MERCADO FOCA EM DADO SALARIAL NO PAYROLL E BOLSAS SOBEM, MESMO COM TREASURIES EM ALTA

Os investidores mudaram a interpretação dos dados do relatório de emprego dos Estados Unidos (payroll) ao longo desta sexta-feira, que termina com fôlego nos mercados acionários a despeito de nova subida dos juros americanos. A geração de novos postos de trabalho veio quase o dobro do consenso do mercado e, inicialmente, corroborou com a visão de que a política monetária deverá se manter apertada por um período longo. Contudo, a desaceleração dos salários forneceu o argumento que as pressões inflacionárias podem ter ficado para trás. Por mais que os juros dos Treasuries sigam em alta e o retorno da T-note de 10 anos voltou a flertar com os 4,8%, houve espaço para uma recuperação técnica em alguns segmentos, especialmente o de ações, bastante penalizados nas últimas sessões. As bolsas de Nova York terminaram com alta firme (0,87% no Dow Jones, 1,18% no S&P 500 e 1,60% no Nasdaq), que também ajudou no desempenho semanal (-0,30%, +0,48% e +1,60%, respectivamente). Aqui no Brasil, o Ibovespa recuperou a marca dos 114 mil pontos, depois de descer à mínima na casa de 111,5 mil pontos. O índice terminou a sessão aos 114.169,63 pontos, valorização diária de 0,78%. Na semana, contudo, a perda é de 2,06%. Os juros futuros terminam a sessão com viés de baixa, na esteira da retomada da busca por risco à tarde. Ainda assim, a curva teve forte ganho de inclinação, com as taxas longas subindo bem mais do que as curtas, no fechamento da semana, marcada ainda pela reprecificação do ciclo de cortes da Selic. No câmbio, a despeito da leve queda diária (-0,14%, aos R$ 5,1622), a moeda americana subiu 2,69%, maior salto desde a elevação de 3,05% da primeira semana de agosto.

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•BOLSA

•JUROS

•CÂMBIO

MERCADOS INTERNACIONAIS

Passado o estresse da manhã, os mercados reformularam as interpretações sobre o payroll, que apontou criação de empregos mais forte que o esperado nos EUA. O foco se voltou à desaceleração dos salários, que pode fornecer alívio ao quadro de inflação. A nova interpretação jogou o dólar ao terreno negativo no exterior e também mudou o sinal das bolsas de Nova York, onde os principais índices fecharam com ganhos em torno de 1%. Os rendimentos dos Treasuries arrefeceram, mas se mantiveram em trajetória ascendente, à medida que dados consolidam aposta em uma política monetária restritiva por mais tempo. A resiliência da economia americana também foi driver altista para o petróleo, que voltou a subir, apesar de na semana a commodity ter registrado queda de mais de 8%.

Gabriel Ribeiro, Trader do Braza Bank, ressalta o fato dos salários não terem vindo com a força esperada como um dos motivos por trás da virada no sentimento. “Isto gera uma expectativa melhor de lucros das empresas nas bolsas americanas, e talvez justifique a alta em Nova York e comportamento geral dos mercados pós-stress da manhã”.

Assim, na contramão da abertura negativa, o índice Dow Jones fechou em alta de 0,87%, o S&P 500 subiu 1,18% e o Nasdaq avançou 1,60%, com destaque para os avanços do setor de tecnologia, incluindo Meta (+3,49%), Apple (+1,48%) e Alphabet (+1,87%). Ainda, montadoras avançaram, após o sindicato United Auto Workers (UAW) ter indicado avanço nas negociações. Dessa forma, Stellantis avançou 3,02%, seguida da General Motors (2,53%) e Ford (0,84%).

