FISCAL LIMIA OTIMISMO DOMÉSTICO COM ESTÍMULOS DA CHINA, MAS LIQUIDEZ É FRACA SEM NY

A ausência do mercado nos Estados Unidos, que observou o feriado do Dia do Trabalho, secou a liquidez global nesta segunda-feira, o que trouxe ajustes tímidos aos ativos brasileiros. Mais cedo, havia um viés otimista localmente, derivado da expectativa por novos estímulos à economia da China. Mas o movimento perdeu força à medida que o impasse fiscal voltou à cena. A possibilidade de antecipação de receita do pré-sal para fechar as contas em 2024, quando o governo promete déficit zero, foi mal digerida pelo mercado, que prefere que o equilíbrio das contas públicas se dê mais do lado da despesa. Assim, os juros futuros chegam ao fim da tarde com sinal de alta, o que tirou ímpeto de papéis ligados ao setor de consumo no Ibovespa. O índice fechou no vermelho, aos 117.776,62 pontos (-0,10%), com perda limitada ante a subida de Vale (ON +0,74%) e de mineradoras (CSN PN +2,36% e Usiminas PNA +0,87%). Lá fora, sem Nova York, o foco se deslocou para a subida do petróleo Brent à marca de US$ 89, maior valor do barril desde dezembro de 2022. Além do fator China, a commodity foi impulsionada pela aposta em medidas da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) para apoiar os preços. De volta ao Brasil, no câmbio, esse movimento das matérias-primas apoiou o real. Houve ainda movimentos de realização de lucros, após a subida de mais de 1% do dólar na semana passada. A moeda americana terminou o dia aos R$ 4,9348, recuo de 0,12%.

•JUROS

•BOLSA

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•CÂMBIO

JUROS

A ausência dos negócios em Wall Street tirou força dos mercados, impondo à curva de juros movimentos lateralizados na maior parte da sessão. Num ambiente de liquidez baixíssima, prevaleceu pela manhã um viés de queda e à tarde, de alta, nas taxas. Sem referência firme, predominaram ajustes técnicos de posições sob o pano de fundo da desconfiança fiscal com relação à capacidade do governo de zerar o déficit fiscal em 2024.

Às 17h15, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 estava em 12,375%, de 12,374% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 estava em 10,61%, de 10,57%. O DI para janeiro de 2026 projetava taxa de 10,23% (10,19% no ajuste anterior) e o DI para janeiro de 2027, taxa de 10,39%, de 10,35%. A do DI para janeiro de 2029 passava a 10,84%, de 10,80%.

Sob a premissa de que o volume muito fraco de contratos compromete qualquer avaliação mais profunda sobre o desempenho das taxas, especialistas dizem que o mercado operou à deriva, ressentido do feriado americano do Dia do Trabalho que secou a liquidez por aqui. À tarde, as taxas ensaiaram movimento mais firme de alta.

O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, disse que o contexto de feriados nos EUA hoje e aqui, na quinta-feira, estimulou um pouco de correção da queda das taxas na sexta-feira, quando os rendimentos dos Treasuries subiram. “Tivemos um realinhamento ao exterior na sexta-feira e, com os feriados, a tendência é mesmo uma postura mais defensiva, de redução de posições aplicadas”, explicou. Borsoi acrescenta ainda que os juros dos bônus europeus hoje subiram em bloco na Alemanha, Reino Unido e França.

“Os elementos que poderiam contribuir para a sequência da trajetória da última sessão não apareceram hoje”, resumiu. Ao contrário, as preocupações com as contas públicas seguem no radar, em meio ao ceticismo com a geração de receitas para equilibrar as despesas em 2024 e, assim, abrir caminho para zerar o déficit em 2024.

O governo afirma ter margens de manobra em caso de revés nas medidas propostas para aumentar a arrecadação. Em entrevista ao jornal Valor Econômico, o secretário de Orçamento Federal, Paulo Bijos, disse que o governo tem “medidas de contingência e margens de manobra naturais no processo orçamentário” que podem ser acionadas para auxiliar na busca do déficit zero.

Os agentes de mercado não acreditam que essas margens se darão pelo lado do corte gastos e sim da busca de receitas. Assim, é vista como preocupante a possibilidade que estaria sendo estudada pelo governo de antecipar receitas de longo prazo do pré-sal para o curto prazo para garantir um cumprimento da meta em 2024, conforme apuração da CNN Brasil. “Seria uma medida completamente descabida”, classificou Borsoi.

