IBOVESPA DRIBLA PETRÓLEO E TEM 4º RECORDE SEGUIDO, MAS DÉFICIT INIBE QUEDA DOS DIS

O Ibovespa se firmou durante a tarde acima dos 134 mil pontos com ajuda das ações de primeira linha, à exceção da Petrobras ON (-0,15%), influenciada pela queda do petróleo no exterior. Assim, o índice anotou o quarto recorde nominal consecutivo, aos 134.193,72 pontos (+0,49%) no fechamento, dando sequência ao rali deste fim de ano. A liquidez foi bastante moderada, tendência vista também nos demais segmentos domésticos e no exterior. Lá fora, o dia foi marcado pela confirmação do apetite por títulos do Tesouro dos Estados Unidos, em leilão com demanda firme à tarde. Isso provocou queda nos rendimentos, fator que ajudou no viés de queda dos juros futuros na cena local. Só que a divulgação do déficit primário de novembro, de R$ 39,389 bilhões, reduziu o ímpeto do alívio das taxas, por recolocar no debate as dúvidas com relação às metas fiscais do governo. O mercado esperava déficit menor, de R$ 38 bilhões, e analistas chamaram a atenção para o crescimento do lado dos gastos. Amanhã, às 10h, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, concede coletiva e a expectativa é pelo anúncio de medidas compensatórias pela extensão da desoneração da folha de pagamento até 2027. Esse incômodo fiscal foi o gatilho para a realização de lucros recentes no mercado cambial. O dólar à vista subiu a R$ 4,8326 (+0,22%). O sinal foi oposto ao externo, onde o índice DXY renovou mínima em cinco meses. O quadro no exterior também fez o ouro fechar na maior cotação da história, a US$ 2.093,10 por onça-troy.

•BOLSA

•JUROS

•CÂMBIO

•MERCADOS INTERNACIONAIS

BOLSA

Em alta pela quarta sessão consecutiva – e em renovação de máximas históricas de fechamento na mesma série -, o Ibovespa chegou hoje a novo nível inédito, na casa dos 134 mil pontos. Com volume reduzido a R$ 14,0 bilhões pela proximidade do fim de ano, o índice oscilou de 133.328,39 aos 134.195,47 (+0,50%), em máxima quase no fechamento, também assinalando novo recorde intradia. E encerrou a sessão ainda em alta de 0,49%, aos 134.193,72 pontos. Na semana, sobe agora 1,09% e, no mês, ganha 5,39%, colocando o avanço de 2023 a 22,29%, faltando apenas a sessão de amanhã para fechar o melhor ano desde 2019 para a Bolsa.

Em dia de petróleo em baixa acima de 1,5%, o desempenho sem sinal único de Petrobras (ON -0,15%, PN +0,08%) foi compensado pela alta de 0,97% para Vale ON, a ação de maior peso no Ibovespa, em avanço superior ao do minério na China (+0,51% em Dalian), em sessão também positiva para os grandes bancos, à exceção de BB (ON -0,15%). Destaque para Unit de Santander Brasil, em alta de 1,20% no fechamento.

Na ponta ganhadora do Ibovespa nesta penúltima sessão do ano, as varejistas Magazine Luiza (+6,64%) e Casas Bahia (+6,03%) – com a confirmação de que a empresa permanecerá na carteira teórica do índice, na última prévia para janeiro a abril de 2024 -, à frente de Alpargatas (+3,79%) e de Natura (+3,75%) no fechamento. No lado oposto, Raízen (-1,93%), Petz (-1,92%) e Dexco (-1,23%).

“A semana entre o Natal e o ano-novo é realmente de volume muito baixo, e o giro vinha se enfraquecendo já desde o dia 18 no mercado à vista, e nos contratos futuros desde o fim da semana passada. Hoje não foi diferente, com os investidores já se preparando para as festas de fim de ano”, diz Lucas Serra, analista da Toro Investimentos.

“Os últimos dias foram janelas importantes de ajuste para o mercado, com a Bolsa em renovação de máximas: atingiu e manteve os 134 mil pontos em boa parte da sessão, e fechou nesse patamar recorde, apoiado especialmente em Vale e no setor de siderurgia – com base em dados mais positivos na China e no próprio nível de preço do minério de ferro”, diz Erik Sala, analista da DVInvest.