Com o cenário mais benigno no exterior, o dólar arrefeceu, seguiu a trajetória descendente de ontem e caía ante libra e euro, apesar de manter alta ante iene. Na visão da Capital Economics, o dólar pode estar prestes a perder a sua série recorde de ganhos semanais. “Embora a reação inicial aos dados de hoje tenha sido outro salto no dólar, desde então devolveu esse ganho e os do início da semana. Na nossa opinião, esta é outra indicação de que o aumento dos rendimentos dos EUA e, consequentemente, de que o dólar está próximo da exaustão, pelo menos no curto prazo”. No fim da tarde em Nova York, o dólar subia a 149,31 ienes, o euro avançava a US$ 1,0598 e a libra tinha alta a US$ 1,2251. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou baixa de 0,27%, a 106,044 pontos. Na comparação semanal, houve recuo de 0,13%.

O peso mexicano se recuperou hoje, com o dólar operando em queda a 18,1858 pesos mexicanos. Ontem , a moeda mexicana ficou em pressão após o governo do presidente Andrés Manuel López Obrador elevar de modo inesperado taxas de concessões em aeroportos. Já na Argentina o dólar blue operava em alta de 4,39%, a 880 pesos argentinos no mercado paralelo, após ter renovado recorde histórico avançando a 895 pesos argentinos, segundo o jornal local Ámbito Financiero. O governo impôs controle no mercado cambial, em momento em que o governo busca controlar o quadro antes do primeiro turno eleitoral, que ocorre ainda neste mês.

Na esteira do alívio cambial, o petróleo conseguiu fechar a sexta-feira em alta, apesar da fraqueza da semana. O contrato do WTI para novembro fechou em alta de 0,58% (US$ 0,48), a US$ 82,79 o barril, após tocar US$ 83,28 na máxima intradiária. O Brent para dezembro subiu 0,61%, (US$ 0,51), a US$ 84,58 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE). Na máxima, o contrato chegou a ser cotado a US$ 84,95. Na semana, o WTI acumulou queda de 8,81% e o Brent, de 8,26%.

Na visão de Edward Moya, da Oanda, o futuro do petróleo dependerá também dos rendimentos dos Treasuries. “Se o caos no mercado de títulos persistir e o rendimento da T-note de 10 anos subir acima dos 5%, então o petróleo poderá sofrer uma última liquidação antes de se atingir o fundo do poço”, projetou o analista.

A renda fixa americana, aliás, não espelhou a tendência do câmbio e manteve a tendência positiva dos prêmios, em sessão que antecipa o feriado do Dia de Colombo nos EUA, que deixará os mercados dos títulos fechados – as bolsas, por outro lado, funcionarão normalmente. COTAÇÕES apesar da possibilidade de manutenção na taxa dos Fed Funds seguir majoritária, a chance de uma elevação em dezembro subiu de 29,8% registrado ontem para 37,6% hoje. Assim, os rendimentos dos Treasuries foram beneficiados,

Na visão do BMO, o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos que será divulgado na próxima semana será a “última peça no quebra-cabeça” para a decisão do Fed para 1º de novembro. Ainda segundo o banco canadense, “quanto mais tempo o yield da T-note de 10 anos ficar na faixa entre 4,75% e 5,00%, mais convencido o mercado ficará de que os rendimentos elevados vieram para ficar”. No fim da tarde de Nova York, o retorno da T-note de 2 anos subia a 5,079%, o da T-note de 10 anos avançava a 4,788% e o do T-bond de 30 anos tinha alta a 4,959%.

BOLSA

Apesar da reação dos mercados a princípio cautelosa quanto à forte leitura oficial sobre o mercado de trabalho americano em setembro, divulgada pela manhã – que pressionou em especial o câmbio, com o dólar a R$ 5,22 na máxima do dia -, o Ibovespa acentuou ganhos e conseguiu retomar a linha dos 114 mil pontos no fechamento do dia, em linha com a melhora do humor externo ao longo da tarde, após ter recuado aos 111.598,57, na mínima, mais cedo. Em Nova York, os três principais índices de ações encerraram o dia com ganhos entre 0,87% (Dow Jones) e 1,60% (Nasdaq) – e apenas o Dow Jones cedeu terreno na semana, levemente (-0,30%).

