CHANCE DE FED ADIAR CORTE E RUÍDO NA PETROBRAS PESAM EM MERCADO LOCAL NA SEMANA

O noticiário da sexta-feira espelhou uma semana agitada para os negócios aqui e lá fora,
com predomínio do tom conservador nos negócios. Números fortes do mercado de
trabalho dos Estados Unidos e comentários de membros do Federal Reserve sobre eles
aumentaram as dúvidas sobre quando terá início o corte de juros americanos. A
ferramenta do CME Group, inclusive, passou a projetar início do ciclo de queda somente
em julho, na abertura do segundo semestre. Antes do payroll e da rodada de falas do Fed
hoje, o consenso era de o alívio começar em junho. No fim, os rendimentos dos Treasuries
saltaram e o dólar foi a reboque. As bolsas de Nova York conseguiram se manter em alta
com ajuda do segmento de tecnologia, mas o cômputo semanal foi de perdas. Lá fora, a
semana também foi de aumento da tensão entre Israel e Irã, que impulsionou cotações
de petróleo e ouro. Não bastasse os ventos agitados externos, no Brasil a Petrobras voltou
ao centro das atenções. A possível saída de seu presidente, Jean Paul Prates, por causa
do entrevero público com o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e a eventual
chegada do presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, à estatal (na presidência executiva
ou do conselho) estimulam a desconfiança de investidores. Por sua vez, o provável
pagamento de dividendos extraordinários suaviza parcialmente esses fatores. Assim, as
ações da estatal subiram na semana, mas o mal-estar com a interferência do governo em
estatais prevaleceu como sentimento geral. Dúvidas no front fiscal acrescentaram
incertezas ao cenário. Assim, aos 126.795,41 no fechamento desta sexta-feira, o Ibovespa
anotou perda de 0,50% hoje e de 1,02% na semana. A curva de juros inclinou e chegou até
a precificar Selic a 10% no fim do ciclo de alta nos momentos mais tensos. E o dólar
terminou a semana no maior nível desde outubro, em R$ 5,0654 (+0,29% no dia e +1,00%
na semana).
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•BOLSA
•JUROS
•CÂMBIO
MERCADOS INTERNACIONAIS
As bolsas de Nova York ampliaram ganhos nesta tarde, deixando de lado o payroll acima
da média, com o Nasdaq subindo mais de 1% depois dos papéis da Tesla reduzirem as
perdas vistas mais cedo. Durante a tarde, a diretora do Federal Reserve (Fed) Michelle
Bowman juntou-se ao relatório de trabalhos robusto e à lista de dirigentes que sugeriram
cautela com a inflação e não descartou sequer uma nova alta de juros, embora não veja
este como o cenário mais provável. Os retornos dos Treasuries e o dólar se mantiveram
em alta, apoiados pela queda na confiança de cortes de juros em junho, segundo indica a
ferramenta do CME Group, que agora vê a manutenção como majoritária – embora a
probabilidade siga oscilando perto de 50%. A expectativa de demanda forte nos EUA
também apoiou os ganhos do petróleo, impulsionado também pelas tensões entre Irã e
Israel, que elevaram o ouro a mais um dia de máxima histórica.
Pela manhã, o relatório de empregos dos Estados Unidos veio bem acima do esperado,
indicando um setor sobreaquecido e, segundo analistas, sustentando a decisão do
Federal Reserve (Fed) de que não é preciso pressa para reduzir as taxas de juros do país.
O Wells Fargo afirma que os comentários recentes dos membros do Comitê Federal de
Mercado Aberto (FOMC) entre ontem e hoje centraram-se na dinâmica do mercado de
trabalho como justificativa para esperar e permitir mais dados sobre a inflação. Pela
tarde, Michelle Bowman disse que ainda não é hora de cortar juros, porque os riscos
inflacionários permanecem muito elevados e ela chegou a, inclusive, considerar o risco
de uma nova elevação das taxas caso a inflação pare de desacelerar.
