DÓLAR ENCOSTA EM R$ 5 E BOLSA TEM 11ª QUEDA SEGUIDA EM DIA DE CAUTELA EXTERNA

Renovadas dúvidas com o crescimento da China e a capacidade de os estímulos do governo central reanimarem a economia do gigante asiático trouxeram apreensão aos mercados internacionais e, por consequência, pressionaram os ativos domésticos nesta terça-feira. A este cenário, somaram-se dados mais fortes do que o previsto nos Estados Unidos, que realimentaram a percepção de que o aperto monetário por lá ainda não chegou ao fim. Como consequência, o dólar teve pressão global. Aqui, encostou nos R$ 5 no segmento à vista (fechamento em R$ 4,9868, alta de 0,43%), tendo superado esse nível no futuro. Internamente, o dia também foi agitado, com impasse na votação final do arcabouço após falas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a Câmara e apagão em diversas regiões do País. O tão esperado reajuste dos combustíveis pela Petrobras ajudou parcialmente as ações da companhia, que terminaram o dia em direções distintas (ON -0,21% e PN +0,72%). Mas a elevação da ação preferencial da petroleira foi uma das poucas entre as blue chips. Com peso de Vale (-0,99%), o Ibovespa desceu aos 116.171,42 pontos, baixa diária de 0,55% e no mês de 4,73%. É a 11ª queda consecutiva, sequência que se iguala às perdas de fevereiro de 1984 e junho de 1970. A piora em Nova York na última hora da sessão aprofundou as perdas do índice local. Lá, Dow Jones caiu 1,02%, S&P 500 perdeu 1,16% e Nasdaq cedeu 1,14%. De volta ao Brasil, no mercado de juros futuros, o reajuste dos combustíveis e o dólar em alta fizeram com que o investidor ficasse mais conservador sobre os próximos passos do Banco Central.

•CÂMBIO

•BOLSA

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•JUROS

CÂMBIO

O dólar à vista emendou a terceira sessão consecutiva de alta no mercado doméstico de câmbio e voltou a se aproximar do nível de R$ 5,00, em mais um dia de fortalecimento da moeda americana em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Dados fracos da indústria e do varejo na China divulgados ontem à noite aumentaram as preocupações com a desaceleração da segunda maior economia do mundo, que não arrefeceram nem mesmo com a decisão do Banco do Povo da China (PBoC) de reduzir várias de suas taxas de juros. Além disso, houve nova rodada de alta das taxas dos Treasuries longos à tarde, o que pressionou ativos de risco mundo afora.

Em alta desde a abertura de negócios, o dólar quase furou o teto de R$ 5,00 pela manhã ao registrar máxima de R$ 4,9977. No fim do dia, a divisa avançava 0,43%, cotada R$ 4,9868 ainda no maior valor de fechamento desde 1º de junho. Com avanço em 9 dos 11 pregões de agosto, a moeda já acumula valorização de 5,44% no mês. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para setembro movimentou pouco mais de US$ 11 bilhões.

Como ontem, o real apresentou hoje o segundo pior desempenho entre seus principais pares, apenas atrás do peso colombiano. Mesmo com a rodada forte de depreciação das moedas latino-americanas em agosto, o peso colombiano ainda apresenta ganhos de aproximadamente 15% em relação ao dólar no ano, seguido pelo peso mexicano (12%) e pelo real (5%).

O diretor de investimentos da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, observa que o mercado estava tecnicamente bastante posicionado em “moedas de carrego” no fim do verão no Hemisfério Norte, em referência a divisas de países latino-americanos com taxas de juros elevadas. Segundo Jolig, havia a expectativa de que o governo chinês adotaria medidas mais fortes para estimular o crescimento neste ano e que as taxas dos Treasuries permaneceriam comportadas.