Por sua vez, o índice da B3 não conseguiu evitar perda de 2,06% na primeira semana de outubro, vindo de ganho de 0,48% na anterior. Hoje, subiu 0,78%, aos 114.169,63 pontos, não muito distante da máxima do dia, de 114.491,00, em alta então pouco acima de 1%, saindo de abertura a 113.282,50. O giro financeiro subiu a R$ 23,1 bilhões nesta última sessão da semana. No ano, o índice avança 4,04%.

Nos picos da sessão, renovados a partir do meio da tarde, o Ibovespa contou com forte apoio das grandes ações de commodities (Petrobras ON +2,51%, PN +2,38%; Vale ON +1,46%, no fechamento), que buscavam então as respectivas máximas do dia, e do setor financeiro, com destaque para Banco do Brasil ON, que mostrou ganho de 4,07% no encerramento, em sessão na qual Itaú (PN) subiu 0,94% e Santander (Unit), 1,91%.

No encerramento, além das duas ações de Petrobras, que andaram bem à frente das cotações do petróleo na sessão, e de Banco do Brasil, destaque também para alta de 8,93% em Grupo Casas Bahia e de 3,22% para Carrefour Brasil. Na ponta oposta, Yduqs (-7,66%), Petz (-5,03%) e Cogna (-3,49%).

Nos Estados Unidos, o relatório oficial sobre o emprego em setembro mostrou um “mercado de trabalho ainda muito aquecido, com criação de vagas bem acima do esperado”, diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. “E, além disso, os números de julho e agosto foram revisados para cima, o que mostra que a suposta acomodação naqueles meses, que havia acalmado então os mercados, não aconteceu”, acrescenta a economista, observando que a situação do mercado de trabalho americano corrobora o cenário de inflação pressionada nos EUA e de juros altos por mais tempo na maior economia do globo – e com chance ainda de aumento.

“Com juro americano de 10 anos a 4,7% ou 4,8% [em um ativo considerado livre de risco], é muito mais interessante para o investidor obter essa remuneração, em dólar, do que colocar dinheiro em bolsas ou moedas de países emergentes. Essa reprecificação em cima de juros ocorre também nos Estados Unidos, com os investidores optando por renda fixa. Um movimento que deve prosseguir, com a retirada de recursos de emergentes em direção aos juros longos americanos”, diz.

Ainda que a retomada desta tarde venha a se mostrar pontual, o mercado tomou nota, em segundo momento, dos sinais emitidos no mesmo payroll de setembro quanto a arrefecimento no ritmo de alta da renda salarial média, o que contribui para mitigar, em parte, os temores sobre inflação e juros. Contudo, o cenário de fundo, especialmente para emergentes como o Brasil, permanece o mesmo: desafiador.

“Em setembro, vimos o investidor estrangeiro retirar R$ 1,5 bilhão da Bolsa brasileira. Seguindo a tendência negativa, o institucional (investidores profissionais e fundos em geral) também foi vendedor no mês, levando R$ 3,1 bilhões da Bolsa. Sobre os próximos capítulos, não esperamos muita mudança; a estrela deste enredo deve continuar sendo a taxa de juros nos EUA”, observa em relatório o estrategista de ações para pessoa física do Itaú BBA, Victor Natal.

No mês de outubro até o momento, considerando apenas os investidores estrangeiros, houve retirada de R$ 1,111 bilhão da B3, resultado de compras acumuladas de R$ 30,216 bilhões e de vendas de R$ 31,327 bilhões no intervalo até a quarta-feira, dia 4 – ou seja, um período de três sessões, iniciado na segunda-feira. No ano, o capital externo ainda está positivo em R$ 8,122 bilhões, de acordo com os dados da B3 reportados por Caroline Aragaki, do Broadcast.