Tudo isso fez o mercado reduz apostas por cortes em junho e apresentar um cenário bem
mais dividido, agora com a manutenção sendo indicada como majoritária, embora o
cenário permaneça incerto: a chance de corte aperto de 17h30 era de 49,1%, contra
50,9% de probabilidade de manutenção, conforme monitoramento do CME Group. Já nas
apostas para cortes acumulados até o fim do ano, a chance de redução de 75 pontosbase ainda é a mais provável, mas as apostas por corte de 50 pb estão levemente atrás:
são 32,4% de chance para os juros serem cortados em 75 pb, e 30,9% para caírem 50 pb.
Somado à política monetária dos EUA, os conflitos geopolíticos permaneceram no radar
hoje, embora haja poucas atualizações. O mercado ainda se move de olho na
probabilidade de um ataque iraniano a Israel, e isto elevou os preços do ouro – ativo de
segurança – a novos recordes históricos. O mesmo impulsionou os preços do petróleo e o
setor aeroespacial e de defesa de Nova York. No fechamento, o setor teve alta de 1,84%, o
que contribuiu para o avanço dos mercados acionários em Wall Street hoje. Em geral,
analistas apontam que as bolsas se voltaram mais para os sinais de demanda forte e
economia resiliente do que para as implicações de política monetária do payroll de hoje.
Pela tarde, as ações da Tesla – que caíam mais de 6% mais cedo – devolveram parte das
perdas e fecharam em queda de 3,63%, depois do CEO Elon Musk negar a notícia de que
a empresa havia desistido de lançar um veículo elétrico de baixo custo para concorrer
com modelos chineses. Além disso, no S&P 500, o setor de energia subiu mais de 1%
hoje, ancorado nos fortes ganhos do petróleo. O índice Dow Jones subiu 0,80%, aos
38.904,04 pontos; o S&P 500 ganhou 1,11%, aos 5.204,34 pontos; o Nasdaq avançou
1,24%, aos 16.248,52 pontos. Na semana, no entanto, as referências perderam 2,27%,
0,95% e 0,80%, respectivamente.
Hoje, o petróleo Brent voltou a ficar acima dos US$ 91 pelo barril, renovando máximas
desde outubro em meio às tensões geopolíticas. Os indicativos de demanda forte dos
EUA também contribuíram para os ganhos da commodity. O WTI para maio fechou em
alta de 0,37% (US$ 0,32), a US$ 86,91 o barril, na Nymex, e o Brent para junho avançou
0,57% (US$ 0,52), a US$ 91,17 o barril, na ICE. Na semana, o WTI subiu 4,50% e o Brent
avançou 4,80%.
Louis Navellier, da gestora Navellier, afirma que “o medo de uma Terceira Guerra Mundial
aumenta”, e que o mercado também olha para os dados da inflação ao consumidor dos
EUA em março, que será divulgada na quarta-feira, e “permanecerá obcecado” com as
implicações inflacionárias embora, o payroll “tenha aniquilado as esperanças de um
corte nas taxas do Fed em junho”. Em meio ao cenário de cautela, o dólar e o retorno dos
Treasuries também subiram hoje, e a Capital Economics escreve que “o dólar poderá
muito bem permanecer na vanguarda no curto prazo”, enquanto outros bancos centrais,
como Banco Central Europeu (BCE) agora parecem mais perto de reduzir taxas. No fim da
tarde em Nova York, o dólar subia a 151,65 ienes, o euro estava estável, em US$ 1,0837 e
a libra tinha baixa a US$ 1,2636. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de
moedas fortes, registrou alta de 0,17%, a 104,298 pontos, mas teve queda de 0,24% na
comparação semanal.
Os rendimentos dos Treasuries chegaram a reduzir parte dos ganhos nesta tarde, mas se
mantiveram em alta robusta. Com isso, o retorno da T-note de 2 anos subia a 4,745%; o
juro da T-note de 10 anos tinha alta a 4,396%; e o do T-bond de 30 anos subia a 4,551%.
BOLSA
A primeira semana de abril foi de alternância de perdas e ganhos na B3 em base diária,
com a inclinação negativa se impondo ao Ibovespa no intervalo, em meio a sinais de que
os juros tendem a demorar um pouco mais a cair nos Estados Unidos, ante economia
ainda aquecida, e ruídos domésticos que afetam diretamente a precificação de
Petrobras, além das incertezas sobre a economia chinesa que pressionam o minério e as
ações da Vale.