Em Nova York, assim como na B3, o dia foi marcado por fraca liquidez, com o índice amplo, o S&P 500, já bem próximo de sua máxima histórica, de 3 de janeiro de 2022, então aos 4.796 pontos naquele fechamento. Hoje, chegou a virar para o negativo à tarde, mas encerrou em leve alta de 0,14%, aos 4.781 pontos.

Para a Guide Investimentos, o S&P 500 deve continuar “batalhando” para atingir novo pico antes do fim do ano. “A baixíssima liquidez ajuda a justificar tal movimento [lateral na sessão desde antes da abertura desta quarta-feira, também nos futuros]”, na medida em que “o mercado parece estar saturado, no curto prazo”, avalia a Guide, em nota

18:20

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 134193.72 0.49486

Máxima 134195.47 +0.50

Mínima 133328.39 -0.15

Volume (R$ Bilhões) 1.40B

Volume (US$ Bilhões) 2.90B

18:25

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 136020 0.40229

Máxima 136070 +0.44

Mínima 135065 -0.30

JUROS

Apesar da aceleração do ritmo de queda das taxas dos Treasuries ao longo da tarde, com o retorno da T-note de 10 anos rompendo o piso de 3,80%, os juros futuros locais continuaram a apresentar baixa modesta na segunda etapa de negócios. Houve certa volatilidade após as 16h, com as taxas se afastando das mínimas da sessão, na esteira da divulgação de déficit primário acima do esperado do Governo Central em novembro, em meio a uma liquidez reduzida, como é típico na semana entre o Natal e o Ano Novo.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em 9,99%, de 10,025% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2027 caiu de 9,68% para 9,645%, com mínima a 9,62%. A taxa do DI para janeiro de 2029, que desceu até 9,98% na mínima, fechou a 10,01%, de 10,041% no ajuste anterior.

Após a forte queima de prêmios de risco nas últimas semanas, induzida pelo alívio no mercado global de renda fixa diante da expectativa de cortes de juros nos EUA no primeiro semestre de 2024, analistas afirmam que faltam “gatilhos” para uma nova rodada de redução significativa das taxas locais, como mais alívio inflacionário ou sinais mais promissores na área fiscal.

As contas do Governo Central – que reúne Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central – apresentaram déficit primário de US$ 39,389 bilhões em novembro – o pior desempenho em termos nominais da série histórica (desde janeiro de 1997). O resultado superou a mediana das estimativas de Projeções Broadcast (-R$ 38,05 bilhões).

Em entrevista para comentar os números de novembro, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, afirmou que trabalha com déficit primário do Governo Central ao redor de R$ 10 bilhões em dezembro, o que levaria a um saldo negativo de R$ 125 bilhões no ano, o equivalente a cerca de 1,2% do PIB. A meta fiscal de 2024 é de déficit primário zero, algo visto com ceticismo pelos economistas.

Segundo o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o quadro externo, com alívio nas taxas dos Treasuries e o aumento da expectativa de corte de juros nos EUA já no primeiro trimestre, tem ditado o comportamento das taxas locais. “A questão fiscal está em segundo plano. Ninguém trabalha com déficit primário menor que 0,8% no ano que vem, eu acho que vai ser até mais alto, mas isso não está afetando os prêmios como deveria”, afirma Lima. “Por enquanto, não tem feito preço. Mas é um risco que pode voltar a incomodar no ano que vem”.

À tarde, a assessoria do ministério da Fazenda informou que o ministro Fernando Haddad deve falar à imprensa amanhã, às 10h. Ontem, Haddad disse que divulgaria até esta quinta-feira, 28, as medidas que será encaminhadas ao Congresso para compensar a renúncia fiscal com a manutenção da desoneração da folha de pagamentos, após parlamentares derrubarem veto do presidente Luís Inácio Lula da Silva.

Investidores aguardam a divulgação hoje, às 23h30, na Globonews, de entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, à jornalista Miriam Leitão, gravada no último dia 21. A emissora divulgou à tarde um trecho de pouco mais de 30 segundos em sua conta no X (antigo Twitter), no qual Campos Neto diz que, em 2024, seu último ano à frente do BC, “é importante entregar a inflação na meta” e “é importante entregar os juros o mais baixo possível”.

