JULHO TERMINA COM ‘SELL OFF’ DOMÉSTICO, TURBINADO POR RISCOS FISCAL E INSTITUCIONAL

O efeito fim de mês por si só já poderia trazer um viés de realização aos mercados nesta sexta-feira, mas o cenário político-econômico interno e externo colaborou para um dia marcado por forte aversão ao risco, que, entre outros pontos, devolveu a Bolsa ao nível de meados de maio. O investidor doméstico já estava se reposicionando nos últimos dias ante a resistência da inflação e a migração de apostas para um cenário mais conservador na política monetária. Mas a entrada do Centrão no coração do governo, com Ciro Nogueira assumindo a Casa Civil, trouxe um ingrediente amargo a este caldo. A base governista até parece querer avançar com certos pontos da agenda econômica, mas dá sinais de já cobrar um preço, como alterar regras do teto para vitaminar o novo Bolsa Família, o que foi revelado pelo Broadcast/Estadão ontem à noite. O front fiscal, deixado de lado nas últimas semanas com os seguidos recordes da arrecadação, voltou a preocupar. Também de ontem à noite, a elevação do tom do presidente Jair Bolsonaro contra a Justiça Eleitoral incomoda, pois mostra que o foco da gestão de agora em diante é a eleição de 2022. Somados todos estes fatores, o Ibovespa desceu só nesta sessão mais de 3 mil pontos, encerrando aos 121.800,79 pontos, queda diária de 3,08%. No mês, o mergulho foi de 3,94%, o primeiro desde fevereiro. Nos juros futuros, houve forte recomposição de prêmios em toda a extensão da curva, com abertura de mais de 30 pontos-base em alguns contratos, o que não alterou muito o desenho dela. Na parte mais curta, o impulso veio ainda da recalibração do cenário para Selic, com mais casas apostando em alta de 1 ponto porcentual na semana que vem. Na longa, prevaleceu a cautela. O dólar, por sua vez, reagiu a esta liquidação de ativos domésticos em alta, indo a R$ 5,2099 no segmento à vista – alta diária de 2,57% e mensal de 4,76%. Além disso, externamente houve uma onda de aversão ao risco ainda derivada do desconforto com o aumento da regulação da China aos setores de tecnologia e educação. O avanço da variante Delta em países com vacinação adiantada e a forte queda da Amazon também compõem a cautela vinda de fora. Assim, o Nasdaq caiu 0,71% e o juro da T-note de 10 anos cedeu a 1,229%. A próxima semana tem agenda cheia. No Brasil, destaque para a decisão do Copom, na quarta-feira. No exterior, os olhos se voltam para o relatório de emprego dos Estados Unidos (payroll) de julho, na sexta-feira.

BOLSA

Apesar do frio em São Paulo, o Ibovespa derreteu à tarde, bem além das perdas observadas na Ásia como na Europa e nos Estados Unidos, refletindo não só a aversão a risco no exterior, mas também a retomada de temores domésticos sobre a situação fiscal e o cenário político, com o retorno do Judiciário e do Legislativo aos trabalhos nesta passagem de julho para agosto, na próxima semana. Hoje, o índice de referência da B3 cedeu 3,08%, aos 121.800,79, o menor nível de encerramento desde 13 de maio, então aos 120.705,91 pontos. No intradia, aos 121.748,18 pontos, foi nesta sexta-feira ao menor patamar desde 19 daquele mesmo mês (121.595,27). O giro de hoje foi de R$ 38,6 bilhões.

Na semana, o Ibovespa emendou a segunda perda, agora de 2,60%, após recuo de 0,72% acumulado na anterior. Em julho, mês no qual registrou ganho em apenas uma semana completa, o índice cedeu 3,94% – a segunda maior perda do ano, superada pela de 4,37% em fevereiro. Em porcentual, o recuo desta sexta-feira foi o maior desde 8 de março, ocasião em que o Ibovespa havia caído 3,98%, com o retorno do ex-presidente Lula ao jogo político após anulação de condenações decidida pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF). No ano, o índice limita agora a alta a 2,34%.

