NY SOBE COM RISK ON, ENQUANTO QUEDA DE 50 PB DO JURO NO BRASIL EM AGOSTO GANHA FORÇA

A sessão desta terça-feira foi marcada por apetite ao risco nas bolsas americanas, que não empolgou o mercado local, a despeito de um sinal mais claro do Banco Central por um corte de juros já em agosto. O índice Dow Jones subiu 0,63%, o S&P 500 ganhou 1,15% e o Nasdaq avançou 1,65%, na esteira de dados que mostraram a resiliência da economia dos Estados Unidos. Afastado o temor com recessão, por ora, o investidor coloca ainda mais peso na chance de o Federal Reserve elevar os juros em mais 50 pontos-base este ano – hoje, ela é de cerca de 25%, de 16% ontem. No Brasil, o sinal é oposto. Após a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) citar que a avaliação predominante dos integrantes do colegiado é de que “a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”, o mercado agora busca saber qual a intensidade do provável corte da Selic em agosto. A curva embutia hoje 72% de chance de redução de 25 pontos-base, e 28% de 50 pontos, intensidade que havia sido ofuscada após o comunicado da semana passada. Mas o restante da curva de juros e os mercados de ações e câmbio não se animaram com as indicações do BC. Em parte, lembram operadores, porque já houve um movimento recente de apreciação dos papéis brasileiros, o que induz a uma certa realização. O Ibovespa caiu aos 117.522,87 pontos, baixa de 0,61%, com peso de Petrobras (ON -0,87% e PN -0,78%) após nova redução do petróleo no mercado internacional. O dólar à vista subiu aos R$ 4,7987 (+0,67%), mas ainda acumula baixa superior a 5% ante o real no mês.

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•JUROS

•BOLSA

•CÂMBIO

MERCADOS INTERNACIONAIS

O mercado acionário em Wall Street ampliou ganhos durante a tarde, apoiado por dados demonstrando resiliência da economia dos EUA e fortes ganhos de empresas de tecnologia, semicondutores e produção de veículos. O apetite por risco, porém, não se refletiu sobre commodities, onde predominou a perspectiva de que o aperto monetário de bancos centrais deve continuar para controlar a inflação, após falas de dirigentes do Banco Central Europeu (BCE). Assim, o petróleo caiu mais de 2% neste pregão, apesar da fraqueza do dólar no exterior. Por outro lado, os rendimentos dos Treasuries avançaram, seguindo aumento na precificação de novas altas de juros pelo Federal Reserve (Fed) até o final do ano.

Analista da Oanda, Edward Moya observa que os dados econômicos fortes dos Estados Unidos impulsionaram ações discricionárias e permitiu o foco de investidores sobre empresas relacionadas à inteligência artificial (IA). Durante a tarde, as bolsas de Nova York aceleraram o movimento de alta, levando o S&P 500 e o Nasdaq a encerrarem com ganhos de mais de 1%. O índice Dow Jones fechou em alta de 0,63%, o S&P 500 avançou 1,15% e o Nasdaq subiu 1,65%.

Liderando ganhos entre big techs, a Meta avançou 3,08%, após o Citigroup elevar o preço-alvo de US$ 315 para US$ 360. A Delta Airlines saltou 6,84%, depois de reforçar guidance otimista para este ano, gerando efeitos positivos para empresas do setor, como American (+5,54%) e United(+5,08%). Ainda entre os destaques da sessão, os papéis da Nvidia e da Tesla subiram 3,06% e 3,80%, respectivamente.

Empresas ligadas a criptomoedas também tiveram alta forte em Nova York, seguindo artigo da <i>Block </i>sobre possível pedido da gigante de gerenciamento de ativos Fidelity para criar um fundo negociado em bolsa (ETF) de bitcoin à vista. Assim, as ações da Coinbase dispararam 12,84% e, às 17h30 (de Brasília), o bitcoin para junho subia 1,11%, a US$ 30.650,00.

Na visão do ANZ, este rali do mercado acionário ocorreu porque os investidores mantiveram foco na resiliência da demanda dos EUA em relação ao aperto monetário do Fed. O BMO acrescenta que os dados sustentam a perspectiva de parte do mercado de que a “economia real pode potencialmente aguentar a política restritiva sem cair em recessão”, notando que investidores parecem ansiosos em saber o quanto os juros ainda terão que aumentar para estabilizar os preços no país.