Ao mesmo tempo, não se descarta a possibilidade de a “meta zero” subir no telhado, com algumas instituições já trabalhando com a ideia de que o governo vai rever tal objetivo. A Bradesco Asset ampliou a projeção de déficit primário das contas do governo central em 2024 de 0,4% para 0,6% do PIB e, diante da impossibilidade de o governo cumprir a meta para o ano que vem – de resultado primário entre -0,25% e 0,25% do PIB -, afirma que o mais provável é que o governo altere o alvo.

Por outro lado, o mercado pode ver avançar algumas pautas no Congresso ao longo da semana, depois da convocação do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), aos deputados para o retorno hoje aos trabalhos. A ideia é votar o Desenrola e a taxação de apostas esportivas antes do feriado.

Na agenda do dia, a pesquisa Focus trouxe revisão para cima no PIB de 2023, já esperada após o dado do segundo trimestre ter surpreendido o mercado na sexta-feira. A mediana subiu de 2,31% para 2,56%, mas a mediana atualizada nos últimos cinco dias úteis já está em 2,66%. As demais variáveis praticamente não se mexeram. A estimativa de IPCA para 2023 subiu de 4,90% para 4,92% e a de 2024, de 3,87% para 3,88%. As de 2025 e de 2026 se mantiveram em 3,5%. As projeções de Selic para o fim deste e do próximo ano permaneceram em 11,75% e 9,00%.

Em tempo: o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, não falou sobre política monetária durante palestra em evento do Banco J.P. Morgan, hoje em São Paulo. A apresentação teve como foco a digitalização do sistema bancário. (Denise Abarca – [email protected])

BOLSA

O Ibovespa sustentou a linha dos 118 mil pontos em parte da sessão, mas perdeu terreno em direção ao meio da tarde e fechou em baixa de 0,10%, aos 117.776,62 pontos, com giro financeiro muito enfraquecido nesta abertura de semana, em razão do feriado em Nova York. Hoje, o índice oscilou dos 117.589,94 aos 118.576,42 pontos, saindo de abertura a 117.892,95. Com o feriado pelo Dia do Trabalho nos Estados Unidos, o giro se resumiu a R$ 12,0 bilhões. Neste começo de setembro, o Ibovespa acumula alta de 1,76% ao fim de duas sessões, avançando 7,33% no ano.

Desde mais cedo, Petrobras destoava do desempenho moderadamente positivo do petróleo na sessão. À tarde, contudo, as perdas nas ações da estatal chegaram a se acentuar com relato, da CNN Brasil, de que a equipe econômica cogita resgatar ideia do governo anterior e antecipar receitas do pré-sal, como plano alternativo para a obtenção da meta de déficit zero no ano que vem.

Assim, as ações da empresa distanciaram-se do desempenho de outros nomes do setor de commodities, como Vale (ON +0,74%), e do segmento metálico (CSN ON +2,36%), ainda amparados pela expectativa e pelo noticiário em torno de estímulos na China. Por sua vez, Petrobras ON e PN fecharam em baixa de 1,37% e 1,04%, respectivamente, mesmo com o avanço moderado do petróleo na sessão.

Embora com perdas inferiores às de Petrobras nesta segunda-feira, o dia também foi negativo para as ações de grandes bancos, como Itaú (PN -0,90%). Na ponta ganhadora do Ibovespa, destaque para Minerva (+4,56%), IRB (+3,72%) e BRF (+3,31%). No lado oposto, Magazine Luiza (-2,80%), Yduqs (-2,56%) e Cogna (-2,33%).

“A Bolsa iniciou o dia mais otimista, chegando a testar alta em torno de 0,6% pela manhã, mas no início da tarde começou a devolver, com fluxo muito impactado, hoje, pela baixa liquidez, o que amplifica a oscilação do índice – um pregão que acaba não sendo muito útil, como parâmetro, quanto a uma tendência para o mercado no curto prazo”, diz Thiago Lourenço, operador de renda variável da Manchester Investimentos, destacando, em especial, o prolongamento da recuperação de Vale em relação à sexta-feira, quando o papel da mineradora já havia subido 5,85%.

“O mercado internacional teve baixa liquidez com o feriado nos Estados Unidos, mas o setor metálico ainda refletiu, hoje, um otimismo maior quanto à China, com relaxamento nas restrições para a compra de casas”, diz Dennis Esteves, sócio e especialista da Blue3 Investimentos, referindo-se a iniciativas do governo chinês para reequilibrar o combalido setor imobiliário do país, segmento de peso na composição do PIB da maior economia asiática, o que tem contribuído para reaproximar, aos poucos, o minério de ferro da marca de US$ 120 por tonelada.