“Mas os dados da China estão decepcionante bastante. E os yields dos Treasuries estão abrindo, com a perspectiva de juro neutro subindo e taxas de juros mais altas por mais tempo nos EUA. Como o mercado estava tecnicamente muito posicionado no carrego, houve uma correção”, diz o diretor da Alphatree. “Esse movimento de depreciação está ainda bem controlado. Mas já começa haver preocupação de que possa haver uma correção maior em algum momento. O principal ponto de desconforto são os Treasuries longos”.

Em alta firme na comparação com divisas emergentes, o dólar apresentava no fim da tarde ligeiro avanço em relação ao euro e ao iene, o que levava o índice DXY a trabalhar acima da linha dos 103,200 pontos, próximo da máxima da sessão, aos 103,274 pontos. A taxa da T-note de 10 anos acelerou à tarde e voltou a superar o nível de 4,20%. Indicadores americanos divulgados pela manhã mostraram sinais divergentes. As vendas no varejo cresceram 0,7% na margem em julho, acima do esperado (0,4%). De outro lado, o índice de atividade industrial Empire State caiu para -19,0 em agosto, quando a previsão era de baixa de 0,6.

“O cenário é de pouso suave para os EUA. A grande questão é se será suficiente para levar a inflação a uma trajetória em linha com o que o Fed deseja. Isso só vai ser possível, na nossa visão, com a manutenção da taxa de juros por mais tempo”, disse a head de Economia para América Latina do JP Morgan, Cassiana Fernandez, durante o evento “Sob o Olhar Delas”, organizado pela XP, em Brasília.

Embora o ambiente externo esteja por trás da onda de depreciação do real, operadores citam o desconforto com o cenário doméstico como um fator que contribui para recomposição de posições cambiais defensivas. Há preocupação com os desdobramentos da rusga entre o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e o atraso na votação final do arcabouço fiscal. O episódio do “apagão” de energia que atingiu quase todos os Estados brasileiros pela manhã foi monitorado, mas não teve influência na formação da taxa de câmbio.

Lira e líderes partidários se reuniram hoje e definiram que o encontro para discutir as alterações feitas pelo Senado no projeto de lei do arcabouço fiscal será na próxima segunda-feira, 21, segundo o relator da matéria, deputado Cláudio Cajado (PP-BA). Como mostrou o Broadcast Político, a reunião para discutir arcabouço estava prevista para ontem, mas foi cancelada de última hora após repercussão negativa das declarações de Haddad.

Em entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, exibida ontem, o petista disse que a Câmara está com “um poder muito grande” e não pode usá-lo para “humilhar” o Senado e o Executivo. Ontem à noite, Haddad ligou para Lira e disse que sua fala se referia ao chamado “presidencialismo de coalizão”, e não a atual legislatura da Câmara dos Deputados. (Antonio Perez – [email protected])

17:32

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.98680 0.4269 4.99770 4.96020

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5003.000 0.44168 5014.000 4975.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5034.000 0.68 5034.000 5034.000

BOLSA

O aumento anunciado pela Petrobras, de manhã, para os preços da gasolina e do diesel contribuía para o desempenho das ações da estatal nesta terça-feira – quase totalmente revertido, contudo, no fechamento (ON -0,21%, PN +0,72%). Mesmo quando ambas as ações ainda subiam, o sinal não era o suficiente para impedir que o Ibovespa chegasse, hoje, à 11ª queda consecutiva, igualando séries negativas de fevereiro de 1984 e de junho de 1970. Hoje, a referência da B3 oscilou dos 116.033,15, do fim da tarde, aos 117.697,25 pontos, e encerrou o dia em baixa de 0,55%, aos 116.171,42, fechando assim a primeira quinzena deste agosto sem obter sequer um ganho diário no mês. O giro subiu a R$ 26,6 bilhões nesta terça-feira.

Na semana, o Ibovespa recua 1,60% no combinado das duas primeiras sessões, colocando as perdas do mês a 4,73% e limitando o avanço do ano a 5,87% – na última sessão de julho, o Ibovespa, então bem perto dos 122 mil pontos, acumulava ganho de 11,13% em 2023. De lá para cá, a aversão a risco se impôs essencialmente desde o exterior com a retração do investidor estrangeiro, que vinha se mantendo na ponta compradora na B3, adquirindo até então, em geral, dos institucionais e domésticos.