Por outro lado, a Stifel analisa que os últimos 100 pontos-bases no processo de aperto monetário costumam ser os mais difíceis para “digestão” entre os mercados e a economia em geral. “Assim, embora as economias globais tenham se mostrado – um pouco – resilientes até este ponto, à medida que os bancos centrais de todo o mundo continuam a apertar a política, os economistas continuam antecipando a recessão nos próximos 6 a 18 meses”, pontua.

Dirigentes do BCE e autoridades do Fundo Monetário Internacional (FMI) reforçaram hoje que ainda existe um longo caminho de aperto nos juros básicos das principais economias. Em evento institucional, a presidente do BCE, Christine Lagarde, reiterou que o bloco terá que elevar seus juros a níveis “suficientemente restritivos” e mantê-los assim “pelo tempo que for necessário” retornar a inflação à meta de 2%. Em entrevista à CNBC, a primeira vice-diretora-gerente do FMI, Gita Gopinath, defendeu que os banqueiros centrais devem se manter comprometidos com a luta contra a escalada inflacionária, mesmo que isso signifique um crescimento econômico mais fraco.

Este ambiente ampliou a precificação por altas de juros pelo Fed até o final deste ano e impulsou ganhos rendimentos dos títulos públicos globalmente, entre eles os Treasuries. No final da tarde, o retorno da T-note de 2 anos subia a 4,753%, o da T-note de 10 anos tinha alta a 3,754% e o do T-bond de 30 anos avançava a 3,831%. No horário citado, a ferramenta de monitoramento do CME Group exibia 52,6% de chance de aumento de 25 pontos-base nos Fed funds até dezembro e 20,1% de elevação de 50 pontos-base, crescimento em comparação aos 50,4% e 12,3% registrados ontem.

A expectativa por maior aperto monetário de BCs, e a decorrente possibilidade de enfraquecimento da atividade econômica, superou o apetite por risco do mercado acionário e pressionou commodities, levando o petróleo a recuar mais de 2%. No fechamento, o petróleo WTI para agosto fechou em queda de 2,41% (US$ 1,67) a US$ 67,70 por barril, na Nymex, e o Brent para setembro recuou 2,47% (US$ 1,84), a US$ 72,51 o barril, na ICE.

No câmbio, o dólar teve desempenho fraco contra o euro e a libra, moedas apoiadas pelas falas de dirigentes europeus sobre altas de juros na região. Por voltas das 17h (de Brasília), o dólar subia a 144,05 ienes, o euro se valorizava a US$ 1,0964 e a libra tinha alta a US$ 1,2759. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou baixa de 0,19%, a 102,492 pontos. (Laís Adriana – [email protected])

JUROS

Apesar da agenda doméstica de peso, os juros futuros encerraram a sessão de lado, com viés de alta em alguns contratos. O efeito da ata do Copom, divulgada antes da abertura, se sobrepôs ao IPCA-15 de junho em linha com o consenso dos analistas, mas começou a perder força ainda pela manhã. O documento ratificou as expectativas de que viria mais “dovish’ do que o comunicado, não só consolidando as apostas de que o corte da Selic começará em agosto, como levando a crescimento da expectativa de que seja inaugurado com 50 pontos-base.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 12,98%, de 12,995% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 passou de 10,96% para 10,97%. A taxa do DI para janeiro de 2027 fechou em 10,32%, de 10,31% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2029 terminou a 10,64% (de 10,60%).

A ata ditou a dinâmica do mercado na primeira etapa dos negócios, mas ainda assim em reação moderada à suavização do tom ante o comunicado, que não havia dado indicações de quando seria aberto o ciclo de afrouxamento monetário. Mas a ata foi clara ao afirmar que, apesar da divergência entre os membros sobre o grau de sinalização em relação aos próximos passos, a avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário e de queda das expectativas podem permitir “acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”.

Para o Itaú Unibanco, o texto aponta “claramente para uma flexibilização mais cedo, ou seja, na reunião de agosto”. Em relatório, os analistas ponderam que a ata traz alguns elementos com tom mais duro, como o aumento da estimativa de taxa neutra para 4,5%, de 4,0%, e uma frase alertando contra um ciclo de cortes prematuro, mas ao mesmo tempo indica que a maioria do comitê já vê condições que lhe dariam confiança para iniciar, com parcimônia, a flexibilização na próxima reunião. O banco antecipou sua previsão de início do processo de queda da Selic de setembro para agosto, com 25 pontos, e agora espera quatro, e não mais três, cortes que levarão a taxa a 12,25% no fim de 2023.