Hoje, o Ibovespa oscilou dos 126.394,13 aos 127.432,20 pontos, e fechou em baixa de
0,50%, aos 126.795,41, saindo de abertura aos 127.421,74 pontos. Ontem, chegou a
romper o limiar de 129 mil pontos na máxima do dia, mas com o recuo desta sexta-feira
encerra a semana com perda de 1,02% no período, após ganhos de 0,85% e de 0,23% nas
semanas anteriores. O giro desta sexta-feira ficou em R$ 20,7 bilhões, após ter chegado a
R$ 31 bilhões ontem. No ano, o Ibovespa cai 5,51%.
O dado mais aguardado da semana veio hoje: o relatório oficial sobre o mercado de
trabalho nos Estados Unidos em março, com geração de vagas acima do esperado, o que
corrobora a impressão de que a maior economia do mundo se mantém aquecida. Tal
percepção, com efeito para a precificação do momento em que os juros do Federal
Reserve começarão a cair, deu gás a novo avanço dos rendimentos dos Treasuries – ainda
assim, os índices de ações também subiram hoje, entre 0,80% (Dow Jones) e 1,24%
(Nasdaq), em Nova York.
No payroll de março, houve crescimento significativo no número de vagas criadas, mas,
no que diz respeito à renda salarial, “fator que terá um impacto significativo sobre as
decisões do BC americano, não houve uma pressão relevante”, destaca o estrategistachefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz. “O crescimento salarial foi de 4,1% [na
comparação anual], o nível [aproximadamente] esperado, o que significa que tanto a
criação de vagas quanto os salários não apresentaram crescimento capaz de indicar uma
retomada expressiva”, acrescenta.
“A queda de juros nos Estados Unidos deve vir neste ano, mas pode ser que não no
primeiro semestre. [O adiamento do momento de queda dos juros] pode desanimar os
investidores de curto prazo. Porém, para os de longo prazo, é momento para se posicionar
em boas empresas que estão em promoção”, diz a analista-chefe da Money Wise
Research, Cleide Rodrigues.
A geração de vagas de trabalho nos Estados Unidos veio bem acima do que o mercado
projetava: 303 mil vagas, com consenso a 200 mil para o mês. “Surpreendeu e demonstra
que o mercado de trabalho ainda está muito aquecido, e isso pode se refletir na inflação,
tornando-a mais persistente. Corrobora os últimos discursos de dirigentes do Fed, nesta
semana, de que o juro neutro por lá deve ser maior do que o esperado”, observa Andre
Fernandes, sócio da A7 Capital.
Na B3, as ações da Petrobras chegaram a se alinhar, em parte da sessão, a novo avanço
nos preços do Brent em Londres, com as tensões no Oriente Médio recolocando o barril
da referência global de petróleo a US$ 91. Mas, após oscilarem ao sabor do noticiário
sobre a gestão da empresa, e mostrar alta acima de 1% na PN perto do fechamento, o
sinal ao fim foi misto (ON -0,20%, PN +0,58%).
Os investidores seguem monitorando os sinais de desgaste do presidente da estatal, Jean
Paul Prates, junto ao governo. No início da próxima semana, deve haver o aguardado
encontro entre Prates e o presidente Lula, que estaria irritado com a disputa pública entre
o dirigente e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Prates, contudo, teria a seu
favor, para permanecer no cargo, o apoio do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que
teria olhar para o bom desempenho financeiro e operacional da empresa na atual gestão.
Uma solução de compromisso, de distribuição parcial dos dividendos extraordinários que
haviam sido retidos na Petrobras, estaria sendo articulada dentro do governo. Após a
divulgação que veio a ser desautorizada ainda ontem, de que 100% do valor retido seria
liberado, trabalha-se com a ideia de uma liberação parcial, de 50%.
Em fritura pública, Prates faltou à reunião extraordinária do Conselho de Administração
na tarde desta sexta-feira. Mas a distribuição de dividendos extraordinários não esteve na
pauta do encontro, segundo a Petrobras – que acrescentou que Prates deixou voto sobre a
troca de gerências consignado com o secretário-geral. Segundo a empresa, no mesmo
horário, Prates tinha outras reuniões – por isso, ausentou-se do encontro do conselho.