A sequência de dados ruins sobre o ritmo de atividade e o recente comportamento deflacionário dos preços na China fizeram acender a luz amarela para a segunda maior economia do globo, a que o Brasil e a B3 têm exposição significativa pelo peso das commodities para o País como para a Bolsa. Incertezas quanto ao grau de ajuste da política monetária nos Estados Unidos – ou seja, até que ponto o Federal Reserve ainda poderá elevar a taxa de juros de referência, tendo em vista os dados disponíveis até o momento – também resulta em ajustes nos Treasuries e nas ações listadas em Nova York.

Hoje, os três principais índices de Nova York fecharam o dia em baixa, acentuando a correção em direção ao fechamento (Dow Jones -1,02%, S&P 500 -1,16%, Nasdaq -1,14%) – levando consigo o Ibovespa -, com perdas no mês que chegam agora a 4,98% para o que concentra as ações de tecnologia (Nasdaq), mais expostas aos juros americanos. A sessão desta terça-feira também foi negativa para as principais bolsas europeias.

Na China, dados de produção industrial, vendas do varejo e investimentos em ativos fixos vieram abaixo do esperado, alimentando os receios em torno da desaceleração econômica. Nos Estados Unidos, por sua vez, índice de atividade industrial também ficou aquém da previsão, e apesar de as vendas no varejo americano terem surpreendido positivamente, a avaliação de parte do mercado, ainda que minoritária, é de que o resultado tende a ser insuficiente para mudar expectativa por novo aumento de 25 pontos-base nos juros do Federal Reserve, em setembro.

Em evento organizado pela XP em Brasília, a head de economia para América Latina do JPMorgan, Cassiana Fernandez, disse hoje que o banco revisou a projeção de crescimento da China em 2024, para 4%. Para os Estados Unidos, porém, a atividade não é vista mais como um problema e o foco, agora, está na inflação, acrescentou Cassiana. Segundo ela, o Fed provavelmente terá de manter a taxa de juros em patamar elevado por tempo mais longo do que o imaginado inicialmente.

No Brasil, ainda que o modo ‘bombeiro’ tenha sido acionado no mesmo dia, os investidores seguem atentos a eventuais sequelas no relacionamento do governo com a Câmara dos Deputados, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ter questionado, em entrevista divulgada ontem, o que considera como excesso de poder na Casa. Haddad buscou se explicar publicamente ainda na segunda-feira, mas as declarações iniciais resultaram em mal-estar e adiamento de reunião técnica que a equipe econômica e lideranças parlamentares teriam ontem sobre a votação do arcabouço.

Em meio a incertezas domésticas e externas, a curva de juros operou na abertura de hoje com maior estresse nas pontas curtas e longas, trabalhando em alta, e o dólar deu continuidade ao movimento de apreciação frente ao real, saindo da região de R$ 4,74, em pregões anteriores, e chegando nesta terça-feira a buscar máxima a R$ 5, observa Rosiane Duarte, analista da Toro Investimentos. No fechamento, o dólar à vista foi a R$ 4,9868, em alta de 0,43%, tendo chegado no pico do dia a R$ 4,9977.

Com a alta do dólar na sessão, que o reaproximou do limiar de R$ 5, destaque para a queda nas ações das companhias aéreas Gol (-12,50%) e Azul (-6,60%), na ponta perdedora do Ibovespa na sessão. No canto oposto, Vibra (+7,77%), BRF (+6,90%) e Natura (+5,48%). Entre as ações de maior liquidez na B3, o dia foi ainda negativo para Vale (ON -0,99%) e para o setor metálico (CSN ON -0,65%), assim como para os grandes bancos, à exceção de Bradesco PN (+0,26%).

