IBOVESPA ACELERA QUEDA COM TOMBO DE 5% DA PETROBRAS E AMPLIA PRESSÃO NO CÂMBIO

Já penalizado durante a manhã pela queda das ações da Vale, o Ibovespa acelerou as
perdas à tarde e chegou a descer até o nível dos 129 mil pontos nas mínimas, empurrado
pelo tombo superior a 5% das ações da Petrobras. Mais do que o recuo nos preços do
petróleo, pesou sobre os papéis a declaração do presidente da empresa, Jean Paul Prates,
de que a estatal deve ser cautelosa em relação à distribuição de dividendos. No fim da
tarde, a companhia, em comunicado à CVM, negou qualquer decisão tomada em relação
aos dividendos não declarados. No fechamento, o índice marcava 130.155,43 pontos,
baixa de 1,16%. O câmbio também piorou na segunda etapa com as mínimas do
Ibovespa. O dólar, que já vinha em alta com o exterior e a preparação para a disputa pela
formação da Ptax de fim de mês, ampliou os ganhos para fechar nos R$ 4,9700 (+0,75%).
O mercado realizou lucros após dois dias de baixa, em meio ainda à cautela antes do
índice de preços de gastos com consumo (PCE, em inglês) nos Estados Unidos, amanhã.
Os juros futuros resistiram à deterioração dos demais ativos e sustentaram até o
fechamento alta marginal exibida desde a manhã, mas também não se dobraram ao viés
de queda dos juros dos Treasuries. O superávit do Governo Central em janeiro, de R$ 79,3
bilhões, veio em linha com a mediana das estimativas, sem impacto na curva. No exterior,
as revisões em baixa do PIB americano do quarto trimestre e em alta do PCE do período
não alteraram a aposta majoritária de junho como o mês mais provável de início dos
cortes de juros pelo Federal Reserve. Tampouco falas de dirigentes do Fed alertando que
o retorno da inflação à meta de 2% ainda não está garantido. As bolsas fecharam em leve
baixa e o dólar subiu, ajudando a pressionar o petróleo para baixo, assim como o
aumento dos estoques americanos da commodity.
•BOLSA
•CÂMBIO
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•JUROS
BOLSA
Com forte pressão nas ações de Petrobras, que chegaram a ceder mais de 6% no pior
momento, o Ibovespa acentuou perdas à tarde e devolveu a linha de 130 mil pontos, na
mínima do dia aos 129.770,76 pontos, mas não no fechamento, aos 130.155,43, em baixa
de 1,16%. Assim, distanciou-se da máxima da sessão a 131.684.56 pontos,
correspondente à abertura. Na semana, o índice ainda avança 0,57% com alta nas duas
sessões anteriores e, no mês, ganha 1,88%, limitando as perdas do ano a 3,00%. O giro
financeiro desta quarta-feira ficou em R$ 24,0 bilhões.
O dia foi de ajuste discreto, negativo, nas cotações do petróleo Brent e WTI, com a
referência global permanecendo em torno de US$ 83 por barril. Com os preços da
commodity relativamente acomodados na sessão, o que causou a depreciação do ativo
foi o sinal sobre distribuição de dividendos extraordinários, possibilidade que o mercado
esperava que viesse a se confirmar no começo de março.
Mas, de acordo com relato à Bloomberg, a estatal deve ser cautelosa em relação à
distribuição de dividendos à medida que busca se tornar uma potência em energia
renovável, afirmou o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates. Após ser questionado
sobre eventual pagamento extraordinário de dividendos, ele disse que “precisamos ser
cautelosos”. “Os acionistas vão entender. Eu seria mais conservador do que agressivo.
Estamos no meio dessa grande decisão de nos tornarmos uma empresa de petróleo em
transição”, acrescentou.
No fim da tarde, contudo, a Petrobras negou que tenha sido tomada qualquer decisão
com relação aos dividendos ainda não declarados, conforme comunicado da empresa
divulgado por meio da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As decisões da
administração sobre o tema, incluindo a proposta de destinação do resultado a ser
submetida à aprovação da Assembleia Geral Ordinária marcada para 25 de abril, serão
tomadas com base na nova Política de Remuneração aos Acionistas, aprovada pelo seu
conselho de administração em julho de 2023, reporta a jornalista Amélia Alves, do
Broadcast.