No DI futuro, a curva apontava 32 pontos-base de redução da taxa básica em agosto, o que significa 72% de probabilidade de 25 pontos e 28% de chance de que seja de 50 pontos, contra 88% e 12% ontem, respectivamente. Para o fim de 2023, a projeção está em torno de 12%.

Apesar da ata bastante explícita e do movimento das apostas, o impacto na curva foi limitado. Sérgio Silva, gestor de portfólio da Tenax Capital, explica que o mercado já vem antecipando o início do ciclo de queda da Selic há bastante tempo, embutindo um orçamento total de 450 pontos de alívio. “O mercado nunca esteve tão à frente numa antecipação de ciclo. É muito difícil que vá além disso”, afirma, lembrando que a economia não dá sinais de desaceleração, o que seria uma condição importante para que, por exemplo, o processo fosse iniciado com uma queda de 50 pontos. “Só se a economia perdesse muito fôlego entre uma reunião e outra”, disse. Em seu cenário, o Copom começará a reduzir a Selic em agosto, em 25 pontos.

O IPCA-15, que desacelerou fortemente de 0,51% em maio para de 0,04% em junho, é mais um requisito atendido na lista das variáveis do Copom, ao reforçar o “processo desinflacionário”, mas não foi capaz de provocar grandes movimentos nos DIs, até porque os preços de abertura não agradaram, com resiliência da inflação subjacente em níveis elevados.

Como efeito da leitura da política monetária, os vencimentos longos tiveram uma postura mais rígida, oscilando majoritariamente com viés de alta durante a sessão, num dia de abertura da curva americana e ajuste para cima no dólar. “É natural que tenhamos a curva mais positivamente inclinada”, avalia Silva, da Tenax.

A agenda da semana reserva ainda a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) na quinta-feira, mas o gestor acredita que o mercado está bem posicionado caso a meta de inflação seja mantida em 3% e o sistema mude para um horizonte contínuo. “Nesse caso, até haveria espaço para uma revisão das expectativas de inflação por parte dos economistas, o que pode puxar uma reação dos ativos”, observou.

No leilão de NTN-B, o Tesouro elevou a oferta a 1,9 milhão de títulos, ante 1,3 milhão na semana passada, hoje absorvida integralmente. O aumento do risco (DV01) para US$ 918 mil não assustou. Foram vendidas 1 milhão de NTn-B para 15/8/2026, 750 mil para 15/5/2033 e 150 mil para 15/8/2050. Segundo o especialista em renda fixa Alexandre Cabral, as taxas para 2033 (5,417%) e 2050 (5,6167%) foram as menores do ano. “Mercado comprando forte para apostar no fechamento do cupom do IPCA. Isso se percebe pelos maiores volumes estarem nas pontas mais curtas”, comentou, no Twitter. (Denise Abarca – [email protected])

BOLSA

A suave ata do Copom e o desempenho positivo dos índices em Nova York (S&P 500 +1,15%, Nasdaq +1,65%) não foram o suficiente para impedir o segundo dia de recuo do Ibovespa, em sessão na qual Vale (ON +1,20%) foi a principal exceção entre as ações de maior peso na referência da B3. Contudo, o índice conseguiu moderar perdas em relação ao início da tarde e fechar em baixa de 0,61%, a 117.522,87 pontos, entre mínima de 116.561,04 e máxima de 119.211,58, após abertura aos 118.246,17 pontos.

O giro financeiro avançou nesta terça-feira, a R$ 25,3 bilhões. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 1,22% nessas duas primeiras sessões, colocando os ganhos do mês a 8,48%. No ano, o índice sobe 7,10%.

Com o petróleo em queda superior a 2% no encerramento das sessões da commodity em Londres (Brent) e Nova York (WTI), Petrobras (ON e PN) devolveu o sinal positivo da segunda-feira, hoje em baixa de 0,87% e 0,78%, respectivamente, suavizada ao longo da tarde, o que contribuiu para limitar o sinal negativo do Ibovespa na sessão. Entre os grandes bancos, as perdas chegaram a 1,84% (BB ON) no fechamento do dia, com Bradesco PN conseguindo leve ganho de 0,18%.

