IBOVESPA SOBE COM FATORES TÉCNICOS E NY, ENQUANTO MERCADO RELATIVIZA CAGED FORTE

O Ibovespa engrenou uma marcha de alta na tarde desta quarta-feira, sob impulso de
fatores técnicos. O índice vinha de quatro quedas consecutivas e, na véspera de
fechamento de mês e de trimestre, tornou-se atrativo para uma parcela dos investidores,
que o veem descontado em relação a pares internacionais. Ações de primeira linha foram
destaque de alta (Vale +0,92%, Petrobras ON +1,22% e PN +0,80%, Bradesco PN +1,56%),
ainda que a liquidez tenha se mantido abaixo da média recente. O indicador acionário
terminou o dia em 127.690,62 pontos (+0,65%). Houve ainda contribuição das bolsas
americanas, que ganharam força na reta final do pregão com salto de papéis de
tecnologia. Aos 5.248,49 pontos (+0,86%), o S&P 500 renovou máxima histórica de
fechamento. De volta ao Brasil, o dado forte do Caged, que mostrou geração de 306 mil
vagas em fevereiro, foi amortecido pela queda real dos salários de admissão, fazendo
com que seu impacto nos preços de mercado ficasse limitado. Assim, os juros futuros
chegam ao fim da tarde perto dos ajustes de ontem. Há expectativa com o Relatório de
Inflação amanhã, que será seguido de coletiva com o presidente do Banco Central,
Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Econômica, Diogo Guillen. No câmbio, o
dólar teve um leve viés de baixa, aos R$ 4,9793 (-0,07%), em uma sessão de oscilações
em margens estreitas.
•BOLSA
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•JUROS
•CÂMBIO
BOLSA
O Ibovespa arriscou um movimento um pouco mais forte hoje, penúltimo pregão de
março, e encerrou o dia com alta de 0,65%, aos 127.690,62 pontos. Apesar da liquidez
novamente reduzida, os ganhos de papéis de grandes bancos puxaram o índice, ainda
embalados pela expectativa de juros mais altos este ano. Vale e Petrobras aproveitaram o
alívio do noticiário político e também subiram, ignorando as quedas do minério de ferro e
do petróleo.
Assim, o índice caiu durante parte da manhã – até a mínima, de 126.222,95 pontos (-
0,50%) -, mas engatou alta firme à tarde, quando subiu até a máxima de 127.699,28
pontos (+0,66%). Seguindo o tom das sessões anteriores, o giro financeiro ficou reduzido,
em R$ 20,1 bilhões, refletindo a cautela antes do feriado da Sexta-feira Santa.
À tarde, o sinal positivo dos índices de Nova York, que renovaram máximas, também
ajudou o Ibovespa a avançar. Nasdaq (+0,51%), S&P 500 (+0,86%) e Dow Jones (+1,22%)
fecharam em alta, puxados pelo setor de tecnologia e refletindo a queda dos rendimentos
dos Treasuries americanos, o que também sustentou algum apetite por risco aqui.
O estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, afirma que a perspectiva de
menos cortes na taxa Selic este ano, fortalecida pela ata do Comitê de Política Monetária
(Copom) de ontem, continuou sustentando hoje os papéis do setor financeiro. Eles
estiveram entre as maiores influências de alta sobre o Ibovespa, com destaque para
Bradesco (PN +1,56%, ON +1,43%) e Itaú Unibanco (PN +0,55%).
“O setor financeiro ficou esquecido desde o início do ciclo de queda, mas agora os
bancos e as seguradoras voltam a ser interessantes, com a perspectiva de que os juros
fiquem mais altos”, diz Cruz. “Agora, no fim do mês, vamos ter uma discussão sobre se
essas empresas podem ter uma rentabilidade melhor.”
No campo das commodities, Vale ON subiu 0,92% e Petrobras ganhou entre 0,80% (PN) e
1,22% (ON), ajudando a garantir a recuperação do Ibovespa. Em ambos os casos, os
resultados contrariaram as quedas dos preços do minério de ferro (-3,53%) e do petróleo
(-0,26%, no caso do Brent).
Segundo Cruz, as empresas aproveitam o silêncio no front político para recuperar parte
das perdas do mês – próxima de 5,5%, no caso da Vale, e entre 8,5% e 9,5% para a
Petrobras. Ambas as ações foram prejudicadas pelos temores de ingerência política do
governo nas empresas, que prejudicaram os papéis nas últimas semanas. “E, hoje, os
preços do minério caíram, mas os dados de lucro industrial na China surpreenderam”,
destaca, sobre a Vale.