Após ter renovado máxima histórica em 7 de junho, na casa de 131 mil pontos, emendando ganhos entre março e aquele mês, o Ibovespa passou a enfrentar ventos adversos. Os fatores de incerteza se mostraram variados: de crise hidrológica, e ruídos que acentuam a perspectiva de medidas populistas na trilha para 2022, a preocupações com inflação, aqui e nos Estados Unidos, e o fantasma de possíveis efeitos da variante Delta do coronavírus sobre a recuperação econômica global. Por último, a ofensiva de controle ensaiada na China sobre empresas listadas fora do país contribuiu para acender nova luz amarela.

Neste contexto avesso a risco, os investidores optam por colocar mais algum dinheiro no bolso, em um fim de mês no qual as saídas de recursos estrangeiros de ações na B3 chegam a R$ 7 bilhões, conforme a mais recente leitura, até do dia 28. Em dólar, o Ibovespa fechou julho a 23.378,71 pontos, vindo de 25.496,99 pontos no encerramento de junho, após ter chegado a superar a marca de 26 mil no início do mês passado, quando, na nova máxima histórica intradia, a 131.190,30 pontos em 7 de junho, e com dólar a R$ 5,0324 no mesmo dia, foi a 26.069,14 pontos, superando com folga as marcas observadas em maio.

Na máxima de hoje, o dólar à vista foi negociado a R$ 5,2139, fechando o dia em alta de 2,57%, a R$ 5,2099. No fechamento de 2020, o índice da B3 em dólar estava em 22.937,77, vindo de 20.368,35 pontos no encerramento de novembro, quando se iniciou recuperação significativa do Ibovespa, com o índice de ações em alta de 15,90% naquele mês – uma retomada interrompida entre janeiro e fevereiro, mas reiniciada entre março e junho.

“Não houve um ‘trigger’ específico para a acentuação de perdas vista hoje à tarde no Ibovespa, mas, sim, uma percepção de risco do exterior, sobre a intervenção do governo da China em empresas de educação – os índices de ações por lá caíram 10% na semana – e, aqui, uma atenção maior ao que a presença do Centrão no governo resultará em termos de gastos, no momento em que se começa a costura política para 2022”, diz Mauro Orefice, diretor de investimentos da BS2 Asset.

Em fechamento de mês, a cautela derivou também da expectativa para a decisão do Copom na próxima semana, com o mercado atento ao ritmo de elevação da Selic até o fim do ano em um contexto de inflação ainda pressionada, além das dúvidas sobre a futura dimensão do Bolsa Família, em beneficiários como em valor: uma combinação que recoloca o fiscal no radar, especialmente o teto de gastos.

Com popularidade em queda e a “folga” no orçamento, “o presidente (Bolsonaro) afirmou que pretende dar um aumento de 50% no valor médio do Bolsa Família e defendeu que o país se endivide para custear o programa social – ou seja, tudo que o mercado não quer ouvir em termos de fiscal”, diz Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora, destacando também o déficit do setor público de R$ 65,5 bilhões no mês passado, divulgado hoje, “com dívida bruta a 84% do PIB”.

“O sentimento de cautela no mercado local foi acentuado pelo agravamento dos ruídos políticos, além das pressões inflacionárias e do risco de rompimento do teto de gastos. Ainda que a forte arrecadação tenha aliviado a preocupação com a situação fiscal no curto prazo, essa melhora é temporária. O dia foi de correção bem forte no Ibovespa”, diz Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos.

