BOM HUMOR PÓS-CPI PERDE FORÇA À TARDE E BOLSA TEM MAIOR SEQUÊNCIA DE BAIXA EM 1 ANO

O otimismo no mercado acionário local não se sustentou na etapa da tarde, e o Ibovespa voltou a apresentar queda no cômputo diário. A baixa pela oitava sessão seguida fez o índice igualar-se à maior sequência de perdas desde a primeira quinzena de junho do ano passado. Embora com intensidade moderada, o recuo se deu à medida que passou a euforia do mercado com os dados da inflação ao consumidor (CPI) dos Estados Unidos. O sentimento de cautela sobressaiu depois de a presidente da distrital de São Francisco do Federal Reserve, Mary Daly, apresentar uma visão mais conservadora a respeito da percepção sobre a inflação e os juros. Daly não tem poder de voto este ano no Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc), mas ano que vem estará no colegiado para decidir os juros e poderá alinhar-se à ala mais hawkish do BC americano. A partir da fala de Daly, os juros dos Treasuries trocaram de direção, as bolsas de Nova York perderam força e o Ibovespa gradualmente foi abandonando o sinal azul que sustentava desde cedo. Ao fim do dia, o índice brasileiro marcava queda de 0,05%, aos 118.349,60 pontos. Dow Jones tinha alta de 0,15%, S&P 500 subia modestos 0,03% e Nasdaq ganhava 0,12%. O juro da T-note de 2 anos avançou a 4,862% e o da T-note de 10 anos saltava a 4,102%. No mercado de câmbio local, o dólar à vista trabalhou em queda o dia todo, mas terminou bem mais próximo da máxima (R$ 4,8938) do que da mínima (R$ 4,8418): aos R$ 4,8821, desvalorização de 0,47%. Na renda fixa, os contratos se acomodaram perto dos ajustes ao longo da tarde, com queda na ponta curta e viés de alta na longa. Além da influência dos Treasuries, o investidor ponderou ainda o IPCA, que sai amanhã cedo, as falas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, hoje no Senado, e o risco fiscal, com retomada do debate sobre precatórios.

•BOLSA

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•JUROS

•CÂMBIO

BOLSA

O Ibovespa refugou no fim da tarde, piorando em relação à Nova York, quando parecia a caminho de interromper sequência ruim, agora de oito perdas diárias, que coincidiu com o início de agosto. Hoje, resistia em leve alta até pouco antes das 16h30, mas passou a testar baixa em direção ao fechamento do dia, igualando em extensão a série negativa de oito sessões, entre 3 e 14 de junho de 2022. A virada veio às 16h21, quando o Ibovespa assinalava -0,01% pela primeira vez na sessão.

Ao fim, mostrava mais uma leve perda, hoje de 0,05%, aos 118.349,60 pontos. Mais cedo, a sessão era pautada desde o exterior por estabilização na percepção de risco – na Ásia como na Europa e, em menor grau, nos Estados Unidos – em dia de atenção voltada a novos dados sobre a inflação americana, após a decepção de ontem com a deflação vista na China. Nesta quinta-feira, apesar da piora observada no fechamento, o índice oscilou em margem relativamente estreita, entre a mínima (118.112,68) e a máxima (119.438,15), saindo de abertura aos 118.412,19 pontos.

Com giro financeiro a R$ 23,7 bilhões na sessão, o Ibovespa acumula perda de 2,95% no mês, cedendo 0,97% na semana – no ano, o índice avança 7,85%. Apesar da série negativa acumulada neste primeiro terço de agosto, o Ibovespa não se distanciou muito de níveis recentes, com o fechamento desta quinta-feira ainda correspondendo ao menor patamar desde 20 de julho, então aos 118.082,90 pontos.

