DÓLAR FECHA NO MAIOR NÍVEL EM 1 MÊS COM EXTERIOR E DÚVIDA SOBRE CRONOGRAMA DA CÂMARA

A aversão generalizada ao risco perdeu força na etapa da tarde, mas ainda assim seguiu penalizando ativos aqui e no exterior. No Brasil, o principal destaque foi a arrancada da cotação do dólar, que no segmento à vista subiu aos R$ 4,9299 (+1,64%), no maior valor de fechamento desde 5 de junho. A percepção que o Federal Reserve terá de manter um tom agressivo para debelar ameaças inflacionárias que teriam origem da atividade forte nos Estados Unidos levou para cima o dólar ante grande parte das moedas, impulsionou os juros dos Treasuries e penalizou as bolsas. Vale ressaltar, em especial, o comportamento da T-note de 2 anos, cujo rendimento na máxima do dia tocou o maior nível desde 2006. Além desta cautela externa, notícias de Brasília indicando que a Câmara deve deixar para agosto o projeto de lei que trata do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e a votação final do arcabouço fiscal azedaram ainda mais o clima no meio do dia. A perspectiva de uma votação célere da reforma tributária, contudo, arrefeceu parcialmente os ânimos. Ainda assim, o Ibovespa teve a maior queda porcentual desde 2 de maio, ao ceder 1,78% (aos 117.425,70 pontos). Somente 5 de 86 ações subiram. Nos juros futuros, o ritmo mais forte de alta foi deixado de lado. O DI para janeiro de 2027, que mais cedo disparou 22 pontos-base, terminou o dia com alta de 6,5 pontos-base, aos 10,265%.

•CÂMBIO

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•BOLSA

•JUROS

CÂMBIO

O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 6, em alta de 1,64%, cotado a R$ 4,9299 – maior valor de fechamento desde 5 de junho. O dia foi marcado por uma rodada de fortalecimento da moeda americana em relação a divisas emergentes e avanço dos retornos dos Treasuries. Dados fortes da economia americana, em especial do mercado de trabalho, reforçaram as apostas de que o Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) promoverá novas altas da taxa de juros neste ano.

Por aqui, houve desconforto com a especulação em torno de suposto adiamento para agosto da votação final do novo arcabouço fiscal e do projeto de lei do Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf). O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), dá prioridade à reforma tributária. Com o mercado spot já fechado, Lira garantiu que o tema vai ao plenário da Casa ainda hoje.

No início da tarde, em meio a informações desencontradas vindas de Brasília sobre o calendário de votação das pautas econômicas, o dólar acelerou o ritmo de alta e chegou a tocar pontualmente os R$ 4,95, ao registrar máxima a R$ 4,9506 (+2,07). Com a alta de hoje, a moeda emendou o quarto pregão consecutivo de avanço no mercado doméstico e já acumula valorização de 2,93% na semana.

“Houve um exagero na queda do dólar em junho. Não se sabe o que vai sair dessa reforma tributária. Tem risco de a votação do arcabouço e do Carf ficar para depois do recesso parlamentar A verdade é que o governo pode ter dificuldade em cumprir a meta fiscal logo no primeiro ano”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, que não acredita em taxa de câmbio abaixo de R$ 4,80. “Hoje, tivemos impacto externo, com aposta em aumento de juros pelo Fed e queda das commodities. Mas o cenário local é preocupante e também contribuiu para a alta do dólar”.

Principal referência do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para agosto teve volume expressivo, acima de US$ 18 bilhões, o que sugere mudanças relevantes nas posições dos agentes. Investidores estrangeiros, que passaram junho “vendidos” em dólar futuro, viraram a mão neste início de mês e estão agora estão levemente “comprados”.

O head da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, vê peso maior do ambiente externo no movimento de depreciação do real hoje. Apesar do estresse nos últimos dias, ele acredita que o dólar pode voltar a operar abaixo de R$ 4,80 e renovar mínima do ano no fechamento ao longo do segundo semestre.

Segundo Weigt, quando houver mais segurança sobre qual será a taxa terminal de juros nos EUA, os retornos dos Treasuries podem recuar, abrindo espaço para nova rodada de valorização das divisas emergentes. Por aqui, estrangeiros podem desmontar parte do hedge cambial expressivo e voltarem à ponta vendida no mercado de dólar futuro.