Nesta abertura de semana, o ânimo dos investidores recebeu “impulso adicional com a notícia de um salto nas vendas de casas nas maiores cidades da China, um sinal de que os esforços do governo para estimular a economia estão começando a produzir resultados”, observa em boletim diário a Monte Bravo Investimentos. “Esse quadro sugere que nosso cenário de que a China vai conseguir trazer o crescimento para uma média de 5% no biênio 2023-24 está se materializando”, acrescenta.

Assim, as ações do setor imobiliário chinês lideraram a recuperação do apetite por risco na Ásia neste começo de semana, trazendo bom humor à abertura dos negócios na B3, observa Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, com reflexo positivo no segmento metálico também no exterior, em nomes como Rio Tinto, Anglo American e Glencore, acrescenta o especialista. “Na China, a ação da incorporadora Country Garden saltou mais de 15%, após a empresa obter de credores, no sábado, o adiamento do vencimento de bônus em yuan”, diz Wakabayashi. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:28

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 117776.62 -0.09868

Máxima 118576.42 +0.58

Mínima 117589.94 -0.26

Volume (R$ Bilhões) 1.20B

Volume (US$ Bilhões) 2.45B

17:30

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 119415 0.29817

Máxima 120135 +0.90

Mínima 119050 -0.01

MERCADOS INTERNACIONAIS

O petróleo Brent chegou a US$ 89 o barril pela primeira vez desde o ano passado, motivado por notícias sobre novos estímulos da China e acompanhando possíveis novas medidas pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+). A commodity não tinha pressão cambial, com o dólar operando em queda ante rivais fortes em dia de pouca liquidez devido ao feriado americano, que deixou as bolsas fechadas. Sem o mercado dos EUA, a possibilidade de recuperação da China foi destaque no dia, apesar de analistas ainda alertarem para expectativas pessimistas para a economia da segunda maior potência do mundo. Também hoje, o presidente do país, Xi Jinping, afirmou que não irá participar da cúpula do G20, que ocorre no fim de semana. Sobre o não comparecimento do líder chinês, o presidente americano, Joe Biden, disse estar “decepcionado”.

Segundo a CMC Markets, a força do petróleo foi impulsionada pela expectativa de que os cortes de produção da commodity devem seguir até outubro, o que compensou as perspectivas de oferta extra de países como o Irã. A Oanda destaca que a Rússia e a Arábia Saudita até podem retirar os cortes de produção voluntários, mas é improvável que o façam no curto prazo, visto que isso significaria arriscar uma redução dos preços da commodity.

Hoje, o Brent para novembro fechou em alta de 0,51% (US$ 0,45), a US$ 89 o barril, negociado na Intercontinental Exchange (ICE). Com a alta, o petróleo Brent renovou maior nível desde dezembro de 2022, na máxima intraday a US$ 89,22 o barril.

O petróleo não teve pressão cambial, com o dólar operando em leve queda. Entretanto, o ING chama atenção que, ainda sim, o dólar está em patamar alto, “apesar do relatório de emprego do payroll dos EUA, divulgado na sexta-feira, mostrar que o mercado de trabalho está evoluindo melhor para o equilíbrio e os salários abrandando”. O movimento, segundo análise, provavelmente se deve às fracas perspectivas de crescimento no exterior. Por volta das 17h (de Brasília), o dólar avançava a 146,49 ienes, o euro subia a US$ 1,0795 e a libra tinha alta a US$ 1,2630. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de seis rivais fortes, tinha queda de 0,11%, a 104,121 pontos.

A commodity também teve impulso de perspectivas mais otimistas da economia da China, com notícias sobre mais apoios ao mercado imobiliário e com a informação de que a incorporadora Country Garden conseguiu estender o vencimento de um bônus. Assim, por ora, empresa chinesa evita um default.

Apesar da notícia, a Capital Economics avalia que a economia do país segue com problemas, o que deverá reduzir os ganhos das ações chinesas até o fim do ano. A projeção é que a China corte as taxas de juros, apesar de que os ajustes e incentivos recentes tenham diminuído a necessidade do apoio da política monetária. A consultoria britânica também alerta que os investidores ainda parecem “bastante pessimistas” em relação ao país.