O sócio da One Investimentos Bernard Faust diz que um movimento de defesa de preços
explica o desempenho de Vale ON e Petrobras ON e PN, cujas ações fecharam o dia em
R$ 60,60 e entre R$ 36,55 e R$ 37,36. Nesses preços, os papéis tornam-se atrativos o
bastante para impedir uma desvalorização adicional mais forte, ele diz.
“Por mais que as commodities estejam ruins, a assimetria de risco e retorno se tornou
melhor. Teve um fluxo de saída e, agora, tem uma atratividade para alguns investidores”,
afirma.
Novos dados de inflação e mercado de trabalho foram acompanhados pelo mercado,
mas contribuíram pouco para a formação dos preços. O Cadastro Geral de Empregados e
Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho, mostrou criação líquida de 306 mil
empregos formais em fevereiro, mais do que indicava o consenso, de 232,5 mil vagas. E o
Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) teve deflação de 0,47% em março, maior do que
se esperava.
O destaque negativo do dia foi Eletrobras (ON -1,32%, PNB -0,32%), prejudicada por
declarações do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, que voltou a dizer que o
governo vai publicar uma Medida Provisória para securitizar os recursos devidos pela
empresa à conta de desenvolvimento energético (CNE). Foi a segunda vez que o ministro
mencionou essa intenção.
Investidores continuam receosos de adotar posições mais ousadas, enquanto aguardam
a divulgação do relatório trimestral de inflação (RTI) nesta quinta-feira e do PCE dos
Estados Unidos, a medida de inflação preferida pelo Federal Reserve (Fed, o banco
central do país), na sexta-feira, quando os mercados locais não funcionam.
No fim do dia, 63 dos 86 papéis da carteira teórica do Ibovespa tinham avançado. As
maiores altas nominais ficaram com Lojas Renner ON (+5,42%), Raízen PN (+5,23%),
Casas Bahia ON (+4,67%) e Braskem ON (+4,54%). As principais quedas foram de CVC
ON (-6,48%), Petz ON (-4,89%), Vamos ON (-4,40%) e Marfrig ON (-2,45
17:34
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 127690.62 0.6524
Máxima 127755.93 +0.70
Mínima 126222.95 -0.50
Volume (R$ Bilhões) 2.01B
Volume (US$ Bilhões) 4.04B
17:36
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 128215 0.4662
Máxima 128480 +0.67
Mínima 126840 -0.61
MERCADOS INTERNACIONAIS
Os retornos dos Treasuries sofreram uma pressão adicional nesta tarde, após o Tesouro
americano anunciar resultado de leilão de títulos com demanda forte. O movimento
favoreceu o fortalecimento das bolsas de Nova York na etapa final do pregão,
possibilitando que o S&P 500 renovasse máxima histórica, trazendo o Nasdaq de volta ao
território positivo e levando o Dow Jones a acumular ganhos de mais de 1%. Já o dólar
tinha comportamento misto ante rivais, e, entre emergentes, o destaque era o peso
mexicano, que saltou ao maior patamar em quase 9 anos ante a moeda americano. A
expectativa, agora, é para o discurso do dirigente do Federal Reserve (Fed) Christopher
Waller nesta noite, que poderá ajudar os investidores a alocarem apostas sobre quando
começará o ciclo de relaxamento monetário nos EUA.
O leilão de US$ 43 bilhões em T-notes de 7 anos, com rendimento máximo de 4,185%,
teve uma demanda acima da média recente, segundo análise do BMO. Os yields, que já
estavam em queda, estenderam perdas na sequência da divulgação. Às 17h (de Brasília),
o juro da T-note de 2 anos caía a 4,568%; o da T-note de 10 anos recuava a 4,187%; e o do
T-bond de 30 anos tinha baixa a 4,348%.
Em Wall Street, as bolsas de Nova York ganharam fôlego nos últimos minutos da sessão,
abrindo espaço para que o S&P 500 fechasse em máxima histórica. O Nasdaq, que
chegou até a operar no vermelho, se firmou no território positivo à medida que ações de
tecnologia ganhavam tração. Não foi suficiente para impedir a queda de 2,50% da Nvidia,
mas permitiu avanço de 4% da Intel e de 2% da Apple.
