Ontem, com os mercados locais fechados, saiu o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) de setembro, com resultado ligeiramente acima do esperado para o número cheio, mas leituras de núcleo em linha com as expectativas. Pela manhã, pesquisa da Universidade de Michigan mostrou queda do sentimento do consumidor além do projetado e piora da expectativa de inflação para 1 e 5 anos.

Referência do comportamento do dólar em relação a seis divisas fortes, o índice DXY – que ontem subiu 0,74% na esteira do CPI – hoje apresentou leve alta, ao redor dos 106,700 pontos. As taxas dos Treasuries recuaram em bloco, em claro sintoma de aversão ao risco. O retorno da T-note de 10 anos, que chegou a atingir 4,80% recentemente, agora trabalha abaixo de 4,65%. Já em alta pela manhã, as cotações do petróleo dispararam ao longo da tarde. O contrato do Brent para dezembro voltou a superar o nível de US$ 90 ao fechar em alta de 5,69%, a US$ 90,89 o barril.

“Estamos vendo hoje uma busca por segurança no dólar com o estresse da guerra e a possibilidade de escalada do conflito no fim de semana, com a provável invasão de Gaza. As taxas dos Treasuries, que estavam no maior nível em quase 20 anos, recuaram”, afirma o sócio e diretor de derivativos e Câmbio da VEX Capital, Rafael Ramos, ressaltando que o avanço das cotações do petróleo pode provocar alta da inflação. “As consequências vão além dos preços no mercado financeiro. Podemos ter impacto na atividade global, com a inflação mais pressionada por conta do petróleo”.

Por ora, não há mudanças em torno da expectativa para o rumo da política monetária nos EUA em razão da guerra no Oriente Médio. Monitoramento do CME Group mostra mais de 90% de chances de que o BC americano mantenha a taxa básica inalterada em novembro. Pela manhã, o presidente do Federal Reserve da Filadélfia, Patrick Harker, disse que um “pouso suave na economia” tem se mostrado cada vez mais provável nos Estados Unidos, dado que as taxas de juros não devem ser mais elevadas. Ele afirmou que os efeitos do aperto monetário ainda vão se fazer sentir e que as taxas “vão precisar ficar altas por mais tempo”.

Em relatório, a Buyside Brasil observa que a leitura do CPI de setembro mostrou uma composição ruim, com serviços piores do que o esperado. A alta recente das taxas dos Treasuries, contudo, tornou as condições financeiras mais apertadas, o que diminui a necessidade de mais altas dos juros básicos. “Acreditamos que o Federal Reserve provavelmente vai manter os Fed Funds inalterados em seu encontro em novembro. Para o encontro seguinte (dezembro), reconhecemos que uma nova alta se torna mais provável, embora não seja ainda nosso cenário básico”, afirma o time de economistas da Buyside Brasil. “Os rendimentos mais elevados dos EUA, o fortalecimento do dólar e o aumento dos preços do petróleo, apoiados pela ainda forte economia dos EUA, nos levaram a revisar nossa previsão cambial para 2023 de R$ 4,90 para R$ 5,00.” (Antonio Perez – [email protected])

17:33

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.08850 0.7664 5.10270 5.04570

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5096.500 0.64179 5116.000 5058.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5082.500 -0.08846 5082.500 5082.500

JUROS

O ambiente externo avesso ao risco e a alta firme do dólar ante o real conduziram os juros futuros a uma forte elevação nesta sexta-feira. Os contratos abriram mais de 15 pontos-base nos piores momentos do dia ante o ajuste da quarta-feira, dado o cenário geopolítico mais desafiador e a resiliência da inflação nos Estados Unidos. O giro de negócios é mais fraco, reflexo da emenda do feriado de Nossa Senhora Aparecida.

O DI para janeiro de 2025 subia de 10,879% no ajuste de quarta-feira para 11,005% às 17h25. O janeiro 2027 avançava de 10,847% a 10,985%. E o janeiro 2029 passava de 11,307% a 11,430%.