“O mercado iniciou esta semana sob forte pressão, com duas perdas expressivas, na segunda [-1,29%] e na terça [-1,42%], com volumes ainda fracos, mas inclinado a vendas. Hoje, tivemos uma inversão ao longo do dia, na direção de compras à tarde, depois da reação inicial, muito negativa, ao payroll, de manhã. Assim, houve mais de 2,5% de oscilação entre mínima e máxima do dia, com a Bolsa chegando a mostrar queda de mais de 1%, no pior momento”, diz Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos. “Hoje, o mercado mostrou interesse em defender a região dos 112 mil pontos, muito importante, consolidada ao longo do mês de maio. Agora, pode talvez buscar as resistências dos 115 mil e 117 mil pontos.”

“O mercado brasileiro demorou para reprecificar a alta de juros dos EUA”, avalia o economista José Cláudio Securato, CEO da Saint Paul Escola de Negócios. “As recentes indicações de que o ciclo de aperto monetário do Fed [BC dos EUA] não chegou ao fim fizeram o mercado reagir: real se desvalorizou, investidores deixaram o Brasil, a Bolsa caiu e os juros futuros dispararam”, acrescenta. “Tudo isso coloca um pouco de pressão nas próximas decisões do Copom sobre a Selic: o quase consenso sobre queda já encontra questionadores, com o argumento de que o fiscal não melhorou [no Brasil] e de que as taxas de juros nos Estados Unidos estão altas demais.”

Ainda assim, para a maioria dos participantes do Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira, o Ibovespa terá desempenho positivo na próxima semana. Os que esperam alta para o índice são 62,50%, melhor marca desde o fim de agosto, quando também ficou em 62,50%. Os que acreditam em estabilidade são 25,00%, enquanto 12,50% prevê queda. No Termômetro da semana passada, as expectativas eram de ganho para 50,00%; de variação neutra para 37,50%; e de baixa para 12,50%.

17:32

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 114169.63 0.78171

Máxima 114491.00 +1.07

Mínima 111598.57 -1.49

Volume (R$ Bilhões) 2.31B

Volume (US$ Bilhões) 4.45B

17:34

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 114630 0.78692

Máxima 114800 +0.94

Mínima 111870 -1.64

JUROS

A sexta-feira terminou melhor do que começou, dada a releitura menos pessimista do relatório de emprego nos EUA, que pela manhã provocava reação fortemente negativa nos mercados. Nos juros, as taxas subiram em boa parte do dia, mas zeraram o avanço no meio da tarde e ensaiaram uma virada, acompanhando a desaceleração do avanço dos retornos dos Treasuries e a ampliação da queda do dólar. Ainda assim, a curva teve forte ganho de inclinação, com as taxas longas subindo bem mais do que as curtas, no fechamento da semana, marcada ainda pela reprecificação do ciclo de cortes da Selic.

Às 17h10, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,960%, de 10,976% ontem. O DI para janeiro de 2026 tinha taxa de 10,85%, de 10,86% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2027 passava de 11,12% para 11,09%, e a do DI para janeiro de 2029, de 11,62% para 11,57%. Na semana, as taxas longas subiram cerca de 30 pontos-base e as curtas, em torno de 10 pontos.

Entre os ativos domésticos, o segmento de juros foi o que teve a melhora mais tardia ao longo da sessão, justamente pela aderência ao movimento dos Treasuries. Em Wall Street, os yields dos títulos do Tesouro dos EUA à tarde desaceleraram bastante em relação aos picos da manhã pós-payroll, mas ainda assim fecharam em patamares elevados e nas máximas desde 2007. No fim da tarde, a T-Note de dez anos, referência entre ativos livres de risco, projetava taxa de 4,78%, após ter subido pela manhã a 4,85%. O dólar à vista, que bateu máximas na casa de R$ 5,22, passou a cair no fim da manhã para encerrar em R$ 5,1622, mas com ganho na semana acumulado em 2,7%.

