INDEFINIÇÃO FISCAL E TEMOR COM INFLAÇÃO PUXAM JUROS E DÓLAR, COM BOLSA EM NOVA QUEDA

A combinação de incerteza fiscal e inflação elevada – aqui e no mundo -, além de uma dose de cautela com o avanço da Covid-19 na Europa, impôs mais um pregão negativo para os ativos brasileiros. Começando pelos fatores domésticos, as dúvidas sobre o tempo de tramitação e o resultado final da PEC dos Precatórios no Senado, com possíveis mudanças no texto que devem devolvê-lo para a Câmara, deixam os investidores na defensiva. Afinal, quanto mais tempo esse assunto demora, maiores são as chances de uma solução fiscal alternativa pelo governo, ainda pior do que a proposta que adia o pagamento de precatórios. Sem clareza sobre o tema, o investidor busca proteção, o que significa fuga da Bolsa, compra de dólar e aumento de prêmios nos juros futuros. Neste último caso, aliás, as taxas curtas e intermediárias foram as que mais sofreram, diante da leitura de que a piora do risco fiscal exigirá uma política monetária mais agressiva por parte do Banco Central, sobretudo num ambiente de inflação resistente. Juros altos reduzem, naturalmente, a atratividade da renda variável. Hoje, especificamente, o setor de mineração e siderugia foi afetado pela queda do preço do minério de ferro. Assim, o Ibovespa engatou o quarto pregão consecutivo de perdas, ao cair 0,51%, aos 102.426,00 pontos – ainda no menor nível em pouco mais de um ano. Em um dia negativo para as moedas emergentes ante o dólar, o real também pagou a conta. A moeda norte-americana também teve a quarta sessão seguida de valorização ante a divisa nacional, ao ganhar 0,83%, a R$ 5,5699, perto das máximas do dia. As preocupações com a inflação e o impacto que isso pode ter na estratégia de grandes bancos centrais, sobretudo do Fed, antecipando o aperto monetário nos países desenvolvidos, além de servir de pano de fundo para o dia de perdas nos ativos emergentes, também deixou os índices de ações em Wall Street sensíveis, com fechamento sem direção única.

Juros

Os juros futuros fecharam a sessão regular em alta, concentrada entre os vértices de curto e médio prazos, refletindo a piora na percepção de risco fiscal e expectativa de um Copom mais agressivo na condução da política monetária nos próximos meses. O imbróglio sobre a PEC dos Precatórios e a questão do reajuste dos servidores em 2022 seguem como principal foco dos investidores, hoje com o exterior em segundo plano. O Tesouro elevou a oferta de prefixados em relação à semana passada, mas com um risco desta vez mais equilibrado, o que evitou pressão maior sobre a curva.

No fim da sessão regular, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 estava na máxima de 12,165%, de 12,036% ontem, e a do DI para janeiro de 2025, também na máxima, fechou em 12,09%, de 11,996% no ajuste ontem. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 11,96% (máxima), de 11,903%. No fechamento da sessão estendida, estes contratos tinham taxas de 12,165%, 12,05% e 11,93%, respectivamente.

Com as taxas curtas subindo mais do que as longas, a inclinação negativa da curva, que diminuiu nos últimos dois dias, hoje voltou a abrir. O spread entre os contratos para janeiro de 2027 e janeiro de 2023 ficou em -20,5 pontos, de -12 pontos ontem. O movimento se dá em função da ideia de que a disposição do Banco Central de elevar a Selic em 1,5 ponto porcentual sinalizada para a próxima reunião do Copom é pouco para o tamanho do desafio de colocar a inflação de 2022 para perto de meta de 3,5% – atualmente o Boletim Focus tem mediana em 4,79%.

Nesta sexta-feira, é a chamada data crítica para atualizar previsões na Focus, o que pressupõe que na segunda-feira as medianas devem renovar sua trajetória ascendente, na medida em que uma série de instituições vem anunciando revisões para cima em suas estimativas. Hoje o Itaú Unibanco revisou sua projeção de IPCA este ano de 9% para 10,1% e para 2022, de 4,3% para 5,0%, com Selic de 11,75% no fim do ciclo, de 11,25% anteriormente.

A percepção de Copom mais agressivo vem crescendo junto com as dificuldades de tramitação, agora no Senado, da PEC dos Precatórios. Por mais que as mudanças sugeridas ontem pelos senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), José Aníbal (PSDB-SP) e Oriovisto Guimarães (Podemos-PR) – entre elas retirar os precatórios do teto em 2022 – possam, numa visão otimista, tornar o texto menos ruim, o fato é que a proposta teria de voltar à Câmara, com o risco de o processo recomeçar praticamente do zero.

