DI TEM LIQUIDAÇÃO COM FISCAL, ATA E EXTERIOR; BOLSA E REAL TÊM MÍNIMAS DESDE JUNHO

A já conturbada perspectiva para as contas públicas brasileiras ganhou um novo ingrediente que fez acender o alerta dos especialistas, e que provocou uma queda pronunciada dos preços dos ativos brasileiros. O cenário já vinha sendo ruim pela pressão externa, hoje mais uma vez iniciada a partir da reprecificação de juros longos nos Estados Unidos, com o rendimento da T-bond de 30 anos nos níveis máximos desde 2011. Por causa disso, o movimento externo acabou superando as atenções dos agentes nas últimas sessões. Hoje, contudo, com a estratégia do governo em acionar o Supremo Tribunal Federal para mudar a forma de pagar os precatórios e contabilizar essa dívida no resultado primário, o motivo local praticamente igualou-se em fator de aversão ao risco na renda fixa. Uma parcela dos agentes vê na medida uma brecha para contabilidade criativa, reativando as lembranças da gestão de Dilma Rousseff. O governo, no entanto, nega essa alegação e diz que as mudanças visam corrigir a inconstitucionalidade da “PEC dos Precatórios”. Mas a versão do governo pouco ecoou no mercado, que viu a ação como mais um gatilho para acompanhar os movimentos externos. A curva de juros disparou 25 pontos-base nos vencimentos mais relevantes, com liquidez forte. Nos prazos mais curtos, houve ainda a influência da ata do Copom, reiterando o plano de voo de cortes de 50 pontos-base. A curva indicou ainda que a Selic terminal deve ser de 10%, de algo mais próximo de 9% até antes da reunião da semana passada. Essas pressões todas colocaram o Ibovespa em queda forte. O índice desceu aos 114.193,43 pontos (-1,49%), menor cotação desde 5 de junho. O dólar voltou a flertar com o nível de R$ 5, mas arrefeceu um pouco o movimento nos minutos finais. No segmento à vista, a moeda americana subiu a R$ 4,9871 (+0,42%). Lá fora, todos os índices americanos recuaram mais de 1% e o DXY aproximou-se de níveis de novembro do ano passado, acima dos 106 pontos.

•JUROS

•BOLSA

•CÂMBIO

•MERCADOS INTERNACIONAIS

JUROS

Os juros futuros deram sequência ao movimento de ontem, com alta generalizada das taxas e mais expressiva nos vértices intermediários, que nas máximas à tarde chegaram a abrir 25 pontos-base ante os ajustes de ontem. Nesta terça-feira, vários fatores internos acabaram exacerbando na curva o efeito negativo do ambiente internacional, marcado mais uma vez por elevação das taxas dos Treasuries longos e do dólar, temperado ainda pelo avanço do petróleo.

No Brasil, a ata do Copom e a nova estratégia do governo para resolver a questão dos precatórios pesaram, com ajuda do comportamento de serviços dentro do IPCA-15, que veio pouco abaixo da mediana das estimativas. No cômputo geral, o mercado por ora parece ter se convencido de que o Copom não deve acelerar o ritmo de cortes da Selic. Nos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), não só a precificação para queda de 75 pontos-base nas próximas reuniões caiu bastante, como para o fim do ciclo a projeção agora é de taxa ainda em dois dígitos.

Às 17h20, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,755% (máxima), de 10,575% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 ia de 10,33% para 10,58%. O contrato para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,87% (10,62% ontem). A taxa do DI para janeiro de 2029 avançava de 11,20% para 11,43% (máxima). A do DI para janeiro de 2031 saltava a 11,74%, de 11,51% ontem.

O giro de contratos foi robusto e a inclinação medida entre os vértices para janeiro de 2029 e janeiro de 2025 avançou mais, a 68 pontos, ante 62 ontem.

Dentro da liquidação dos ativos domésticos, o miolo da curva foi um dos mais afetados, na medida em que a o clima no exterior e a piora na percepção fiscal acabam interferindo na percepção sobre o ciclo para Selic.