“Após sete perdas, a Bolsa subia timidamente hoje, acompanhando a alta moderada dos mercados nos Estados Unidos [que chegou a ser revertida também perto do fechamento, contudo positivo ao fim; Dow Jones +0,15%, S&P 500 +0,03%, Nasdaq +0,12%], diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research. “Havia mais impulso pela manhã, com a divulgação do índice de inflação por lá, o que ajudou os investidores a pressupor o fim do ciclo de aperto monetário nos Estados Unidos – mas perdeu fôlego, ao longo do dia, a resposta aqui no Brasil”, acrescenta o analista, destacando, amanhã, a expectativa pela inflação doméstica, do IPCA, o que pode trazer volatilidade à B3 e também à curva de juros. “Dia de timidez e espera pelo dado de amanhã.”

Nos EUA, o índice de preços ao consumidor (CPI) teve alta de 0,2% em julho, na margem, leitura que veio em linha com o consenso de mercado. Em 12 meses, o índice acumula alta de 3,2%, levemente acima do mês anterior, observa Gustavo Sung, analista-chefe da Suno Research. “A batalha não está vencida. A inflação está desacelerando nos Estados Unidos, mas alguns grupos merecem atenção. E o mercado de trabalho precisa continuar dando sinais de arrefecimento”, acrescenta Sung.

Nesse contexto, a leitura sobre a inflação americana tende a subir no mês seguinte, agosto, como resultado do recente aumento nos preços da gasolina, e o Federal Reserve, assim como os investidores, devem manter o foco no núcleo – métrica que exclui fatores voláteis, como os preços de alimentos e de energia -, aponta em nota Greg Wilensky, head de renda fixa da Janus Henderson para Estados Unidos. “Apesar de o núcleo da inflação ter caído em relação a seus níveis mais altos, ainda está bem acima da meta de 2% do Fed [para a inflação de longo prazo]”, acrescenta.

Ainda assim, mesmo antes da divulgação do dado sobre os preços ao consumidor nos Estados Unidos, o índice VIX, uma métrica de volatilidade com base em opções sobre o S&P 500, considerada como um termômetro do medo em Wall Street, mostrava abrandamento desde cedo, em queda então de cerca de 1%, mostrando propensão dos investidores a risco na sessão, aponta Gabriela Sporch, analista da Toro Investimentos.

Com a moderação da percepção de risco desde o exterior, na B3 o desempenho do dia era puxado pelas ações de grandes bancos – que costumam estar entre as preferidas do investidor estrangeiro, assim como as de commodities -, cujo desempenho negativo no mês tem excedido, em geral, o próprio recuo do Ibovespa, com perdas que chegam a superar 6% em agosto, no caso das ações do Bradesco (ON -6,47%, PN -7,09% no intervalo). Hoje, além de Bradesco (ON +1,09%, PN +0,85%), destaque também para Itaú, embora também muito moderado perto do fechamento (PN +0,33%), enquanto Banco do Brasil (ON) subiu 0,51%, após balanço trimestral divulgado na noite de ontem.

À exceção de Vale (ON -1,18%) – enfraquecida por temores quanto à demanda chinesa por matérias-primas, em meio à tibieza da atividade econômica por lá -, o dia vinha sendo de estabilização para o setor de commodities, mas o IMAT também refugou no fechamento (sem variação). Devolvendo os ganhos vistos mais cedo, as ações da Petrobras encerraram hoje sem sinal único, com a ON em leve baixa de 0,03% e a PN ainda em alta de 0,56%.

Na ponta do Ibovespa, destaque para Azul (+9,83%), após os resultados trimestrais, à frente de Braskem (+6,84%), Gol (+6,27%) e Hapvida (+6,05%) na sessão. No lado oposto, Soma (-7,68%), 3R Petroleum (-4,96%), Rede D´Or (-4,92%) e Magazine Luiza (-4,04%). As ações correlacionadas ao ciclo doméstico, como as de consumo, também perderam força no fim, mas conseguiram fechar um pouco acima da estabilidade, em alta de 0,04% para o ICON.