“Há um claro descompasso na Política Econômica. A política monetária é o freio e a fiscal, o acelerador. Quando se pisa nos dois, o carro vai parar, mas com estragos em várias peças”, ilustrou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez, que prevê alta de 2 pontos porcentuais da Selic em dezembro, com taxa de 13,25% ao fim do ciclo. Para ele, as decisões do BC não serão “casuísticas” como as que têm sido tomadas na área fiscal, sob o risco de perder credibilidade. Dado o “estrago nas peças”, ou seja, economia cambaleante, no ano que vem mesmo deve, nas contas de Sanchez, haver um ciclo de queda da Selic no último trimestre, que levará a taxa a 11,75%.

Nas mesas de renda fixa, um dos focos de comentários foram as posições ortodoxas apresentadas pelo economista Affonso Celso Pastore, em live do BTG Pactual nesta manhã. O ex-presidente do Banco Central defendeu uma forte aceleração no ritmo de aperto monetário de até 250 pontos, como forma de salvar a meta de 2022. Participaram ainda do evento os ex-diretores do BC Tiago Berriel e Eduardo Loyo. “Como agora é consultor do Moro (ex-juiz e presidenciável Sérgio Moro), o mercado está ainda mais atento ao que ele fala”, disse um gestor, sobre Pastore.

Segundo a Greenbay Investimentos, a precificação da curva apontava nesta tarde três altas de 175 pontos para a Selic nas reuniões do Copom de dezembro, fevereiro e março, com a taxa fechando o ano que vem em 13,25%, sendo que para o próximo encontro a probabilidade é de 100%.

O Tesouro realizou hoje leilão de prefixados, elevando a oferta de LTN a 6 milhões (5,75 milhões vendidas), de 3,5 milhões na semana passada, mas reduzindo a de NTN-F para 1,5 milhão, de 2 milhões no leilão anterior. “Se, na semana passada, o Tesouro deu peso ao movimento que vinha ocorrendo de flattening da curva e privilegiou uma concentração do DV01 nas NTN-F, no leilão de hoje optou por uma oferta mais equilibrada (53% do DV01 nas LTN e 47% nas NTN-F), com um DV01 total um pouco menor e abrindo espaço para um volume financeiro de títulos prefixados 37% maior”, avaliou o estrategista-chefe da Renascença DTVM, Sérgio Goldenstein. O DV01 (risco) foi 3,2% menor do que na semana passada. (Denise Abarca – [email protected])

Bolsa

O Ibovespa suportou o teste da linha de 102 mil pontos nesta quinta-feira, mas não o suficiente para impedir a quarta perda diária consecutiva, igualando em extensão a série negativa entre as sessões de 26 a 29 de outubro. Após três perdas acima de 1%, o Ibovespa cedeu hoje 0,51%, aos 102.426,00 pontos, agora no menor nível de fechamento desde 6 de novembro de 2020, então aos 100.925,11 pontos. Na mínima desta quinta-feira, aos 102.013,98 pontos (-0,91%), foi ao menor nível intradia desde 9 de novembro do ano passado (100.953,95 pontos). O giro financeiro foi de R$ 28,7 bilhões na sessão. Na semana, o índice da B3 cai 3,68% e, no mês, 1,04%, enquanto, no ano, a retração chega agora a 13,94%.

Pela manhã, o Ibovespa chegou a mostrar um leve repique após as fortes quedas dos dias anteriores, especialmente das empresas com foco na economia doméstica, como varejo e construção civil, observa Rodrigo Crespi, especialista de mercado da Guide Investimentos. Mas desde a manhã, acrescenta ele, o desempenho do Ibovespa já era limitado por empresas do setor de mineração, como Vale (ON -4,11% no fechamento), Usiminas (PNA -5,70%) e CSN (ON -5,35%), acompanhando a desvalorização forte, de ontem para hoje, no minério de ferro. A commodity fechou em queda de 4,18% em Qingdao (China), a US$ 87,27 por tonelada, menor nível desde 6 de maio de 2020.

O tom relativamente mais fraco observado nas bolsas do exterior nas últimas sessões, em meio a novo avanço da Covid-19 na Europa e a alertas de autoridades monetárias dos Estados Unidos sobre pressões inflacionárias, contribui para que os ativos brasileiros sigam na defensiva – ainda que, em Nova York, duas das referências (S&P 500 e Nasdaq) tenham renovado hoje máximas históricas de fechamento, apesar da recente perda de ímpeto. Por outro lado, na B3, a ruptura do suporte dos 103 mil pontos, apontam analistas, abre caminho para que o Ibovespa venha a testar os 100 mil.