“A ata veio pesada e consolidou a ideia de que não vai ter corte de 75”, disse a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese. Ela destaca como pontos hawkish do documento as menções às taxas de juros de longo prazo nos países avançados e a ampla discussão sobre os fatores de resiliência da atividade doméstica. Do exterior, avalia que os retornos dos Treasuries nestes níveis num cenário orçamentário complicado nos EUA ampliam a aversão ao risco, com ajuda ainda do avanço nos preços do petróleo.

De acordo com cálculos do economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, no meio da tarde, a curva preservava apenas 10% de probabilidade de redução de 75 pontos da Selic nas próximas reuniões até janeiro. “Na de março, já temos 48 pontos”, disse. Ou seja, naquele mês já há projeção de corte menor do que 50. O economista explica que a manutenção de alguma chance de 75 nos próximos encontros do Copom se dá muito mais porque 50 pontos, sendo consenso, é a chamada “aposta de graça”, do que por convicção.

Na ata, os diretores afirmaram sobre os próximos passos que concordaram unanimemente com a expectativa de cortes de 0,50 ponto e avaliaram que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária ao processo desinflacionário. “O Comitê julga como pouco provável uma intensificação adicional do ritmo de ajustes, já que isso exigiria surpresas positivas substanciais que elevassem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva”, repetiu o BC como na ata de agosto.

Para o fim de 2023, a curva indica Selic próxima de 11,75%. Para o fim de 2024, a precificação, que já chegou a ficar abaixo de 9%, nesta tarde era de 10%.

No exterior, os retornos dos Treasuries de longo prazo subiram de forma até moderada, mas, como observa o economista Vitor Beyruti, da Guide Investimentos, o problema é que vêm avançando de forma contínua. “Isso amplia os receios sobre o crescimento global e com os EUA ainda em risco de shutdown”, pontuou. À tarde, a taxa do T-Bond de 30 anos chegou a bater em 4,7% pela primeira vez em mais de 12 anos. O yield da T-Note de dez anos, na máxima, hoje foi à 4,56%.

A pressão do câmbio também não ajuda o DI, ainda mais com a alta do petróleo exacerbando as chances de novo aumento nos preços dos combustíveis. A moeda à vista fechou em R$ 4,9871, mas flertando com os R$ 5 na máxima de R$ 4,9936.

O IPCA-15 de setembro, de 0,35%, veio abaixo da mediana das estimativas (0,37%), mas o que o mercado olhou mesmo foram os preços de serviços e serviços subjacentes, que avançaram além do esperado, endossando a mensagem da ata de que o espaço para corte da Selic é mesmo limitado a 50 pontos.

O dia teve ainda a repercussão negativa da proposta do governo de rever o pagamento de precatórios alterado pela PEC aprovada em 2021 e que fixou um teto anual para essas despesas. O governo pediu que o Supremo Tribunal Federal (STF) classifique parte do montante como despesa financeira. A expectativa é quitar cerca de R$ 95 bilhões de fatura acumulada desde a aprovação da medida e planeja alterar definitivamente a forma como esses pagamentos são computados na contabilidade federal.

A sensação no mercado é de novo “malabarismo fiscal”. “Soa como pedalada. É uma primeira exceção sendo almejada pelo governo e isso acaba pesando num dia em que a agenda econômica e o exterior atrapalharam”, disse Beyruti.

Para o Tesouro, o clima pesado resultou em mais um leilão com lotes pequenos de NTN-B e, ainda assim, vendidos parcialmente. Da oferta de 400 mil, foram colocados 275.750.

BOLSA

Em dia amplamente negativo também em Nova York, o Ibovespa costurou a quarta perda consecutiva, hoje em grau maior, em baixa de 1,49% no fechamento, aos 114.193,43 pontos, agora no menor nível desde 5 de junho (112.696,32 pontos). Após ter oscilado ontem menos de 500 pontos entre a mínima e a máxima do dia, o índice da B3 operou em amplitude maior nesta terça-feira, dos 114.162,28 (-1,52%), do fim da tarde, até os 115.922,45, nível correspondente à máxima da sessão, na abertura.

