DI TEM ALÍVIO, DÓLAR CAI A R$ 4,85 E BOLSA RETOMA 118 MIL PONTOS COM APETITE A RISCO

A combinação do noticiário local e internacional deu um impulso ao apetite ao risco na sessão desta quarta-feira, que resultou em um alívio forte da curva de juros, na queda de quase 10 centavos do dólar e na tentativa da Bolsa de retornar aos 118 mil pontos. Internamente, o investidor seguiu comemorando a aprovação final do arcabouço fiscal pela Câmara, que aparou algumas flexibilizações acrescentadas pelo Senado e que desagradaram ao mercado. Embora o desafio agora seja o cumprimento da nova meta para as contas públicas, a votação ativou o otimismo do mercado quanto à retomada da agenda de reformas no Congresso. A aprovação na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado do projeto de lei que retoma o voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), medida essencial para aumento da arrecadação, ganhou um sentido maior, como reflexo dessa tendência. Do exterior, o mercado de Treasuries teve um dia menos pressionado, com os agentes de olho nos índices dos gerentes de compras (PMI) dos Estados Unidos e da Europa dando sinais de desaquecimento econômico. Na curva de juros local, a devolução de prêmios encostou nos 20 pontos-base nos contratos de prazo mais longo. No câmbio, o real teve a melhor performance entre as principais moedas negociadas no mundo, ancorado ainda na valorização forte do minério de ferro na China. O dólar à vista recuou aos R$ 4,8554 (-1,73%). Com alta forte de Petrobras (ON +5,70% e PN +5,33%) e ganho de Vale ON (+0,74%), o Ibovespa terminou o dia na máxima, aos 118.134,59 pontos (+1,70%). Nas bolsas de Nova York, o maior ganho foi do Nasdaq (+1,59%). Com a descida dos rendimentos dos Treasuries, os papéis de tecnologia são os que mais se beneficiam.

•JUROS

•BOLSA

•CÂMBIO

•MERCADOS INTERNACIONAIS

JUROS

Os juros futuros percorreram toda a sessão não somente em movimento firme de queda, como renovando sucessivas mínimas ao longo do dia. A aprovação do arcabouço fiscal na Câmara, ontem, potencializou a influência benigna vinda do exterior, com expressiva queda nos rendimentos dos Treasuries e do dólar ante as demais moedas. Além da aprovação do arcabouço em si, o mercado reagiu de forma bastante positiva aos ajustes feitos pelos deputados ao texto que veio do Senado, em especial a rejeição à inclusão de aproximadamente R$ 32 bilhões em despesas condicionadas.

Às 17h, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 estava em 12,400%, de 12,416% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caía de 10,52% para 10,43%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 10,19%, de 10,36% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2029 caía de 10,87% para 10,69%.

Com o alívio externo e a melhora na percepção de risco fiscal – fatores aos quais a ponta longa responde diretamente -, a curva perdeu inclinação, com o diferencial entre os vencimentos de janeiro de 2029 e janeiro de 2025 caindo em torno de 10 pontos-base em relação a ontem, para 26 pontos. Os vencimentos a partir de 2031 chegaram a perder mais de 20 pontos ante os ajustes de ontem, enquanto, no miolo, o DI para janeiro de 2026 na mínima do dia (9,99%) voltou a cair abaixo de dois dígitos.

Na esteira da persistente pressão da curva americana e do câmbio nos últimos dias, o mercado vinha adicionando prêmios de risco nos DIs, num movimento atribuído também à falta de avanço das pautas econômicas no Congresso. Assim, a evolução sincronizada do ambiente internacional e da agenda legislativa hoje abriu espaço para uma forte correção.

“O dia seria bom de qualquer jeito, pelo exterior, mas foi o arcabouço o responsável pela magnitude da melhora tanto da curva longa quanto do câmbio”, avalia a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese.

