IBOVESPA FECHA NO MAIOR NÍVEL EM QUASE 2 ANOS COM CHANCE DE -50PB NA SELIC EM AGOSTO

O Ibovespa deu sequência ao rali recente e terminou o dia no maior nível de fechamento em quase dois anos, catapultado pela perspectiva de um corte inicial mais intenso da Selic. A redução de 50 pontos-base (pb) na reunião do Copom da semana que vem ganhou fôlego após os dados do IPCA-15 mostrarem não apenas uma deflação maior do que a esperada pelo mercado como também um comportamento benigno dos preços de abertura. A queda nas medianas do IPCA no Boletim Focus deram um gás adicional à onda vendedora nos juros futuros de curto prazo. A curva embute hoje chance de 70% de redução de 50pb e 30% de 25pb. No mercado acionário, a aposta de uma queda mais intensa dos juros alimenta o bom humor com ações ligadas ao mercado doméstico, como as do setor de construção (Eztec +6,21%) e consumo (Alpargatas +3,65%). A alta global das commodities deu ajuda extra, com salto de Vale ON (+3,09%) e Petrobras PN (+2,31%). Receios com o possível fim do Juros sobre Capital Próprio (JCP), contudo, pesaram em alguns bancos, como Bradesco (ON -0,54% e PN -0,36%). Assim, o Ibovespa saltou aos 122.007,77 pontos (+0,55%), tendo, mais cedo, atingido pontualmente a marca dos 123 mil pontos. Ainda assim, é o maior nível de fechamento desde 11 de agosto de 2021. Em Nova York, o setor financeiro perdeu ímpeto na etapa da tarde, em meio a rumores de fusão do PacWest e do Banc of California, confirmados após o encerramento do pregão. Há também alguma cautela nesta véspera de decisão do Federal Reserve, refletida nas altas tímidas de Dow Jones (+0,08%) e S&P 500 (+0,28%). No Nasdaq, o ganho de 0,61% foi patrocinado pelo otimismo antes de balanços de gigantes de tecnologia. De volta ao Brasil, no câmbio, a sessão foi de alta suave, num reposicionamento dos agentes antes da bateria de decisões de política monetária. O dólar à vista subiu aos R$ 4,7500, alta de 0,36%.

•BOLSA

•JUROS

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•CÂMBIO

BOLSA

Com o IPCA-15 referente a julho em deflação de 0,07% – retração maior do que se antecipava para o mês, o que reforçou a expectativa por corte de meio ponto porcentual na Selic, na reunião do Copom na próxima semana -, o Ibovespa mostrou fôlego, desde a manhã, para emendar o quarto ganho diário e retomar os 122 mil pontos, no maior nível de fechamento em quase dois anos.

Hoje, oscilou dos 121.343,58 aos 123.009,90 pontos, e encerrou em alta de 0,55%, aos 122.007,77 pontos, máxima de fechamento desde 11 de agosto de 2021 (122.056,34). O giro foi de R$ 24,6 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa avança 3,32% e, na semana, ganha 1,49%. No ano, sobe 11,18%.

Apesar do desempenho ainda negativo das ações de grandes bancos nesta terça-feira – à exceção, hoje, de Itaú (PN +0,21%) -, o forte avanço das ações de commodities, em especial do setor metálico, com Vale (ON +3,09%) à frente mais uma vez, colocou o Ibovespa no campo positivo desde a abertura. Como ontem, as ações do setor financeiro foram pressionadas pelo sinal do governo de que pode colocar fim à distribuição, pelas instituições financeiras, de JCP (juros sobre capital próprio) a partir de 2024.

Em meio às discussões do governo sobre possível fim dos juros sobre capital próprio na reforma dos tributos sobre a renda, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) observou hoje que a medida, sem contrapartida, aumentaria o custo de crédito e os juros ao consumidor. “A hipótese de simplesmente retirar o JCP ou instituir a tributação sobre os dividendos distribuídos aos acionistas, sem nenhuma outra medida em contrapartida, se traduziria em significativa elevação da carga tributária sobre as empresas e seus acionistas em todos os setores da economia”, afirmou a Febraban em nota.

Na ponta do Ibovespa na sessão, além de nomes do setor metálico como CSN (+5,90%), e Gerdau (PN +3,50%), destaque também para empresas associadas ao ciclo doméstico, expostas a juros, como as do segmento de construção (Eztec +6,21%, Cyrela +3,75%) e as do consumo (Alpargatas +3,65%, Carrefour Brasil +3,14%). No lado oposto nesta terça-feira, Gol (-3,06%), Minerva (-2,71%), Prio (-2,62%), Weg (-2,50%), Cogna (-2,27%) e BRF (-2,21%). Na sessão, o índice de consumo (ICON) subiu 0,12%, enquanto o ganho no de materiais básicos (IMAT) chegou a 2,27%.