O giro subiu a R$ 23,0 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa cai 1,56%, passando hoje ao negativo no acumulado do mês (-1,34%), que termina na sexta-feira para a B3. No ano, o índice sobe 4,06%. Em Nova York, as perdas desta terça-feira ficaram em 1,14% (Dow Jones), 1,47% (S&P 500) e 1,57% (Nasdaq).

Apesar da alta de 0,7% para o Brent na sessão, perto de US$ 94 por barril, Petrobras (ON -2,76%, PN -2,31%, ambas nas mínimas do dia no fechamento) apararam os ganhos em torno de 5% que ainda sustentam no mês, alinhando-se na sessão a outro peso-pesado do Ibovespa, Vale (ON -1,56%), em dia também negativo para as ações de grandes bancos, como Bradesco (ON -1,45%, mínima do dia no encerramento; PN -1,06%), BB (ON -1,42%) e Itaú (PN -1,48%).

Na ponta ganhadora do Ibovespa, as duas ações de Eletrobras (PNB +1,88%, ON +0,92%), após troca de CFO [Chief Financial Officer, principal executivo da área de finanças] bem recebida pelo mercado, além de BRF (+2,79%) e Casas Bahia (+1,69%). Dez ações da carteira Ibovespa, de 86 papéis, conseguiram fechar o dia com ganhos.

A Eletrobras informou nesta terça-feira que Elvira Presta renunciou ao cargo de vice-presidente financeira e de relações com investidores da companhia, e será substituída por Eduardo Haiama. O comunicado da companhia de energia não informa o motivo da renúncia da executiva, que ocupava o cargo desde 2019.

No quadro mais amplo, como pano de fundo para as commodities – hoje, o contrato futuro de minério de ferro mais negociado, para janeiro de 2024, fechou em baixa de 1,64% em Dalian, a US$ 115 por tonelada -, o mercado tem tomado nota de sinais cada vez menos animadores sobre o ritmo de atividade na China. Em evento no Rio de Janeiro, o economista Paul Krugman afirmou hoje que o tempo de “crescimento heroico da China acabou”. O país é “um grande comprador de commodities, então, para países produtores, isso é um problema”, acrescentou Krugman, agraciado com o Prêmio Nobel de Economia em 2008.

Segundo ele, os números mais recentes mostram que o crescimento sustentável da economia chinesa provavelmente está próximo de 3%, taxa muito inferior à vista nas últimas décadas, reporta do Rio o jornalista Matheus Piovesana, enviado especial do Broadcast.

“Mercado tem estado bem mais cauteloso com a questão da China, o que levou a ação da Vale a bater [como ontem] em mínima a R$ 65. O petróleo [em baixa ontem] também já tinha precificado uma demanda global mais lenta”, diz Gabriel Mota, assessor de renda variável da Manchester Investimentos, destacando também, desde a segunda-feira, o ressurgimento, com intensidade, de temores em relação ao setor imobiliário chinês, segmento de peso significativo no PIB da segunda maior economia do mundo.

“Bolsa sofreu muito hoje, com o Ibovespa voltando para os 114 mil pontos, puxado bastante também por ações com exposição ao ciclo doméstico. Desde o exterior, mercado se mostra agora muito mais avesso a risco do que se podia perceber há algumas semanas, com muita deterioração no humor dos investidores”, diz João Piccioni, analista da Empiricus Research. Ele destaca também a ata do Copom, divulgada na manhã desta terça-feira, que corroborou o tom cauteloso do BC, ratificando o ritmo de cortes da Selic em meio ponto porcentual até o fim do ano. Assim, com mais duas reuniões do Copom pela frente, em novembro e dezembro, a taxa básica de juros deve encerrar mesmo 2023 a 11,75% ao ano.

“Os juros de mercado, no exterior, continuam a subir. Os dados americanos estão vindo mais acomodados, o que contribuiu para uma volatilidade maior na sessão”, acrescenta o analista, chamando atenção em especial para o VIX – métrica com base em opções sobre o S&P 500, tida como o índice do “medo” em Nova York -, que chegou a um nível na sessão desta terça-feira não visto, segundo ele, nem mesmo durante o ‘spike’ [de volatilidade] observado em agosto. “Os investidores estão mais reticentes na alocação [de recursos] lá fora. Há uma aversão a risco global.”

