BOLSAS DE NY IGNORAM CAUTELA COM FED E AVANÇAM NO 1ºTRI, ENQUANTO DÓLAR VAI A R$ 5

As bolsas nos Estados Unidos encerraram o trimestre acumulando ganhos robustos,
mesmo tendo o período sido marcado pelo ajuste no otimismo sobre a condução da
política monetária do Federal Reserve, tanto no que diz respeito ao timing para o início
dos cortes de juros quanto pelo orçamento total. O S&P 500 teve hoje máxima histórica
de fechamento (5.254 pontos, alta de 0,11%) e o melhor trimestre desde 2019, saltando
mais de 10%, impulsionado pela euforia com o setor de inteligência artificial, e com
valorização de 3,10% em março. O Dow Jones, também renovando hoje recorde de
pontuação, aos 39.807 (+0,12%), avançou 2,08% no mês e 5,62% no trimestre. Aqui, o
Ibovespa acumulou queda de 4,53% no primeiro trimestre, com perda de 0,71% este mês.
Nesta quinta-feira, os ganhos firmes do petróleo asseguraram, via ações da Petrobras, um
dia positivo para o índice, que encerrou aos 128.106,10 pontos (+0,33%). A commodity
respondeu a tensões geopolíticas e a temores sobre a oferta, que também levaram à forte
valorização, de 16% no caso do Brent e 12% no WTI, no trimestre. O impulso do petróleo,
porém, não foi suficiente para sustentar o real. O dólar teve avanço generalizado,
terminando o dia no Brasil a R$ 5,0154 (+0,73%) e com alta de 0,86% em março. No
primeiro trimestre, avançou 3,34%. A cautela com dados de inflação nos EUA e discurso
do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, nesta Sexta-feira Santa, quando os
mercados estarão fechados, pesou sobre os negócios. Na renda fixa, o mercado de juros
termina a semana com viés de alta em toda a curva, embora o movimento seja
comportado frente ao visto no câmbio e nos Treasuries hoje, a despeito da agenda
carregada, com Pnad Contínua e Relatório Trimestral de Inflação (RTI). No acumulado do
mês, a curva ganhou em torno de 30 pontos-base de inclinação, refletindo
essencialmente a pressão vinda dos Treasuries, cujas taxas subiram no trimestre.
•MERCADOS INTERNACIONAIS
•BOLSA
•CÂMBIO
•JUROS
MERCADOS INTERNACIONAIS
No último dia do primeiro trimestre, as bolsas de Nova York fecharam mistas, mas S&P
500 e Dow Jones renovaram máximas históricas, confirmando os ganhos de mais de 10%
do S&P 500 nos três meses iniciais de 2024, o melhor trimestre desde 2019, com
resultados impulsionados pela euforia com o setor de inteligência artificial. Enquanto
isso, dólar e retornos dos Treasuries também subiram no trimestre, com a moeda
americana se fortalecendo contra rivais hoje e com os juros dos títulos do Tesouro dos
EUA fechando mistos, em dia de operações reduzidas às vésperas do feriado de Páscoa.
Mas mesmo com mercados fechados amanhã, investidores acompanharão de perto os
dados de inflação do PCE dos EUA em fevereiro, e mais tarde, os olhos se voltarão ao
discurso do presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell.
A gestora Navellier afirma que o primeiro trimestre de 2024 foi o melhor início de ano em
cinco anos, e que a tendência continua sendo ascendente. Os ganhos do S&P 500
totalizaram 10,16%, impulsionados nos primeiros três meses pela euforia com o setor de
inteligência artificial, com os três índices acionários, inclusive, renovando máximas
históricas no primeiro trimestre.
Em meio a uma rodada de dados mistos hoje, que teve queda maior do que o esperado do
Índice de Gerentes de Compras (PMI) medido pelo Instituto ISM de Chicago, e melhora do
sentimento do consumidor medido pela Universidade de Michigan, investidores ainda
encontraram campo para compras no mercado acionário, enquanto as expectativas
vigentes para a política monetária dos EUA continuam sendo de afrouxamento a partir de
junho. No noticiário corporativo, os papéis da Apple hoje caíram 1,10%, após
repercutirem notícias de que a companhia adiou o lançamento de seu modelo de celular
dobrável para o primeiro trimestre de 2027. No fechamento, o índice Dow Jones subiu
0,12%, aos 39.807,37 pontos; o S&P 500 acumulou ganhos de 0,11%, aos 5.254,35
pontos; e o Nasdaq recuou 0,12%, aos 16.379,46 pontos.