O relatório de emprego nos EUA nesta sexta-feira era o evento mais aguardado da agenda da semana. A criação de 336 mil postos de trabalho em setembro, quando o consenso era de 175 mil, assustou os investidores, levando à disparada das taxas dos Treasuries e do dólar ante as demais moedas. Ainda, houve expressiva revisão para cima no saldo de vagas dos meses anteriores. A impressão era de resiliência no mercado de trabalho, que poderia exigir um esforço maior do Federal Reserve para forçar a desinflação via novo aperto nos juros ainda este ano.

Naquele primeiro momento, o mercado focou na geração de vagas, deixando em segundo plano o fato de que a alta nos salários por hora veio levemente abaixo do previsto e de que a taxa de desemprego se manteve em 3,8%, quando a expectativa era de queda para 3,7%. Tais fatores vieram a se sobrepor somente à tarde, aliviando a pressão sobre os ativos de risco.

O economista da Guide Investimentos Victor Beyruti afirma que a percepção melhorou depois que o mercado olhou a pesquisa com mais cuidado e percebeu que as informações foram, na verdade, mistas e também na medida em que não surgiu mais nada no noticiário da tarde. “O Fed olha muito o desemprego e a pesquisa de salários”, afirma. Ele também atribuiu a melhora a uma correção técnica, uma vez que os ativos vêm acumulando perdas pesadas ao longo da semana.

Na mesma linha, o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, ressalta que houve uma reavaliação do relatório de emprego nos EUA. “Embora a criação de vagas tenha sido forte, outros dados, como salário e taxa de desemprego, mostram que o mercado de trabalho passa por um processo de normalização não recessivo. Isso dá algum conforto para o mercado ‘ir’ para o CPI na semana que vem”, diz, referindo-se ao índice de inflação ao consumidor nos EUA, previsto para quinta-feira, 12.

Borsoi comenta que o relatório não afasta a possibilidade de novos estresses na curva dos Treasuries, mas que serve para proporcionar alívios, ainda que pontuais, necessários aos ativos. “Não afasta o risco de a T-Note de dez anos buscar os 5% em algum momento. Mas o mercado nunca vai numa linha reta de piora nem de melhora e precisa de alguns respiros de vez em quando”, explicou. Vale destacar que na segunda-feira, 9, os EUA celebram o Dia de Colombo e o mercado de Treasuries estará fechado, o que pode trazer um pouco de paz aos ativos de risco.

Internamente, a agenda foi escassa e o noticiário, esvaziado. O IGP-DI de setembro, de 0,45%, veio no teto das estimativas, mas não chegou a estressar a curva.

A semana foi marcada por um forte movimento de zeragem de posições prefixadas, que acabou interferindo na precificação das apostas de Selic nos DIs. Mais por efeito técnico do que por visão de piora de fundamentos, o mercado zerou a expectativa de aceleração do ritmo para 0,75 ponto nos próximos meses e passou a considerar, a partir do Copom de dezembro, a possibilidade de a dose ser de 0,25 ponto, menor do que a atual, de 0,5. Com isso, a curva passou a projetar Selic de 11,75% no fim de 2023 e taxa terminal acima de 10%, no terceiro trimestre de 2024.

“Os juros terminais no Brasil não devem ser 9%, mas sim 10,75% e muito provavelmente veremos uma elevação das projeções já no próximo relatório Focus”, afirma o economista André Perfeito.

CÂMBIO

Após superar os R$ 5,20 pela manhã, em meio ao impacto da divulgação do relatório de emprego nos EUA, o dólar à vista experimentou uma acomodação ao longo da tarde. Com melhora do apetite ao risco lá fora, na esteira de releitura de números do payroll, a moeda encerrou a sessão desta sexta-feira, 6, em baixa de 0,14%, cotada a R$ 5,1622. Apesar do refresco hoje, a divisa termina a semana, que corresponde aos cinco primeiros pregões de outubro, com valorização de 2,69%, em linha com o fortalecimento global da moeda americana. Foi a maior alta semanal desde a primeira semana de agosto (+3,05%).