“Tivemos, na sessão, a convergência de dois fatores que explicam essa recuperação do Ibovespa, que até a última quinta-feira estava de lado no mês: sinais de que o Politburo, órgão central do governo chinês, vai tomar iniciativas para estimular a economia do país, em especial o setor imobiliário, o que ajuda diretamente o desempenho de Vale, uma ação na B3 que tinha ficado muito para trás; e a reação dos juros à possibilidade de um corte maior do que se antecipava para a Selic na semana que vem, o que contribui para as ações de setores como os de varejo, consumo e construção”, diz Naio Ino, gestor de renda variável da Western Asset.

“O arrefecimento da inflação no Brasil, com o IPCA-15 no negativo em julho, mantém o País na trilha de ser um dos primeiros a baixar juros. A curva de juros futuros voltou a fechar, e a Bolsa a subir, mesmo com o dólar em leve alta hoje, véspera do Fed, o que resulta em montagem natural de posição para esta aguardada alta [da taxa de juros] por lá”, diz Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos.

Em outro desdobramento favorável ao apetite por risco na sessão, o Boletim Focus – cuja divulgação foi adiada de ontem para a manhã de hoje – trouxe nova redução nas expectativas de inflação, com destaque para “horizontes mais longos, 2025-26, que se encontram em 3,50%, mais próximas à meta”, aponta em nota Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research.

Além do Fed como ponto alto da agenda, Naio Ino, da Western Asset, ressalta que a temporada de resultados trimestrais ganha tração nesta semana, aqui e no exterior, com destaque para nomes como Santander Brasil, amanhã antes da abertura, e Vale, na quinta-feira – em Nova York, a atenção permanece concentrada nos números das grandes empresas de tecnologia.

“Julho costuma ser um mês mais acomodado inclusive em fluxo, com menos notícias políticas, no recesso do Congresso, e também as férias no Hemisfério Norte, de forma que a temporada de resultados, dependendo do que trouxer, deve ser bem importante para dar direção aos negócios, caso, conforme se espera, o Federal Reserve venha amanhã dentro do consenso, com um aumento de 25 pontos-base na taxa de juros, já precificado pelo mercado para esta reunião”, acrescenta o gestor, que aguarda outra alta além da desta quarta-feira para os Fed funds, que atingiriam então “platô” antes de se iniciarem, mais adiante, os cortes de juros nos EUA.

“A grande dúvida é qual será a postura do Federal Reserve na reunião de setembro”, observa em nota Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. “Na última decisão, o Fed sinalizou que a intenção do comitê [Fomc] era elevar os juros ainda duas vezes, mas isso dependeria da atividade econômica, que têm dado sinais divergentes. Por um lado, a inflação [nos EUA] está em ritmo de desaceleração, conforme mostrou o CPI de junho – tanto o índice cheio quanto o núcleo [dos preços ao consumidor]. Por outro, há indicadores de atividade fortes, sendo o PIB americano o principal, além de dados do setor imobiliário e PMIs”, acrescenta.

Para Eduardo Cavalheiro, fundador e gestor da Rio Verde Investimentos, enquanto se espera por definições como a dos juros americanos e também da Selic, prevalece na B3 uma “troca de fichas, sem dinheiro novo”, com volume financeiro em geral ainda enfraquecido, tendendo à faixa de R$ 20 bilhões por sessão. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 122007.77 0.54893

Máxima 123009.90 +1.37

Mínima 121343.58 0.00

Volume (R$ Bilhões) 2.46B

Volume (US$ Bilhões) 5.18B

17:29

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 122890 0.15893

Máxima 124250 +1.27

Mínima 122765 +0.06

JUROS

O IPCA-15 de julho melhor do que o consenso e com leitura benigna dos preços de abertura amparou trajetória de baixa dos juros futuros durante todo o dia. Dada ainda a queda nas medianas de IPCA no Boletim Focus, o mercado ampliou as fichas na aposta de que o Copom vai iniciar o ciclo de afrouxamento monetário com uma dose de 0,5 ponto porcentual, que já vinha ganhando terreno nos últimos dias. Nesse contexto, as taxas que mais cederam foram as intermediárias, mais sensíveis às expectativas para a política monetária nos próximos meses. Num ambiente de disposição à tomada de risco, o Tesouro conseguiu bons resultados no leilão de NTN-B, mesmo com lotes e risco maiores para o mercado.

