A crença popular diz que agosto é o mês do desgosto. Neste ano de 2023, a máxima pode ser aplicada aos mercados domésticos. Hoje penalizados por preocupações com a saúde do gigante setor imobiliário da China, os ativos brasileiros exibiram perdas substanciais. Mas além das renovadas dúvidas com o crescimento chinês, houve pressão ainda do impasse interno com a agenda de reformas e com o possível aumento dos combustíveis nos próximos dias. Sem nenhuma sessão sequer de alta em agosto, o Ibovespa chegou à décima queda consecutiva, a maior sequência de recuos desde fevereiro de 1984. O índice baixou aos 116.809,55 pontos (-1,06%), recuando 4,21% desde o início desta correção. Em igual intervalo, o dólar à vista subiu 4,99%, para o encerramento hoje aos R$ 4,9656 (avanço na sessão de 1,25%). É o maior valor de fechamento desde 1º de junho. Na curva de juros, o impulso foi superior a 15 pontos-base nos vértices intermediários. O investidor monitorou ainda o aprofundamento da crise na Argentina, cujos mercados tiveram dia de colapso após a vitória de Javier Milei, candidato antissistema, nas prévias presidenciais. Nas bolsas americanas, o mau humor com a China foi deixado de lado ao longo do dia depois de o Federal Reserve de Nova York informar queda nas expectativas de inflação. Os índices fecharam próximos das máximas: Nasdaq saltou 1,05%, S&P 500 ganhou 0,58% e Dow Jones subiu 0,07%.
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•MERCADOS INTERNACIONAIS
BOLSA
Ainda em grau relativamente discreto de correção, que chegou hoje à casa de 4% no mês, o Ibovespa deu prosseguimento nesta abertura de semana à sequência negativa que coincidiu com o início de agosto, em baixa desde então, hoje pela 10ª vez consecutiva - algo não visto desde as 11 perdas seguidas em fevereiro de 1984, que haviam igualado, por sua vez, outras 11 quedas em junho de 1970, conforme levantamento do AE Dados. Nesta segunda-feira, o índice flutuou dos 116.529,96 (-1,30%) aos 118.081,90 pontos, nível semelhante ao da abertura, a 118.066,52 pontos.
Ao fim, a referência mostrava queda de 1,06%, aos 116.809,55 pontos, com giro a R$ 22,2 bilhões. Foi o primeiro ajuste diário na casa de 1% desde o início da correção em curso, em 1º de agosto, o que levou, hoje, o índice da B3 ao menor nível de fechamento desde 28 de junho, então aos 116.681,32 pontos. No mês, o Ibovespa recua 4,21%, em ajuste superior ao do Nasdaq (-3,89%) e também ao do índice amplo de Nova York (-2,16%). Assim, limita a alta do ano a 6,45%.
Na ponta do índice, destaque nesta segunda-feira para Alpargatas (+1,51%), Suzano (+1,49%) e CPFL (+1,19%). No lado oposto, Yduqs (-14,46%), Via (-7,03%) e Petz (-6,39%). O dia se mostrava uniforme, em grande parte da sessão, para as ações de maior peso no índice, em baixa, com destaque para a queda de 3,10% em Vale ON, na mínima do dia no fechamento, a R$ 61,90. O setor mineral e metálico ainda responde à percepção negativa sobre a demanda chinesa por matérias-primas, em meio a dados cada vez mais preocupantes sobre o ritmo de atividade na segunda economia do globo.
"Houve piora do sentimento do investidor, o que afeta em especial o setor de commodities, por conta da China, que tem desacelerado, o que pesou bastante no mercado hoje, em dia negativo para os preços das matérias-primas lá fora, inclusive para o petróleo", diz João Piccioni, analista da Empiricus Research. "Um mix pior para commodities pode pegar também na nossa moeda", acrescenta o analista. Hoje, o dólar à vista voltou a se reaproximar um pouco mais do limiar de R$ 5, em alta de 1,25% no fechamento, a R$ 4,9656.