“Há piora expressiva na curva de juros, que vem da semana passada, o que tem se refletido em máximas desde a última crise financeira global, em 2007, para os rendimentos dos Treasuries”, destaca Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, em referência ao tom ‘hawkish’, duro, da comunicação do Federal Reserve na decisão de política monetária da quarta-feira passada, dia 20.

“A preocupação ao redor do planeta é de que os juros sigam altos por mais tempo do que se previa anteriormente, e que isso cause recessão em nível global. Aqui no Brasil, Vale e Petrobras puxaram o Ibovespa para baixo, com as notícias sobre o setor imobiliário na China, que ainda preocupam os mercados”, aponta Gabriel Duarte, analista da Ticker Research. Ele destaca, em especial, o noticiário em torno da incorporadora chinesa Evergrande, em “dificuldade para organizar um processo de reestruturação da dívida, o que causa preocupação em relação ao crescimento do país”.

Por sua vez, na maior economia do mundo, os dados dos Estados Unidos nesta terça-feira também não contribuíram para animar os investidores. “Houve piora da confiança do consumidor em relação à medição anterior, e o número de vendas de casas novas veio abaixo do esperado, refletindo as dificuldades enfrentadas pelo setor imobiliário [também nos EUA], com taxas das hipotecas elevadas”, diz Gabriel Costa, analista da Toro Investimentos.

Nesse contexto menos favorável ao apetite por risco, o destaque da agenda doméstica nesta terça-feira – divulgado de manhã pelo IBGE -, o IPCA-15 referente a setembro, em linha com o consenso para o mês, foi uma nota de rodapé na sessão. “A inflação veio bem comportada no IPCA-15, e com abertura benigna. Serviços subiram um pouquinho, mas os núcleos de maneira geral desaceleraram, assim como o índice de difusão, o que é uma boa notícia”, diz Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:32

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 114193.43 -1.49337

Máxima 115922.45 -0.00

Mínima 114162.28 -1.52

Volume (R$ Bilhões) 2.30B

Volume (US$ Bilhões) 4.63B

17:38

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 114855 -1.87108

Máxima 116670 -0.32

Mínima 114835 -1.89

CÂMBIO

Após ensaiar uma queda pela manhã no mercado doméstico, em aparente movimento de realização de lucros, o dólar ganhou força ao longo da tarde em meio ao aumento da aversão ao risco no exterior e ao avanço das taxas dos Treasuries. Na última hora de negociação, com piora das Bolsas em Nova York e escalada dos juros longos nos EUA, a moeda rompeu R$ 4,99 e tocou máxima a R$ 4,9936. No fim do dia, o dólar subia 0,42%, cotado a R$ 4,9871 – maior valor de fechamento desde 1º de junho (R$ 5,0064).

Apesar da agenda doméstica carregada, com divulgação do IPCA-15 de setembro e da ata do encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central na semana passada, o quadro externo foi, mais uma vez, preponderante na formação da taxa de câmbio. Aos temores relacionados ao setor imobiliário chinês e a perspectiva de juros elevados por período prolongado nos EUA, reforçada pela alta dos preços do petróleo, soma-se a preocupação com eventual paralisação parcial do governo americano, dado o impasse no Congresso dos EUA para aprovação do orçamento.

“Temos uma aversão a risco generalizada no mundo que leva naturalmente a uma corrida pelo dólar. Há preocupação com o risco de shutdown nos EUA em meio a uma pressão por mais gastos. Os preços dos ativos estão assimilando a perspectiva de juros mais altos nos EUA por mais tempo”, afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, acrescentando que, por ora, o dólar respeita o nível psicológico de R$ 5,00 no curto prazo. “Quando se aproxima de R$ 5,00, aparece uma força vendedora muito forte. Mas se o ambiente externo piorar ainda mais, com pressão nas taxas longas nos EUA e desaceleração na China, isso pode mudar.”