Hoje, a tonelada do minério de ferro negociada em Dalian, China, voltou a fechar abaixo de US$ 100, cotada a US$ 99,09, em retração de 0,49% para o contrato da commodity mais líquido – o dia também foi de ajuste para os preços do petróleo Brent e WTI, ambos em baixa superior a 1% em Londres e Nova York.

Em audiência pública nesta quinta-feira no Senado, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que o BC monitora a dinâmica de preços na China, país que em julho registrou sua primeira deflação desde 2021, o que resultou, ontem, em aversão a risco nos mercados globais. “A deflação na China gerou grande preocupação no mundo. Se for um processo contínuo, vai assustar muito, em termos de países que negociam com a China”, afirmou Campos Neto. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 118349.60 -0.04997

Máxima 119438.15 +0.87

Mínima 118112.68 -0.25

Volume (R$ Bilhões) 2.36B

Volume (US$ Bilhões) 4.87B

17:31

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 118380 -0.20653

Máxima 119695 +0.90

Mínima 118275 -0.30

MERCADOS INTERNACIONAIS

Nesta tarde, os mercados internacionais reduziram o otimismo com os números da inflação ao consumidor dos Estados Unidos, à medida que investidores digeriram comentários da presidente do Federal Reserve (Fed) de São Francisco, Mary Daly, sinalizando preocupações com reaceleração dos preços e incerteza sobre próximas decisões monetárias. Dessa forma, as bolsas de Nova York devolveram boa parte dos ganhos e, entre commodities, o petróleo intensificou perdas, enquanto os juros dos Treasuries e o dólar ganharam força e se firmaram em território positivo. No México, o peso perdeu fôlego contra a divisa americana, após decisão unânime do BC de manter as taxas em 11,25%.

Os números do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA em julho, que vieram em linha com as expectativas do mercado, ficaram em segundo plano nesta tarde. Em relatório, o ANZ aponta que predominou entre investidores a cautela sobre a possibilidade de pausa no aperto monetário do Fed em setembro e sobre qual será a duração dos juros restritivos no país. O banco destaca que o ritmo mais lento do núcleo da inflação nos últimos dois meses é positivo, contudo, a preocupação recai sobre a persistência no núcleo da inflação de serviços, o que deve manter os dirigentes cautelosos até os próximos relatórios de CPI e payroll americanos.

Esta cautela foi provocada à medida que investidores digeriram comentários de Daly. Em entrevista ao Yahoo! Finance, a dirigente afirmou que “é prematuro” tentar projetar neste momento os próximos passos da política monetária americana e o nível em que os juros estarão até o final do ano, considerando as incertezas pairando sobre a trajetória da inflação e da economia dos EUA.

Daly ressaltou que o Fed precisa ver o núcleo da inflação retornar ao nível pré-pandemia de forma sustentada, o que ainda não poderia ser definido pelos dados atuais, destacando que os dirigentes olham “profundamente” as informações para além dos números principais. Ela também demonstrou preocupação com uma possível reaceleração da inflação e descartou qualquer possibilidade de cortes nos juros até que os preços recuem no país.

Para o BMO, os dirigentes só terão clareza sobre o ritmo de aceleração ou redução da inflação em outubro, dados que não estarão disponíveis a tempo da reunião de novembro. “Dessa forma, as próximas reuniões devem ser para ponderar a possibilidade de uma alta em dezembro e muitas coisas podem mudar na trajetória da economia real neste ínterim”, conclui o banco, acrescentando que investidores só poderão ter certeza dos efeitos da política monetária caso surjam mais evidências de uma deterioração no mercado de trabalho.

Contudo, dados divulgados hoje de pedidos de auxílio-desemprego continuam apontando para um mercado de trabalho apertado, avalia o Citi, em relatório. Segundo o Departamento do Trabalho dos EUA, os pedidos de auxílio tiveram alta a 248 mil na semana encerrada em 5 de agosto, acima dos projeções, mas o Citi aponta que o nível ainda é consistente com os sólidos aumentos no emprego em meses anteriores e deveria ficar acima de 300 mil para sinalizar arrefecimento do mercado.