As expectativas por cortes de juros continuaram impulsionando os preços do ouro, que
hoje renovou máxima de fechamento, ficando acima de US$ 2.240 por onça-troy, também
conforme investidores recorrem ao ativo de segurança às vésperas do dado de inflação do
PCE nos Estados Unidos. Enquanto isso, o bitcoin também voltou a subir e operava acima
dos US$ 70 mil perto das 17h (de Brasília).
Analistas projetam que o PCE de fevereiro deve vir próximo de 0,3% ao mês, indicando
uma desaceleração do índice. Mesmo assim, “para trazer o núcleo da inflação do PCE
para algo em torno de 2,5% [na taxa anual] até a reunião de junho do Fomc, o ritmo de alta
mensal precisa ficar muito mais próximo de 0,2% do que 0,3% nos próximos meses”,
escreveu o banco JPMorgan, em nota a clientes.
De olho na rodada de dados de amanhã, e também nas falas do presidente do Fed,
Jerome Powell, e da líder da distrital de São Francisco, Mary Daly, os retornos dos
Treasuries ficaram mistos hoje, com a ponta curta subindo. Às 15h (de Brasília), o juro da
T-note de 2 anos fechou com alta a 4,623%, o da T-note de 10 anos subiu a 4,200% e o do
T-bond de 30 anos recuou a 4,343%.
Pela madrugada, os retornos chegaram a subir, na esteira das falas de Christopher Waller,
diretor do Fed, mas o ímpeto foi se dissipando com a rodada de dados mistos, em que o
Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA foi revisado para cima e o núcleo do índice de preços
gastos com consumo (PCE) foi revisado para baixo no último trimestre do ano passado.
No primeiro trimestre de 2024, porém, os retornos encontraram espaço para avançar,
conforme investidores perderam a convicção de que o Fed reduziria os juros de forma
mais fulminante.
Este cenário acabou por impulsionar o dólar contra rivais nos primeiros três meses do
ano, que subiu contra iene, euro e libra, também como resultado do diferencial de juros.
Hoje, na agenda de indicadores, as vendas no varejo na Alemanha caíram 1,9% em
fevereiro ante janeiro, bem abaixo da expectativa, o que acabou por pressionar o euro
contra a moeda americana. No fim da tarde em Nova York, o dólar se valorizava a 151,41
ienes, o euro recuava a US$ 1,0791 e a libra tinha baixa a US$ 1,2624. O índice DXY, que
mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrava alta de 0,19%, a 104,547
pontos. Em todo o trimestre atual, o DXY avançou 3,17%, e no mês de março a alta foi de
0,38%.
A força do dólar, porém, não impediu o petróleo de avançar fortemente hoje, o que
consolidou os ganhos de 16% do Brent e de 12% do WTI no primeiro trimestre. O
fortalecimento de hoje vem após dois pregões de baixa dos preços da commodity, e hoje
as tensões geopolíticas na Rússia voltaram a preocupar, conforme os ataques ucranianos
na semana passada a refinarias russas continuam perturbando a produção do país. O WTI
para maio fechou em alta de 2,23% (US$ 1,82), em US$ 83,17 o barril, na Nymex. O Brent
para junho, por sua vez, hoje avançou 1,86% (US$ 1,59), a US$ 87,00 o barril.
BOLSA
O Ibovespa buscou recuperar as perdas do mês na última sessão de março, impulsionado
pelos ganhos da Petrobras (ON +2,46%, PN +2,22%), em linha com a valorização em torno
de 2% do petróleo no exterior. Apoiado na estatal, o índice conseguiu subir 0,33% e fechar
aos 128.106,10 pontos, uma alta de 0,85% na semana.
Não foi o bastante: pressionado pelas perdas da própria Petrobras (ON -7,13%, PN –
6,93%) no mês, devido ao temor de ingerência do governo na estatal, o índice de
referência da B3 fechou março em queda de 0,71%. Esses receios respingaram em Vale
ON, que perdeu 5,13% nesta base.