Mesmo assim, no fechamento, Petrobras ON e PN ainda mostravam, respectivamente,
mergulho de 5,39% e 5,16%, puxando a fila negativa do Ibovespa na sessão, ao lado de
IRB (-5,45%) e Assaí (-4,76%). No lado oposto, Pão de Açúcar (+11,93%), Embraer
(+2,09%) e São Martinho (+1,60%). Entre as ações de maior peso, além de Petrobras, o dia
foi ruim para Vale (ON -1,10%) e misto para os grandes bancos, com leve alta para Banco
do Brasil (ON +0,20%), Santander (Unit +0,07%) e Itaú (PN +0,06%).
“Repercutiu mal a fala do presidente da Petrobras sobre ser mais conservador no
pagamento de proventos extraordinários. Foi negativa, uma vez que seu mandato envolve
trabalhar para escolher projetos com taxas de retorno positivas aos acionistas, e não
demandar paciência destes, que, naturalmente, irão reagir a qualquer movimento ou fala
[dessa natureza]”, observa em nota a equipe de Research da Ativa Investimentos.
“Petrobras fechou o 3T23 com mais de US$ 17 bi em caixa e, sob uma ótica do caixa
ótimo do setor ser de cerca de US$ 8 bi, diversas casas passaram a estimar que a
companhia distribuiria grande parte deste hiato em proventos extraordinários a serem
anunciados junto ao balanço do 4T23”, acrescenta a Ativa que, feita a ressalva, continua a
avaliar que a Petrobras continuará sendo uma boa opção para dividendos ao longo de
2024.
“Prates comentou que a empresa deve ser mais cautelosa em relação à distribuição de
dividendos, já que a companhia busca a mudança para a energia verde e está negociando
com [a gestora de recursos de Abu Dhabi] Mubadala sobre a refinaria de Mataripe. A fala
não agradou. Historicamente, a Petrobras não possui bom ‘track record’ de aquisições de
unidades ou empresas – vide Braskem, refinaria de Pasadena. E a eventual mudança na
política de dividendos apresenta um risco adicional – nos últimos anos foi uma das
maiores pagadoras de dividendos do mundo”, diz Leandro Petrokas, diretor de Research
da Quantzed.
“O mercado não gostou nada, nem pelo lado dos investimentos, quando Prates falou em
transformar a empresa em uma ‘potência em energia renovável’, nem pela questão dos
dividendos, de pagar menos quando se esperava distribuição extraordinária. E Vale, com a
maior participação individual no Ibovespa, segue pressionada pela indecisão sobre a
sucessão do atual CEO, em dia de avanço do minério [de pouco mais de 1%, em Dalian,
China]”, diz Thiago Pedroso, responsável pela área de renda variável da Criteria.
No quadro mais amplo, o mercado vem de sequência melhor de ganhos, retomando o
patamar do início do ano, diz Felipe Moura, analista da Finacap Investimentos,
mencionando fatores macro que têm contribuído para o fechamento da curva de juros
doméstica, como o IPCA-15 referente a fevereiro, abaixo do esperado, divulgado ontem.
Ainda assim, acrescenta Moura, a Bolsa brasileira tem permanecido, há cerca de três
meses, praticamente na mesma região em que se encontra hoje. “Com a entrada de
novos balanços trimestrais, muitos investidores voltarão a apostar mais no micro,
especialmente em empresas mais atreladas ao ciclo de juros, que pode sustentar esse
movimento de alta do mercado
CÂMBIO
Após dois pregões seguidos de queda, o dólar subiu com força na sessão desta quartafeira e voltou a superar o nível de R$ 4,95 no mercado doméstico de câmbio,
acompanhando o sinal predominante de alta da moeda americana no exterior. A cautela
prevaleceu entre os investidores diante de preocupações com a inflação americana, na
véspera da divulgação do índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em
inglês) de janeiro.
Pela manhã, a segunda leitura do PIB do EUA no quarto trimestre mostrou crescimento
um pouco abaixo do esperado, com núcleo do PCE no período acima das expectativas.
Grosso modo, a avaliação de analistas é a de que a economia americana segue forte e a
inflação, apesar de desacelerar, ainda permanece em níveis incômodos. Trata-se de uma
combinação que lança dúvidas sobre o início e a magnitude do corte de juros pelo Federal
Reserve neste ano.
Com sinal positivo desde a abertura, o dólar à vista acentuou o ritmo de alta ao longo da
tarde, em meio à deterioração do mercado acionário local. O Ibovespa perdeu a linha dos
130 mil pontos com tombo das ações da Petrobras, após o presidente da petroleira, Jean
Paul Prates, pregar cautela na distribuição de dividendos. Ontem, o Ibovespa havia subido
1,61% na esteira do IPCA-15 de fevereiro, com relatos de entrada de capital estrangeiro.