Tudo somado, o apetite por risco sofreu uma deterioração na parte da tarde, devido às incertezas sobre a possibilidade de uma pausa no aperto monetário e da inflação nos EUA. O movimento impulsionou os juros dos Treasuries ao território positivo, apesar de um leilão de T-bonds de 30 anos com demanda acima da média. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos avançava a 4,862%, o da T-note de 10 anos subia a 4,102% e o da T-bond de 30 anos tinha alta a 4,262%.

No câmbio, o dólar também ganhou força sobre rivais fortes. No horário citado, o dólar subia a 144,77 ienes, o euro tinha alta a US$ 1,0983 e a libra recuava a US$ 1,2678. O índice DXY fechou em alta de 0,03%, a 102,524 pontos.

Em Wall Street, as bolsas de Nova York devolveram a maior parte dos ganhos, impactadas também por uma deterioração nos papéis de bancos. No horário citado, o índice Dow Jones fechou com elevação de 0,15%, aos 35176,15 pontos; o S&P 500 avançou 0,03% aos 4468,83 pontos; e o Nasdaq ganhou 0,12%, aos 13737,99 pontos.

Entre commodities, a valorização do dólar e fuga do risco contribuiu para as perdas do petróleo, intensificado a queda registrada pela manhã após a Opep elevar projeções para a oferta da commodity. À tarde, o mercado de energia ponderou sobre notícias de um acordo entre os EUA e o Irã, que envolve o descongelamento de cerca de US$ 6 bilhões em receita do petróleo iraniano. No horário citado, o petróleo WTI para setembro fechou em baixa de 1,87% (US$ 1,58), a US$82,82 o barril, e petróleo Brent para outubro fechou em queda de 1,31% (US$ 1,15), a US$ 86,40 o barril. (Laís Adriana – [email protected])

JUROS

Após operarem em baixa pela manhã, sob efeito do alívio da inflação nos Estados Unidos em linha com o esperado e declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, os juros futuros se acomodaram perto dos ajustes ao longo da tarde, com a ponta curta preservando um viés de queda e a longa apontando alta. A postura mais defensiva coincidiu com a virada para cima nos rendimentos dos Treasuries e o mercado monitorando ainda o risco fiscal, hoje com o debate em torno da contabilização dos precatórios, além da expectativa pelo IPCA de julho, amanhã.

O Tesouro Nacional trouxe lotes expressivos no leilão de prefixados nesta retomada da atuação das instituições dealers após um período de hiato, mas o risco maior foi absorvido sem impacto, com o papel para 2025 saindo com taxas já em um dígito.

Às 17h15, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 estava em 12,435%, de 12,452% ontem no ajuste, e o DI para janeiro de 2025 projetava taxa de 10,38% (10,43% ontem). A taxa do DI para janeiro de 2027 apontava 10,01%, de 10,02%, e a do DI para janeiro de 2029, 10,53%, de 10,52%.

O mercado limitou sua exposição ao risco, especialmente nos vencimentos longos, na segunda etapa quando a estrutura a termo ganhou um pouco mais de inclinação. Entre os profissionais da renda fixa, a percepção é de que os fatores que aliviavam prêmios pela manhã foram absorvidos e a curva ficou sem referência.

Destaque da agenda no dia, o índice de preços ao consumidor (CPI, em inglês) nos Estados Unidos subiu 0,2% em julho, assim como também o núcleo, ambos em linha com as medianas das estimativas. “Um segundo conjunto benigno de impressões sobre a inflação adiciona otimismo de que o ciclo de alta de juros pelo Fed está no fim e um pouso suave da economia é viável”, afirmaram os economistas do banco holandês ING.

