COM CHINA E BLUE CHIPS, IBOVESPA VOLTA AOS 128 MIL PONTOS E AJUDA REAL


A Bolsa foi, de longe, o mercado que mais se destacou nesta terça-feira, dia de
recuperação de ações de primeira linha do índice. O Ibovespa terminou a sessão aos
128.262,52, valorização de 1,31%. O fôlego foi recobrado logo na abertura e aumentou ao
longo do dia, patrocinado por medidas de apoio ao mercado acionário na China. Não à
toa, o papel da Vale ON (+2,06%) foi o mais negociado da sessão, por guardar correlação
com a gigante economia asiática. Mas o bom humor se espalhou, chegando a papéis
como Petrobras (ON +1,46% e PN +1,25%), também de peso consistente no índice. A
entrada de recursos no País foi uma das razões citadas por agentes como fator de
descompressão do dólar, ao contrário da tendência global hoje. A moeda americana à
vista caiu a R$ 4,9552 (-0,64%). Lá fora, a expectativa com dados do PIB e do PCE deram
gás ao dólar ante moedas fortes e à ponta longa dos juros dos Treasuries. De volta ao
Brasil, o movimento cambial ajudou a neutralizar a subida dos rendimentos dos títulos
americanos na curva de juros. O ímpeto só não foi maior porque as dúvidas fiscais – em
especial com a MP da reoneração – seguem incomodando.
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•CÂMBIO
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•JUROS
BOLSA
Ainda descolado do sinal de Nova York – mas hoje em sentido inverso ao que havia
prevalecido nas últimas sessões -, o Ibovespa saiu de 126 mil para 128 mil pontos, em
alta de 1,31% nesta terça-feira em que contou com forte apoio de Vale (ON +2,06%) e, em
menor grau, de Petrobras (ON +1,46%, PN +1,25%), três das quatro principais ações do
índice – o que inclui Itaú PN, que também subiu, embora moderadamente (+0,46%). Um
pouco de humor favorável à China fez com que a B3 andasse bem à frente de Wall Street,
que ficou entre perda de 0,25% (Dow Jones) e ganhos de 0,29% (S&P 500) e 0,43%
(Nasdaq) na sessão.
Hoje, o Ibovespa oscilou dos 126.611,68, da abertura, até os 128.331,38 pontos (+1,37%),
em renovação de máximas ao longo da tarde. Ao fim, com giro a R$ 21,7 bilhões, mostrava
128.262,52 pontos, melhor nível de fechamento desde o dia 17 (128.523,83). Foi também
o maior ganho diário em porcentual desde 13 de dezembro, então em alta de 2,42%. Na
semana, o índice sobe 0,49%, com perda no mês a 4,41%.
Enquanto o dia foi de recuperação de preço para o minério de ferro na China, o petróleo
mostrou viés de baixa, o que não impediu Petrobras de avançar nesta terça-feira, nas
máximas do dia no meio da tarde, o que deu impulso adicional ao Ibovespa, logo atrás de
Vale. Na ponta ganhadora do índice, destaque para IRB (+11,00%, após divulgação de
lucro líquido até novembro, o primeiro desde 2019 para o mesmo intervalo), BRF (+6,89%)
e Minerva (+5,78%). No lado oposto, 3R Petroleum (-1,99%), Casas Bahia (-1,52%) e Pão
de Açúcar (-1,40%).
Com a agenda de indicadores relativamente vazia, a atenção se voltou nesta terça-feira
para a China, observa em nota a Guide Investimentos. Os investidores aqui e por lá se
animaram com novos relatos sobre a possibilidade de ajuda do governo, após os
principais índices acionários da maior economia da Ásia terem atingido mínimas em
anos, acrescenta a Guide, referindo-se a pacote de cerca de US$ 300 bilhões, que inclui
compra de ações pelo governo, aguardado para os próximos dias.
“Viemos ontem de um pregão de queda do Ibovespa, e muito comprador de dólar [que
reaproximou a moeda americana de R$ 5]. Hoje, a recuperação se esboçou antes da
abertura do índice à vista, com o sinal positivo emitido pelos contratos futuros de
Ibovespa, e ajuste favorável observado também no câmbio”, diz Alan Soares, analista da
Toro Investimentos.