Após tocar máxima a R$ 4,9754, o dólar à vista fechou a R$ 4,97, em alta de 0,75%, o que
reduziu as perdas na semana para 0,46%. No mês, a moeda sobe 0,66%. Operadores
afirmam que os negócios já refletem em parte a rolagem de contratos futuros típica de fim
de mês e a preparação para a disputa amanhã da formação da última taxa ptax de
fevereiro.
“Parece que temos um movimento de ajuste após dois pregões de queda e também já
uma distorção técnica no preço do dólar por conta da questão da ptax amanhã”, afirma o
CEO da FB Capital, Fernando Bergallo. “Além disso, os dados americanos divulgados hoje
reforçam a leitura de que o Fed vai demorar a reduzir a taxa, o que joga o dólar para cima
lá fora e pressiona o real”.
Termômetro do comportamento da moeda americana em relação a uma cesta de seis
divisas fortes, o índice DXY chegou a superar o nível de 104,000 com máxima aos 104,242
pontos. Entre as raras exceções a onda de fortalecimento do dólar na comparação com
moedas emergentes e de países exportadores de commodities, estiveram dois pares do
real, os pesos chileno e colombiano.
À tarde, dirigentes do BC americano voltaram a afirmar que ainda é preciso mais
confiança de que a inflação caminha para a meta de 2% antes que o Fed comece a reduzir
os juros. Monitoramento do CME Group mostra chances de pouco mais de 60% de que o
BC americano inicie um afrouxamento em junho. As apostas majoritárias são de que o
ciclo total de redução da taxa básica – hoje entre 5,25% e 5,50% – neste ano seja de 75
pontos-base.
Bergallo, da FB Capital, observa que a modulação das expectativas para o corte inicial de
juros pelo Fed, de acordo com indicadores correntes nos EUA, dita o nível da taxa de
câmbio. Já as questões locais têm, por ora, ficado em segundo plano. Ele ressalta que,
apesar das incertezas, o dólar apresenta uma “baixa amplitude”, com oscilações muito
contidas entre mínima e máxima ao longo dos pregões.
“As variações são bem curtas, mas não é porque existe a percepção de que o dólar atingiu
um preço justo. Isso revela na verdade um grau elevado de incerteza sobre a tendência da
taxa de câmbio”, diz Bergallo. “Exportadores esperam uma alta do dólar para trazer
recursos. E, de ouro lado, quem precisa remeter recursos para fora adia operações
porque vê espaçado para queda. Isso deixa o mercado mais travado”.
À tarde, o Tesouro informou que o Governo Central – que reúne as contas do Tesouro
Nacional, Previdência Social e Banco Central – registrou superávit de R$ 79,337 bilhões no
mês passado, em linha com a mediana de Projeções Broadcast, de US$ 79,05 bilhões.
Esses números afastam, por ora, a possibilidade de revisão da meta de déficit primário
zero em 2024, prevista no novo arcabouço fiscal, já em março.
18:32
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 4.93160 -0.6087 4.96450 4.92540
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 4928.500 -0.6951 4969.500 4928.500
DOLAR COMERCIAL FUTURO 4948.000 -0.6825 4948.000 4948.000
MERCADOS INTERNACIONAIS
O presidente da distrital de Nova York do Federal Reserve (Fed), John Williams, e a líder do
Fed de Boston, Susan Collins, disseram nesta tarde que o retorno da inflação dos EUA à
meta de 2% ainda não está garantido, embora reconheçam que os juros devem ser
cortados neste ano. As falas não mudaram o quadro de queda nos retornos dos
Treasuries, os quais recuaram mesmo com a revisão para baixo do Produto Interno Bruto
(PIB) e para cima da inflação do PCE nesta manhã, e também não injetaram ânimo nas
bolsas de Nova York, que operaram em cautela para a divulgação do PCE de janeiro
amanhã. Entre commodities, o fortalecimento do dólar pesou sobre os preços do
petróleo, que recuou também na esteira do aumento dos estoques americanos.