O dado consolidou a aposta de que a autoridade monetária não elevará o juro em setembro, com efeito de baixa no dólar e nos yields dos Treasuries. Estes últimos, porém, passaram a operar em alta à tarde, pressionado por um mix de fatores, entre eles leilão de T-Bonds de 30 anos com demanda acima da média e receios sobre a pressão do mercado de trabalho na inflação. Uma fala hawkish da presidente do Federal Reserve de São Francisco, Mary Daly, também pesou. No fim da tarde, a taxa da T-Note e dez anos abria cerca de 10 pontos-base, a 4,10%.

Com o efeito CPI saindo de cena na jornada vespertina, o mercado também voltava a olhar com mais atenção a questão fiscal, segundo o estrategista-chefe da RB Investimentos, Gustavo Cruz. “O mercado é muito sensível a esse debate. As soluções para enfrentar o problema sempre trouxeram estresse”, comentou. Segundo a Folha de S.Paulo, o governo estuda incluir em uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) incluir a possibilidade de classificar parte dos precatórios como uma despesa financeira. Isso deixaria o gasto fora do alcance do arcabouço e da meta de resultado primário, embora continue afetando o quadro fiscal ao impulsionar o endividamento do País. O Broadcast confirmou as negociações com fontes.

Alguns players relatam ainda efeito de queda nas taxas, no fim da manhã, em reação a falas de Campos Neto, que esteve hoje em arguição no Senado. “Não houve nada de muito novo em relação ao que o BC tem indicado, mas algumas declarações acabaram servindo como ‘checks’ para o mercado”, afirma o gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Andrade Xavier.

Campos Neto avaliou que, apesar da inflação de serviços não estar caindo, o IPCA deve mostrar uma pequena melhora. O IBGE divulga amanhã o índice de julho e a mediana é de alta de 0,06% na pesquisa do Projeções Broadcast. Ele repetiu que a autoridade monetária pode chegar à “menor taxa de juros possível” e a intenção é “fazer é uma queda de juros estruturada”. “Mas é preciso fazer isso com credibilidade. Às vezes os critérios técnicos se distanciam dos anseios (políticos)”, afirmou.

A agenda local trouxe a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), mas sem influência relevante sobre as taxas. Ainda que o volume tenha crescido 0,2% em junho ante maio, abaixo do consenso das estimativas (+0,4%), a percepção é de que o resultado veio em linha com a percepção de desaceleração da atividade.

Na gestão da dívida, o Tesouro ofertou 10 milhões de LTN, praticamente dobrando a oferta ante a semana passada (5,5 milhões), e aumentou também o lote de NTN-F de 2 milhões para 3 milhões. Tudo foi vendido integralmente, com a taxa da LTN 1º/10/2025 em um dígito (9,98%), refletindo a volta dos dealers. “Quando os dealers ficam de fora é impressionante como o volume dos leilões reduz. Se tem algum lote ofertado grande e o resultado é integral, o sinal é que teve uma demanda final”, observa o estrategista de renda fixa da Necton Investimentos, Fernando Ferez. (Denise Abarca – [email protected])

CÂMBIO

Após furar o piso de R$ 4,85 pela manhã e registrar mínima a R$ 4,8418 (-1,29%) em meio ao alívio com a leitura benigna da inflação ao consumidor nos EUA em julho, o dólar à vista moderou bastante o ritmo de baixa ao longo da tarde e encerrou a sessão desta quinta-feira, 10, cotado a R$ 4,8821, em queda de 0,47%. Foi o primeiro recuo da moeda americana no mercado doméstico nos últimos quatro pregões. Em agosto, a divisa acumula ganhos de 3,23%.

A perda de fôlego do real veio na esteira de uma arrancada das taxas dos Treasuries de 10 e 30 anos, que renovaram máximas à tarde. Termômetro do comportamento do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes, em especial euro e iene, o índice DXY também bateu máxima na segunda etapa de negócios, aos 102,784 pontos.