O novo arcabouço foi aprovado por ampla margem, 379 a 64, e agora vai para a sanção presidencial. Os deputados mantiveram o Fundeb e os recursos do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF) fora do limite de gastos. Contudo, foi retirada a permissão incluída pelo Senado para que o governo pudesse prever as despesas condicionadas no Orçamento de 2024 – que dependem de aprovação de crédito adicional pelo Legislativo para serem executadas. Essa medida, que garante folga de R$ 32 bilhões, deve ser incluída no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO). A Câmara rejeitou, ainda, a emenda dos senadores que deixaria despesas com ciência e tecnologia fora dos limites fiscais.

“No fim, o projeto aprovado pelo Congresso resultou melhor e mais equilibrado que a proposta original do Executivo. Agora o desafio será colocar o novo arcabouço para funcionar e produzir resultados satisfatórios”, avalia Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Wealth Management. Para viabilizar o arcabouço, acrescenta, o governo precisa de legislação que lhe permita aumentar receitas e está enfrentando muitas dificuldades. “Está claro, por exemplo, que não há clima no Congresso, pelo menos por enquanto, para aprovar a tributação de investimentos de brasileiros no exterior.”

Outro sinal de que a agenda econômica avança no Congresso foi a aprovação, na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, do projeto de lei que retoma o voto de qualidade no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), visto como importante na busca do governo pelo incremento das receitas para cumprir as metas de primário previstas no arcabouço.

No exterior, os rendimentos dos Treasuries tombaram ao longo da sessão e ainda havia fôlego para novas mínimas no fim da tarde. A taxa da T-Note de 10 anos saiu de 4,32% para 4,18% e a de 2 anos, de 5,04% para 4,95%. O ajuste foi pavimentado pelo índices de gerentes de compras (PMIs, em inglês) fracos na Europa e nos EUA, mas o mercado segue alerta para o que pode vir do discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, no simpósio de Jackson Hole, na sexta-feira. Analistas preveem uma postura hawkish, o que deve manter os retornos dos Treasuries em níveis elevados (veja matéria especial publicada às 15h07).

Também na sexta, no Brasil, outro destaque da agenda é o IPCA-15 de agosto. A mediana das estimativas coletadas na pesquisa do Projeções Broadcast é de 0,16%, após deflação de 0,07% em julho. Para a abertura, a expectativa é de aceleração dos núcleos e preços administrados, mas serviços e serviços subjacentes devem arrefecer. (Denise Abarca – [email protected])

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BOLSA

Com forte apoio de Petrobras (ON +5,70%, PN +5,33%), o Ibovespa obteve o terceiro ganho diário do mês, e o segundo consecutivo, retomando o nível de 118 mil pontos, não visto em fechamento desde o último dia 11. Ao fim, a referência da B3 mostrava alta de 1,70%, aos 118.134,59 pontos, entre mínima de 116.158,89 e a máxima do dia no encerramento da sessão, em que saiu de abertura aos 116.159,67, quase idêntica ao piso. O giro financeiro subiu para R$ 25,3 bilhões. Na semana, o Ibovespa avança 2,36%, limitando as perdas de agosto a 3,12% – no ano, o índice sobe 7,65%.

Desde o início da tarde, a acentuação de máximas na B3 acompanhou o movimento de Nova York, onde o índice amplo, S&P 500, e o tecnológico, Nasdaq, passavam a mostrar a partir de então ganhos acima de 1% nesta quarta-feira, refletindo a melhora observada na curva de juros americana. No fechamento, que coincidiu hoje com a máxima da sessão, o Ibovespa perfurou a máxima intradia da segunda-feira, 14, da semana passada (118.081,90), quando seguia em correção – a caminho naquele momento da 10ª perda em série negativa que totalizaria 13 sessões. Olhando o copo em outra perspectiva, desde então, nas quatro últimas sessões, o Ibovespa subiu em três com a de hoje – em alta na casa de 1,5%, ontem, e de 1,7%, nesta quarta-feira.

No fechamento, Dow Jones avançava hoje 0,54%, S&P 500, 1,10%, e Nasdaq, 1,59%. “Da mesma forma que a Bolsa acompanhou os mercados de fora na queda, acompanha agora na retomada, com bom desempenho do Ibovespa nessas últimas duas sessões, em meio a essa ‘enxugada’ que se vê agora nos rendimentos dos Treasuries”, diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos, destacando também a aprovação final, na noite de ontem, do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados – “embora já estivesse amplamente colocada no preço” dos ativos, ressalva.