“Não descarto nova mínima no ano. Pelo movimento do cupom cambial, desde a rolagem do mês passado, os institucionais locais e estrangeiros começaram a zerar as posições vendidas em dólar. Em algum momento, podem voltar a ficar vendidos”, diz o tesoureiro do Travelex.

A onda de fortalecimento do dólar frente a moedas emergentes e de países exportadores de commodities abalou mais as divisas latino-americanas. As maiores perdas, na casa de 2%, foram do peso colombiano, que ainda acumula, contudo, alta de cerca de 12% no ano. Em seguida, aparecem o real e o peso mexicano. Trata-se de um conjunto de divisas de países que oferecem taxas de juros elevados, as chamas moedas de ‘carrego’, e que podem embarcar em um ciclo de afrouxamento monetário nos próximos meses, na contramão do que acontece nos Estados Unidos e na Europa.

Segundo pesquisa ADP, o setor privado americano criou 497 mil empregos em junho, bem acima da expectativa de analistas, de 250 mil. Leituras de índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) no EUA em junho também superaram as projeções. Esses dados vieram após o tom duro da ata do Fed divulgada ontem à tarde e estimularam apostas em continuidade do aperto monetário pelo BC americano, com chances acima de 90% de elevação dos FedFunds em 25 pontos-base neste mês. Pela manhã, as taxas dos Treasuries de curto prazo alcançaram o maior nível em 17 anos e o retorno do T-bond de 30 anos atingiu 4%. Amanhã, sai o relatório oficial de emprego nos EUA (payroll) em junho, cujo resultado pode ratificar a leitura de mercado de trabalho ainda muito apertado e resistência da inflação. (Antonio Perez – [email protected])

18:02

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.92990 1.6411 4.95060 4.84280

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4942.000 1.43678 4973.500 4863.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4990.000 1.89473 4993.000 4990.000

MERCADOS INTERNACIONAIS

Os juros dos Treasuries reduziram a alta de mais cedo, mas o da T-note de 2 anos se manteve acima de 5% após ter alcançado máxima em 17 anos. Na véspera do payroll, o mercado interpretou sinais de resiliência do setor de serviços e do mercado de trabalho como subsídio para retomada do aperto monetário do Federal Reserve (Fed). Ainda assim, o dólar inverteu ganhos ante divisas rivais, com euro ganhando força após falas dirigente do Banco Central Europeu (BCE), Joaquim Nagel, sobre mais aperto na zona do euro. O movimento das moedas ajudou o petróleo a reduzir as perdas, com o WTI fechando em alta. Entretanto, a fraqueza se manteve nos mercados acionários de Nova York, com queda significativa no setor financeiro e em grande parte no de tecnologia.

A projeção segundo o 31 analistas consultados pelo Projeções Broadcast é de que os Estados Unidos tenham criado 225 mil empregos em junho, uma desaceleração em relação ao número de maio – de 339 mil -, mas com perspectivas de que a taxa de desemprego desacelere a 3,6%. A projeção do Wells Fargo chegou a ser revisado hoje, seguindo a força do ADP, de 245 mil para 260 mil.

Já segundo o Citi, que espera alta de 170 mil, o número deverá seguir forte aos olhos do Fed, e novos fatores sazonais para os próximos meses deverão apoiar duas altas de juros em 2023. O mesmo é visto pelo CIBC, que espera um avanço de 185 mil no número de empregos.

Apesar de diversos analistas chamando atenção para o número ainda alto, o direcionamento esperado pelo mercado é que o Fed aumente as taxas pelo menos mais duas vezes – o que ainda não foi totalmente precificado pelo mercado, que ainda espera apenas mais um aumento de 25 pontos-base (pb) em julho, segundo plataforma do CME. Entretanto, as chances de que, em setembro, as taxas estejam 50 pontos-base (pb) acima da faixa atual, de 5,0% e 5,25%, está em 27,7%, ante 18,1% registrado ontem. Assim, por volta das 17 horas, o juro da T-note de 2 anos avançava a 5,010%, o da T-note de 10 anos tinha alta a 4,046% e o do T-bond de 30 anos subia a 4,006%.