Cogitado desde ontem para o lugar de Prates na Petrobras, o presidente do BNDES,
Aloizio Mercadante, pode parar na presidência do Conselho de Administração da estatal,
disseram ao Broadcast fontes com conhecimento do assunto, reportam do Rio os
jornalistas Gabriel Vasconcelos e Denise Luna. O desdobramento inesperado contribuiu
para firmar sinal positivo nas ações da empresa, não sustentado ao fim.
O arranjo estaria sendo construído nas últimas horas com o intuito de liberar o atual
presidente da Petrobras para focar no operacional, enquanto Mercadante ocuparia
assento no conselho para mediar conflitos entre a diretoria e demais integrantes
indicados pelo governo. Se for à frente, a solução representaria uma reviravolta:
Mercadante substituiria não Prates, mas Pietro Mendes, secretário-executivo de petróleo
e gás do Ministério de Minas e Energia – e braço direito de Alexandre Silveira, um dos pivôs
da crise.
Apesar do ambiente repleto de incertezas, o mercado elevou o otimismo sobre o
desempenho das ações no curtíssimo prazo no Termômetro Broadcast Bolsa desta sextafeira. A avaliação se divide entre alta (60%) e estabilidade (40%) em relação ao
comportamento do Ibovespa na próxima semana, sem nenhuma resposta indicando
baixa. Na pesquisa anterior, 40% previam que o índice fecharia esta semana com ganhos,
outros 40%, com variação neutra, e 20% restantes, com perdas.
Para além da Petrobras, a última sessão da semana foi negativa para outras ações e
setores de peso no Ibovespa, como o metálico e o financeiro. Em relatório divulgado
nesta sexta-feira, o Itaú BBA avalia que a demanda fraca no setor imobiliário chinês
continua a prejudicar os preços do minério de ferro e do aço. No caso do minério, a
commodity atingiu US$ 98,3 a tonelada nesta sexta-feira, nível 17% inferior ao registrado
um mês atrás, destacou o banco. Vale ON fechou hoje em baixa de 1,09% e as perdas no
setor metálico chegaram a superar 2% no fechamento, em Usiminas (PNA -2,55%).
Na ponta perdedora do Ibovespa, destaque para PetroReconcavo (-4,27%), Magazine
Luiza (-3,39%) e Rede D´Or (-3,18%). No lado oposto, IRB (+13,21%) com elevação de
recomendação do Citi, de neutra para compra, à frente de Vibra (+1,56%) e de Locaweb
(+1,35%) na sessão
17:27
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 126795.41 -0.4961
Máxima 127432.20 0.00
Mínima 126394.13 -0.81
Volume (R$ Bilhões) 2.07B
Volume (US$ Bilhões) 4.11B
17:37
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 126935 -0.5601
Máxima 128600 +0.74
Mínima 126740 -0.71
JUROS
Os juros futuros ampliaram o ritmo de alta à tarde, renovando máximas em sequência
refletindo a aceleração de movimentos de zeragem de posições vendidas pelos players.
Foi um dia pesado para o mercado, determinado por um combo de fatores negativos para
a exposição ao risco, que teve a reação ao payroll dos EUA como fio condutor.
Além do avanço dos yields dos Treasuries e do dólar, as taxas locais foram afetadas por
dados fiscais ruins, pela alta do petróleo, assim como os ruídos envolvendo a Petrobras,
que continuam respingando também na renda fixa. Nos momentos de maior estresse da
sessão, a curva chegou a projetar Selic terminal de 10% e encerra a semana com ganho
de quase 25 pontos-base na inclinação da curva.
“Há uma convergência de fatores externos, econômicos e políticos pesando sobre a curva
doméstica”, resumiu Filipe Arend, head de renda fixa da Faz Capital.
Às 17h19, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava
em 10,005%, com máximas de 10,010%, de 9,949% ontem no ajuste. A do DI para janeiro
de 2026 saltava de 9,94% para 10,07% e o DI para janeiro de 2027, de 10,25% para
10,39%. O DI para janeiro de 2029 tinha taxa de 10,94%, de 10,83% ontem.