Williams, que tem direito a voto nas decisões do Fed, disse em evento em Long Island que
ainda faltam alguns progressos para vencer a alta da inflação. Ainda assim, ele
reconheceu que devem acontecer cortes de 75 pontos-base neste ano. Enquanto isso,
Collins, que não vota neste ano, disse que ainda é preciso mais alguns avanços para
cortar juros, mas afirmou que sua expectativa é de que os juros sejam reduzidos neste
ano. Ela também mencionou que um dado adverso não muda o panorama do Fed, visto
que a grande maioria dos indicadores vem apontando para o arrefecimento da inflação.
Apesar do PIB dos EUA no quarto trimestre ter sido revisado para baixo nesta manhã, de
crescimento de 3,3% na primeira leitura para 3,2% na mais recente, a Oxford Economics
escreve que a economia americana vai continuar crescendo acima de seu potencial, e
que a redução no avanço esconde detalhes positivos, como o crescimento dos gastos
reais do consumidor, que foi revisado para cima entre a primeira e a segunda estimativas.
Também hoje, o PCE foi revisado para cima no quarto trimestre, mas investidores não se
agarraram muito a este indicador, e estão de olho no avanço mensal do dado em janeiro,
que será divulgado na manhã de amanhã. Enquanto isso, o tom dos mercados foi de
cautela, com os retornos dos Treasuries recuando às vésperas do indicador que pode
consolidar as apostas por cortes de juros mais tardios, ou adiantar as expectativas,
segundo acredita Louis Navellier, da gestora Navellier.
Ele avalia que o dado de amanhã deve colocar a inflação do PCE dentro do escopo de 2%
ao ano do Fed, e que isso deve dar força para o discurso de redução das taxas já em maio.
Navellier aponta que parte da deflação chinesa deve ser transmitida à economia
americana, que importa produtos da China. Dessa forma, ele avalia que “é imperativo que
o Fed estimule a economia dos EUA”, cortando juros antes de forçar consumidores a
reduzir o crescimento econômico.
Em tom de cautela, os retornos dos Treasuries se mantiveram em baixa na maior parte do
dia, fechando com queda enquanto o dólar encerrou uma sequência de dias ruins contra
rivais desenvolvidos. Fiona Cincotta, analista do City Index, escreve que os investidores
monitoram também a divulgação da inflação ao consumidor (CPI) da zona do euro, na
manhã de sexta-feira. “Embora se espere que a inflação na zona euro arrefeça para 2,5%,
existem preocupações de que a inflação nos EUA possa demonstrar muita rigidez, o que
apoiaria a opinião do Fed de que é muito cedo para começar a cortar as taxas de juros”,
afirma.
No fim da tarde em Nova York, o dólar subia a 150,72 ienes, o euro recuava a US$ 1,0840 e
a libra tinha baixa a US$ 1,2660. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de
moedas fortes, registrava avanço de 0,14%, a 103,975 pontos. Enquanto isso, o juro da Tnote de 2 anos caía a 4,678%, o da T-note de 10 anos recuava a 4,264%, e o do T-bond de
30 anos baixava a 4,404%.
A força do dólar vista hoje não contribuiu para os preços do petróleo. Hoje, o
Departamento de Energia (DoE) dos Estados Unidos divulgou aumento expressivo nos
seus estoques de petróleo, e além disso, negociações para um potencial cessar-fogo em
Gaza também colocam limites para o avanço dos preços. Na ICE, o Brent para maio
fechou com baixa de 0,62% (US$ 0,51), aos US$ 82,15 por barril. Enquanto isso, na
Nymex, o WTI para abril recuou 0,42% (US$ 0,33), a US$ 78,54 o barril.
O tom de cautela também prevaleceu entre as bolsas de Nova York. Além disso, os papéis
da Apple caíram além da média após a companhia anunciar o fim de seu projeto de
construir seu próprio veículo elétrico. Do outro lado, como destaque positivo, a Boeing
subiu 2,81%, depois da Administração Federal de Aviação (FAA) dizer que a fabricante de
aeronaves deve apresentar um plano para corrigir problemas de qualidade e segurança
em no máximo 90 dias. No fechamento, o índice Dow Jones caiu 0,06%, aos 38949,29
pontos; o S&P 500 recuou 0,16%, aos 5069,82 pontos; e o Nasdaq teve queda de 0,55%,
aos 15947,74 pontos.
Na agenda das reuniões do G20, durante a tarde, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet
Yellen, reuniu-se com ministros de finanças da França, Itália e Alemanha, e reforçou o
compromisso americano com o apoio financeiro à Ucrânia em sua guerra contra a Rússia.