Apesar do cenário, o dólar inverteu o sinal e passou a cair ante rivais fortes, com o euro favorecido pela fala de Nagel de que o curso da política monetária na zona do euro ainda não está completo, e de que não há perigo de aperto monetário excessivo. Assim, o índice DXY, que mede o dólar ante moedas fortes, caía 0,20%, a 103,166 pontos, o dólar caía a 144,14 ienes, o euro tinha alta a US$ 1,0890 e a libra avançava a US$ 1,2741.

A fraqueza do dólar ajudou o petróleo a reduzir grande parte das perdas, encerrando perto da estabilidade, em meio às reuniões da Organização de Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+). Na visão de Edward Moya, da Oanda, “traders de energia estão assistindo a um cabo de guerra entre as apostas otimistas que decorrem das expectativas de que a Opep+ manterá este mercado apertado e à medida que os temores de recessão global aumentam”. Segundo o analista, a projeção é que a commodity seja prejudicada, à medida em que o fluxo de notícias retoma a focar no crescimento lento das principais economias – prejudicando perspectivas da demanda da do óleo.

Já sobre os cortes recentes, a Oxford Economics indica que o mercado de petróleo deverá ficar mais apertado no quarto trimestre, “levando-nos a antecipar que a Arábia Saudita estenderá seu corte de produção além de agosto, antes de desligá-lo até o final do ano”. Hoje, na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para agosto fechou em alta de 0,01% (US$ 0,01), a US$ 71,80 o barril, enquanto o Brent para setembro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em queda de 0,17% (US$ 0,13), a US$ 76,52o barril

A fuga do risco, entretanto, seguiu nos mercados acionários de Nova York, com fraqueza observadas em diversos setores, com quedas significativas no Citigroup (03,03%), Bank of America (-2,75%), e Tesla (-2,10%). Hoje, o índice Dow Jones fechou em queda de 1,07%, o S&P 500 cede 0,79% e o Nasdaq caiu 0,82%. (Natália Coelho – [email protected])

BOLSA

O Ibovespa registrou hoje sua maior perda diária desde a queda de 2,40% em 2 de maio, refletindo o aumento da aversão a risco no exterior ante a possibilidade de o Federal Reserve voltar a elevar juros no fim deste mês, após ter feito pausa na reunião anterior.

Uma nova fornada de dados econômicos americanos, especialmente a forte geração de vagas de trabalho no setor privado em junho (ADP), resultou em elevação do índice VIX, métrica de volatilidade em Nova York, onde as três principais referências para ações caíram entre 0,79% (S&P 500) e 1,07% (Dow Jones) na sessão. Embora não muito correlacionados, os dados da ADP sobre empregos são vistos como uma espécie de tira-gosto para o relatório oficial sobre o mercado de trabalho americano – cuja leitura de junho será conhecida amanhã, dia 7.

Aqui, o Ibovespa fechou o dia em baixa de 1,78%, aos 117.425,70 pontos, entre mínima de 117.095,88 (-2,05%), do começo da tarde, e máxima de 119.548,02 pontos, da abertura. Fraco, o giro financeiro desta quinta-feira ficou em R$ 21,6 bilhões. Na semana e no mês, o índice da B3 cede 0,56% e, no ano, avança 7,01%.

Na agenda interna, em derrota para as ambições do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, as votações do arcabouço fiscal e do projeto de lei que retoma o chamado voto de qualidade do Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf) devem ser pautadas apenas em agosto, após o recesso parlamentar. Essa foi a tendência relatada à Coluna do Estadão por lideranças no Congresso, ainda no início da tarde.

Pelo lado positivo, a expectativa é de que a PEC da reforma tributária será votada nesta quinta-feira em primeiro turno, na Câmara dos Deputados. Apesar de ser aguardada como um desdobramento positivo da pauta econômica no Congresso, há alguma cautela dos investidores quanto ao formato final da proposta. “O Congresso impôs diversas derrotas ao governo como forma de demonstrar poder, mas desta vez houve liberação de emendas, o que reforça o apoio, o consenso entre deputados e senadores, inclusive da oposição, para que a matéria passe, seja aprovada”, diz Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos.