Às 17h15, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 estava em 12,645%, de 12,697% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caía a 10,65%, de 10,72%. O DI para janeiro de 2027 projetava 10,14%, estável ante o ajuste de ontem, e a do DI para janeiro de 2029 recuava a 10,52%, de 10,54%.

No fim da tarde, as taxas já operavam bem distantes das mínimas alcançadas pela manhã, com o mercado acomodando suas posições e alguns vértices de longo prazo se aproximando dos ajustes de ontem, mas em toda a curva ao menos um viés de baixa era preservado. A queda de 0,07% do IPCA-15 de julho foi maior do que apontava a mediana das estimativas (-0,03%), alimentando a ideia de que há espaço para o Copom abrir o ciclo de maneira mais incisiva, até porque os preços de serviços, uma das grandes preocupações do Banco Central com relação à inflação, desaceleraram mais do que o esperado. O índice de difusão caiu abaixo de 50%, para 47,96%.

Nos DIs, a chance de uma queda de 0,5 ponto da Selic na próxima semana vai se consolidando, passando de 60% para 70% entre ontem e hoje. A partir do encontro de setembro, a aposta de 0,5 ponto não só é de 100% como já está embutida chance de aceleração para 0,75 ponto. No fim de 2023, a curva projeta taxa básica de 11,50% e para o fim de 2024, de 9%. A Selic hoje está em 13,75%.

“A pergunta de algumas dezenas de bilhões de reais é até que ponto essa baixa do IPCA-15 vai prosseguir ao longo do ano, e qual sua capacidade de influenciar as decisões futuras do Copom”, aponta a equipe da Levante Investimentos, destacando que será preciso observar o comportamento do índice nos próximos meses para saber se essa baixa é pontual ou se está em uma tendência mais consistente.

Diferentemente da precificação da curva, entre os economistas o cenário básico segue sendo de redução de 0,25 ponto para o Copom de agosto, embora reconheçam que a probabilidade de queda de 0,5 ponto cresceu. É fato que a melhora da chamada inflação subjacente, do câmbio e das expectativas futuras desafiam a comunicação do Banco Central sobre cautela e parcimônia. Mas, ao mesmo tempo, um profissional lembra que as decisões são tomadas com base em todo um cenário, e não no IPCA de um mês. “No IPCA de junho, o mercado reduziu probabilidade de 0,50 porque serviços vieram pressionados. Agora tá tudo bem?”, questiona.

O estrategista de renda fixa e sócio gestor da Garin Investimentos, Felipe Beckel, vê a curva com prêmios perigosamente baixos para novas posições doadas, lembrando ainda do risco da Petrobras elevar os preços de combustíveis no curtíssimo prazo, dada a defasagem ante as cotações internacionais, que no caso da gasolina já estaria em 20%. “Além disso, tem risco vindo da energia elétrica. Ou seja, os administrados podem começar a pesar. Nesse momento, é preferível o BC errar para cima do que perder tudo o que a política monetária conquistou”, disse. O estrategista ressalta que os preços do petróleo seguem subindo, assim como a escalada dos grãos em meio a tensões geopolíticas merece atenção.

O dia também foi de ajuste em baixa nas implícitas das NTN-B de curto prazo, segundo Beckel, que vê o papel como uma boa defesa para o investidor em caso de reversão de cenário. “Não vejo espaço para as implícitas fecharem mais, nem para os prefixados. Sair do pré e migrar para a NTN-B pode ser uma opção”, disse.

Não por acaso, o leilão de NTN-B do Tesouro hoje teve boa demanda, com 1,421 milhão da oferta de 1,450 milhão de papéis vendidos. O especialista em renda fixa Alexandre Cabral afirma que nos três vencimentos – 15/8/2026, 15/5/2033 e 15/8/2050 – os títulos saíram com a menor taxa do ano. “Muito bom leilão, não duvido em algumas semanas termos o cupom menor do que 5,00% ao ano”, comentou.