Assim, após ter saído do último fechamento de junho aos 126,8 mil pontos, os investidores acabaram aproveitando a temporada positiva de balanços de empresas como Vale (ON -5,89%, na mínima do dia no fechamento, a R$ 108,76), Ambev (ON -2,86%) e Usiminas (PNA -1,30%) para uma realização de lucros no “fato”, sobre resultados que, em geral, têm correspondido ou até surpreendido favoravelmente. Dessa forma, apenas três ações do Ibovespa escaparam da correção distribuída por empresas e setores nesta sexta-feira: Telefônica Brasil (+0,39%), JBS (+0,34%) e Cielo (+0,30%).

Na ponta negativa do índice de referência, Localiza (-7,36%), Banco Inter (-5,99%) e Vale (-5,89%). Entre os grandes bancos, segmento de maior peso no Ibovespa, as perdas desta sexta-feira ficaram entre 1,08% (Itaú PN) e 2,50% (Bradesco ON). Petrobras PN e ON fecharam o dia respectivamente em queda de 3,24% e 2,59%.

O quadro de expectativas do mercado financeiro para o desempenho das ações no curtíssimo prazo teve poucas alterações no Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira. Pela terceira edição consecutiva, nenhum dos participantes disse esperar queda para o Ibovespa na próxima semana. Os que acreditam em alta são 70% e em estabilidade, 30%, ante 75% e 25%, respectivamente, no levantamento anterior. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:32

Índice Bovespa   Pontos   Var. %

Último 121800.79 -3.08298

Máxima 125672.89 -0.00

Mínima 121748.18 -3.12

Volume (R$ Bilhões) 3.85B

Volume (US$ Bilhões) 7.53B

17:40

Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. %

Último 121965 -2.778

Máxima 125240 -0.17

Mínima 121800 -2.91

JUROS

A aversão ao risco trazida pelas preocupações com o cenário fiscal continuou como principal fator de tensão no mercado de juros à tarde, quando as taxas acentuaram a alta e renovaram máximas em meio a ajustes antes do fim de semana e fatores técnicos relacionados ao encerramento do mês. A volta da discussão sobre o teto de gastos, exacerbada por declarações do ministro Paulo Guedes sobre o Bolsa Família no fim da manhã, levou os vencimentos longos a fecharem com alta de mais de 30 pontos-base, com ajuda do clima externo pesado. Nem mesmo o reforço nas expectativas de que o ciclo de aperto monetário seja mais duro, com as principais instituições do mercado financeiro tendo hoje revisado para cima seus números, evitou o ganho de inclinação da curva em relação a ontem e também à última sexta-feira. Ante o fim de junho, contudo, houve ligeira desinclinação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 encerrou em 6,320% (6,219% ontem no ajuste) e a do DI para janeiro de 2023, em 7,810% (7,57% ontem). A do DI para janeiro de 2025 subiu de 8,365% para 8,70% e a do DI para janeiro de 2027, de 8,723% para 9,04%. O diferencial entre as taxas para janeiro de 2022 e janeiro de 2027 ficou em 272 pontos, de 252 pontos ontem e 268 pontos na sexta passada. Um mês atrás, esse spread era maior, de 281 pontos, tendo sido pressionado para baixo nas últimas semanas pelas revisões para cima de inflação e Selic que adicionaram bastante prêmio à ponta curta.

Hoje, porém, as taxas longas, mais sensíveis ao risco fiscal, foram bastante castigadas, com a do DI para janeiro de 2027 terminando pela primeira vez acima de 9% desde o último dia 13 de abril (9,02%). O economista-chefe do Banco Original, Marco Antonio Caruso, afirmou que apesar do quadro externo hoje não ajudar, com Bolsas e commodities metálicas no vermelho, o movimento do DI tem “muito de Brasil”. “O gatilho foi a volta da discussão sobre o Bolsa Família ameaçando o teto de gastos, algo que curiosamente estava adormecido nos mercados, mas agora voltou à tona”, comentou.