O índice chega ao fim do primeiro trimestre com perda de 4,53%, a maior desde o mesmo
período do ano passado, pressionado pela expectativa de que o Federal Reserve (Fed, o
banco central americano) vai demorar mais para cortar juros e pela persistente incerteza
fiscal doméstica.
O mercado começou o ano não só esperando que o Fed começasse a cortar os juros em
março, como também que reduzisse a taxa em até 1,5 ponto porcentual em 2024. Ao
longo dos meses, as expectativas foram sendo frustradas e as estimativas migraram para
um corte inicial em junho e uma baixa total de 0,75 ponto.
“A menor expectativa de corte de juros atrapalhou o fluxo para países emergentes, como o
Brasil”, diz o chefe de research da Guide Investimentos, Fernando Siqueira, em relatório.
Ele afirma que o aumento dos juros de mercado no País e as revisões das expectativas de
lucro de empresas brasileiras também limitou o Ibovespa no início deste ano.
Para o sócio-fundador da Veedha Investimentos Rodrigo Moliterno, a incerteza doméstica
também prejudicou o desempenho da Bolsa brasileira. O governo, ele diz, manteve o sinal
de que pretende continuar aumentando gastos nos últimos meses, o que fortalece a
desconfiança do mercado.
“O Brasil acabou ficando para trás nas disputas pelos recursos, seja por interferência
governamental nas empresas, seja por desorientações no plano econômico”, afirma. Ele
destaca que, enquanto o Ibovespa fechou o mês e o trimestre em queda, o S&P 500
americano ganhou 3,10% e 10,16% nessas bases, respectivamente.
Hoje, a recuperação do Ibovespa foi praticamente toda devida à Petrobras. As ações da
empresa pegaram carona na elevação dos preços do petróleo, entre 2,23% (WTI) e 1,86%
(Brent), que também puxou outras petroleiras, como Prio (ON +3,53%). Dos 87 papéis na
carteira teórica, só 42 subiram.
O analista da Empiricus Research Matheus Spiess afirma que os ganhos da petroleira
continuam defasados em relação aos do petróleo Brent, que só em março avançou
6,21%, à faixa de US$ 87 por barril. “Ela não conseguiu acompanhar o rali por causa do
ambiente doméstico e, no mês de março, continua como detratora do Ibovespa”, diz.
O relatório trimestral de inflação (RTI) e a entrevista coletiva do presidente do Banco
Central, Roberto Campos Neto, e do diretor de política econômica, Diogo Guillen, foram
apenas monitorados, sem impactos nos negócios.
Marfrig ON (+12,80%) teve a maior alta nominal na sessão, após divulgar balanço bem
recebido pelo mercado, e Casas Bahia ON (+7,96%) ficou em segundo, em recuperação.
Completam a lista das maiores altas Lojas Renner ON (+3,92%) e São Martinho ON
(+3,78%).
Na ponta negativa do índice, Azul ON caiu 7,65%, apesar de um balanço considerado
positivo. Na sequência, aparecem CVC ON (-4,29%), Braskem PNA (-3,72%) e LWSA ON (-
2,83%).
Moliterno, da Veedha, diz que a oscilação contida do índice hoje – entre a mínima de
127.270,19 (-0,33%) e a máxima de 128.363,98 (+0,53%) – ainda reflete a cautela de fim
de trimestre e a expectativa por dois acontecimentos amanhã: a divulgação do PCE
americano, medida de inflação preferida do Fed, e uma coletiva do presidente da
instituição, Jerome Powell. O giro financeiro do dia ficou em R$ 21 bilhões.
“Enquanto os juros americanos continuarem elevados, vamos trabalhando nessa
lateralidade do mercado, entre 125 mil e 128 mil pontos”, diz o profissional, que espera
alta do Ibovespa aos 145 mil pontos no fim deste ano, um aumento em torno de 13% ante
o fechamento de hoje.