O spread entre os vencimentos de janeiro de 2025 e janeiro de 2029 estava em 93 pontosbase, muito acima dos 75 pontos da quinta-feira da semana passada. No acumulado da
semana, as taxas curtas subiam 10 pontos; as intermediárias, cerca de 25 pontos; e as
longas, perto de 30 pontos.
A alta das taxas na abertura ganhou impulso após o relatório do emprego norteamericano, que trouxe não só a criação de vagas (303 mil) em março muito acima do
previsto (200 mil), como inesperada queda na taxa de desemprego para 3,8%, ante
previsão de estabilidade a 3,9%. O salário médio por hora teve alta (0,35%) perto do
consenso (0,30%), o que não serviu de consolo, na medida em que o crescimento anual
de 4,1% mostrou que os trabalhadores seguem com ganho salarial real, acima da
inflação.
“Por muito positiva que seja esta leitura a nível econômico, seguem também as questões
do quanto esta economia tão resiliente pode seguir pressionando a inflação e,
consequentemente, adiar a expectativa de corte de taxa de juro”, afirma José Maria da
Silva, coordenador de Alocação e Inteligência da Avenue.
O resultado do payroll coloca ainda mais em xeque a probabilidade de que o Federal
Reserve comece a reduzir os juros em junho, com aumento das chances de que fique
para o segundo semestre. Nesse contexto, as taxas curtas dos Treasuries dispararam e a
de 10 anos voltou a rodar a 4,40% nas máximas do dia.
O vigor do mercado de trabalho americano endossa os discursos recentes de dirigentes
do Fed de que é preciso esperar mais para iniciar o corte de juros e também a mensagem
do BC brasileiro, ao alterar o forward guidance da política monetária buscando maior grau
de liberdade sobre o que fazer depois da reunião do Copom de maio.
Na precificação da curva, o mercado dá como certa a redução do ritmo de queda da Selic
em junho, para 25 pontos-base, e, com o forte movimento de zeragem de posições
vendidas visto hoje, até a dose de 50 pontos em maio parece ameaçada, com a curva
projetando -45 pontos nesta tarde. A taxa terminal projetada era de 9,85%, mais ou
menos no meio do caminho entre 9,75% e 10%, tendo chegado a 10% nas máximas da
ponta curta nesta sexta. “Sem good news, sem venda nova. Pessoal mudando o humor da
Selic terminal, com muito stop. A quantidade de venda (de DI) que entra não está dando
conta”, relatou um operador.
Na conta de uma maior cautela na política monetária entram ainda a rigidez com as
expectativas inflacionárias e da inflação de serviços, em meio ao mercado de trabalho
apertado. Hoje, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, reiterou a avaliação de que o
PIB potencial aumentou. Ontem, o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, disse
que diante do mercado de trabalho e da atividade aquecidos, é natural esperar uma
possível desinflação mais lenta.
O cenário pode ainda piorar caso a Petrobras decida reduzir a defasagem dos preços da
gasolina ante as cotações internacionais, dado os elevados níveis do petróleo, que hoje
voltou a subir. O tipo Brent, referência para os preços da companhia, fechou nos US$ 91
por barril. “Vamos ver se haverá reajuste ou então será necessário haver subsídio”, afirma
Arend, destacando que esta solução não é bem vista pelo mercado.
Para piorar, os ruídos envolvendo a companhia trazem insegurança e piora na percepção
de ingerência política, dada a fritura que o presidente Jean Paul Prates vem sofrendo
dentro do governo.
Arend afirma ainda que os dados do setor público consolidado foram mal recebidos.
Ainda que o déficit de R$ 48,6 bilhões em fevereiro tenha vindo em linha com a mediana
das estimativas, de R$ 49 bilhões, a trajetória da relação dívida/PIB preocupa. “É algo que
os investidores e as agências de classificação de risco olham com muita atenção e fez
preço hoje no mercado”, disse. A dívida bruta ficou em 75,5%, maior resultado desde
junho de 2022
CÂMBIO
Após trocas de sinal pela manhã, o dólar à vista se firmou em alta no início da tarde em
sintonia com o fortalecimento global da moeda americana, na esteira de dados
expressivos do mercado de trabalho nos EUA. Embora o principal indutor da perda de
fôlego do real seja o ambiente externo, analistas notam que a moeda brasileira também
sofre com o aumento da percepção de risco. Disputas entre o Congresso e o ministro da
Fazenda, Fernando Haddad, principal fiador do novo arcabouço fiscal, e o noticiário
pesado envolvendo a Petrobrás afastam investidores de ativos domésticos.