"Foi mais um dia de queda para o Ibovespa, agora aos 116 mil pontos, ainda puxado pelo exterior, com notícias ruins sobre o setor imobiliário da China, que segue patinando. E aqui, do lado doméstico, expectativa ainda pelo reajuste dos preços da Petrobras nas refinarias [ante a defasagem em relação às cotações internacionais do petróleo]", diz Bruna Centeno, sócia e especialista da Blue3 Investimentos, mencionando também abertura na curva de juros, nos curtos como nos vencimentos mais longos, em razão do aumento da percepção de risco global e doméstica.
Se, por um lado, eventual recomposição nos preços praticados pela Petrobras - ainda esta semana - seria positiva para a empresa, por outro os agentes de mercado monitoram os efeitos que poderá trazer para a inflação - após a acentuação do IPCA de julho, em alta de 0,12% na margem, acima do esperado para o mês, ter decorrido essencialmente do grupo Transportes, pelo efeito do avanço nos preços da gasolina ao consumidor. Aceleração adicional na inflação corrente pode esfriar as apostas em um ritmo mais acentuado de afrouxamento monetário, observa a analista da Blue3.
"O dado de atividade doméstica divulgado hoje, o IBC-Br, veio acima do esperado, mas o mesmo índice mostrou fortes sinais de desaceleração, no segundo trimestre frente ao primeiro", diz Gabriela Sporch, analista da Toro Investimentos, acrescentando que o que tem predominado, no momento, é a percepção negativa sobre a economia chinesa, o que tira força do Ibovespa, agora abaixo dos 117 mil, para buscar a retomada dos 120 mil pontos. Em reflexo das incertezas sobre a China, especialmente desde o 'default' da empresa Country Garden na semana passada, a perspectiva para as commodities não é das melhores. Dessa forma, "Vale, a ação de maior peso individual mo Ibovespa, caiu hoje 3%", observa a analista.
Algumas ações do setor de commodities, no entanto, conseguiram se descolar do mau humor no fechamento, com destaque para Petrobras (ON +0,48%, PN +0,26%), Gerdau (PN +0,70%) e Gerdau Metalúrgica (+0,08%).
No exterior, o dia já havia começado em tom majoritariamente negativo, especialmente na sessão asiática, estendendo-se em menor grau aos negócios na Europa e, em particular, a Nova York, onde o fechamento desta segunda-feira veio com sinal único, em variações moderadas nos principais índices de ações: Dow Jones +0,07%, S&P 500 +0,58% e Nasdaq +1,05%.
Mais cedo, "as bolsas do Japão e da China recuaram, com a Zhongzhi, uma empresa financeira chinesa enfrentando problemas de pagamento de dívidas - o regulador bancário da China, preocupado com potencial contágio, criou uma força-tarefa para examinar os riscos da instituição", aponta em boletim a Monte Bravo Investimentos.
Na B3, depois de o Ibovespa ter igualado na sexta-feira, em extensão, séries bem mais agudas de correção vistas em agosto de 1998 e fevereiro de 1995, ambas superiores a 20%, o ajuste de agosto de 2023, mesmo com o índice sempre em baixa nos fechamentos desde o começo do mês, está agora pouco acima de 4%, após ganhos acumulados entre abril e julho, com destaque para o avanço de 9% em junho.