“Um dia de força do Ibovespa que se soma ao bom humor internacional, desde cedo. Dados mais fracos [de atividade econômica] acabaram soando bem ao mercado, fortalecendo a ideia de fim de ciclo de aperto monetário, especialmente na Europa, na véspera do simpósio de Jackson Hole, que começa amanhã”, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, referindo-se ao evento anual organizado pelo Fed de Kansas City, no Wyoming (EUA), com pronunciamentos de diversas autoridades monetárias, entre as quais o presidente do BC americano, Jerome Powell, que falará na sexta-feira. “Os dados tiveram impacto na curva de juros e, consequentemente, nos ativos financeiros”, acrescenta o analista da Empiricus.

“Os investidores acompanharam de perto, hoje, o resultado de índices de gerentes de compras (PMIs), com dados de Estados Unidos e Europa em destaque. A mensagem clara de que a economia global perde força – com PMIs registrando, em sua maioria, resultados abaixo do esperado, e alguns já sinalizando patamar de contração – alimentou o bom humor, especialmente na Bolsa”, aponta Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos, destacando o arrefecimento dos juros de longo prazo nos Estados Unidos, na medida em que o PMI composto (manufatura e serviços) mostra “cenário muito próximo de contração da maior economia do mundo”.

Apesar do sinal negativo para o petróleo, em queda de quase 1% para o Brent e o WTI nesta quarta-feira, as ações de Petrobras foram favorecidas pela recomendação de ‘compra’ feita pelo Bank of America (BofA), com preço-alvo passando de R$ 33,00 para R$ 45,00 por ação, e de US$ 13,20 para US$ 18,00 por ADR, com potencial de valorização de 34% (ON), 47% (PN) e 33% (ADR) em relação ao fechamento anterior dos papéis. Hoje, a ON fechou a R$ 35,41 e a PN, a R$ 32,24, esta na máxima do dia.

A opinião positiva do BofA se baseia nas expectativas de que a empresa pagará dividendos extraordinários, considerando que a estatal não tem uma reserva legal e, portanto, não pode reter dinheiro. E o banco acredita também que o governo brasileiro apoia dividendos extraordinários, dada a situação fiscal.

Além de Petrobras, a ação de maior peso individual no Ibovespa, Vale ON (+0,74%), embora na mínima do dia no fechamento (R$ 63,04), foi bem na sessão, em meio à recuperação dos preços do minério de ferro na China que, ontem, já haviam fechado no maior nível em três semanas. Nesta quarta-feira, o contrato futuro mais negociado do minério, em Dalian (China), fechou em alta de 3,68%.

“Ainda não há notícias positivas vindo da China e o que se vê no minério é mais uma correção técnica”, aponta Helder Wakabayashi, analista da Toro Investimentos, destacando que a melhora observada no Ibovespa, desde a manhã, decorreu também do fechamento da curva de juros brasileira. “Hoje os juros operaram num campo bom, principalmente os trechos mais longos, em retração. O fechamento da curva traz viés um pouco mais positivo para Bolsa”, acrescenta o analista.

O empresário Benjamin Steinbruch, acionista e presidente do grupo CSN, disse hoje não acreditar na possibilidade de uma recessão na China, e espera que o governo chinês venha a adotar iniciativas para impulsionar a retomada do consumo. “No mercado de mineração, a questão é a China. Quando achamos que o ambiente na China vai melhorar, piora; e quando achamos que vai piorar, melhora. Ficamos à mercê desses movimentos”, disse Steinbruch, durante participação na 24ª Conferência Anual Santander.

Além do setor de commodities, o dia também foi positivo para outro segmento de peso, o financeiro, com destaque entre os grandes bancos para Bradesco (PN +1,38%). Na ponta do Ibovespa, São Martinho (+7,64%) e Eletrobras (ON +7,31%, PNB +5,91%), além das duas ações de Petrobras, bem como de Alpargatas (+5,68%) e Locaweb (+5,56%). No lado oposto, Pão de Açúcar (-19,39%), bem à frente de Via (-2,40%), de BRF (-2,31%) e Minerva (-2,14%) na sessão.