Divisas de países desenvolvidos exportadores de commodities que se fortaleciam pela manhã, como o dólar australiano e neozelandês, passaram a apresentar perdas à tarde. As principais moedas emergentes pares do real, como os pesos mexicano e chileno e o rand sul-africano se mantiveram no azul, mas reduziram os ganhos em relação ao dólar. O Banco Central do México (Banxico) anunciou manutenção da taxa básica de juros do país em 11,25% ao ano, o que em tese dá suporte ao peso mexicano.

O indicador mais relevante do dia e principal indutor dos negócios foi o CPI de julho nos EUA. Houve alta de 0,2% tanto do índice cheio quanto do núcleo, que exclui preços mais voláteis como energia e alimentos. Pela manhã, sob o impacto da divulgação do CPI, as chances de que o Federal Reserve mantenha a taxa básica na faixa entre 5,25% e 5,50% em sua reunião de setembro (dias 19 e 20) chegaram a ultrapassar 90%, segundo ferramenta do CME Group.

“A estabilidade das medidas de inflação em julho certamente vai pesar no balanço de riscos para apoiar uma parada da subida de juros nos EUA em setembro, mas me parece que a dinâmica do mercado de trabalho precisará de um enfraquecimento mais nítido para dar a confiança necessária”, afirma o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, o CPI foi positivo, mostrando desinflação consistente na parte de bens e desaceleração dos preços de serviços, o que alivia bastante a pressões sobre o Fed no curto prazo. A virada das taxas dos Treasuries longos à tarde, após leilão de US$ 23 bilhões em T-bonds de 30 anos, acabou respingando em parte nas divisas emergentes, como o real.

“A mudança da curva de juros americana, que já ocorre há algumas semanas, está dominando o movimento de moedas. A taxa do Treasury de 10 anos chegou a ficar abaixo de 4%, mas voltou a ultrapassar 4,10%”, afirma Lima, para quem o mercado está ainda na defensiva em meio à escalada das taxas longas nos EUA, que vai ter que rolar sua dívida elevada pagando juros mais elevados. “O movimento do Treasury de 10 anos, que está com prêmio alto, é a chave para entender como vai se comportar o mercado de moedas. Parece que há uma realocação global na renda fixa”.

Na visão do economista-chefe da Western, as “questões idiossincráticas” internas, como a redução da Selic em 0,50 ponto porcentual, não foram as principais responsáveis pela depreciação do real neste início de mês. Tampouco as dúvidas sobre o andamento da pauta econômica no Congresso e o cumprimento das metas fiscais previstas no arcabouço, cuja votação final está pendente na Câmara dos Deputados, prejudicaram o real.

“Nada disso fez realmente ‘preço’ na moeda. Se houver uma acomodação das taxas longas nos EUA, o dólar pode voltar a cair aqui. É claro que se a gente fizer a coisa certa do lado fiscal, o real pode andar mais”, afirma Lima.

Segundo apuração do Broadcast, líderes partidários da Câmara dos Deputados que se reuniram hoje com o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), falam em votar o arcabouço fiscal na semana que vem. Um dos principais entraves para a votação é a espera do Congresso pela minirreforma ministerial negociada pelo presidente Lula com os partidos do Centrão.

Em evento pela manhã, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ressaltou que a política fiscal “afeta muito” a taxa neutra de juros. “As medidas fiscais são importantes para abrir caminho para uma queda consolidada do juro”, disse Campos Neto. “O que mais queremos fazer é uma queda de juros estruturada. Mas é preciso fazer isso com credibilidade”.

Amanhã, será divulgado o IPCA de julho. Segundo a mediana de previsões de analistas colhidas pelo Projeções Broadcast, o índice deve mostrar alta de 0,06%, após queda de 0,08% em junho. Para a inflação acumulada em 12 meses, a mediana indica aceleração a 3,93%, ante 3,16%. (Antonio Perez – [email protected])

17:31

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