Na pesquisa Focus, as medianas de IPCA para 2023 (4,95% para 4,90%), 2024 (3,92% para 3,90%) e 2025 (3,55% para 3,50%) caíram, mas seguem desancoradas ante as metas centrais de inflação, de 3,0% para 2024 e 2025, com intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%. Para 2023, o alvo central é de 3,25%, com piso de 1,75% e teto de 4,75%. (Denise Abarca – [email protected])

MERCADOS INTERNACIONAIS

As ações do PacWest despencaram mais de 27% neste pregão e tiveram negociações suspensas temporariamente após The Wall Street Journal noticiar que o banco estaria considerando uma possível fusão com o Banc of California, o que levou todo o setor bancário americano para o vermelho. Entretanto, apesar da pressão, as bolsas fecharam em alta, sustentadas por balanços melhores do que o esperado divulgados mais cedo e a expectativa positiva para os resultados de gigantes como Alphabet e Microsoft, a serem conhecidos após o fechamento dos mercados. Enquanto investidores aguardam a decisão de amanhã de política monetária do Federal Reserve (Fed), os juros dos Treasuries operavam mistos e o dólar caía ante rivais fortes. A possibilidade de que a esperada alta de juros de 25 pontos-base (pb) nos juros americanos amanhã seja a última do ciclo impulsionou as commodities como petróleo e cobre, beneficiadas também pela revisão para cima do Fundo Monetário Internacional (FMI) na projeção de crescimento global neste ano.

O PacWest e o Banc of Califórnia anunciaram oficialmente a fusão pouco após o fechamento dos mercados de Nova York. Entretanto, os rumores levaram os papéis do PacWest a fecharem em queda de 27%, enquanto o Banc of California subiu 11,18%. Em meio às perdas durante o pregão, as operações do PacWest foram pausadas três vezes. As movimentações ocorreram pouco antes dos próprios bancos divulgarem seus resultados corporativos e puxaram para baixo papéis de grandes instituições, como Morgan Stanley (-0,26%) e Wells Fargo (-2,02%). O subíndice de bancos do S&P 500 fechou em baixa de 0,73%.

Hoje, o índice Dow Jones subiu 0,08%, o S&P 500 avançou 0,28% e o Nasdaq fechou em alta de 0,61%. O impulso vinha de empresas que divulgaram balanços mais cedo, como 3M (+5,33%) e General Eletric (+6,27%) e na expectativa de resultados corporativos da Microsoft (+1,70%) e da Alphabet (+0,56%).

Segundo Edward Moya, da Oanda, com cerca de 75% dos balanços de Wall Street já anunciados, “a maioria das atualizações corporativas importantes apresentaram resultados melhores do que o esperado”.

Na visão do TD Securities, “embora prevejamos que julho trará o último aumento de taxa do Fed neste ciclo, não achamos que o BC esteja confortável em sinalizar essa mudança ainda”. O banco canadense ainda acrescenta que os dirigentes deverão manter a postura mais rígida “por enquanto”. Já o Navellier destaca que há “uma grande chance” de que não haja mais aperto na decisão de amanhã. “E mesmo que tenhamos um aumento de juros amanhã, deve ser o último, e todos esperamos uma declaração do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) muito otimista e positiva”.

Neste cenário, os juros dos Treasuries operaram mistos, com o juros da T-note de 2 anos caindo, enquanto os retornos da ponta longa subiram, em compasso de espera pela decisão do BC americano. Perto do fechamento das bolsas de Nova York, o retorno da T-note de 2 anos caía a 4,869%, o da T-note de 10 anos aumentava a 3,894% e o do T-bond de 30 anos marcava alta a 3,940%.

Já o dólar “se estabilizou com cautela” após subir nas máximas de duas semanas, é o que destaca relatório da Convera. Apesar da moeda americana operar em queda ante iene e libra, ela mantinha o movimento de alta ante o euro e, segundo análise da Brown Brothers Harriman (BBH), a expectativa é que haja divergências entre as decisões do Fed e do Banco Central Europeu (BCE), o que deverá favorecer os ganhos ao dólar ante o euro.

 No fim da tarde em Nova York, o dólar caía a 140,98 ienes, o euro recuava a US$ 1,1052 e a libra tinha alta a US$ 1,2893. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou alta de 0,003%, praticamente estável, em 101,349 pontos.

A ideia de que o Fed poderá encerrar ou pelo menos pausar o ciclo de aperto deu fôlego a commodities, com o petróleo registrando mais de 1% de ganhos, após o FMI diminuir temores de recessão global após elevar a projeção do PIB de 2023 de 2,8% para 3,0%, apesar de também alertar para desafios do aperto dos bancos centrais diante da luta contra a inflação.

Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para setembro fechou em alta de 1,13% (US$ 0,89), a US$ 79,63 o barril. O Brent para igual mês, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em alta de 1,09% (US$ 0,90), a US$ 83,64 o barril. Já o cobre da Comex fechou em alta de 1,56%, a US$ 3,9155. (Natália Coelho – [email protected])

CÂMBIO

O dólar à vista avançou 0,36% em relação ao real nesta terça-feira, 25, a R$ 4,7500, revertendo parte da queda da véspera, quando havia recuado ao menor nível do ano. Segundo operadores, o movimento da sessão foi técnico, puxado pela demanda de importadores pela moeda e por ajustes de posições de investidores à véspera da decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).

Apesar da alta na sessão, a moeda americana encerrou o dia no segundo menor nível do ano, acima apenas da cotação de R$ 4,7331 vista na segunda-feira. Entre a mínima, de R$ 4,7186 (-0,31%), e a máxima de R$ 4,7593 (+0,55%), oscilou cerca de quatro centavos. O contrato de dólar futuro para agosto movimentou pouco mais de US$ 10,5 bilhões, em linha com a média das últimas 30 terças-feiras.

Para o gerente de câmbio da Treviso, Reginaldo Galhardo, o movimento do dólar é explicado por um ajuste técnico, já que a forte queda da véspera abriu espaço para demanda de importadores e investidores pela moeda americana. O profissional destaca que o movimento do dia está em linha com o intervalo de R$ 4,70 a R$ 4,90 no qual a divisa tem oscilado nos últimos meses, sem sinal de rompimento.

“O que estamos vendo é que o dólar ficou muito barato ontem e o investidor comprou, o importador aproveitou para se desfazer de dívida. Na parte da manhã, foi até quase R$ 4,76 e, aí, tivemos vendas de exportadores, que limitaram a alta. Na minha opinião, o dia de hoje foi de ajuste depois de uma baixa exagerada”, afirma Galhardo.

No cenário doméstico, o principal destaque foi a deflação de 0,07% do IPCA-15 de julho, mais intensa do que indicava a mediana da pesquisa Projeções Broadcast (-0,03%). Como resultado, a curva de juros passou a precificar chance majoritária de um corte mais intenso da taxa Selic em agosto, de 50 pontos-base. Economistas do mercado, em contrapartida, mantiveram o cenário-base de uma redução mais contida, de 25 pontos.

Para Galhardo, a mudança nas apostas do mercado de juros teve pouca relação com o movimento do dólar, embora sugira uma redução do diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos. “Mesmo que o Banco Central tire 50 pontos da Selic, ela ainda vai ser de 13,25%, continua interessante. Venha o que vier, 25 pontos ou 50 pontos, isso não vai assustar o investidor”, afirma.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, avalia que o dólar ficou praticamente de lado nesta sessão, refletindo o compasso de espera do mercado pela decisão do Fed amanhã. A analista lembra que o mercado migrou nas últimas semanas para o consenso de que o BC americano vai aumentar os juros uma última vez, em 25 pontos-base, e agora aguarda confirmação da aposta.

“Embora exista um consenso no mercado e isso esteja precificado na curva dos Treasuries, ainda há dúvidas, porque o consenso dos diretores do Fed é que haveria mais duas altas, e não uma, no segundo semestre”, explica Abdelmalack. “O mercado está aguardando para ver a comunicação do Fed, para ver se ele vai deixar a porta aberta para mais aumentos, e isso justifica o movimento lateral do dólar hoje.”

O índice DXY, que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de moedas fortes, teve movimento contido na sessão, com uma queda de 0,04%, aos 101,306 pontos. Em meio aos sinais opostos das commodities – com altas acima de 1% para os preços de petróleo, mas quedas em matérias-primas agrícolas como soja (-0,32%) e milho (-0,53%) -, o dólar avançou contra emergentes como peso mexicano (+0,54%) e chileno (+0,01%).

O cenário da Veedha Investimentos indica dólar entre R$ 5,05 e R$ 5,10 no fim de 2023, mas Abdelmalack afirma que a projeção deve ser revista para um nível em torno de R$ 5,00, considerando o desempenho recente do real e a possibilidade de ingresso de recursos no País pelo corte de juros. A economista espera que o BC inicie o ciclo de baixa da taxa Selic na semana que vem, com um corte de 25 pontos-base.

Galhardo, da Treviso, vê espaço para uma valorização mais forte da moeda brasileira. “O que tenho dito para meus clientes é: do jeito que está indo, não se assuste se o dólar chegar a R$ 4,50”, afirma, lembrando que a moeda americana acumula perda de 10,04% em relação ao real este ano. Hoje, o relatório Focus mostrou queda da mediana das expectativas para o dólar no fim de 2023, de R$ 5,0 para R$ 4,97. (Cícero Cotrim – [email protected])

17:29

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

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