Assim, combinando risco externo e cautela doméstica, as perdas se disseminaram na carteira do Ibovespa, em dia de forte pressão sobre o câmbio – com o dólar de volta à casa de R$ 4,95 na máxima desta quinta-feira após ter fechado o dia interior a R$ 4,85 – e também sobre os DIs futuros, em particular os longos. Na B3, apenas cinco das 86 ações do Ibovespa conseguiram encerrar a sessão em terreno positivo, com IRB (+5,02%) e Eztec (+2,00%) à frente. No lado oposto, Gol (-9,78%), Magazine Luiza (-7,62%), Via (-6,76%) e Azul (-6,50%).

Entre as empresas de maior capitalização de mercado, as perdas do dia chegaram a superar 2% para os grandes bancos, com destaque para Santander (Unit -2,11%, mínima do dia no fechamento) e Bradesco (ON -2,31%, PN -2,41%). No setor de commodities, Petrobras ON e PN cederam hoje 1,27% e 1,53%, e Vale ON, 0,72%.

“O mercado teve um dia de busca por liquidez, com dados importantes de emprego e o PMI de serviços nos Estados Unidos (da ISM), em leituras fortes que assustaram os investidores. A resiliência do mercado de trabalho americano, em especial, coloca em 88% [no meio da tarde hoje] a chance, pela ferramenta da CME, de retomada da alta de juros no Fed, em julho, o que se refletiu também no dólar, com busca por segurança e liquidez na moeda americana”, diz Dennis Esteves, sócio e especialista da Blue3 Investimentos.

“O dia foi dos ‘ursos'”, acrescenta o analista, referindo-se a investidores posicionados para queda de preços dos ativos em Bolsa.

“A ata do Fed, da tarde de ontem, já sugeria cautela quanto aos juros americanos, o que ganhou força hoje com os resultados do índice de atividade do setor de serviços e, principalmente, a geração de vagas de trabalho no levantamento mensal da ADP, bem acima do consenso. Mercado de trabalho americano ainda mostra resiliência, o que mantém a chance de aumento de juros pelo Federal Reserve”, diz Gustavo Harada, chefe da mesa de renda variável da Blackbird Investimentos.

Graficamente, se tivesse rompido os 120 mil pontos – marca tocada ontem no intradia e que foi alcançada em fechamento no último dia 21, aos 120,4 mil -, a tendência seria o Ibovespa buscar os 124 mil, diz Harada. Em sentido inverso, abaixo dos 118 mil pontos, o suporte seguinte estaria na região dos 116 mil que, uma vez rompido, poderia levar o índice aos 114 mil pontos, acrescenta.

“Além dos juros americanos e dos índices de atividade – que têm se enfraquecido na China, grande consumidora de commodities a que nossa Bolsa é muito exposta -, há outras questões em aberto, como o que sairá da reforma tributária em sua forma final. O momento sugere posição defensiva, ainda se terá volatilidade pela frente”, observa Harada. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

18:02

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 117425.70 -1.77626

Máxima 119548.02 -0.00

Mínima 117095.88 -2.05

Volume (R$ Bilhões) 2.16B

Volume (US$ Bilhões) 4.41B

18:03

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 119200 -1.60957

Máxima 120965 -0.15

Mínima 118650 -2.06

JUROS

Os juros futuros completaram a terceira sessão consecutiva de alta, hoje pressionados principalmente pelo ambiente externo negativo, com ajuda dos ruídos em torno da reforma tributária que têm ameaçado a votação do texto na Câmara ainda nesta semana. Na esteira da ata “hawkish” do Federal Reserve ontem e na véspera do payroll amanhã, dados de atividade e emprego norte-americanos acima do esperado catapultaram os juros dos Treasuries e elevaram o dólar contra moedas emergentes, reverberando nos ativos globais, ao fortalecer apostas em mais duas rodadas de aperto monetário nos Estados Unidos. Diante do “risk off” dos mercados, o Tesouro reduziu o lote de NTN-F no leilão de prefixados.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 12,835%, de 12,798% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025, em 10,80%, de 10,76%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 10,26%, de 10,20%. A do DI para janeiro de 2029 subiu de 10,57% para 10,62%.

O movimento de maior pressão sobre a curva se deu até o início da tarde, em meio à leitura dos indicadores nos Estados Unidos e informações extraoficiais de que a votação da tributária ficaria para agosto – no fim da tarde, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), disse que não havia possibilidade de adiar a votação prevista para hoje.