Com a busca global por dólar, o índice DXY passou o dia em alta firme e tocou máxima aos 106,261 pontos. A moeda americana subiu em bloco em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, incluindo as moedas latino-americanas pares do real. A taxa da T-note de 30 anos superou a marca de 4,7% pela primeira vez em mais de 12 anos. O retorno da T-note de 10 anos voltou a ultrapassar a barreira de 5,55%. Indicadores americanos divulgados hoje – confiança do consumidor e venda de moradias novas – decepcionaram, balançando a aposta em pouso suava da maior economia do mundo.

Na outra ponta da gangorra, as commodities metálicas amargaram mais uma sessão de perdas, com o contrato do minério de ferro para janeiro de 2024 na bolsa de Dailan fechando em baixa de 1,64%. Já os contratos do petróleo fecharam em alta, acima do piso de US$ 90. O contrato do Brent para dezembro subiu 0,72%, a US$ 93,96 o barril. Teme-se que o avanço dos preços dos combustíveis retarde o processo de desinflação nos EUA.

“Vimos uma piora dos ativos com a alta mais forte das taxas dos Treasuries e a preocupação com o impacto dos preços do petróleo, com problemas de oferta na Rússia. Além disso, há o risco de desaceleração mais forte da economia chinesa”, afirma a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.

Com alta de juros elevados nos EUA por mais tempo e processo de cortes da taxa Selic, analistas alertam que haver estreitamento do diferencial entre taxas internas e externas, o que pode tirar parte da atratividade do real no médio prazo. A ata do encontro do Copom na semana passada trouxe um tom duro e reforçou o ritmo de redução em 0,50 ponto porcentual nas próximas reuniões do comitê.

Pela manhã, o diretor de política monetária do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse, ao participar de debate sobre aumentou ou manutenção das reservas internacionais, que não há intenção de mudar a política cambial em meio ao início do ciclo de corte de juros. “Vamos observar como as coisas se comportam a partir desse ciclo e vamos manter a política cambial que está sendo feita”, declarou o diretor do BC, em referência à rolagem de swaps cambiais, acrescentando que o real sofre, como outras moedas emergentes, com o nível elevado de juros nos EUA.

“Parte do mercado acreditava que a ata pudesse trazer sinais de aumento do ritmo de baixa, mas o BC deixou claro que vai manter o passo, com quedas de 0,50 ponto, e reforçou a preocupação com o quadro fiscal, que pode afetar a inflação”, afirma Quartaroli, do Banco Ourinvest.

O IBGE informou que o IPCA-15 acelerou de 0,28% em agosto para 0,35% em setembro. O resultado, contudo, veio ligeiramente abaixo da mediana das estimativas de projeções Broadcast (0,37%). Em geral, casas avaliaram que o índice mostrou ainda composição benigna da inflação, com arrefecimento de núcleos, além de menor difusão. O Barclays revisou sua projeção para o IPCA deste ano de 5,1% para 4,9%. (Antonio Perez – [email protected])

17:38

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.98710 0.4208 4.99360 4.95290

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4989.500 0.35197 4995.000 4953.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5010.500 0.38065 5015.000 4985.000

MERCADOS INTERNACIONAIS

Os principais índices das bolsas de Nova York fecharam com mais de 1% de queda, com deterioração de empresas intensivas em tecnologia, levando o índice VIX de volatilidade a saltar quase 20% no pregão. A visão de juros mais altos por mais tempo ainda guia o mercado, assim como dúvidas sobre a chance de um pouso suave, apesar de dirigente do Federal Reserve (Fed) ter reforçado essa ideia, mas na condição de mais uma alta de juros. Assim, o rendimento do T-bond de 30 anos avançou à máxima desde 2011, seguindo a alta dos retornos Treasuries, enquanto o dólar subia ante moedas fortes e emergentes. Já entre commodities, o petróleo voltou a operar em alta após queda de ontem, com o WTI voltando à marca de US$ 90 o barril.

A Oanda avalia que a fraqueza das ações em Nova York ocorre em meio a um período de incertezas sobre a economia dos Estados Unidos e sobre a trajetória da taxa de juros do BC americano, levando receio aos investidores. No caso do Fed, a análise destaca que os dirigentes também têm estado numa campanha ‘hawkish’, “defendendo as perspectivas de outro aumento das taxas para combater a economia extremamente resiliente que ameaça comprometer o objetivo do banco central de devolver a inflação à meta de forma sustentável”.