Nesta terça-feira, “o dólar abriu com gap curto, mas chegou a ser negociado, durante a
sessão, a R$ 5; depois mostrou queda bem consistente, e com bastante volume”,
acrescenta o analista, referindo-se à acomodação tanto do Ibovespa como do real, hoje,
após a retomada de preocupações sobre a situação fiscal, ontem, em razão do anúncio
de nova política industrial pelo governo, com destinação de R$ 300 bilhões até 2026. No
fechamento desta terça-feira, o dólar à vista indicava baixa de 0,64%, a R$ 4,9552.
“Boa parte da alta do Ibovespa hoje pode ser explicada por correção técnica ante as
quedas que tivemos em janeiro, um início do ano marcado por forte fluxo vendedor, em
que os investidores realizaram lucros após as altas intensas de novembro e dezembro”,
diz Andre Fernandes, sócio e head de renda variável da A7 Capital.
Esse fluxo vendedor tem, em boa medida, relação com reposicionamento do investidor
estrangeiro – que procede a ajuste das carteiras, especialmente em emergentes como o
Brasil, tendo em vista que os juros de referência dos Estados Unidos podem não cair tão
cedo quanto vinha sendo estimado no fim de 2023. Nesse contexto, os estrangeiros
retiraram R$ 3,451 bilhões da B3 na sessão de sexta-feira, 19. Foi a maior retirada diária
desde fevereiro de 2021, de acordo com dados levantados pelo Broadcast, reporta a
jornalista Isabela Moya.
Em janeiro, até o momento, houve retirada de R$ 4,402 bilhões, resultado de compras
acumuladas de R$ 176,565 bilhões e vendas de R$ 180,967 bilhões.
Hoje, reforça Fernandes, da A7, a relativa recuperação do Ibovespa decorreu de um fator
externo, a China, que “pretende soltar um pacote de até US$ 280 bilhões para ajudar o
mercado financeiro do país, que cai faz 3 anos”. “Isso está se refletindo positivamente nas
commodities metálicas, ajudando as ações do setor na nossa bolsa, entre as quais a
Vale, que tem peso relevante no Ibovespa”, acrescenta. Assim, além da mineradora,
outros nomes importantes do segmento foram bem na sessão, como Gerdau (PN +1,77%)
e CSN (ON +1,69%).
Nesta terça-feira, o desempenho em direção única das quatro ações de maior peso no
Ibovespa – Vale ON (com ponderação de 14,1603%), Petrobras PN (7,4321%), Itaú
Unibanco PN (7,1255%) e Petrobras ON (4,40543%) – também foi fundamental para a
recuperação parcial vista na B3.
“A Bolsa fechou bem, acima dos 128 mil pontos, e o dólar também recuou, a R$ 4,95.
Além do fator externo, no noticiário doméstico houve boa noticia: a arrecadação federal
de 2023 – divulgada de manhã – foi a segunda maior da série histórica [superada apenas
pela de 2022, na sequência iniciada em 1995, em termos reais], o que contribui em
momento de incertezas fiscais”, observa Gabriel Meira, economista da Valor
Investimentos.
18:21
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 128262.52 1.31197
Máxima 128331.38 +1.37
Mínima 126611.68 +0.01
Volume (R$ Bilhões) 2.17B
Volume (US$ Bilhões) 4.37B
18:25
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 128980 1.36351
Máxima 129145 +1.49
Mínima 127500 +0.20
CÂMBIO
O dólar à vista encerrou a sessão desta terça-feira, 23, em baixa de 0,64%, cotado a R$
4,9552, na contramão da onda de fortalecimento da moeda americana no exterior.
Segundo operadores, após a alta de 1,23% ontem, na esteira do anúncio da nova política
industrial do governo Lula, ajustes naturais de posições e movimentos de realização de
lucros no mercado futuro deram fôlego ao real.
Houve também relatos de fluxo de recursos para a bolsa, em dia de alta do minério de
ferro com anúncio de medidas de apoio ao mercado acionário na China, e de
internalização de recursos por parte de exportadores após a moeda romper o nível de R$
5,00, com máxima a R$ 5,0020 no início do pregão. A mínima foi a R$ 4,9490, à tarde, em
meio ao avanço do Ibovespa.