“Temos divergência nas projeções, de inflação ao redor de 4% ou de 3,5% no ano que vem, com muita discussão sobre o efeito do El Niño nos preços dos alimentos e incerteza em torno dos preços de energia elétrica. Isso segura um pouco as apostas em aceleração do ritmo de queda da Selic”, afirma o economista-chefe da Western Asset.

Lá fora, as taxas dos Treasuries, que já vinham em queda pela manhã, acentuaram a baixa ao longo da tarde e renovaram mínimas na esteira do leilão de US$ 58 bilhões em papéis de cinco anos, com forte demanda. As cotações do petróleo recuaram quase 2%, com o contrato do tipo Brent para março voltando a se situar abaixo de US$ 80 o barril.

CÂMBIO

Após cair ontem à cotação mais baixa em quase cinco meses, o dólar fez hoje uma pausa em sua desvalorização, acompanhando a realização do petróleo e as preocupações fiscais no Brasil. A moeda até deu sinal na abertura do pregão de que seguiria a tendência das últimas duas semanas, chegando a tocar os R$ 4,80 na mínima do dia.

Não demorou, porém, para mudar de trajetória e ganhar força nas horas finais da sessão – quando o mercado reagiu ao avanço de 2,48% da dívida pública em novembro – até fechar em alta de 0,22%, a R$ 4,8326, perto da máxima do pregão (R$ 4,8398). No segmento futuro, o dólar para janeiro subia perto das 18h aos R$ 4,8270, valorização de 0,35%.

Remessas de divisas pelas filiais a matrizes ou coligadas no exterior, demanda de importadores e a pressão do mercado antes do fechamento da Ptax, junto com a desvalorização próxima a 2% do petróleo e os riscos fiscais, estão entre as explicações dadas por operadores ao comportamento do câmbio.

A aposta de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) se aproxima do início do ciclo de corte de juros – algo tido por investidores como provável para março – segue norteando, contudo, o mercado e limitou o fôlego do dólar ante o real.

Segundo o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, as incertezas fiscais levaram o investidor a buscar proteção, depois de o Tesouro divulgar que o estoque da dívida pública federal subiu para R$ 6,325 trilhões em novembro, ante R$ 6,172 trilhões de outubro. “O governo está preocupado com a arrecadação, mas despreocupado com os gastos. A equação não fecha e isso parece ter pressionado o dólar”, comenta.

Ele acrescenta que os investidores aproveitaram também para comprar dólar porque “há algum tempo” a moeda não caia para R$ 4,80. “Mas hoje se posicionou mais por proteção do que para antecipar a direção do dólar”, pondera.

Para André Rolha, diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, a tendência ainda é de a moeda americana voltar à trajetória de baixa, em direção aos R$ 4,75. Além da sinalização de uma postura mais suave do Fed, com a descompressão dos Treasuries, ele observa que o elevado diferencial de juros, junto com ações a preços descontados na Bolsa, mantém o Brasil entre as melhores opções de investimento em mercados emergentes.

“O fluxo de estrangeiros tem ajudado bastante [na valorização do real]. É natural haver uma leve correção, como aconteceu hoje, mas ainda acredito em R$ 4,75 no curto prazo”, diz o diretor de produtos da Venice. Ele pontua que os bons números da economia da China, onde uma pesquisa oficial, divulgada na noite de ontem, apontou crescimento de 29,5% do lucro de grandes empresas industriais em novembro, favorecem os preços das commodities exportadas pelo Brasil, em especial o minério de ferro.

Fora isso, Rolha entende que, no campo fiscal, foco das preocupações de investidores em relação ao Brasil, as medidas do governo para melhorar a arrecadação estão sendo aprovadas no Congresso. Após a confirmação ontem de que o diesel será reonerado a partir de segunda-feira, a expectativa agora é pelo anúncio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, do pacote para compensar a prorrogação, por mais quatro anos, da desoneração da folha de pagamentos de 17 setores. O chefe da equipe econômica concede coletiva amanhã às 10h.

18:25

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.83260 0.2198 4.83980 4.80360

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4825.000 0.31185 4833.500 4799.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4844.000 0.21723 4851.500 4819.500

MERCADOS INTERNACIONAIS

Os rendimentos dos Treasuries ampliaram queda nesta tarde, após o governo americano informar os resultados de dois leilões de títulos. O movimento dos retornos conferiu certo alívio às bolsas de Nova York, mas as negociações foram marcadas por volatilidade, em meio à baixa liquidez do período entre feriados. O dólar seguiu depreciado no exterior, dadas as apostas do mercado em um relaxamento monetário agressivo pelo Federal Reserve (Fed) no ano que vem. O quadro favoreceu commodities metálicas – como o ouro, que fechou no maior valor da história. Por sua vez, o petróleo caiu mais de 1%, depois da alta de ontem, com o barril do Brent abaixo de US$ 80.