Já a Oxford Economics destaca a desaceleração da confiança do consumidor dos Estados Unidos, que caiu pelo segundo mês consecutivo, reforçando as projeções de um abrandamento do consumo no quarto trimestre. “O enfraquecimento das perspectivas do mercado de trabalho e o aumento dos preços da gasolina estão pesando particularmente nas perspectivas dos consumidores para os próximos meses, com o índice de expectativas impulsionando a queda”.

Entre as empresas em destaque, a CMC Markets aponta a queda da Tesla, que cede em meio a relatos de que suas exportações produzidas na China poderiam terminar devido a problemas com a regulamentação da União Europeia (UE). Assim, o papel da gigante de veículos elétricos caiu 1,16%. Já a Amazon cedeu 4,03%, após a Federal Trade Comission (FTC) processar a empresa por acusação de monopólio. Hoje, o índice do Dow Jones caiu 1,14%, a maior queda desde março deste ano, enquanto o S&P 500 cedeu 1,47% e o Nasdaq teve queda de 1,57%.

As preocupações também foram acentuadas após o presidente do Fed de Minneapolis, Neel Kashkari, ter defendido mais uma alta na taxa dos Fed Funds e que provavelmente será necessário mantê-los altos por mais tempo. Ainda, Kashkari destacou que há 60% de chance de a economia dos EUA atingir um pouso suave caso haja mais uma elevação de 25 pontos-base nos juros.

O ritmo ajudou os rendimentos dos Treasuries, seguindo os temores de juros mais altos. Na visão do BMO, considerando as perspectivas de uma possível paralisação do governo americano a partir do 1º de outubro e partindo de outras interrupções recentes, os rendimentos de 10 anos caíram. “Da mesma forma, nos rendimentos de 2 anos, as três paralisações governamentais mais recentes que duraram mais de um dia deixaram as taxas mais baixas no momento em que a paralisação terminou”. No fim da tarde de Nova York, o rendimento da T-note de 2 anos subia a 5,140%, o da T-note de 10 anos tinha alta a 4.550% e o do T-bond de 30 anos avançava a 4,688%.

A possível paralisação também afeta o cenário para o dólar, apesar da moeda ter reagido ao discurso mais rígido do Fed sobre a política monetária e ter avançado ante moedas fortes. Entretanto, o Wells Fargo avalia que uma potencial paralisação do governo dos Estados Unidos poderá gerar um impacto negativo no dólar, “embora seja provavelmente modesto e de curta duração”. Em análise técnica, o banco americano destaca que a probabilidade é que o índice DXY caia a cerca entre 1% e 1,5% nas semanas após o início da medida. Hoje, entretanto, fonte da Bloomberg indicou que negociadores republicanos e democratas no Senado dos EUA se aproximam de acordo sobre uma medida legislativa de gastos de curto prazo que permita manter o governo americano funcionando depois de 1º de outubro. No fim da tarde em Nova York, o dólar avançava a 149,04 ienes, o euro tinha baixa a US$ 1,0569 e a libra recuava a US$ 1,2159. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou alta de 0,22%, a 106,231 pontos.

Olhando para as commodities, o petróleo se recuperou da queda de ontem e voltou a avançar, com expectativas de mais aperto no mercado. A Capital Economics avalia que não ficaria surpresa se o Brent ultrapassasse seu nível atual, com a demanda excedendo a oferta pelo restante de 2023, mesmo com dificuldades previstas para as outras commodities. Já a Oxford Economics prevê que os preços do óleo seguirão elevados até o fim do ano, com riscos de alta, o que ajudará a apoiar uma tendência “hawkish” do Fed no sentido tanto de mais elevações de juros quanto de taxa mais restritivas por mais tempo.

O contrato do WTI para novembro fechou com ganho de 0,79% (US$ 0,71), a US$ 90,39 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para dezembro subiu 0,72% (US$ 0,67), a US$ 93,96 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).