O estresse começou logo na abertura com a informação trazida pelo Estadão/Broadcast de que a ala política do governo está propondo uma alteração na regra do teto para acomodar aumento de gastos com o programa ou então uso de recursos fora do limite. Uma elevação de até R$ 300 caberia na folga estimada pela área econômica – entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões para 2022 -, mas o problema é que há quem avalie que esse benefício precisa ser maior para evitar sensação de perda na população. Além disso, alguns fatores de risco podem reduzir o espaço, como a crise hídrica e a possibilidade de novos reajustes de energia, batendo na inflação que corrige benefícios pagos pelo governo.

No fim da manhã, a fala de Guedes sobre o assunto jogou gasolina na fogueira, e as taxas passaram a renovar máximas. “Até o momento, sabemos que a programação para o Bolsa Família estava perfeitamente enquadrada na Lei de Responsabilidade Fiscal e nos limites do teto. Temos sempre receio. Há fumaça no ar, mas prefiro já estarmos trabalhando num ataque direto a esse possível fator”, disse Guedes.

Ao longo da segunda etapa, o movimento de piora prosseguiu com possíveis movimentos de zeragens de posições vendidas e, segundo um gestor, “o pessoal do day trade que não aguenta e tem de sair fora no fim do dia”. Além disso, fechamentos do mês sempre pressupõem ajustes nas carteiras, especialmente quando coincidem com a véspera do fim de semana de um noticiário tão tenso na área fiscal.

Adicionalmente, houve ainda movimentos visando a decisão do Copom na quarta-feira, hoje com Itaú Unibanco se juntando à corrente dos que acreditam que o colegiado vai acelerar o ritmo de alta da Selic para 1 ponto. Para a equipe do JPMorgan, caso essa projeção não se concretize, pode haver prejuízo à credibilidade da política monetária.

Para Caruso, do Original, caso o consenso de 1 ponto seja referendado, naturalmente o mercado vai partir deste nível para as apostas na próxima reunião e o Copom precisará ser muito duro na sua comunicação para convencer o mercado de que, como tem afirmado, fará de tudo para trazer de volta a inflação à meta em 2022. “Vai ter de retirar a menção ao nível neutro pois parece que será necessário levar mesmo para o patamar contracionista”, disse. (Denise Abarca – [email protected])

17:40

Operação   Último

CDB Prefixado 31 dias (%a.a) 5.01

Capital de Giro (%a.a) 6.76

Hot Money (%a.m) 0.63

CDI Over (%a.a) 4.15

Over Selic (%a.a) 4.15

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CÂMBIO

Em dia de forte deterioração dos ativos domésticos, o dólar fechou em alta firme, na casa de R$ 5,20, com os efeitos da aversão ao risco no exterior sendo potencializados por temores de piora do quadro fiscal, em meio a atritos entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e a ala política em torno do Bolsa Família, além da perspectiva de antecipação do calendário eleitoral, com o novo ataque do presidente Jair Bolsonaro contra a Justiça Eleitoral.

Já em rota ascendente desde as primeiras horas dos negócios, marcada pela disputa pela formação da Ptax de julho, o dólar ganhou ainda mais força ao longo da tarde e chegou a tocar na casa de R$ 5,21 no bojo de um movimento de queda acentuada da Bolsa e alta expressiva dos juros futuros.

Com variação de cerca de 13 centavos entre a mínima R$ 5,20785 (logo na abertura) e a máxima de R$ 5,2139, já na reta final do pregão, o dólar à vista fechou a R$ 5,2099, em alta de 2,57%. Operadores ressaltam que, como a moeda americana vinha de dois pregões de fortes perdas, abriu-se espaço hoje para um movimento de realização de lucros e recomposição de posições defensivas, o que pode ter potencializado o movimento de depreciação do real. Com o avanço sexta-feira, a desvalorização da moeda americana no acumulado da semana foi praticamente apagada (-0,01%). Mesmo assim, o dólar encerra julho com ganhos de 4,76%.

Lá fora, o índice DXY – que mede a variação da moeda americana frente a seis pares – subia cerca de 0,30% e operava na casa de 92,100 pontos, em meio a forte busca de investidores por Treasuries, cujas taxas recuavam. O dólar também subia em relação à maioria das divisas emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano.