Na ponta do Ibovespa, destaque para os frigoríficos Minerva (+3,98%) e JBS (+2,46%), com expectativa mais favorável à demanda da China, após o país asiático liberar o ingresso de 40 mil toneladas de carne bovina que estavam retidas em portos. Ao lado dos frigoríficos, destaque também para Gol, em alta de 3,26% nesta terça-feira. No canto oposto, Alpargatas (-7,76%), Assai (-5,83%) e Petz (-5,42%).

“O dia foi positivo para as bolsas de Nova York, com índices mostrando resiliência da atividade econômica americana, hoje com o conhecimento de dados de confiança, que surpreenderam positivamente, acima do esperado, assim como os de vendas e preços de residências – o que, por outro lado, mantêm cenário difícil para a política monetária, com possibilidade ainda de aumento de juros nos Estados Unidos”, diz Rodrigo Ashikawa, economista da Principal Claritas.

“Aqui, a ata do Copom veio menos dura do que o comunicado da semana passada, indicando maior possibilidade de início do ciclo de corte de juros em agosto. Mas, para o início de cortes, esperamos algo bem cauteloso, de 0,25 ponto porcentual, considerando alguns núcleos ainda elevados para a inflação e a necessidade de ancorar as expectativas [para o longo prazo], e uma atividade econômica que continua surpreendendo positivamente, na margem”, acrescenta.

A leitura do IPCA-15 referente a junho, divulgada nesta manhã assim como a ata do Copom, também contribuiu para a perspectiva de que um primeiro corte da Selic possa vir em agosto, e não em setembro como o comunicado da semana passada do comitê do BC – sem referência a redução da taxa básica de juros – parecia sugerir.

“Serviços, serviços subjacentes e a média dos núcleos arrefeceram no acumulado dos últimos 12 meses. E o índice de difusão – que mostra o porcentual de itens que aumentaram de preços no mês – teve queda, de 64% em maio para 51% em junho”, observa em nota Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research. Em junho, o IPCA-15 teve pequena alta de 0,04%, após avanço de 0,51% no mês anterior.

No acumulado em 12 meses, a leitura passou de 4,07% em maio para 3,40% em junho, menor variação desde setembro de 2020, de acordo com Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Rena. “A desaceleração na leitura mensal, de 0,51% para 0,04%, se deve em grande medida ao arrefecimento em combustíveis e alimentação: juntos contribuem com -0,42 p.p, na margem”, acrescenta.

Conforme aponta Sung, da Suno, no mês atual seis dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados registraram alta de preços, com destaque para Habitação (0,96%), que teve impacto de 0,14 ponto porcentual para o IPCA-15 em junho, o maior efeito de alta sobre o índice na divulgação desta manhã.

“Nossa estimativa para o IPCA dezembro de 2023 passa a ser de 4,80%, IPCA que estará no ‘limiar do teto da meta de inflação’ do ano, de 4,75% (3,25% de meta + 1,50% de margem superior de flutuação)”, indica em nota Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento).

“Esse cenário deverá promover queda das expectativas de inflação para 2024 e 2025, contribuindo para início da redução de juros em agosto (cenário base) ou em setembro. Mantemos nossa avaliação de início de corte de juros no Copom de agosto, com redução de 0,25 p.p., e de redução de 0,50 p.p. a cada reunião até o fim do ano”, acrescenta.

Para a Nova Futura Investimentos, a ata desta manhã é “condizente com uma maior inclinação na curva, com os juros curtos precificando o início antecipado do ciclo, com [corte de] 0,25 p.p. em agosto, mas uma taxa terminal mais alta, prevista no trecho 6 [da ata], com o Copom sinalizando juro real neutro mais alto”, aponta em nota o economista-chefe, Nicolas Borsoi.

Na avaliação da casa, o sexto parágrafo da ata do Copom de junho eleva a estimativa de taxa real de juros neutra, de 4,0% para 4,5%. A taxa neutra corresponde a nível de juros que, teoricamente, não estimula nem restringe a atividade econômica. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

18:02

 Índice Bovespa   Pontos   Var. %  

Último 117522.87 -0.60898

Máxima 119211.58 +0.82

Mínima 116561.04 -1.42

Volume (R$ Bilhões) 2.53B

Volume (US$ Bilhões) 5.28B

18:04

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 119435 -0.4335

Máxima 121395 +1.20

Mínima 118550 -1.17

CÂMBIO

O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 27, em alta de 0,67%, cotado a R$ 4,7987, na contramão do sinal predominante de queda da moeda americana em relação a divisas emergentes, em dia marcado por apetite ao risco no exterior. Operadores atribuíram o escorregão do real a um movimento de realização de lucros no mercado futuro de câmbio e na Bolsa, com provável fluxo de saída de investidores estrangeiros.