Para a próxima semana, que abre o segundo trimestre do ano, as apostas do mercado se
dividem em alta (40%), estabilidade (40%) e queda (20%) do Ibovespa, segundo o
Termômetro Broadcast Bolsa
17:30
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 128106.10 0.3254
Máxima 128363.98 +0.53
Mínima 127270.19 -0.33
Volume (R$ Bilhões) 2.09B
Volume (US$ Bilhões) 4.19B
17:37
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 128690 0.5234
Máxima 129010 +0.77
Mínima 127820 -0.16
CÂMBIO
O dólar à vista voltou a superar o nível técnico de R$ 5,00 nesta quinta-feira, 28, dia
marcado por nova onda de fortalecimento da moeda americana tanto em relação a
divisas fortes quanto emergentes. À espera de dados de inflação nos EUA e discurso do
presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, amanhã, quando os mercados estarão
fechados em razão do feriado da Paixão de Cristo, investidores adotaram uma postura
cautelosa.
A divisa abriu em alta e superou a barreira psicológica dos R$ 5,00 ainda pela manhã, em
meio à alta dos Treasuries curtos, mais ligados às expectativas em torno da condução da
política monetária americana. Investidores assimilaram a fala dura do diretor do Fed
Christopher Waller ontem à noite e o avanço de 3,4% na leitura final do PIB dos EUA no
quarto trimestre de 2023, levemente acima das expectativas (3,3%).
Com máxima a R$ 5,1079 na última hora de negócios, o dólar à vista encerrou o dia em
alta de 0,73%, cotado a R$ 5,0154. Operadores observam que, como é típico de fim de
mês, os negócios foram muito influenciados pela rolagem de posições no segmento
futuro e pela disputa em torno do fechamento da última taxa ptax do mês. O dólar termina
março com ganhos de 0,86%, o que leva a valorização acumulada no primeiro trimestre a
3,34%. A divisa havia encerrado 2023 em baixa de 8,08%
Apesar de ruídos políticos locais, como o imbróglio envolvendo a retenção dos dividendos
extraordinários da Petrobras, analistas observam que o principal indutor da depreciação
do real foi à valorização global da moeda americana. Termômetro do comportamento do
dólar em relação a seis divisas fortes, em especial o euro e o iene, o índice DXY também
acumulou valorização de pouco mais de 3% no primeiro trimestre.
A moeda americana também avançou na comparação com a maioria das divisas
emergentes e de países exportadores de commodities. Uma das poucas moedas que se
destacaram foi o peso mexicano, com ganhos de cerca de 2% em relação ao dólar no
trimestre. Principal par do real, a divisa mexicana se beneficia da postura mais
conservadora do Banxico, o último grande banco central da região a embarcar em um
ciclo de cortes da taxa básica, com redução de 0,25 ponto porcentual, para 11% ao ano,
neste mês.
O economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, afirma que a formação da taxa de
câmbio tem sido dominada pelo comportamento da moeda americana no exterior. Não se
trata de falar de fraqueza do real no primeiro trimestre, mas de fortalecimento global do
dólar. “A economia americana está crescendo mais e tem taxa de juros atrativa. É uma
história de dólar forte no mundo, e não de riscos idiossincráticos domésticos”, afirma
Lima. “Tivemos ontem fala mais ‘hawk’ do Waller e tem amanhã a questão do PCE [índice
de prelos de gastos com consumo], que deve vir com o núcleo elevado”.
Ontem à noite, o diretor do Fed disse que as leituras de inflação em janeiro e fevereiro
foram “decepcionantes”, sugerindo que o processo de desinflação desacelerou ou até
mesmo foi interrompido. Ele ressaltou que não está pronto e nem tem urgência em
começar a reduzir os juros. Os riscos associados em protelar a redução das taxas são
superiores ao de agir de foram rápida, argumentou Waller.
Analistas atribuem o fortalecimento global do dólar no primeiro trimestre ao rearranjo das
apostas em torno do corte inicial de juros nos EUA e da magnitude de alívio monetário
esperado para este ano. No fim de 2023, a projeção era de início de redução em março e
corte total de 150 pontos-base em 2024. Dados fortes de atividade e inflação deslocaram
as estimativas para o primeiro corte para junho, com alívio total de 75 pontos-base – que
corresponde a mediana das previsões dos dirigentes do Fed.
Para Lima, da Western, assim que o Fed começar a cortar os juros, é possível que haja um
movimento de apreciação do real, com a taxa de câmbio voltando para perto de R$ 4,80,
apesar do quadro de preços de commodities mais baixos. “O real deve se recuperar assim
que houver mais certeza sobre a trajetória dos juros americanos”, afirma o economista.