Com máxima a R$ 5,0744, o dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 5, em alta
de 0,29%, cotado a R$ 5,0654. A moeda termina a primeira semana de abril com ganhos
de 1,00%. No ano, a valorização acumulada é de 4,37%. Mais uma vez, o contrato de
dólar futuro para maio teve bom giro, o que sugere mudanças no posicionamento dos
investidores. Nos últimos dias fundos locais têm reduzido suas posições “vendidas” em
dólar (que ganham quando o real se aprecia).
No exterior, o índice DXY – referência do comportamento do dólar em relação a seis
moedas forte, em especial o euro – operou em alta, acima da linha dos 104,300 pontos. As
taxas dos Treasuries avançaram, o que castigou a maioria das divisas emergentes e de
países exportadores de commodities. Três pares do real – peso mexicano e, em menor
medida, o peso colombiano e rand sul-africano – foram exceções e subiram na
comparação com o dólar. Operadores afirmam que grandes investidores podem ter
desmontado apostas mais robustas a favor do real, o que explica o desempenho relativo
ruim da moeda brasileira.
Indicador mais aguardado da semana, o relatório oficial de emprego (payroll) revelou
criação de 303 mil vagas nos EUA em março, bem acima do teto de expectativas de
analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast, de 245 mil. Já a taxa de desemprego recuou
de 3,9% em fevereiro para 3,8% no mês passado, enquanto a previsão era de estabilidade.
O salário médio por hora, por sua vez, subiu um pouco acima do esperado pelo mercado.
A leva de dados fortes da economia americana e o avanço das cotações do petróleo com
aumento das tensões geopolíticas trazem preocupações em torno do processo de
desinflação nos EUA. Crescem as apostas de que o Federal Reserve postergue um
eventual início de corte de juros para julho, embora as chances de redução inicial em
junho sejam ainda majoritárias. Mais ligada às expectativas para o rumo dos FedFunds, a
taxa da T-note de 2 anos renovou máxima à tarde, a 4,7431%, maior nível desde 18 de
março.
O economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, observa que o salto do juro da T-note
de 2 anos, que no início da semana estava em 4,63%, mantém o real “na vizinhança” dos
R$ 5,05, em meio à desvalorização das divisas emergentes.
“A moeda brasileira mais desvalorizada do que vários de seus pares ao longo das duas
últimas semanas reflete também a influência de forças domésticas na direção da
deterioração e aumento da incerteza fiscal e inflacionária”, afirma Maciel, ressaltando
que os dados do payroll reforçam o quadro de dólar forte no mundo e de inflação alta.
À tarde, a diretora do Federal Reserve Michelle Bowman disse ainda ver risco de que o
banco central americano tenha de voltar a elevar juros, caso os progressos recentes
contra a inflação parem ou sejam revertidos. Em conferência do Manhattan Institute, em
Nova York, a dirigente defendeu uma postura “cautelosa” na definição dos próximos
passos da política monetária.
O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que a resiliência do mercado de
trabalho nos EUA mantém o dólar rígido no mundo e sustenta a taxa de câmbio acima de
R$ 5,05 no curto prazo. No front doméstico, além da crescente desconfiança sobre a
capacidade de cumprimento das metas fiscais e da novela em torno de uma eventual
troca de comando na Petrobras, Velho observa que o fluxo segue desfavorável. “O
ingresso de capital externo no mercado acionário foi frustrante no primeiro trimestre e os
números do superávit comercial estão vindo mais baixos”, afirma o economista. (Antonio
Perez – [email protected])
17:37
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.06540 0.2910 5.07440 5.03020
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5079.000 0.1380 5088.000 5041.500
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5071.500 04/04