No cômputo semanal, contudo, a curva perdeu inclinação. O diferencial entre os contratos janeiro 25 e janeiro 29 saiu de 61 pontos-base na sexta-feira passada para 42,5 pontos hoje até o horário acima, em linha com o movimento dos Treasuries.

Mesmo com a baixa dos rendimentos dos Treasuries hoje, o movimento local é de acúmulo de prêmios, já que, devido ao feriado ontem, o mercado doméstico está em um delay em relação ao americano. Ontem, os juros dos Treasuries subiram forte depois de o índice de preços ao consumidor (CPI) de setembro vir acima do consenso dos economistas e o leilão de T-bonds de 30 anos mostrar a pouca propensão do investidor em tomar dívida de longo prazo dos Estados Unidos.

O gerente de Renda Fixa e Distribuição de Fundos da Nova Futura Investimentos, André Alírio, lembra que o movimento dos Treasuries ao longo da semana até ontem havia sido de descompressão. Isso porque vários dirigentes do Federal Reserve vieram a público dizer que o próprio mercado já estava fazendo o ajuste das condições financeiras, tornando-as mais restritivas, o que não demandaria uma ação imediata de política monetária.

A virada, constata ele, veio com o CPI de ontem, passando também pelos desdobramentos da contraofensiva de Israel contra o Hamas. “Isso fez com que voltássemos a ter este sentimento de maior pressão sobre juros. Mesmo diante de declarações mais brandas de dirigentes do Fed, houve um retorno da cautela”, diz.

Esta pressão externa vem também via câmbio, com a subida do dólar a R$ 5,08, e a disparada do Brent. Ambos são fatores de atenção para a inflação doméstica, por causa dos potenciais efeitos na política de preços da Petrobras. “Este petróleo acima de US$ 90 (o barril) inspira preocupação interna”, pontua Alírio.

A cotação da commodity disparou hoje em meio a dúvidas quanto à escalada do conflito. As Forças Armadas de Israel ordenaram que todos os palestinos vivendo na porção norte da Faixa de Gaza devem se retirar da região e ir para sul do território para “preservar vidas civis”, sugerindo uma provável invasão da região. Ao menos 1,1 milhão de pessoas moram na área indicada. Em uma declaração no Telegram, o grupo terrorista Hamas, que controla Gaza, disse aos palestinos para não atenderem às exigências israelenses.

“Nesse período de escalada da violência no Oriente Médio, é preciso ter cautela. Tudo o que estamos vivendo esta semana começou num sábado, um dia sem mercado”, afirma um operador de derivativos locais.

O investidor de renda fixa brasileira acompanhou também a discussão quanto aos próximos passos da Selic. Na quarta-feira, houve pressão no mercado após comentários sobre uma suposta sinalização do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em encontros fechados paralelos ao evento do Fundo Monetário Internacional (FMI), no Marrocos, quanto à desaceleração do ritmo de corte dos juros.

Segundo apuração do Broadcast anteontem, o presidente do BC teria afirmado que, dada a piora do balanço de riscos no exterior, a probabilidade de ampliar a dose diminuiu e a de desacelerar aumentou. Porém, Campos Neto não teria indicado que o balanço de riscos ficou assimétrico para o outro lado, ou seja, de 25 pontos.

Hoje, à enviada especial do Broadcast a Marrakesh, Aline Bronzati, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que vê a velocidade de cortes da Selic se manter em 50 pontos-base pelo menos por um tempo, ainda que pese um agravamento do cenário internacional. “O nosso juro real ainda está muito elevado”, afirmou.

Para Alírio, da Nova Futura, apesar do movimento do mercado na quarta-feira, o BC deve manter o ritmo de corte atual. “Aparentemente, o que Campos Neto disse é para dar um contorno do risco da parte externa, mas não acho que a redução do ritmo vai acontecer por ora.” (Mateus Fagundes – [email protected])