O real, que havia tido o melhor desempenho nos últimos dias, na esteira da expectativa de liquidez abundante após o tom “dovish” do Federal Reserve na quarta-feira, sofreu hoje as maiores perdas, atribuídas a fatores domésticos.

Segundo apuração do Broadcast, a ala política do governo pretende bancar um Bolsa Família turbinado, de ao menos R$ 300 ao mês, com uso de recursos fora do teto de gastos. Seria o primeiro sinal de avanço do Centrão a gestão da economia, após a chegada do senador Ciro Nogueira ao ministério da Casa Civil.

Guedes reagiu dizendo que, embora o orçamento de 2022 preveja recursos de R$ 25 bilhões a R$ 30 bilhões para o Bolsa Família, existe “fumaça no ar” em relação a possíveis despesas extraordinárias no orçamento. “Até o momento, sabemos que a programação para o Bolsa Família estava perfeitamente enquadrada na Lei de Responsabilidade Fiscal e nos limites do teto. Temos sempre receio”, disse Guedes.

“Cresceu essa percepção de que o Bolsonaro entregou o governo para o Centrão e vai liberar mais gastos para tentar recuperar a popularidade. E isso estressou bastante o mercado”, afirma Hideaki Iha, operador da Fair Corretora, ressaltando que na semana que vem são retomados os trabalhos da CPI da Covid, com fim do recesso parlamentar.

A despeito da deterioração dos ativos domésticos nesta sexta-feira, a operadora da B.Side Investimentos, Viviane Pereira, vê ainda uma tendência tanto de apreciação do real, caso o Banco Central aumente a taxa Selic em 1 ponto porcentual na semana que vem, para 5,25% ao ano, e adote um tom duro com a inflação, sinalizando mais aperto monetário.

“O dólar sempre é a válvula de escape em momentos de tensão, com os investidores buscando uma posição mais defensiva. O dia foi ruim também lá fora hoje, por conta da China e do resultado ruim da Amazon”, afirma Viviane. “Mas o dólar tende a voltar a cair se o BC subir a Selic em 1 ponto, como o mercado espera. Se ele vier com uma alta de 0,75 (ponto), aí podemos ter um estresse bem maior”, diz.

Na B3, o dólar futuro para setembro era negociado a R$ 5,2395, em alta de 2,74%, com giro muito forte, na casa de US$ 17 bilhões. (Antonio Perez – [email protected])

17:40

Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima

Dólar Comercial (AE) 5.20990 2.5732 5.21390 5.07850

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5121.500 0.83678 5126.500 5077.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5224.000 2.43137 5249.000 5095.000

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MERCADOS INTERNACIONAIS

A tarde seguiu com um cenário de cautela nos mercados no exterior, com a queda de mais de 7% nas ações da Amazon após a publicação de seu balanço em destaque em Nova York. A disseminação variante delta do coronavírus nos Estados Unidos e em outros países, inclusive onde a vacinação já se encontra mais avançada, segue como fonte de preocupação e contribui para a maior busca por Treasuries. Já o dólar, que vinha de sessões enfraquecidas após a decisão do Federal Reserve (Fed), teve ganhos ante a maioria das moedas, observando ainda a publicação de dados da economia americana. Hoje, o presidente da distrital de St.Louis do Fed, James Bullard, defendeu o inicio da redução de compras de ativos pela autoridade a partir de setembro. A alta do dólar limitou os ganhos do petróleo, mas não impediu seu avanço, em dia que contou com comentários otimistas sobre a demanda do primeiro-ministro da Rússia, Alexander Novak.