Nesta terça-feira, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o reajuste nos combustíveis, promovido pela Petrobras, terá impacto na inflação – ele estima que possa afetar o IPCA em 0,40 ponto porcentual, entre agosto e setembro. “Hoje teve um aumento grande em combustíveis. O impacto da gasolina é direto, na cadeia. Ainda terá algumas revisões com o reajuste de hoje”, disse Campos Neto, em evento na sede da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE).

O presidente do BC disse também que o Brasil tem feito um “pouso suave” na inflação com pouco custo para o crescimento da economia, e voltou a citar revisões, para cima, nas projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) em 2023. Campos Neto observou, no mesmo evento, que o Brasil é um dos poucos países com inflação encaixada para os próximos anos.

Em nota, a Ativa Investimentos avaliou como positivo o aumento dos preços do diesel e da gasolina anunciado nesta terça-feira pela Petrobras, da ordem de 25% e 16%, respectivamente. A corretora, porém, manteve a recomendação neutra para os papéis da estatal. O reajuste vale a partir de amanhã, 16, nas refinarias da companhia.(Luís Eduardo Leal – [email protected], com Célia Froufe e Denise Luna)

17:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 116171.42 -0.5463

Máxima 117697.25 +0.76

Mínima 116033.15 -0.66

Volume (R$ Bilhões) 2.66B

Volume (US$ Bilhões) 5.34B

17:32

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 115875 -0.71545

Máxima 117725 +0.87

Mínima 115810 -0.77

MERCADOS INTERNACIONAIS

Sinais de resiliência da economia americana, junto a comentário de dirigente do Federal Reserve (Fed) sobre a possibilidade de mais aperto monetário, levou a um cenário de cautela nos mercados acionários de Nova York, com pressão principalmente no setor bancário após a Fitch comentar a possibilidade de rebaixamento de rating de bancos americanos. A fraqueza também foi motivada por preocupações com a demanda da China após cortes de juros pelo Banco do Povo do país (PBoC, na sigla em inglês), que também levou commodities a fecharem em queda. Na renda fixa, os juros dos Treasuries ficaram sem direção única, com alta nos rendimentos da ponta longa, enquanto o dólar operava perto da estabilidade ante rivais fortes. O dólar blue, por sua vez, chegou a subir a 730 pesos argentinos em algumas províncias da Argentina, ainda na esteira das eleições primárias do domingo.

As vendas do varejo dos Estados Unidos subiram 0,7% em julho ante junho, acima da projeção do mercado e, segundo a Oxford Economics, sugere que ainda há um risco de mais aperto monetário pelo Fed. Segundo a consultoria britânica, o presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, deve sinalizar uma postura agressiva no Simpósio Econômico de Jackson Hole, marcado para a próxima semana. A Stifel, por sua vez, destaca que o resultado “complica” a vida do Banco Central americano ao perpetuar “a noção da resiliência contínua do consumidor”.

Também sugerindo que o aperto monetário dos EUA ainda não terminou, o presidente da distrital do Fed em Minneapolis, Neel Kashkari, afirmou que não está pronto para falar sobre o fim das altas de juros do país. Segundo o dirigente, apesar do progresso feito na pressão dos preços, a taxa inflacionária segue “muito alta” nos Estados Unidos e que o BC está “longe” de começar a falar de corte de juros.

Sobre isso, o Bank of America projeta que a autoridade monetária americana deverá ter o ciclo de cortes de juros mais lentos da história, considerando a expectativa de corte de 100 pontos-base até dezembro de 2024.

Esse cenário levou cautela às bolsas de Nova York, com destaque para a fraqueza do setor bancário após analista da Fitch apontar que dezenas de bancos americanos correm risco de rebaixamento do rating. Enquanto o Bank of America cedeu 3,20%, o Wells Fargo caiu 2,31% e o JP Morgan teve queda de 2,55%. Hoje, o índice Dow Jones caiu 1,02%, o S&P cedeu 1,16% e o Nasdaq fechou em baixa de 1,14%.