Ainda, no começo da segunda etapa, declarações do presidente Lula sugerindo expansionismo fiscal ajudaram a alimentar o risk off nos ativos locais. Durante o relançamento do programa de industrialização, Lula defendeu barateamento de crédito pelo Banco do Brasil e disse que o governo vai colocar dinheiro no BNDES para que a economia volte a funcionar.

A trajetória das últimas três sessões de alta reduziu bastante nos principais contratos o alívio de prêmios decorrente da decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter em 3% a meta de inflação nos próximos anos, na quinta-feira passada, 29. O ambiente internacional de maior aversão ao risco respondeu por boa parte do movimento.

Na terça-feira, feriado nos Estados Unidos, a curva do DI aproveitou para realizar lucros e a correção se estendeu ontem com a ata do Fed. “E os dados que saíram hoje referendaram a mensagem da ata e a preocupação dos diretores com a inflação alta”, disse o gerente de Renda Fixa e Distribuição de Fundos da Nova Futura, André Alírio.

Na agenda, o dado que mais assustou foi o que apontou criação de 497 mil empregos no setor privado em junho, na pesquisa ADP, quase o dobro do consenso de geração de 250 mil. Além disso, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) do setor de serviços medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), subiu de 50,3 em maio a 53,9 em junho, enquanto analistas previam aumento a 51,0.

A ferramenta do CME Group indicava mais de 90% de chance de elevação de 25 pontos-base no juro na reunião do Fed em julho e 38% de chance de a taxa básica subir ao intervalo entre 5,50% e 5,75% ata novembro, ante 31,6% ontem. O yield da T-Note de dois anos tocou máxima de 5,14%, no maior nível desde 2006, mas voltou a 5,01% no fim do dia. O retorno da T-Note de dez anos, referência para a curva de juros doméstica, rompeu 4,00%.

“A inversão da curva americana de 2 e 3 anos indica que os Estados Unidos estão no caminho da recessão”, avalia Marcelo Boragini, sócio da Davos Investimentos, para quem, com os indicadores conhecidos hoje, sobretudo o da ADP, o mercado pode estar se antecipando ao payroll amanhã, caso surpreenda. O consenso das estimativas aponta criação de 225 mil vagas em junho.

Ainda que o exterior tenha dominado a cena, o investidor manteve-se desconfortável com o imbróglio envolvendo a pauta econômica da Câmara. O mercado já colocou de lado o arcabouço e o projeto de lei do Carf e se dá por satisfeito se o governo conseguir ao menos iniciar esta semana a votação da tributária. A indicação de Lira se mantinha de pé no fim da tarde, embora as movimentações de governadores e setores da economia seguia intensa nesta reta final, sugerindo que um consenso sobre o desenho final do texto ainda estava distante. “A sensação é de bagunça e desorganização”, disse Boragini.

À tarde, na medida em que os yields dos Treasuries se afastaram das máximas, a curva local também se acomodou, reduzindo bastante o ritmo de alta. Pela manhã, no entanto, dado o nível de estresse, o Tesouro optou por lotes menores de prefixados, com 1 milhão de NTN-F e 7 milhões de LTN, metade da oferta de 2 e 13 milhões, respectivamente na semana passada.

O estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal atribui, no caso das NTN-F, a redução do lote ao clima de aversão ao risco. “Mas não acho que a demanda tenha secado de forma estrutural”, disse. Já as LTN foram ofertadas com vencimentos novos. “Como era o primeiro leilão dos vencimentos, a demanda tende a ser bem menor mesmo e o papel vai pegando tração ao longo as semanas”, explica. “Na medida que o Tesouro vai emitindo, o papel vai ganhando liquidez e atraindo a atenção e demanda dos investidores”, complementa.

O Tesouro vendeu 6,780 milhões de LTN nos vencimentos de 1/10/2024 (1 milhão), 1/10/2025 (4 milhões) e 1/7/2027 (1,780 milhão de 2 milhões ofertados). As ofertas de 500 mil NTN-F para 2029 e 500 mil para 20233 tiveram demanda integral, mas com taxas máximas e médias iguais em cada um dos vértices, o que indica um único comprador em cada papel. (Denise Abarca – [email protected])