Em relatório no qual examina a sequência de 13 perdas diárias no Ibovespa entre 1º e 17 de agosto – a maior da série iniciada em 1968 para a bolsa brasileira -, a Guide Investimentos aponta que “boa parte da explicação” para a correção em torno de 6% para o índice no intervalo decorre do ambiente externo, em razão de “dados desapontadores na China” e da “recente alta nas taxas de juros de mercado nos EUA”.

“Além dos fatores internacionais, outro ponto que vale destacar no caso do Brasil é que os resultados do 2T23 foram fracos. Empresas como Vale, Petrobras e Bradesco divulgaram resultados que desapontaram os investidores. Como estas empresas estão entre as maiores do Ibovespa, os resultados pressionaram o índice”, acrescenta.

A casa observa também, com recurso a gráficos, que nos “momentos de ‘mercado de alta’, como entre 2004 e 2007 ou entre 2016 e 2019, as correções costumam ser menores”, enquanto em “momentos de ‘mercado de baixa’, como entre 2011 e 2015, as correções costumam ser maiores e mais frequentes”.

“Nossa visão é de que o mercado de ações ainda está em tendência de alta, impulsionada pelo início do ciclo de cortes de juros no Brasil”, pontua a Guide, que avalia ser prudente evitar, no momento, “nomes mais cíclicos ou empresas muito endividadas e com resultados fracos” – e que a queda acumulada em agosto gera oportunidades de compra em muitas ações, sem a necessidade de escolha de “nomes muito arriscados”.

“Em agosto até agora, as maiores altas foram de empresas exportadoras como Minerva, Suzano, Embraer e BRF. Além da depreciação do real, algumas destas empresas ainda contaram com resultados fortes no 2T23 (divulgados em agosto), o que favoreceu a alta. Do lado negativo, empresas com dívida em dólar, como as companhias aéreas, e também empresas com histórico recente de resultados fracos, como Petz, Via e G. Soma, estão entre as maiores quedas”, acrescenta o relatório, assinado pelo head de research da Guide Investimentos, Fernando Siqueira. (Luís Eduardo Leal – [email protected], com Isabela Moya e Jorge Barbosa )

17:32

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 118134.59 1.70338

Máxima 118134.59 +1.70

Mínima 116158.89 0.00

Volume (R$ Bilhões) 2.53B

Volume (US$ Bilhões) 5.16B

17:34

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 120180 1.56342

Máxima 120270 +1.64

Mínima 118265 -0.05

CÂMBIO

O dólar à vista aprofundou o ritmo de baixa ao longo da tarde e, após registrar mínima a R$ 4,8519, encerrou a sessão desta quarta-feira, 22, em queda de 1,73%, cotado a R$ 4,8554 – menor valor de fechamento desde 2 de agosto. Foi o segundo pregão consecutivo de perdas firmes da moeda americana, que já acumula recuo de 2,27% na semana. Os ganhos em agosto, que chegaram a se aproximar de 6% quando o taxa de câmbio flertou com os R$ 5,00, agora são de 2,66%.

À aprovação final do arcabouço fiscal por ampla margem na Câmara dos Deputados ontem à noite somou-se hoje um ambiente externo positivo para divisas emergentes, que subiram em bloco na comparação com a moeda americana. O real liderou o pelotão, ao lado do rand sul-africano e do peso chileno. As taxas dos Treasuries recuaram, com o retorno da T-note de 10 anos voltando a operar abaixo de 4,20%, na esteira de dados abaixo do esperado de índices de gerentes de compras (PMIs, na sigla em inglês) nos EUA e na Europa.

Na contramão do comportamento dos contratos futuros de petróleo, que fecharam em baixa, as commodities metálicas avançaram. O contrato futuro mais negociado do minério de ferro, na Dalian Commodity Exchange da China, fechou em alta de 3,68%. Em Qingdao, o minério de ferro negociado à vista subiu 2,17%.