No exterior, o dólar subiu em relação a moedas fortes, como euro e iene, e a divisas
emergentes de países exportadores de commodities, incluindo pares latino-americanos
do real, como os pesos mexicano e chileno. As taxas dos Treasuries avançaram, com a Tnote de 2 anos ultrapassando o nível de 2,40% no pico.
Investidores adotam uma postura mais conservadora à espera da agenda carregada nos
EUA, com divulgação de leitura preliminar do PIB do primeiro trimestre na quinta-feira, 25,
e do índice de preços de gastos com consumo (PCE) na sexta-feira, 26. Esses indicadores
vão dar mais subsídios para as apostas em torno do primeiro corte de juros nos EUA, com
chances majoritárias passando de março para maio nos últimos dias.
O economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, observa que, após um
desmonte de parte de posições vendidas em dólar futuro ontem por parte de fundos
locais, hoje houve realização parcial de lucros no mercado doméstico que ajudou a
moeda americana a se descolar da tendência externa.
“E surgiu também uma luz no fim do túnel do ponto de vista cíclico para o real, com a
promessa da China de pacote de estímulos de mais de US$ 200 bilhões para o mercado
de ações. A performance do real tem bastante conexão com isso”, afirma Borsoi,
ressaltando que, embora outras divisas emergentes tenham sofrido, o yuan apresentou
um bom desempenho.
Borsoi vê um cenário mais turbulento para o real daqui para frente, tanto por questões
internas quanto externas. Lá fora, já ficou para trás a euforia com a expectativa de um
início de ciclo de corte de juros pelo Federal Reserve em março, após dados recentes
mostrarem resiliência da economia americana. Do lado doméstico, o problema são as
dúvidas em torno do compromisso do governo com a política fiscal, que se agravaram
com o anúncio da nova política industrial ontem.
Em entrevista ontem à noite no programa Roda Viva, da TV Cultura, o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, afirmou que há diálogo entre as lideranças no Congresso e a equipe
econômica em torno da reoneração da folha de pagamentos e que há chance de o
impasse ser resolvido na próxima semana.
Além disso, Haddad revelou que uma eventual revisão da meta de déficit primário zero em
2024 não foi discutida com Lula, mas reconheceu que houve desidratação de parte dos
projetos da equipe econômica para aumentar as receitas. Em relação à nova política
industrial, o ministro disse que o valor apresentado já está “contratado e orçado”.
“O grande risco ontem era o Haddad adotar um tom agressivo em relação ao Congresso,
mas ele foi bastante político. Não é surpresa para ninguém que o governo não vai entregar
déficit primário zero neste ano. A questão é se vai ser mais do que 0,5% do PIB, que é a
aposta mais consensual”, afirma Borsoi, acrescentando que no front fiscal as notícias
recentes não são boas para o real.
Hoje à tarde, durante evento de celebração da lei que prorrogou o Regime Tributário para
Incentivo à Modernização e à Ampliação da Estrutura Portuária (Reporto) até 2028,
Haddad fez afago a parlamentares presentes e reiterou que as medidas prioritárias
apresentadas pela Fazenda ao Congresso no ano passado foram negociadas e aprovadas.
O gerente de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, vê a queda do
dólar hoje na contramão do exterior como um movimento pontual, após a divisa ter não
apenas rompido o nível de R$ 4,95 como tocado em R$ 5,00 – dois marcos psicológicos e
técnicos relevantes. Ele ressalta que o dólar já havia se afastado do piso de R$ 4,80 com a
redução das apostas em um primeiro corte de juros nos EUA em março, mas ressalta que
o problema fiscal acabou turbinando a moeda americana no mercado local.
“Podemos ver em alguns momentos o dólar mais perto ou até acima de R$ 5,00, mas
nesse nível já começa a aparecer oferta de venda de moeda, com exportadores atuando.