Além do ambiente externo menos favorável, o aumento da percepção de risco sobre a situação fiscal doméstica continua a ser o principal indutor da correção, com apresentação de versão alternativa da PEC dos Precatórios por um grupo de senadores que, caso venha a prevalecer, resultará em nova apreciação na Câmara dos Deputados, alongando o processo de tramitação da matéria – e, portanto, a incerteza sobre o que emergirá ao final.

“Há uma apreensão com a movimentação para o texto substituto. A reação ruim não é por conta da proposta em si, que manteria o teto de gastos em pé, algo positivo, sem pedalada nos precatórios, mas sim em razão do prolongamento do período de incerteza, com a volta para a Câmara sem garantia de adesão. Quando há incerteza, com extensão do período de discussão, a volatilidade fica e a Bolsa patina, com o micro à sombra do macro”, diz Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

O temor maior é de que a postergação tire o governo da zona de conforto, levando-o a buscar alternativa, em medida provisória, para encaminhar o Auxílio Brasil por meio de crédito extraordinário. “É um orçamento que já está dado, inclusive com início de pagamentos (do benefício). A perspectiva de mudança no Senado fará o texto voltar à Câmara. O adiamento e a dificuldade de aprovação preocupam todo o mercado. Ainda temos questões significativas a serem resolvidas com relação ao risco fiscal”, diz Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo Investimentos.

Em outro desdobramento, um grupo de seis deputados federais de diferentes partidos apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedido de reconsideração da decisão da ministra Rosa Weber, que negou suspender a tramitação da PEC dos Precatórios. Os parlamentares, que haviam acionado a corte questionando diferentes aspectos da votação em primeiro turno na Câmara, pedem que o caso seja discutido no plenário do STF.

No exterior, as restrições impostas na zona do euro para conter o avanço da Covid-19 devem ser menos severas para a economia do que as adotadas no começo do ano, avalia a Capital Economics. Os lockdowns em partes da Áustria, porém, sugerem que há grandes riscos negativos pela frente, de acordo com a consultoria. De modo geral, a expectativa é de que o impacto econômico das novas medidas seja bem menor do que antes, no auge da pandemia. A baixa cobertura de vacinação em certas regiões da Áustria, em comparação aos demais países da zona do euro, dá certa segurança de que o mesmo não se repetirá em toda a região, diz a Capital Economics.

Na ponta do Ibovespa nesta quinta-feira, destaque pelo segundo dia para Méliuz (+10,22%), com resultados trimestrais que animaram os investidores – e elevação pelo Bank of America (BofA) da recomendação do papel, de neutra para compra -, à frente mais uma vez de Alpargatas (+4,95%), ambas seguidas por Intermédica (+3,77%) e Hapvida (+3,73%). No lado oposto, as empresas de siderurgia, com Usiminas (-5,70%) e CSN (-5,35%), à frente de Petro Rio (-4,42%) e Bradespar, esta com participação na Vale, em baixa de 4,32% no fechamento. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

18:27

Índice Bovespa   Pontos   Var. %

Último 102426.00 -0.50749

Máxima 103757.27 +0.79

Mínima 102013.98 -0.91

Volume (R$ Bilhões) 2.87B

Volume (US$ Bilhões) 5.17B

18:27

Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. %

Último 103300 -0.38573

Máxima 104305 +0.58

Mínima 102515 -1.14

Câmbio

O dólar emendou nesta quinta-feira a quarta sessão seguida de alta, em dia marcado por fortalecimento da moeda americana frente a emergentes, sobretudo por conta do aumento das apostas em alta dos juros nos EUA no primeiro semestre de 2022, e recrudescimento dos riscos fiscais domésticos. Teme-se que a apresentação de um novo texto da PEC dos Precatórios no Senado atrase a aprovação definitiva da proposta e faça o governo lançar mão de créditos extraordinários para bancar o Auxílio Brasil.

Operadores ressaltam que o clima de incerteza diminui a liquidez e aumenta a demanda por posições defensivas. O contrato futuro de dólar futuro para dezembro – termômetro do apetite por negócios – movimentou menos de US$ 10 bilhões, bem aquém da faixa tradicional, entre US$ 13 bilhões e US$ 15 bilhões.

Em alta desde a abertura dos negócios, o dólar rompeu o nível R$ 5,55 ainda pela manhã e, ao longo da tarde, correu até a linha de R$ 5,57. A despeito da pressão altista, a faixa de oscilação foi estreita, com pouco mais de cinco centavos entre a mínima (R$ 5,5259) e a máxima (R$ 5,5776). No fim da sessão, o dólar era cotado a R$ 5,5699, em alta de 0,83%. Com isso, a moeda já avança 2,07% nesta semana. No mês, contudo, ainda apresenta queda de 1,35%.