Em janeiro, o Ibovespa deu a largada em 2023 no positivo, com o índice a 113,4 mil pontos no fechamento daquele mês, mas adernou em fevereiro (-7,49%) e março (-2,91%), encerrando o primeiro trimestre abaixo dos 102 mil pontos, com recuperação sustentada ao longo do trimestre seguinte, que o deixou bem perto dos 122 mil pontos no encerramento de julho, no início deste terceiro trimestre.(Luís Eduardo Leal - [email protected])
17:32
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 116809.55 -1.06347
Máxima 118081.90 +0.01
Mínima 116529.96 -1.30
Volume (R$ Bilhões) 2.21B
Volume (US$ Bilhões) 4.47B
17:41
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 116900 -1.18343
Máxima 118315 +0.01
Mínima 116645 -1.40
CÂMBIO
O dólar à vista abriu a semana em alta firme, voltando a superar o nível de R$ 4,95, alinhado à onda de fortalecimento da moeda americana no exterior, em meio a preocupações com a economia chinesa e consequente queda dos preços das commodities. Investidores já iniciaram os negócios por aqui sob impacto do anúncio da incorporadora chinesa Country Garden de suspensão das negociações de títulos de dívida onshore após projeções de prejuízo expressivo no primeiro semestre. Crescem as expectativas de mais estímulos monetários pelo Banco do Povo da China (PBoC, banco central chinês), embora haja ceticismo em torno de sua capacidade de estimular a atividade econômica.
Em alta desde abertura, o dólar furou o teto de R$ 4,95 ainda pela manhã, quando tocou R$ 4,96. Com máxima R$ 4,9711, registrada na última hora de pregão, a moeda encerrou o dia em alta 1,25%, cotada a R$ 4,9656 - maior valor de fechamento desde 1º de junho. Com valorização em oito dos 10 pregões de agosto até agora, a divisa já sobe 4,99% no mês. O tombo do real hoje se deu em meio a um ambiente de liquidez apenas razoável. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para setembro movimentou pouco mais de US$ 10 bilhões. Operadores relataram movimentos de 'stop loss' de vendidos em dólares e recomposição de posições cambiais defensivas.
O real apresentou o segundo pior desempenho entre moedas emergentes e de países exportadores de commodities relevantes, atrás apenas do peso colombiano. Moedas latino-americanas de países com juros altos, as chamadas divisas de carrego, são alvo preferido para realização de lucros, uma vez que são apresentam bons ganhos no ano. Já fora do portfólio dos grandes fundos, o peso argentino apresentou perdas superiores a 20%. O BC da Argentina aumentou a taxa de juros em 21 pontos porcentuais, para 118%, e promoveu desvalorização da cotação oficial de sua moeda, na esteira do nervosismo com a vitória do ultradireitista Javier Milei nas eleições primárias para presidência.
"A semana começa com dados preocupantes no setor imobiliário chinês. Um espirro na China é uma gripe forte no mercado, especialmente nas commodities. Esse movimento faz com o dólar esteja em alta frente as demais moedas. No geral, divisas emergentes apanhando e o real caindo cerca de 1% com a queda das commodities", afirma o diretor de tesouraria do Braza Bank, Bruno Perottoni.
Referência do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, o índice DXY voltou a superar a linha dos 103,000 pontos (máxima aos 103,458 pontos), com ganhos firmes em relação ao euro e o iene. A taxa do Treasuries de 10 anos subiu na maior parte do dia o que contribui para pressionar divisas emergentes. Na máxima da sessão, tocou o nível de 4,21%. Os contratos futuros do petróleo recuaram, com o tipo Brent para outubro encerrando em baixa de 0,69%, cotado a US$ 86,21 o barril.
"O dólar ganha valor contra todas as 20 moedas mais negociadas no mundo, por conta da incerteza com relação ao crescimento da China e dos números fiscais dos EUA", afirma o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, observado que a taxa do Treasury de 10 anos atingiu maior nível desde novembro do ano passado.
Perottoni, do Braza Bank, salienta que em episódios anteriores de estresse no mercado imobiliário chinês que provocaram perdas nos ativos de risco mundo afora, como no caso da crise de dívida da incorporadora Evergrande em 2021, o governo da China interveio e conseguiu contornar os problemas da companhia.
"É preciso olhar com cautela o mercado imobiliário chinês, existe uma questão de credibilidade das informações. É algo muito significativo para outras economias do mundo. São empresas grandes em que bancos globais podem ter exposição. Mas no caso da Evergrande o governo conseguiu contornar, fez uma reestruturação. Daqui a pouco, podemos ter uma solução", afirma o tesoureiro, em referência aos problemas da Country Garden.