Os grandes bancos também ampliaram ganhos nesse final, com Goldman Sachs
terminando o pregão com alta de 2,23%, JPMorgan subindo 1,94%, Morgan Stanley
avançando 2,43% e Bank of America, 1,94%.
Tudo somado, o índice Dow Jones fechou com alta de 1,22%, o S&P 500 subiu 0,86% e o
Nasdaq teve alta de 0,51%. Para o CEO da Navellier, Louis Navellier, a vantagem do Dow
Jones e do S&P 500 traduz uma ampliação do rali das bolsas para ações de empresas
com um desempenho não tão positivos como o das big techs.
No câmbio, o iene manteve o suporte recebido da intervenção verbal de autoridades
japonesas. Assim, o dólar recuava a 151,35 ienes; o euro cedia a US$ 1,0827 e a libra
avançava a US$ 1,2636, por volta do horário citado. O índice DXY (que mede a força do
dólar ante seis rivais) fechou com alta de 0,05%, a 104,348 pontos.
O dólar caía a 16,5805 pesos mexicanos, depois de ter batido a marca de 16,5113 na
mínima do dia – menor nível desde 2015. A casa de análise Monex citou divulgação de
dados que mostraram fraqueza na taxa de desemprego e menor déficit comercial no
México como alguns dos fatores que sustentaram a alta da moeda mexicana. Enquanto a
balança comercial sinaliza maior entrada de dólar na economia, a leitura de emprego joga
a favor do argumento de que o BC do México tem razões para manter juros mais altos por
mais tempo, depois de ter cortado taxas na semana passada, ainda de acordo com a
Monex.
Mais tarde, às 19h (de Brasília), Waller vai participar de um webinar promovido pelo Clube
Econômico de Nova York – o destaque da agenda do dia. “Visto que Waller é amplamente
considerado um ‘hawk’ (dirigente favorável a manter política mais restritiva), o mercado
estará atento para ver as suas reações aos dados recentes – particularmente a inflação,
que tem sido mais persistente do que o esperado nos últimos dois meses e, sinais de
resiliência na economia”, escreveu a analista Fiona Cincotta, do City Index.
JUROS
Os juros futuros chegaram a ensaiar um movimento de baixa durante a tarde, após
oscilarem ao redor dos ajustes pela manhã, mas perderam o impulso e voltavam a flertar
com a estabilidade no fim do dia. O destaque da quarta-feira foi o Caged robusto de
fevereiro, mas que acabou sendo relativizado pelo mercado, que ponderou ainda o alívio
da curva dos Treasuries e a agenda carregada de amanhã, com Pnad Contínua e Relatório
de Inflação (RI).
Às 17h11, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava
em 9,910%, de 9,924% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 estava em 9,88%,
estável. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,13%, de 10,12% ontem, e o DI para
janeiro de 2029 projetava 10,63%, de 10,60%.
Logo na abertura, o mercado já tinha em mãos o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M)
de março, que mostrou deflação de 0,47%, no piso do intervalo das estimativas, mas que
não chegou a afetar as taxas. A maior expectativa do mercado era pelo Caged,
especialmente após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmar que o número
seria “expressivo”. A geração de 306.111 postos no mês passado acabou superando a
mediana das estimativas (232,5 mil), mas logo após a publicação do dado as taxas
passaram a cair. O resultado foi novamente puxado pelo setor de serviços, com a criação
de 193.127 postos formais.
O economista Victor Beyruti, da Guide Investimentos, explica que o mercado já tinha se
antecipado ontem a um resultado robusto quando leu na ata do Copom o alerta do BC
sobre o mercado de trabalho apertado e quando viu que, no IPCA-15 de março, a inflação
de serviços, que em boa medida vêm sendo fomentada pelos ganhos salariais, não
desacelerou a contento, rodando ainda acima de 5% no acumulado em 12 meses. “Além
disso, o juro da T-Note caindo abaixo de 4,20% ajuda a amenizar o impacto do Caged
sobre as taxas”, acrecentou. No fim da tarde, o yield estava em 4,19%.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, disse que o ministro
Luiz Marinho afirmou que o Caged seria “extraordinário”. “Óbvio que 306 mil em fevereiro é
um número muito bom, mas é o 4º maior de fevereiro. Outro ponto é que o número de
janeiro foi revisto de 180 mil para 168 mil. A sessão do DI ontem foi muito forte. O
mercado se preparou para um Caged fora do comum”, explicou.
Por fim, na visão do economista da CM Capital Matheus Pizzani, a geração de vagas
acima da mediana das estimativas não deve ser uma preocupação para o BC porque veio
acompanhada de queda generalizada no nível dos salários.