Por aqui, operadores relataram apetite de estrangeiros por ações, com o Ibovespa em alta superior a 1%, e pressão vendedora no segmento futuro. Após dois dias de giro muito fraco, o contrato de dólar futuro para setembro – principal termômetro do apetite por negócios – movimentou mais de US$ 12 bilhões.

O head da Tesouraria da Travelex Bank, Marcos Weigt, observa que o real se destacou hoje no mercado global de moedas, apresentando, ao lado do rand sul-africano, os maiores ganhos em relação ao dólar. Ele observa que o real subiu mais 1,7%, enquanto o peso mexicano, com o qual a moeda brasileira é bastante correlacionada, teve alta ao redor de 0,7%.

“Temos fatores com os Treasuries e as commodities ajudando o real. Mas tem um peso relevante do arcabouço fiscal no comportamento do real. Além da queda do dólar, estamos vendo um recuo dos juros futuros longos e a alta da Bolsa”, afirma Weigt, acrescentando que a aprovação por ampla margem mostrou mais uma vez o que a Câmara dos Deputados “segura as pontas” na questão fiscal. “O arcabouço não é o ideal. Parece difícil fechar o ano que vem sem déficit porque precisa aumentar bastante a receita. Mas evita o risco de cauda de crescimento explosivo de gastos e da relação dívida/PIB, o que dá tranquilidade não apenas ao mercado financeiro mais a todos os agentes econômicos”.

A Câmara aprovou ontem o novo arcabouço, após as mudanças do Senado, com 379 votos a favor e 64 contrários. Deputados mantiveram fora do limite de gastos o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e os recursos do Fundo Constitucional do Distrito Federal (FCDF). Foi retirado do texto pelo relator da matéria, deputado Claudio Cajado (PP-BA), a emenda do Senado que permitia ao governo prever as chamadas despesas condicionadas no Orçamento de 2024. Essa medida, que garante uma folga de R$ 32 bilhões, deve ser incluída no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO). A Câmara rejeitou, ainda, a emenda dos senadores que deixaria despesas com ciência e tecnologia fora dos limites fiscais.

Além do arcabouço fiscal, o governo colheu outra vitória hoje no Congresso. A Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado aprovou o projeto de lei que retoma o voto de qualidade do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) sem alterações relevantes em relação ao texto que saiu da Câmara. Uma das iniciativas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para ampliar as receitas e cumprir a metas de resultado primário, o projeto já foi encaminhado ao plenário e pode ser apreciado ainda hoje.

Para o economista-chefe da Azimut Brasil Wealth Management, Gino Olivares, o texto do arcabouço aprovado no Congresso é “melhor e mais equilibrado que a proposta original” do governo. A questão agora é emplacar projetos de aumento de receitas que, por ora, parecem enfrentar dificuldades no Parlamento.

“Está claro, por exemplo, que não há clima no Congresso, pelo menos por enquanto, para aprovar a tributação de investimentos de brasileiros no exterior. A aprovação do novo arcabouço representa uma vitória para o governo, mas ainda estamos longe de garantir a sustentabilidade das contas públicas”, afirma Olivares, em nota.

À tarde, o Banco Central informou que o fluxo cambial total em agosto (até o dia 18) é positivo em US$ 3,790 bilhões – graças a entrada líquida de US$ 4,156 bilhões via comércio exterior. Houve saída líquida de US$ 366 milhões pelo canal financeiro nesse período. Na semana passada (entre 14 e 18), o fluxo total foi negativo em US$ 1,959 bilhão, com retirada líquida de US$ 2,205 bilhões pelo canal financeiro e entrada de US$ 246 milhões no comércio exterior. (Antonio Perez – [email protected])

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MERCADOS INTERNACIONAIS

Sinais de desaceleração das principais economias do mundo aumentaram as expectativas de que os bancos centrais sejam menos rígidos nas próximas decisões monetárias, o que pesou nos juros dos Treasuries, após renovarem máximas em anos nos últimos dias, e deu fôlego aos mercados acionários de Nova York, com o Nasdaq fechando em alta de 1,59%. A perspectiva de desaceleração econômica, entretanto, pesou no petróleo. No câmbio, o dólar não fixou sinal único, caindo ante euro e iene, mas ainda cedendo ante a libra. O dólar também caía ante emergentes, em meio a notícias sobre a Cúpula dos Brics. Na Argentina, o dólar blue subia no mercado paralelo. Hoje, o Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou o desembolso de US$ 7,5 bilhões para o país.