Entre indicadores locais, destaque para o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que subiu 0,63% em junho, mostrando que a economia brasileira voltou a crescer. Em maio, a queda havia sido de 2,05% (dado atualizado hoje). Na comparação com junho de 2022, houve alta de 2,10% (sem ajustes sazonais), levemente acima da mediana da pesquisa do Projeções Broadcast, de 1,95%.
À tarde, a Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) informou que a balança comercial brasileira registrou superávit comercial de US$ 2,632 bilhões na segunda semana de agosto. No mês, o superávit acumulado é de US$ 4,321 bilhões e no ano, de US$ 57,876 bilhões. (Antonio Perez - [email protected])
17:41
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 4.96560 1.2541 4.97110 4.91210
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 4979.000 1.11698 4988.500 4922.000
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5000.000 1.50223 5000.000 4990.000
JUROS
Os juros futuros subiram na sessão, contaminados principalmente pela tensão do cenário internacional, por sua vez decorrente das preocupações com a economia da China e sinais de instabilidade política na América Latina. Internamente, há desconforto com a demora na tramitação das reformas no Congresso e expectativa pelo ajuste nos preços de combustíveis com impacto sobre a inflação. As taxas foram diretamente contaminadas pela deterioração do câmbio e abertura das curvas globais.
Às 17h15, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 estava em 12,455%, de 12,418% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025, em 10,46%, de 10,31%. A taxa do DI para janeiro de 2027 subia de 9,98% para 10,15%. A do DI para janeiro de 2029, de 10,53% para 10,68%.
A pressão sobre as taxas foi vista desde a abertura e, no fim da tarde, apenas a do DI para janeiro de 2026 (9,97%) ainda se mantinha na casa de um dígito. O gatilho para o mal humor dos mercados foi a decisão da incorporadora chinesa Country Garden de interromper as negociações de títulos de dívida onshore a partir de hoje, renovando preocupações sobre o setor imobiliário do país e aumentando as dúvidas sobre se o governo conseguirá contornar a situação.
"Ainda é cedo para entender os desdobramentos dos problemas financeiros das empresas chinesas, mas a situação preocupa. Crises financeiras resultado de excessos de alavancagem costumam ser profundas, impactando fortemente a economia", avalia Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, para quem as autoridades até vão atuar, mas "uma solução sem custos para a economia é pouco provável".
Commodities e moedas a elas ligadas e também as de países emergentes foram as principais vítimas na sessão de hoje. A busca por ativos seguros acabou fortalecendo o dólar, que no Brasil chegou a R$ 4,97 nas máximas do dia e os contratos de Credit Swap Default (CDS) de 5 anos do País voltaram a superar 170 pontos-base. "O câmbio nestes níveis reduz as chances de o Copom acelerar o ritmo de corte da Selic", alerta o economista da Guide Investimentos Victor Beyruti.
No meio da tarde, as apostas na queda de 0,75 ponto porcentual na taxa básica na próxima reunião do Copom, em setembro, refluíam, com a precificação voltando a mostrar chances de 30%, ante 40% no fim da semana passada. Ao mesmo tempo, a probabilidade de redução de 0,5 ponto avançou a 70%, de 60%. No fim de 2023, a curva projetava Selic de 11,50% e no fim de 2024, de 9,00%. Os números são do Banco Bmg.
Num ambiente já de maior ceticismo com a ampliação dos cortes da Selic e cautela com o exterior, as taxas futuras bateram máximas durante as declarações da diretora de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos do Banco Central (BC), Fernanda Guardado, na live semanal do BC, consideradas na linha mais hawkish. "A economia está apresentando uma desinflação, uma desinflação lenta, que a gente espera que traga para convergência para a nossa meta de inflação de 3% lá no início de 2025", disse.
Além disso, citou alguns riscos do cenário internacional para a economia brasileira, dentre eles, uma ameaça de que o mundo conviva de uma forma mais prolongada com a inflação alta e persistente no mundo e novos eventos de instabilidade financeira, que podem afetar os preços dos ativos locais. Guardado foi um dos votos em defesa do recuo de 0,25 ponto porcentual da Selic no último Copom.