Ainda vejo um viés de baixa para o real com balança comercial forte e entrada do
estrangeiro, caso haja melhora na percepção de risco”, afirma Rolha
18:25
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 4.95520 -0.6436 5.00200 4.94900
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 4956.500 -0.7807 5007.000 4953.000
DOLAR COMERCIAL FUTURO 4972.000 -0.56 4994.500 4972.000
MERCADOS INTERNACIONAIS
A ação da 3M despencou 11% em Nova York após divulgação de balanço, pesando sobre
o índice Dow Jones e impedindo o índice de seguir os pares em território positivo nesta
tarde. O S&P 500, inclusive, fechou no maior nível da história pelo terceiro pregão
consecutivo, em meio à melhora nas ações de tecnologia e a uma relativa estabilização
dos juros dos Treasuries . Ainda assim, a extremidade de longo prazo subiu, assim como o
dólar ante rivais, à espera de números de inflação pelo PCE e do Produto Interno Bruto
(PIB) dos EUA e a serem publicados nesta semana. O petróleo se desvalorizou, diante da
moeda americana fortalecida e com percepção de fraqueza na demanda.
A queda do papel da 3M ajudou o Dow Jones a fechar com queda de 0,25%, aos 37.905,45
pontos, depois que a empresa informou projeções que decepcionaram o mercado,
apesar de o lucro ter superado expectativas. Apesar do destaque hoje da fabricante de
Post-its e fitas adesivas, a temporada de balanço parece estar agradando no geral. “Até
agora, investidores parecem bem contentes”, observou o analista Craig Erlam, da Oanda.
A ação da United Airlines, por exemplo, ganhou 5%, Verizon subiu 6% e a P&G teve alta de
4%, na esteira da divulgação dos seus números antes do pregão de hoje. General Electric,
por sua vez, caiu 0,9%. O índice S&P 500 subiu 0,29%, aos 4864,60 pontos; e o Nasdaq
avançou 0,43%, aos 15.425,94 pontos.
No mercado de renda fixa, o juro da T-note de 2 anos caía a 4,376% por volta das 17h (de
Brasília). Já os retornos da T-note de 10 anos subia 4,145% e o do T-bond de 30 anos
avançava a 4,371%. O Tesouro americano anunciou hoje que um leilão de US$ 60 bilhões
tm T-notes de 2 anos teve juro de 4,365% e demanda abaixo da média. Entretanto, o
resultado do certame não provocou uma reação notável nos mercados financeiros.
As expectativas estão voltadas para a publicação do PIB e do PCE americanos no quarto
trimestre na quinta-feira, 25, que ajudarão os investidores a consolidarem (ou não) suas
apostas em cortes de juros pelo Federal Reserve (Fed) apenas em maio. Segundo o
Santander, os mercados também têm especulado sobre o Fed acabar, no curto prazo,
com a redução do seu balanço. O banco acredita, no entanto, que ainda há um longo
caminho para se percorrer até chegar nesse ponto.
Com as expectativas de política monetária e de diferenciais de juros em foco, o dólar se
valorizou ante rivais. O índice DXY, que mede sua força contra seis moedas fortes, fechou
com alta de 0,27%, a 103,617 pontos – mas chegou a encostar no maior nível desde 13 de
dezembro durante a sessão. O movimento ocorre na esteira da decisão do Banco do
Japão (BoJ) de manter juros inalterados. O BC japonês sinalizou que a normalização da
política monetária se aproxima. Mas, “sem nenhuma retórica hawkish agressiva, uma
ação neste primeiro trimestre parece improvável”, comentou a Convera em relatório.
Assim, o dólar subia a 148,38 ienes no fim da tarde em Nova York. O euro caía a US$
1,0849 e a libra tinha queda a US 1,2685.
O petróleo, por sua vez, fechou hoje em queda, com o preço do barril do Brent voltando
para baixo de US$ 80. As preocupações com a demanda contém o apetite dos
investidores. O BOK Financial acredita que mesmo os conflitos no Mar Vermelho e no
Oriente Médio, de maneira mais ampla, devem ter um apoio apenas limitado nos preços
do petróleo. Isto é, “a menos que vejamos uma escalada de tensões que de fato reduza a
oferta de petróleo”, disse a empresa de serviços financeiros.
O WTI para março caiu 0,52% (US$ -0,39), a US$ 74,37 o barril, na New York Mercantile
Exchange (Nymex). O Brent para o mesmo mês recuou 0,63% (US$ -0,51), a US$ 79,55 o
barril, na Intercontinental Exchange (ICE).