Resta agora saber como virá amanhã a Pnad Contínua amanhã, mais pelo o que deve
mostrar o comportamento dos salários do que pela taxa de desemprego em si, uma vez
que a massa salarial alcançou patamar recorde em janeiro. Na pesquisa do Projeções
Broadcast, a mediana aponta para crescimento da taxa para 7,8% no trimestre encerrado
em fevereiro.
Também nesta quinta-feira, o BC apresentará o Relatório de Inflação (RI) do primeiro
trimestre, que será comentado em entrevista coletiva pelo presidente do BC, Roberto
Campos Neto, e pelo diretor de Política Econômica, Diogo Guillén. O mercado acredita
que o documento deve detalhar melhor de onde estão vindo as pressões inflacionárias e
a percepção da autoridade monetária sobre o hiato do produto.
CÂMBIO
Após trocas de sinal na primeira etapa de negócios, o dólar à vista operou em leve queda
ao longo da tarde, em meio ao aprofundamento da baixa das taxas dos Treasuries e ao
enfraquecimento da moeda americana em relação a pares latino-americanos do real, em
especial o peso mexicano. Pela manhã, operadores apontaram a nova rodada de
desvalorização do minério de ferro, em queda de mais de 3% pelo segundo dia seguido, e
a recomposição de posições defensivas como indutores de alta pontual do dólar.
Dados fortes do saldo de empregos formais no Brasil em fevereiro divulgados às 14h não
tiveram impacto relevante na formação da taxa de câmbio, embora possam, em tese,
mexer com as expectativas para o tamanho do ciclo total de cortes da taxa Selic. Na ata
do Copom, divulgada ontem, o Banco Central apontou o mercado de trabalho apertado
como um dos pontos a serem observados na definição do ritmo de redução da taxa
básica.
Entre a mínima de R$ 4,9720 e a máxima R$ 4,9935, o dólar à vista encerrou a sessão
cotado a R$ 4,9793, em baixa de 0,07%. Com investidores já antecipando a rolagem de
posições na virada do mês, o contrato de dólar futuro para abril teve giro robusto, acima
de US$ 14 bilhões. Amanhã, haverá a disputa pela formação da última taxa ptax de
março, dada a ausência de negócios no último dia útil do mês, em razão do feriado de
Sexta-feira Santa.
O gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, afirma que grandes
‘players’ sustentam posições defensivas relevantes na véspera da disputa pela Ptax, o
que mantém o dólar perto de R$ 5,00. Ele lembra que na sexta-feira, quando os mercados
estarão fechados, sai o índice de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) nos EUA
e há discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell – eventos que podem
promover mudanças nas expectativas para o início de corte de juros nos EUA.
“A tendência é que os mercados adotem uma postura defensiva amanhã. E as
perspectivas para as contas públicas também não ajudam, com o governo já dando sinais
de que pode mudar as metas fiscais para os próximos anos”, afirma Galhardo.
No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de
seis divisas fortes – operava ao redor da estabilidade no fim da tarde, na linha dos 104,300
pontos. A moeda americana tinha comportamento díspar em relação a divisas fortes e
emergentes, com queda em relação a divisas latino-americanas pares do real. Mais uma
vez, o peso mexicano liderou os ganhos. A queda da taxa de desemprego no México em
fevereiro corrobora a expectativa de que o Banco Central mexicano (Banxico) seja
cauteloso no processo de redução de juros.
No Brasil, o ministério do Trabalho informou que o mercado de trabalho formal registrou
saldo positivo de 306.111 carteiras assinadas em fevereiro, de acordo com os dados do
Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), bem acima da mediana das
estimativas de Projeções Broadcast, de 232,5 mil.
O gerente de Tesouraria do BS2, Felipe Ueda, lembra que amanhã saem os dados da Pnad
contínua, com a taxa de desemprego no trimestre encerrado em fevereiro – que ganha
ainda mais relevância à luz da ata do Copom.
“O BC está bem preocupado com a inflação de serviços. E os dados de emprego daqui
para devem influenciar mais os juros futuros e o próprio dólar”, afirma Ueda, ressaltando
que a divisa pode apresentar mais volatilidade amanhã com a formação da Ptax. “Não
vejo ainda dólar acima de R$ 5,00, mas também não há espaço para otimismo com o real,
porque existe ainda muita indefinição na área fiscal.”