Ontem à noite, senadores do PSDB, Podemos e Cidadania apresentaram uma proposta alternativa para a PEC dos Precatórios. O texto mantém a mudança na fórmula de correção do teto de gastos, mas retira R$ 89 bilhões em pagamentos de precatórios de 2022 do guarda-chuva do teto. A nova versão abre um espaço de R$ 64 bilhões no orçamento, que seriam destinados ao Auxílio Brasil. Prevê também o fim das emendas do relator, principal moeda de troca do Planalto com parlamentares aliados.

Se a proposta alternativa vingar no Senado, a PEC terá que ser novamente apreciada na Câmara dos Deputados, o que atrasaria ainda o desenlace da questão, fundamental para uma definição do Orçamento de 2022. Ontem à noite, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que seria um erro grave tirar os precatórios do teto, em alusão à proposta de senadores. Fontes ouvidas hoje pelo Broadcast afirmaram que a bancada do PSD no Senado deve se posicionar e apoiar mudanças na PEC para evitar uma “farra fiscal”.

Na avaliação do operador Hideaki Iha, da Fair Corretora, era de se esperar uma correção do dólar como a observada nos últimos dias, já que a queda recente foi fruto, em especial, de zeragem de posições na esteira de uma “euforia inexplicável” do mercado com a aprovação da PEC dos Precatórios em segundo turno na Câmara. “Com toda essa incerteza fiscal, crescimento baixo e inflação elevada, não dá para imaginar o dólar para baixo”, diz Iha, ressaltando que, apesar da taxa Selic mais elevada, não se vê apetite grande por operações para arbitrar diferencial entre taxa de juros interna e externa.

Para Iha, com o impasse em torno da PEC dos Precatórios e o pendor populista do presidente Jair Bolsonaro, que já mira a eleição de 2022, é possível que o governo adote algum expediente, como extensão do auxílio emergencial via crédito extraordinário, para bancar transferências de renda à população. “Com esse quadro, o dólar deve continuar pressionado e pode buscar novamente R$ 5,60”, afirma.

Diferentemente de outras ocasiões, o real não liderou o ranking das perdas entre as divisas emergentes, papel que coube à lira turca – na esteira da decisão do BC da Turquia de reduzir os juros -, seguida pelo rand sul-africano. O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – operou em leve queda, sobretudo por conta da valorização do euro, mas ainda em níveis elevados, na casa dos 95,500 pontos.

As pressões inflacionárias nas economias desenvolvidas, em especial nos Estados Unidos, aumentam as chances de uma antecipação do movimento de normalização da política monetária, o que diminui o apelo dos ativos de risco e respinga nas moedas emergentes. Nos EUA, é grande a expectativa pela decisão do presidente Joe Biden sobre a permanência de Jerome Powell à frente do Fed, já que o mandato do dirigente expira em fevereiro do ano que vem.

Hoje, o presidente do Fed de Nova York, John Willians, afirmou que o núcleo da inflação americana aumentou mesmo excluindo os efeitos de base e que é necessário equilibrar o choque de demanda com o de oferta. O presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, disse que a alta de juros pode vir após o fim do ‘tapering’, em meados de 2022 ou em 2023, mas ressaltou que, se as expectativas de inflação aumentarem, a política monetária terá que ser mais restritiva.

Em relatório, o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, ressalta que dados positivos de indústria e emprego nos EUA mantêm pressão sobre as taxas futuras americanas, que espelham mais de 30% de chance de que o Fed promova uma alta de juros já em maio do ano que vem. A aposta em elevação dos Fed Funds em junho de 2022 já é majoritária, com mais de 60%. (Antonio Perez – [email protected])

18:27

Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima

Dólar Comercial (AE) 5.56990 0.8273 5.57760 5.52590

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5570.500 0.55054 5589.500 5537.000

DOLAR COMERCIAL 5617.000 0.69918 5619.000 5589.000

Mercados Internacionais

As bolsas de Nova York fecharam sem sinal único, mas o suficiente para S&P 500 e Nasdaq renovarem recordes históricos, enquanto investidores seguem cautelosos pelo avanço da inflação no Norte global e suas potenciais repercussões. Analistas avaliam que a aguardada escolha para o comando do Federal Reserve (Fed) a partir de fevereiro, a ser anunciada a qualquer momento pelo presidente dos EUA, Joe Biden, não deve trazer mudanças significativas sobre a forma de lidar com a alta dos preços. O petróleo, um dos principais catalisadores inflacionários no país, voltou a fechar em alta, após uma sessão volátil, influenciado pelas expectativas em relação à liberação de reservas e pelo câmbio. Apesar de ter se desvalorizado ante moedas rivais, frente a divisas emergentes o dólar ganhou terreno, com destaque para lira e rand, após decisões de política monetária dos bancos centrais de Turquia e África do Sul.

O presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, disse hoje que está muito preocupado com a possibilidade de que a alta da inflação dure mais tempo do que ele pensava. Na avaliação da Capital Economics, com Jerome Powell ou Lael Brainard na presidência da autoridade, os próximos 12 a 18 meses deverão ser “incomumente difíceis” para o BC, à medida que a inflação se espalha para setores que não têm relação com as pressões transitórias que afetam os preços. Hoje, o presidente do Fed de Nova York, John Williams, pontuou que há aumento no núcleo da inflação americana, mesmo excluídos os efeitos de base.

Para Edward Moya, analista da Oanda, Wall Street quer apenas se concentrar em “temas inflacionários, a força do consumidor dos EUA, possíveis mudanças nas visões de pressão de preços no Fed e se Biden conseguirá aprovar mais alguma coisa antes das eleições de meio de mandato”. A LPL Financial lembra que “tecnologia é o único setor a atingir recentemente uma alta relativa de 52 semanas e acreditamos que isso cria uma perspectiva favorável em 2022”. “Tecnologia continua a ser um capacitador-chave para maior produtividade e o lar de muitas das empresas de crescimento mais rápido”, comenta a corretora, lembrando que o crescimento dos ganhos do setor este ano está a caminho de ultrapassar 30%.

Hoje, um destaque do setor foi a Nvidia, que avançou 8,25% depois da publicação de resultados. Já a Amazon avançou 4,14%, enquanto seguem tratativas sobre o pagamento de taxas em sua plataforma. Os resultados ajudaram o Nasdaq a fechar em alta de 0,45%. O S&P 500 subiu 0,34%, enquanto o Dow Jones recuou 0,17%. Já na Europa, que observa ainda um avanço da covid-19 e uma série de novas restrições, os principais mercados acionários fecharam em baixa, incluindo queda de 0,48% no londrino FTSE 100 e recuo de 1,72% do PSI 20 em Lisboa.

Já os juros dos Treasuries tiveram uma sessão volátil, em dia de leilão de US$ 14 bilhões em títulos atrelados à inflação (TIPS) de 10 anos, que teve demanda abaixo da média. Ao fim da tarde, o retorno da T-note de 2 anos avançava a 0,496%, o da T-note de 10 anos subia a 1,580% e o da T-bond de 30 anos recuava a 1,965%.

Enquanto a Casa Branca afirmou que realizou conversas sobre a liberação de reservas de petróleo para tentar conter os preços dos combustíveis, analistas ponderam impacto do movimento. Operadores ao longo da tarde apontaram que a liberação pode já estar precificada e não resolveria a questão, já que somente preços mais altos do petróleo poderiam impulsionar um aumento na produção. O barril do WTI para janeiro encerrou o dia com ganho de 1,11% (US$ 0,86), a US$ 78,41. Já o Brent para igual mês subiu 1,20% (US$ 0,96), a US$ 81,24 por barril.

O dólar enfraquecido ante a maioria dos rivais também impulsionou a commodity, cotada na moeda americana. Depois de seguidas baixas, o que inclusive levou a maiores preocupações inflacionárias na zona do euro, segundo a Pantheon Macroeconomics, a moeda comum avançou na comparação com o dólar, e no fim da tarde era cotada a 1,1372 pressionando o DXY, que mede o ativo americano ante seis rivais, a uma queda de 0,30%, a 95,544 pontos. A libra também se valorizava, a 1,5000.

A queda da lira turca ante o dólar, que seguiu a decisão do BC local de reduzir os juros de 16% para 15% preocupa emergentes. Para a Capital Economics, embora o impacto deva ser mais limitado do que o de evento semelhante ocorrido em 2018, o recrudescimento da crise complicará o cenário de inflação, além de aumentar os custos para que tomadores de empréstimos rolem dívidas externas. A instituição lembra que, em 2018, a crise contribuiu para acelerar o aperto monetário de emergentes. Ao fim da tarde, o dólar era cotado a 11,0343 liras. Outra queda de destaque foi do rand sul-africano, com o dólar cotado a 15,6750, com uma desvalorização após o BC local elevar os juros a 3,75%. (Matheus Andrade – [email protected])