O ativo energético, assim, se descolou das commodities metálicas, que tiveram forte alta
em meio à renovada expectativas por estímulos econômicas na China. Mais cedo, a
Bloomberg revelou um plano de autoridades chinesas para mobilizar cerca de 2 trilhões
de yuans (US$ 278 bilhões) para comprar ações no mercado doméstico, em um esforço
para revigorar a renda variável do país
JUROS
A curva de juros manteve à tarde o desenho visto pela manhã, com as taxas curtas
oscilando perto da estabilidade e leve queda a partir dos vértices intermediários, contida
pelo noticiário e agenda hoje escassos. O impacto do recuo do dólar acabou
neutralizando o efeito do avanço do rendimento dos Treasuries, mas a questão fiscal em
aberto e expectativa pelos dados da semana, com destaque para os de inflação no Brasil
e nos Estados Unidos na próxima sexta-feira, limitaram o ímpeto do mercado.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) de janeiro 2025 encerrou em 10,085%,
de 10,079% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 passou de 9,81% para 9,79%.
O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 9,97% (9,98% ontem no ajuste) e a do DI
para janeiro de 2029, em 10,39%, de 10,41%.
A terça-feira foi, de maneira geral, fraca para o mercado de juros. As taxas curtas seguiram
coladas aos ajustes de ontem, dado que as apostas para o Copom na próxima semana
parecem bem precificadas para um novo corte de 0,50 ponto porcentual da Selic, hoje em
11,75%.
A ponta longa cedeu poucos pontos-base, com o mercado à espera de uma definição da
questão da reoneração da folha e ainda digerindo mal o programa da nova indústria
anunciado ontem pelo governo. Serão R$ 300 bilhões até 2026 para fomentar o setor,
sendo R$ 250 bilhões bancados pelo BNDES. “Essa maior atuação do banco de fomento é
mais um elemento que recomenda prudência no corte da Selic, dificultando quedas
adicionais das taxas futuras”, afirma Silvio Campos Neto, economista da Tendências
Consultoria.
O resultado da arrecadação em dezembro, de R$ 231,2 bilhões, superou a mediana das
estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast (R$ 224,7 bilhões), mas não chegou a
empolgar. “O cenário para 2024 permanece desafiador, visto que o cumprimento da meta
fiscal depende de expansão das receitas em patamar muito acima da média histórica”,
afirma o economista João Leme, também da Tendências.
A entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ontem à noite, ao programa Roda
Viva, não teve grande repercussão nos negócios, mas a defesa enfática do debate em
torno da política para a folha de pagamentos é vista com bons olhos. O chefe da equipe
econômica disse que não vai se “deixar levar” por pressões, ressaltou que o diálogo sobre
o tema está aberto com o Legislativo e afirmou ver chance de o impasse ser resolvido na
próxima semana.
O estrategista-chefe da Monte Bravo, Alexandre Mathias, disse que Haddad está
buscando uma saída na medida em que o governo precisa encontrar receitas para
neutralizar o crescimento dos gastos e garantir a meta de primário zero este ano. “O Brasil
não pode ter déficit”, alertou Mathias, que por outro lado lembra que a economia em 2024
deve crescer com base no consumo e na expansão da indústria, o que ajuda a
arrecadação.
Ele destaca que os ativos vêm passando nas últimas semanas por um processo de
correção de exageros na precificação das apostas de corte de juros nos Estados Unidos,
que devolveu a taxa da T-Note de dez anos a níveis acima de 4,10%, após ter caído abaixo
de 4% em dezembro, mas que parece estar se esgotando. “A dinâmica da realização nos
mercados globais provocou ajustes aqui também, mas no geral nada mudou e o cenário
para a política monetária nos EUA segue positivo, com a curva americana bem ajustada
agora para cortes em torno de 130 pontos-base em 2024″, comentou.
Tal contexto favorece ativos de economias emergentes e, com isso, a despeito das
incertezas fiscais, a ponta longa dos juros segue relativamente bem comportada. A
emissão do Tesouro ontem no mercado internacional, de US$ 4,5 bilhões, e demanda de
US$ 14 bilhões, é sinal inequívoco do apetite de estrangeiros, e que abriu espaço para as
captações corporativas, hoje com a Cosan anunciando emissão de US$ 600 milhões.
Já o leilão de NTN-B hoje ficou bem abaixo do esperado. O Tesouro vendeu 266,4 mil
títulos, menos da metade dos 600 mil ofertados. Na operação com LFT, a instituição
colocou quase todo o lote de 1,550 milhão, vendendo 1,534 milhão de papéis.