"Ela está ainda cautelosa, vendo inflação na meta só em 2025. Mas na minha leitura não muda o plano de voo, é de 50 em 50 pontos. Vejo mais como um recado de que não pretendem acelerar para 75", afirmou a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, destacando que, "a fala da diretora não ajudou, mas o mundo já estava ruim com a China e a Argentina".
No país vizinho, o populista de extrema direita Javier Milei abalou o establishment político ao emergir como o mais votado das eleições primárias, que servem para escolher as chapas que vão disputar o pleito presidencial de outubro. "Essa questão eleitoral da Argentina traz mais pressão sobre a instabilidade política na América Latina depois do assassinato do candidato à presidência do Equador", disse o economista da Guide. Fernando Villavicencio, de 59 anos, foi morto na última quarta-feira (9), após um ato de campanha em Quito com três tiros na cabeça. Ele era um dos oito candidatos presidenciais para o primeiro turno das eleições gerais antecipadas que ocorrerão no dia 20.
Ainda no âmbito externo, os retornos dos Treasuries subiram hoje e o da T-note de 10 anos chegou a renovar máxima em nove meses, antes de dados de indústria e varejo nos EUA que saem nesta semana e depois da leitura mais forte que o esperado do índice de preços ao produtor de julho. No fim da tarde, o juro da T-note de 10 anos subia a 4,189%.
Internamente, mesmo com o recuo do petróleo nesta segunda-feira, o mercado segue na expectativa pelo reajuste de combustíveis pela Petrobras, esperado para ainda semana, e incomodado com a falta de progresso na agenda das reformas. "A volta do recesso não trouxe novidades, nenhuma solução", disse Beyruti.
A reforma tributária está parada no Senado e texto do arcabouço voltou para a Câmara, onde aguarda votação. A falta de evolução das pautas econômicas tem sido atribuída à indefinição na reforma ministerial, com o Centrão pressionando Executivo por cargos. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje que "a Câmara dos Deputados tem um poder muito grande", que ele "nunca viu na vida." (Denise Abarca - [email protected])
MERCADOS INTERNACIONAIS
Os mercados em Wall Street voltaram os holofotes para a queda nas expectativas de inflação medidas pelo Federal Reserve (Fed) de Nova York, depois de manhã marcada por cautela com as preocupações sobre o setor imobiliário da China. Investidores ponderam sobre a possibilidade de pausa no aperto monetário do Fed e perspectivas para economia dos EUA. As bolsas de Nova York fecharam em alta, com o salto de empresas de semicondutores sustentando ganho robusto do Nasdaq, enquanto os juros dos Treasuries subiram. Por outro lado, a alta do dólar no exterior e a cautela sobre o enfraquecimento da economia chinesa mantiveram commodities sob pressão, com o petróleo fechando em queda. Na Argentina, o peso manteve elevados níveis de desvalorização sobre o dólar nos mercados paralelo e oficial, após o BC argentino intervir no mercado cambial e elevar os juros para reduzir o estresse gerado pelas eleições primárias, medidas bem-recebidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
Analista da Oanda, Edward Moya avalia que o mercado acionário americano se recuperou conforme investidores decidiram se concentrar em corrigir perdas das últimas duas semanas, ao invés de manter a cautela vista pela manhã com preocupações sobre a China. Segundo ele, o movimento teria sido motivado pelo declínio nas expectativas de inflação medidas pelo Fed de Nova York.
Em relatório divulgado hoje, a distrital do BC americano informou que as expectativas de inflação americanas recuaram em todos os horizontes em julho, ao menor nível desde abril de 2021. A expectativa de um ano caiu de 3,8% em junho para 3,5% em julho, enquanto as expectativas de três e cinco anos cederam de 3,0% para 2,9%. O Fed de Nova York também destacou que as expectativas de crescimento dos preços no ano seguinte para alimentos, assistência médica e aluguel caíram para os níveis mais baixos desde pelo menos o início de 2021.