Mais uma vez, a formação da taxa de câmbio hoje foi ditada pelo exterior. Pela manhã, o payroll mostrou criação de 336 mil vagas nos EUA em setembro, bem acima da mediana da pesquisa Projeções Broadcast (175 mil). Foi a senha para mais uma onda avanço do dólar e das taxas dos Treasuries. Com o mercado de trabalho americano apertado, ganhou força a leitura de eventual alta adicional da taxa básica pelo Federal Reserve neste ano e, sobretudo, a visão de juros mais elevados por período prolongado.

Lá fora, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a seis moedas fortes – esboçou atingir os 107,000 pontos, ao registrar máxima aos 106,874 pontos. Divisas emergentes e de países exportadores de commodities mergulharam. Por aqui, o dólar à vista até 5,2207, máxima da sessão, com zeragem de posições ‘vendidas’ no mercado futuro.

Já no fim da manhã, a maré começou a virar. As bolsas em Nova York passaram a subir e o dólar trocou de sinal em relação ao euro e às moedas emergentes. Esse movimento se acentuou ao longo da tarde, com reflexos no mercado local, levando o dólar a tocar mínima R$ 5,1467.

Operadores atribuíram o alívio a ajustes técnicos, dado que os ativos de risco já se depreciaram bastante ao longo da semana. Outro ponto mencionado foi a desaceleração do ritmo de alta taxa da T-note de 10 anos, que, após atingir 4,859% pela manhã, passou a operar abaixo de 4,80%, com investidores digerindo o payroll e dando mais ênfase à desaceleração no crescimento dos salário a estabilidade da taxa de desemprego.

“O dia foi bem volátil, com uma digestão ambígua dos dados do relatório de emprego dos EUA. Houve um choque inicial com o número em si, mas que foi diminuindo ao longo da tarde, com uma leitura mais benigna do payroll”, afirma analista Matheus Spiess, da Empiricus Research, acrescentando que investidores passaram a dar mais relevância a dado de salário e taxa de desemprego. “Já estava no preço que o terceiro trimestre seria forte nos EUA. A expectativa é que haja uma desaceleração marginal no quarto trimestre em nível suficiente para levar ao fim do ciclo de aperto monetário e à descompressão da curva de juros americana”.

Apesar do refresco ao longo da tarde, tanto o real quanto seus principais pares latino-americanos apresentam baixas pesadas neste início de outubro, devolvendo parte dos ganhos acumulados no ano. No fim da tarde, as perdas semanais eram puxadas pelo peso colombiano (-6,00%), que ainda avança cerca de 10% ante o dólar em 2023, seguido pelo peso mexicano (-4,38%).

Para o economista-chefe do Banco BV, Roberto Padovani, o tombo dos ativos de risco nos últimos tempos representa uma correção “de um excesso de otimismo” que prevaleceu no mercado ao longo do primeiro semestre deste ano. Havia a perspectiva de que seria possível um processo de desinflação com preservação do crescimento econômico e sem necessidade de mais aperto monetário.

“Os BCs de EUA e Europa estão dizendo que vão precisar subir mais os juros ou manter as taxas elevadas por mais tempo para controlar a inflação, e o mercado está se dando conta de que a atividade econômica vai desacelerar”, afirma Padovani, que chama a atenção também para os problemas na China. “Existe a leitura de que a desaceleração chinesa é mais duradoura, é o fim de um ciclo mais forte de crescimento. Com Europa, Estados Unidos e China crescendo menos, o mundo cresce menos e o risco aumenta em relação a mercados emergentes.”

Padovani trabalha com perspectiva de dólar forte no mundo, dado que a economia dos EUA ainda vai se sobressair em relação a de outros países desenvolvidos, e taxa de câmbio de R$ 5,30 no fim do ano. Ele observa que, além do quadro externo, o real perde força com uma diminuição da atratividade do “carry trade”, já que o BC vai reduzir a taxa Selic, e a questão fiscal “ainda não resolvida”, o que aumenta o prêmio de risco.

17:34

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.16220 -0.1354 5.22070 5.14670

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5170.500 -0.24117 5237.500 5162.000

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