JUROS
Os juros futuros resistiram à piora dos demais ativos domésticos ao longo da tarde,
mantendo o viés de alta visto desde manhã, mas oscilando perto da estabilidade. A
agenda da quarta-feira, mesmo relevante tanto aqui quanto no exterior, não conseguiu
determinar uma trajetória firme para as taxas, com os investidores à espera do índice de
preços de gastos com consumo (PCE, em inglês) dos Estados Unidos amanhã.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 encerrou em
9,995%, de 9,970% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 passou de 9,80% para
9,82%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 10,03% (de 10,00%) e a do DI para
janeiro de 2029 fechou a 10,46%, de 10,45%.
A queda de até 10 pontos-base vista ontem na curva poderia ter aberto espaço para uma
realização de lucros hoje, mas a correção foi bastante discreta, até porque a curva
americana passou boa parte do dia de lado, após reação pontual de baixa ao PIB
americano do quarto trimestre levemente abaixo do esperado, divulgado pela manhã. Já o
índice PCE do período desacelerou, mas com avanço do núcleo. No fim da tarde, a taxa
da T-Note de dez anos estava em 4,27%.
Os indicadores nos Estados Unidos não alteraram o cenário de apostas majoritárias de
que o Federal Reserve começará a reduzir os juros em junho. Possíveis ajustes podem vir
amanhã, com a inflação do PCE, que é a medida preferida do Fed, em janeiro. A migração
das apostas de maio para junho no início de cortes se consolidou na medida em que os
alertas de dirigentes do Fed encontraram respaldo na inflação acima do esperado tanto
ao consumidor e quanto ao produtor do mesmo mês, assim como no payroll robusto de
janeiro.
O presidente do Fed de Nova York, John Williams, afirmou hoje que ainda há um caminho
“pela frente” até que se garanta inflação sustentada na meta de 2%. Na mesma linha, a
presidente da distrital de Boston do Fed, Susan Collins, disse que ainda precisa de mais
provas de que a economia está caminhando para a meta.
O estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, afirma que nesse cenário que se
desenha para os EUA, “sem sinal de desaceleração intensa da atividade ou mesmo
recessão” e “juros por mais tempo nos 5,5%” é natural que a curva aqui fique levemente
inclinada.
Em compensação, as taxas curtas não têm por que avançar e tendem a se manter de
lado. “Tivemos hoje a deflação do IGP-M confirmando o cenário mais benigno para a
inflação já mostrado ontem pelo IPCA-15 abaixo da mediana”, disse. O IGP-M de fevereiro
teve deflação de 0,52%, pouco maior do que apontava o consenso de -0,50%. Resta saber
em que ritmo e magnitude a deflação do atacado chegará ao varejo para ajudar a limitar a
pressão vinda dos preços de serviços.
Pelo lado fiscal, o Tesouro informou nesta tarde que o Governo Central teve em janeiro
superávit de R$ 79,33 bilhões, em linha com a mediana das estimativas, de R$ 79,05
bilhões. É o terceiro melhor desempenho em termos reais para o mês na série histórica
iniciada em 1997 e se sucede ao déficit de R$ 116,14 bilhões de dezembro.
O secretário do Tesouro, Rogério Ceron, disse que o resultado ficou R$ 12 bilhões acima
da estimativa inicial do governo, diferença que ajuda o ministério da Fazenda a absorver
eventuais frustrações em resultados nos próximos meses. Para fevereiro, a perspectiva é
positiva e por ora os resultados estão em linha com a programação, segundo Ceron.
O dado de fevereiro reduz a expectativa de mudança iminente da meta de primário zero
este ano. “O risco fica mais para o segundo trimestre”, avaliou o economista do Santander
Brasil Ítalo Franca.
Ceron afirmou ainda que o governo está calculando eventuais impactos da manutenção
da desoneração da folha de 17 setores, uma vez que a proposta de reoneração do governo
agora tramitará por projeto de lei. “Eventuais medidas que tirem receita têm de ser
compensadas. É o nosso norte de trabalho”, disse.
Na agenda de amanhã, o destaque doméstico é a Pnad Contínua do trimestre até janeiro.
A mediana das estimativas é de avanço na taxa de desemprego, para 7,8%, após nove
quedas consecutivas. Mais até do que a taxa, o mercado vai olhar com atenção os dados
de salário e renda. Nas últimas semanas, dirigentes do Banco Central vêm alertando
sobre os impactos nos preços da pressão sobre os salários diante de um mercado de
trabalho apertado.