Após a divulgação de índices de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) menores que o esperado nos Estados Unidos e países da zona do euro em agosto, as expectativas aumentaram de que os bancos centrais poderiam levá-los em consideração nas próximas decisões de juros, o que ajudou a dar força às bolsas de nova York, segundo avalia a Oanda.

O estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz, também destaca as expectativas para o simpósio Jackson Hole, que começa amanhã, como um fator que influencia o bom posicionamento das bolsas hoje, visto que o mercado parece estar “confiante” com o evento.

Investidores também acompanharam a força do setor de tecnologia e comunicação, que tinha como destaque a Alphabet, que subiu 2,55%. A empresa era seguida da Meta (+2,31%), Apple (+2,19) e Tesla (+1,57%). Nesse ritmo, o Nasdaq fechou em alta de 1,59%, enquanto o Dow Jones subiu 0,54% e o S&P 500 teve alta de 1,10%.

Segundo a CMC Markets, os mercados acionários também foram beneficiados pela queda dos juros dos Treasuries, também seguindo a perspectiva de uma política monetária menos rígida nos EUA, segundo aponta o BMO. Já para a Capital Economics, “a liquidação dos títulos do Tesouro parece ter diminuído um pouco hoje. Mas não tiveram muito alívio: o rendimento da T-note de 10 anos ainda não está muito abaixo do novo pico do ciclo que atingiu recentemente”. Entretanto, a consultoria britânica projeta que o retorno da T-note de 10 anos deverá terminar o ano “bem abaixo” de seu nível atual. No fim da tarde em Nova York, o rendimento da T-note de 2 anos caía a 4,945%, o da T-note de 10 anos recuava a 4,183% e o do T-bond de 30 anos baixava a 4,265%.

A ideia fraco desempenho da economia, entretanto, pesou no petróleo, que cedeu quase 1%, também reagindo à notícia de que a produção do Irã poderá aumentar 100 mil barris por dia até o fim de setembro, o que causaria um desequilíbrio com a demanda. A Oanda, entretanto, acredita que o mercado do óleo seguirá apertado no curto prazo, a menos que haja um abrandamento da procura.

A queda da commodity ocorreu mesmo com menor pressão do câmbio, com o dólar operando misto. A moeda chegou a ganhar força no início do dia, com a fraqueza do câmbio europeu após PMIs da zona do euro e do Reino Unido – reforçando menos rigidez monetária de seus próprios bancos centrais e, por consequência, maior fraqueza do câmbio.

O Brown Brothers Harriman, entretanto, destaca que segue confiante na força do dólar, principalmente ante moedas emergentes. “As taxas mais baixas dos mercados emergentes combinadas com uma Fed agressiva, taxas mais elevadas nos EUA e um dólar mais forte deverão continuar a exercer pressão descendente sobre o câmbio dos mercados emergentes”. No fim da tarde, o euro subia a US$ 1,0870, mas a libra caía a US$ 1,2725. O dólar caía a 144,87 ienes. O índice DXY, que mede a moeda dos EUA ante seis rivais fortes, fechou em queda de 0,14%, a 103,419 pontos.

A força das moedas emergentes hoje ocorreu em meio à cúpula do Brics que, segundo fontes do Broadcast, está com acordo para expandir o bloco com cinco novos membros, em acordo que será feito amanhã, incluindo a Argentina.

Nesse sentido, o dólar blue subia 1,10% a 735 pesos argentinos no fim da tarde, segundo o jornal Ámbito Financiero. Hoje, o Fundo Monetário Internacional (FMI) aprovou um desembolso imediato para o país. Entretanto, a organização alertou que “as principais metas do programa não foram cumpridas”, mas que o conselho aprovou uma exceção que autoriza medidas emergenciais na Argentina. (Natália Coelho – [email protected]).