Na visão de Edward Moya, analista da Oanda, as ações nos EUA foram puxadas para baixo pela Amazon. Seguindo o balanço da varejista, Moya indicou que “parece improvável que as grandes tecnologias encontrem outro catalisador, de modo que muitos investidores parecem estar prontos para se tornarem cautelosos”. As ações da Amazon terminaram com baixa de 7,56%. Na visão do analista, o “boom pandêmico” da companhia acabou e essa rara perda de lucros provavelmente será uma oportunidade de compra para os investidores. Facebook (-0,56%), Alphabet (-0,77%), Microsoft (-0,55%) seguiram a tendência de queda.

Outros balanços contribuíram para um cenário de baixas. As petroleiras ExxonMobil (-2,37%) e Chevron (-0,67%) também caíram, embora tenham revertido prejuízo no trimestre encerrado em junho. Na contramão, Procter & Gamble avançou 2,26%, com resultados que agradaram investidores. Dow Jones teve queda de 0,42%, o S&P 500 recuo 0,54% e o Nasdaq caiu 0,71%. Por sua vez, o mês de julho representou avanços para os três índices, que ganharam 1,25%, 2,27% e 1,16% respectivamente. A cautela hoje também pressionou bolsas na Europa, que, somada a balanços negativos com Glencore (-1,79%) e Renault (-3,35%), que recuaram, derrubaram os índices na região. Em Londres, o FTSE 100 caiu 0,65%, o DAX recuou 0,61% em Frankfurt, e, em Paris, o CAC 40 teve queda de 0,32%.

Sobre o coronavírus, a vice-secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou hoje que os EUA têm as ferramentas para combatê-lo, e por isso o país não retomará restrições à atividade. No entanto, a Organização Mundial de Saúde (OMS) alertou para a crescente disseminação da variante pelo mundo, bem como para o fato de que em cinco das seis regiões cobertas pela entidade houve um aumento no número de casos da doença nas últimas quatro semanas.

O cenário inspirou a busca pela renda fixa, e no fim da tarde, da T-note de 2 anos caía a 0,183%, o da T-note de 10 anos recuava a 1,229% e o do T-bond de 30 anos tinha baixa a 1,886%. Entre suas declarações, Bullard afirmou que a queda recente nos juros longos dos Treasuries ocorreram por fatores externos, e podem, no fim das contas, ajudar na expansão econômica do país. Sobre a retirada de estímulos, o dirigente disse “sentir” que a autoridade deveria reduzir o volume do seu programa de relaxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês) a partir do outono deste ano no Hemisfério Norte. Seguindo a fala, Moya avalia que a divisão no Fed continuará a crescer, mas o mercado não reagirá, a menos que mudanças “hawkish” venha de outros dirigentes que ainda não se pronunciaram de forma mais enfática sobre o “tapering”.

O dólar reverteu parte da perdas “após notícias tranquilizadoras hoje sobre a economia dos EUA”, de acordo com a Western Union. Gastos e rendas pessoais surpreenderam positivamente, na visão da consultoria. “Os dados de inflação foram tranquilizadores, pois foram um sinal provisório de que os preços podem estar no pico ou perto dele”, avalia. A divulgação do payroll nos EUA da próxima semana é destacada como um importante sinal para a moeda americana. Hoje, o índice DXY, que mede o dólar ante seis rivais, subiu 0,34%. O euro, que chegou a ganhar impulso após a publicação de dados na região, se desvalorizava a US$ 1,1865. A libra também recuava a US$ 1,3898, e o dólar se valorizava a 109,74 ienes.

Como resultado, o petróleo, cotado em dólar reduziu ganhos, mas ainda assim fechou em alta. A Reuters publicou que Novak, disse que o consumo de petróleo está aumentando ao redor do globo. “A demanda está subindo, o consumo está subindo. Claro que o coronavírus ainda está presente, mas… Não há lockdowns como antes”. O WTI para setembro fechou em alta diária de 0,45% (+US$ 0,33) a US$ 73,95 o barril. Já o Brent para outubro subiu 0,41% (+US$ 0,31), a US$ 75,41 o barril. (Matheus Andrade – [email protected])