Para o BMO, o dado contribuí para um certo "otimismo" junto à leitura da inflação ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) divulgada na semana passada, ampliando a possibilidade de uma pausa no aperto monetário pelo Fed em setembro. Apesar disso, o banco não descarta a possibilidade de novas altas de juros em novembro ou dezembro, com os dirigentes mantendo uma linguagem hawkish. O BMO afirma ainda que ata da última reunião monetária, a ser divulgada nesta quarta-feira, deve oferecer maior clareza sobre os próximos passos do BC americano.
Assim, o mercado acionário em Wall Street ganhou fôlego e conseguiu firmar todos os três índices acionários no azul na reta final do pregão. Descolado dos pares, o Nasdaq teve alta robusta sustentada pelo salto nas ações da Nvidia (+7,09%), da Micron (+6,07%) e de outras empresas de semicondutores, além do avanço de big techs como Meta (+1,51%), Microsoft (+0,94%) e Alphabet (+1,37%). No fim da tarde em Nova York, índice Dow Jones fechou em alta de 0,08%, o S&P 500 avançou 0,58% e o Nasdaq subiu 1,05%.
Por outro lado, investidores também ponderam a possibilidade de um cenário no qual a economia americana continue demasiadamente forte e não permita uma redução da inflação à meta de 2% definida pelo Fed. Neste caso, seriam necessárias mais altas de juros pelo BC americano, alerta o economista-chefe da FHN Financial, Chris Low, possibilidade que parece apoiar os rendimentos dos Treasuries. No horário citado, o juro da T-note de 10 anos subia a 4,189, tendo atingido maior nível desde novembro do ano passado. Já o da T-note de 2 anos avançava a 4,964% e o do T-bond de 30 anos aumentava a 4,286%.
Este cenário, somado à cautela sob preocupações de que o crescimento econômico da China possa ser abalado, manteve o avanço do dólar no exterior, enquanto commodities seguiram pressionadas. Moya, da Oanda, aponta que investidores temem principalmente que a China não consiga alcançar o nível de 5% de crescimento no próximo ano e que isso tenha ramificações para expectativas de expansão global. No horário citado, o índice DXY, que mede o dólar ante rivais fortes, fechou em alta de 0,34%, aos 103,190 pontos. Ao fim da tarde, o dólar subia a 145,44 ienes, o euro recuava a US$ 1,0913 e a libra tinha baixa a US$ 1,2687. No fechamento, o petróleo WTI para setembro fechou em baixa de 0,80% (US$ 0,68), a US$82,51 o barril, e o petróleo Brent para outubro fechou em queda de 0,69% (US$ 0,60), a US$ 86,21 o barril.
Entre emergentes, o dólar blue avançava a 685 pesos argentinos no mercado paralelo, conforme o jornal Ámbito Financeiro, enquanto o dólar avançava a 349,975 pesos no mercado oficial. A moeda responde a alta de juros pelo BC da Argentina, de 21 pontos porcentuais, a 118% ao ano, e intervenções da autoridade monetária, como a desvalorização do câmbio oficial e a compra de US$ 200 milhões, após a vitória surpreendente do ultra-direitista Javier Milei nas eleições primárias. Em nota, o FMI parabenizou "as recentes ações políticas das autoridades argentinas e o compromisso de salvaguardar a estabilidade, reconstruir as reservas e melhorar a ordem fiscal", além de agendar para 23 de agosto uma reunião que potencialmente "destravará" o acordo com Argentina, que ainda está sujeito à aprovação.
O Wells Fargo revisou seu cenário base e agora projeta 65% de chance de vitória para Milei no segundo turno das eleições oficiais, cenário que deve manter os mercados financeiros locais sob pressão - incluindo riscos para ratings soberanos - e provocar outra grande desvalorização do peso imediatamente após o pleito, o que resultaria em fuga de capital, segundo o banco. (Laís Adriana - [email protected])