Nesse contexto, Xi aparentemente não comparecerá à cúpula do G20, tendo em vista tensões com a Índia, anfitriã do evento. O primeiro-ministro chinês, Li Qiang, deverá representar Pequim na reunião dos dias 9 e 10 de setembro. Em resposta, Biden disse estar “decepcionado”, mas destacou que “irá vê-lo”, segundo comunicado oficial da Casa Branca, que não especificou detalhes sobre esse possível encontro. (Natália Coelho – [email protected])

CÂMBIO

Em pregão morno, o dólar à vista encerrou a sessão desta segunda-feira 4, em baixa de 0,12%, cotado a R$ 4,9348. Houve oscilação de menos de quatro centavos entre mínima (R$ 4,9082) e máxima (R$ 4,9430), ambas pela manhã. Com as bolsas americanas e o mercado de Treasuries fechados, em razão de feriado do Dia do Trabalho (Labor Day) nos Estados Unidos, a liquidez foi bem reduzida. Principal termômetro do apetite por negócios, o dólar futuro para outubro movimentou menos de US$ 6 bilhões.

Operadores atribuíram a leve apreciação do real a ajustes de posições e movimentos de realização de lucros, após a alta de 1,33% da moeda na semana passada. A favor da moeda brasileira no curto prazo, analistas citam as expectativas em torno de anúncio de novas medidas de estímulos à atividade na China e a redução de temores de quebradeira no setor imobiliário. A incorporadora chinesa Country Garden escapou da falência ao renegociar suas dívidas.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – operou em leve queda ao longo do dia, mas ainda em níveis elevados, acima dos 104,000 pontos. A moeda americana apresentou comportamento misto em relação ao grupo formado por divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Pares do real como peso mexicano, peso colombiano e, principalmente, o rand sul-africano amargaram perdas.

O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, observa que as medidas recentes de estímulo econômico na China favoreceram os preços das commodities e contribuíram para evitar uma alta mais forte do dólar por aqui na semana passada. “Se tem algo que tem segurado um pouco a moeda é a China com essas medidas. Por outro lado, a pressão que vem dos Estados Unidos, com as taxas dos Treasuries em alta, continua prejudicando o real”, afirma Lima.

Segundo o economista, a formação da taxa de câmbio no Brasil ao longo de agosto, em especial na primeira quinzena do mês, foi dominada pela dinâmica das taxas dos Treasuries, que subiram bastante. Na reta final de agosto, o chamado “risco idiossincrático”, representado pelas dúvidas em torno do cumprimento das metas fiscais domésticas, ganhou momentaneamente certo protagonismo.

Para Lima, as moedas emergentes e, por tabela, o real seguem ameaçados neste mês pelo risco de nova arrancada dos retornos dos títulos americanos, diante da possibilidade de indicadores ainda fortes nos EUA e da perspectiva de que o Federal Reserve (Fed, o BC americano) mantenha a taxa básica elevada por mais tempo.

“Se as taxas dos Treasuries se acalmarem, mesmo que em patamares altos, pode haver um respiro para o real, mas não muito grande”, diz Lima, ressaltando que, por aqui, o governo vai enfrentar resistências política para aprovar medidas que ampliem a receita e garantam o cumprimento da meta de déficit primário zero em relação ao PIB no ano que vem. “Já partimos de um patamar de gasto elevado neste ano. O governo não quer mudar a meta no Orçamento. O tamanho do contingenciamento no ano que vem vai ter que ser muito grande”.

Em razão do feriado de 7 de setembro, na quinta-feira, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), publicou um ato determinando que todos os deputados estejam em Brasília nesta segunda-feira, 4. A expectativa é que a Casa vote, antes do feriado, os projetos do Desenrola, que pretende auxiliar na renegociação de dívidas da população, e a da taxação das apostas esportivas, uma das medidas propostas pelo Ministério da Fazenda para ampliar receitas.

A CNN Brasil noticiou que a equipe econômica cogita ressuscitar uma ideia do governo Jair Bolsonaro de antecipar receitas do pré-sal como “plano B” para atingir a meta de déficit zero em 2024. Segundo a reportagem, a proposta está sendo avaliada com cautela e é tida como último recurso para evitar déficit no ano que vem. O potencial de arrecadação é estimado em, pelo menos, R$ 150 bilhões. Na lei orçamentária de 2024, entregue ao Congresso na semana passada, o governo estima elevar as receitas em R$ 168 bilhões para cumprir a meta fiscal.(Antonio Perez – [email protected])

17:30

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.93480 -0.1154 4.94300 4.90820

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4957.000 -0.16113 4962.500 4928.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4968.000 01/09