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos leiloou US$ 58 bilhões em T-notes de 5 anos, em um certame que registrou retorno de 3,801%. A taxa bid-to-cover (um indicativo da demanda) foi de 2,50 vezes. O governo também fez leilão de US$ 26 bilhões em notas de juro flutuante (FRN, na sigla em inglês) de 2 anos, com taxa máxima de desconto de 0,250% e bid-to-cover de 2,93 vezes.

Já desvalorizados em função das perspectivas amenas para a trajetória de juros dos EUA, os yields caíram ainda mais na esteira dos leilões, renovando sucessivas mínimas intraday. Neste fim de tarde, o rendimento da T-note de 2 ano recuava a 4,225%, o da T-note de 10 anos caía a 3,787% e o do T-bond de 30 anos baixava a 3,941%.

As bolsas de Nova York se firmaram em território positivo após os leilões, mas oscilaram depois disso. Ao fim, o índice Dow Jones fechou em alta de 0,30%, aos 37.656,52 pontos; o S&P 500 ganhou 0,14%, aos 4.781,58 pontos; e o Nasdaq avançou 0,16%, aos 15.099,18 pontos. As cotações são preliminares.

Entre os destaques, a ação da Tesla subiu 1,89%, enquanto circulam especulações sobre produção de versão renovada de veículos Model Y na China. Já o papel da Apple subiu 0,07%, após decisão judicial em favor da empresa. Um tribunal de apelações dos EUA suspendeu temporariamente a proibição das vendas de Apple Watches, imposta ontem. A suspensão vale até que a avaliação do caso seja concluída.

Presidente da consultoria Navellier, Louis Navellier acredita que o mercado de ações americano está posicionado para despontar no ano que vem. De acordo com ele, a queda nos rendimentos dos Treasuries, os lucros anuais das empresas de Wall Street, a postura relaxada do Fed, o ressurgimento do crescimento econômico, o domínio dos EUA na produção de energia e as eleições presidenciais americanas fomentam condições para um 2024 “explosivo”.

Enquanto isso, o dólar se desvalorizou ante rivais como iene, euro e libra. O chefe de Pesquisa de Mercado da City Index, Matt Weller, avalia que as chances de mais volatilidade e tendências mais fortes em 2024 na comparação do euro com o dólar aumentaram. “Sem nenhuma tendência técnica clara e uma incerteza tremenda sobre o timing e a quantidade de cortes de juros nos dois lados do Atlântico” até o momento, o analista sugere para os operadores que, antes de se comprometer fortemente, pode ser bom esperar até que os preços mostrem alguma direção. Por volta das 17h (de Brasília), o dólar caía a 141,78 ienes. O euro subia a US$ 1,1108 e a libra avançava a US$ 1,2794. O índice DXY (que mede a força do dólar ante seis rivais) fechou com baixa de 0,47%, aos 100,986 pontos.

Apesar disso, o petróleo fechou em baixa. A commodity se desvalorizou depois de subir mais de 2,5% ontem. O acordo entre Iraque e Irã com previsão de desenvolvimento de campos conjuntos de petróleo favoreceu a baixa, ao sugerir alívio na oferta. Além disso, o relatório semanal do American Petroleum Institute (API) deverá mostrar quadro misto no setor amanhã, segundo o economista-chefe de Mercados da Spartan Capital, Peter Cardillo – o que contribuiu para a falta de impulso hoje.

Assim, o contrato do WTI para fevereiro fechou em queda de 1,93% (US$ 1,46), em US$ 74,11 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para março caiu 1,62% (US$ 1,31), a US$ 79,54 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).

Por outro lado, as commodities metálicas conseguiram fechar em alta com o dólar fraco. O ouro obteve apoio também da queda dos yields dos Treasuries e fechou em máxima histórica. Enquanto isso, os metais industriais (como cobre) se beneficiaram das perspectivas positivas para a demanda chinesa, após aceleração do lucro industrial local.