A perspectiva de corte da taxa Selic a partir de agosto – reforçada hoje pela divulgação da ata do Copom e do IPCA-15 de junho – é vista como positiva para os ativos domésticos, incluindo o real. Analistas ressaltam que, a despeito do início iminente de um ciclo de afrouxamento monetário, as taxas reais domésticas e o diferencial de juros seguirão elevados, dando suporte à moeda brasileira no curto prazo. O IPCA-15 desacelerou de 0,51% em maio para 0,04% em junho, levemente acima da mediana de Projeções Broadcast (0,03%).

Logo após a abertura, o dólar até ensaiou uma nova rodada de baixa, descendo até o nível de R$ 4,75, ao registrar mínima a R$ 4,7517. A divisa trocou de sinal em seguida e rompeu a linha de R$ 4,80 ainda pela manhã, com máxima a R$ 4,8065 no início da tarde. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para julho teve bom giro, acima US$ 14 bilhões.

“Tivemos um risk-off no Brasil hoje, com bolsa caindo apesar da alta forte do S&P lá fora. O que estamos vendo é algo natural, uma correção sem motivo específico, depois de um período de melhora gigantesca dos ativos locais”, afirma Rodrigo Natali, sócio da gestora de recursos Skopos. “O mercado brasileiro andou muito e muito rápido, o dólar estava no nível mais baixo em um ano, e hoje sobe bem pouco”.

Apesar do tropeço hoje, o dólar ainda acumula baixa de 5,41% no mês, o que faz o real apresentar em junho o terceiro melhor desempenho entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities, atrás apenas do peso colombiano e do rand sul-africano. Com apenas mais três pregões para o encerramento de junho, o dólar apresenta a maior queda mensal no mercado doméstico desde março de 2022 (-7,65%). No ano, a moeda americana cai 9,12% ante o real.

No exterior, o índice DXY trabalhou em leve queda ao longo do dia e operava ao redor de 102,500 pontos no fim da tarde, em meio ao avanço do euro e da libra esterlina, diante da expectativa de aperto monetário mais intenso na região. A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse pela manhã que a inflação segue alta e que será preciso não apenas aumentar os juros a níveis “suficientemente restritivos”, mas mantê-los elevados “pelo tempo que for necessário”. A maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities ganhou força em relação ao dólar, à exceção do real, do peso colombiano e do dólar canadense.

“Estamos vendo provavelmente um ajuste técnico no mercado de câmbio local, após o forte movimento de queda nos últimos dias”, diz a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, ressaltando que, enquanto o Copom adota um tom ‘dovish’, sinalizando corte da Selic, os bancos centrais de países desenvolvidos sinalizam com mais aperto monetário.

Por aqui, a ata do Copom trouxe um tom bem mais ameno que o do comunicado da quarta-feira passada, 21, quando a taxa Selic foi mantida em 13,75% ao ano. No parágrafo 19 do documento, o colegiado afirma que há divergência dentro do comitê sobre a “sinalização em relação aos próximos passos”, mas que a “avaliação predominante foi de que a continuação do processo desinflacionário em curso, com consequente impacto sobre as expectativas, pode permitir acumular a confiança necessária para iniciar um processo parcimonioso de inflexão na próxima reunião”.

A leitura é que já há maioria formada dentro do colegiado para iniciar um ciclo de afrouxamento monetário. Casas relevantes, como Bradesco e Itaú, que previam cortes da Selic a partir de setembro, mudaram de opinião após a ata e passaram a ver redução da taxa em agosto.

As expectativas se voltam agora para a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), na quinta-feira, 29. Analistas avaliam que a manutenção da meta de inflação em 3%, mesmo com abandono do ano-calendário em favor de uma meta contínua, será benéfica para a ancoragem das expectativas e deixará o BC mais confortável para afrouxar a política monetária. (Antonio Perez – [email protected])

18:02

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.79870 0.6713 4.80650 4.75170

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL 4815.500 0.95388 4815.500 4752.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4832.500 0.76105 4832.500 4780.000