A cautela também surgiu de temores sobre a economia da China após o país reduzir suas taxas de juros – sinalizando que as principais taxas de empréstimo deverão ser cortadas ainda este mês. Entretanto, tanto a Pantheon quanto a ANZ destacam que os cortes de juros não são o suficiente para resolver os problemas econômicos.

Essa visão levou fraqueza às commodities, com o cobre para setembro negociado na Comex, na Nymex, fechando em baixa de 1,56 %. Já o petróleo caiu mais de 1%. Na visão da Oanda, o mercado de petróleo pode permanecer apertado, “mas a maioria das manchetes está se tornando pessimista para o lado da demanda”. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para setembro fechou em baixa de 1,84% (US$ 1,52), a US$ 80,99 o barril. O petróleo Brent para outubro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em queda de 1,51% (US$ 1,32), a US$ 84,89 o barril.

Os juros dos Treasuries ficaram sem direção única. O dia começou com os rendimentos em queda, mas o retorno da T-note de 10 anos chegou a subir nas máximas desde outubro de 2022, enquanto o do T-bond de 30 anos avançava no fim do dia. Na visão da Capital Economics, o avanço dos juros destacam “que o impacto total do aperto do Fed ainda está se manifestando”. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos cedia a 4,948%, o da T-note de 10 anos avançava a 4,216% e o do T-bond de 30 anos tinha alta a 4,319%.

Já o dólar subia levemente ante moedas fortes por volta, após oscilar entre altas e baixas durante o dia. O euro, por sua vez, reagiu à melhora do índice ZEW de expectativas econômicas da Alemanha de agosto, “um sinal de esperança de que a maior economia da Europa pode virar a esquina nos próximos meses”. Já a libra reagiu à interpretação de que a força dos salários do Reino Unido podem manter “o caminho livre” para mais aperto monetário pelo Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês).

No horário, o índice DXY, que mede a moeda americana ante seis rivais fortes, avançava 0,06%, a 103,249 pontos. O euro recuava a US$ 1,0904, enquanto a moeda americana subia a 145,58 ienes. A libra subia a US$ 1,2699.

O dólar blue, por sua vez, renovou novamente máxima histórica ante a moeda da Argentina, chegando a bater os 730 pesos, mesmo com nova intervenção do Banco Central no câmbio. Na visão da Capital Economics, o país não deverá escapar do calote de sua dívida soberana e a moeda local deverá desacelerar ainda mais. Hoje, a Argentina também afirmou que seu índice de preços ao consumidor (CPI, pela sigla em inglês) subiu 6,3% em julho ante junho, chegando a 113,4%, na comparação anual.

Mais cedo, o candidato ultradireitista do país Javier Milei, que foi o candidato mais votado nas eleições primárias da Argentina no último domingo, disse que o Fundo Monetário Internacional (FMI) entrou em contato com a sua equipe para agendar uma reunião. (Natália Coelho – [email protected])

JUROS

Em mais um dia de cautela nos mercados internacionais, os juros futuros avançaram nesta terça-feira também afetados por questões domésticas, resultando no reforço da trajetória de alta que já ditava ontem a dinâmica das taxas. Do exterior, novos dados frustrantes da economia da China e vendas do varejo acima do esperado nos EUA reforçaram a postura defensiva dos agentes. Internamente, saiu o temido, mas visto como necessário, aumento dos preços de combustíveis, num dia que ainda teve apagão no País e mais ruídos envolvendo a relação entre a Câmara e o Executivo. Assim, as apostas para a política monetária ficaram mais conservadoras.

Às 17h20, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 estava em 12,455%, de 12,452% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 subia de 10,45% para 10,49%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 10,19% (10,15% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 avançava para 10,72%, de 10,68%.

Apesar do combo negativo tanto aqui quanto no exterior, a alta das taxas foi limitada, porque a curva já tinha mostrado ontem abertura relevante e, ainda os preços das commodities caíram, o que suaviza a pressão vinda do dólar, que hoje flertou com o nível de R$ 5 (R$ 4,9977 na máxima), sobre a inflação. O petróleo fechou em baixa, assim como os grãos, mas o minério de ferro subiu.

O estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, afirma que a abertura da curva local se dá sobretudo pela cautela vinda do exterior. Na esteira dos recentes números fracos da balança comercial, da deflação e dos problemas no setor imobiliário, ontem saíram dados decepcionantes da indústria na China, que preocupam o investidor quanto ao fôlego do país asiático. “Mesmo o corte de juros realizado pelo BC não foi suficiente para impedir um novo dia de aversão ao risco”, disse. Nos EUA, a preocupação é inversa, com dados forte do varejo sugerindo economia aquecida e que o Federal Reserve poderá retomar o aperto monetário após a esperada pausa em setembro.

No Brasil, a Petrobras anunciou reajustes de 16,2% para a gasolina e de 25,8% para o diesel, a partir de amanhã. Para a inflação ao consumidor, o que mais afeta é a gasolina, que vai subir R$ 0,41 por litro, com impacto no IPCA estimado em cerca de 0,40 ponto porcentual, dividido entre agosto e setembro. Na sequência do anúncio, várias casas ajustaram suas previsões para o índice, caso do Itaú, que elevou sua projeção para 2023 de 4,9% para 5,1%. Para 2024, a expectativa permanece em 4,3%.

A escalada do petróleo somada à piora do câmbio nos últimos dias fez disparar a defasagem ante os preços internacionais e a elevação do preço interno era vista como inevitável. De todo modo, acabou inibindo as apostas na aceleração do ritmo de cortes da Selic no Copom de setembro. De acordo com Rostagno, os DIs embutiam nesta tarde -56 pontos-base para a Selic no próximo encontro, ou 76% de chance de nova dose de 0,50 ponto porcentual contra 24% de probabilidade de queda de 0,75. Ontem, esse quadro era de 70% e 30%, respectivamente.

“O mercado aumentou a chance de ampliação no ritmo de corte nos meses à frente”, disse o estrategista, citando que para as reuniões de dezembro e fevereiro de 2024 a precificação é de -59 pontos. Para o fim de 2023, a curva projeta Selic de 11,50% e para o fim de 2024, em torno de 9%.

Em evento na sede da Frente Parlamentar do Empreendedorismo (FPE), o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que tentativas de se reduzir a Selic no passado em um processo pouco crível tiveram o efeito inverso, gerando aumento de juros. Ele alertou para o risco de se cortar os juros curtos e provocar uma elevação na curva de juros. “Se eu não consigo fazer uma queda de juros com credibilidade, eu não vou atingir meu objetivo. O objetivo da queda de juros é gerar liquidez”, afirmou.

Enquanto pela manhã a curva estava mais desinclinada, com a ponta curta exibindo viés de alta e os longos, de baixa, à tarde, todas as taxas passaram a subir, ainda que com moderação. Um dos gatilhos é o aumento do desconforto com os ruídos políticos, acentuados ontem pelas declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, segundo o qual a Câmara está com um poder que ele nunca tinha visto.

O presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e líderes partidários remarcaram a reunião para discutir as alterações feitas pelo Senado no projeto de lei do arcabouço fiscal para próxima segunda-feira, 21, segundo o relator da matéria, deputado Cláudio Cajado (PP-BA). De acordo com o parlamentar, ainda não existe “compromisso” para o prazo de votação do projeto.

Analistas da Levante Investimentos lembram que há pouco mais de um mês as expectativas eram de que a tramitação rápida da reforma tributária fosse uma indicação de que Executivo e Legislativo haviam se acertado, e isso permitiria um ciclo virtuoso de redução dos juros, diminuição do déficit público, que permitiria uma baixa da inflação e novos cortes na Selic. “Porém, essa percepção otimista – e as percepções sempre tendem a ser amplificadas pelo mercado – não se confirmou”, afirmam, em relatório. (Denise Abarca – [email protected])