Em apresentação hoje do Relatório Trimestral de Inflação, o presidente do Banco Central,
Roberto Campos Neto, disse que o diferencial de juros entre Brasil e EUA segue elevado e
que, portanto, não traz preocupação para a trajetória da taxa de câmbio. O presidente do
BC também observou que as contas externas seguem bastante sólidas, com os
superávits comerciais superando os US$ 80 bilhões.
Dados do fluxo cambial em março, até o dia 22, mostram que as entradas de recursos via
comércio exterior, graças aos resultados robustos da balança comercial, garantem um
saldo positivo. No mês, o fluxo total foi de US$ 2,292 bilhões, resultado de entrada de US$
4,343 bilhões pelo canal comercial. Já pelo canal financeiro houve saídas de R$ 4,343
bilhões. No acumulado do ano (até 22 de março), o fluxo total é positivo em US$ 5,335
bilhões, com entrada líquida de R$ 11,697 bilhões via comércio exterior mais do que
compensando as saídas líquidas de US$ 6,362 bilhões na conta de capital.
17:37
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 5.01540 0.7250 5.01790 4.98050
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 4996.500 0.0701 5004.000 4987.000
DOLAR COMERCIAL FUTURO 5030.000 0.5497 5034.000 4995.500
JUROS
O mercado de juros termina a semana com viés de alta em toda a estrutura, embora o
movimento seja comportado frente ao visto no câmbio e nos Treasuries hoje. A percepção
de analistas é de que as taxas já haviam incorporado nos últimos dias um cenário mais
conservador e que, assim, os recados nesse sentido dos indicadores do mercado de
trabalho e do Relatório Trimestral de Inflação (RTI) já não tinham mais espaço para
ressoar nos preços. No mês e no trimestre, a curva ganhou inclinação, sob influência do
comportamento dos Treasuries.
Perto das 17h15, o DI para janeiro de 2025 subia de 9,907% no ajuste de ontem para
9,920%. O janeiro 2026 saía de 9,891% para 9,915%. O janeiro 2027 passava de 10,142%
para 10,170%. E o janeiro 2029 avançava de 10,638% para 10,680%.
O dia foi bastante movimento no front ao qual a curva de juros é sensível, embora sem
grandes novidades. No RTI, o Banco Central avançou pouco em relação ao que já havia
tratado no comunicado e na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), reforçando
relativa cautela da autoridade e o cenário-base já estabelecido.
Assim, a expectativa se deslocou para a entrevista com o presidente do BC, Roberto
Campos Neto, e o diretor de Política Econômica, Diogo Guillen. Também, mais uma vez, o
tom foi de reforço das mensagens recentes.
Campos Neto destacou que o que o BC entendia sobre a Selic terminal não mudou de
forma substantiva e que o debate de diretores sobre a redução do corte da taxa não é
especificamente sobre junho.
Já Guillen ressaltou que alguns membros – ao menos dois – entendem que os ganhos
salariais estão associados a um mercado de trabalho apertado.
Ontem, o Caged mostrou geração líquida de 306 mil postos de trabalho em fevereiro.
Hoje, a Pnad Contínua apontou que a taxa de desocupação de 7,8% registrada no
trimestre terminado em fevereiro de 2024 foi o menor resultado para esse período do ano
desde 2015, quando ficou em 7,5%.
“No fim das contas, não foi nada diferente do que nós acompanhávamos nos últimos
tempos. O mercado sequer se mexeu com a entrevista. A dinâmica do dia está bem
tranquila”, acrescentou o portfolio manager da MAG Investimentos, Ricardo Jorge.
“O mercado vai ficar se debatendo no range da Selic entre 9,5% e 10%. Quando saiu a ata,
a precificação da curva era de 9,75%-9,80% – foi para mais perto de 10%, depois voltou
um pouco. O mercado estava já no ‘range’ de onde os juros deveriam ficar oscilando, em
termos de precificação de taxa terminal. Hoje não houve uma reação absurda”, disse o
economista-chefe da EQI Asset, Stephan Kautz.
No levantamento relâmpago do Projeções Broadcast com economistas do mercado, 24
casas preveem corte de 0,50 ponto da Selic em junho e 13, de 0,25 ponto.
A mediana para a taxa no fim de 2024 diminuiu para 9,0%, ante 9,25% no levantamento
publicado após a ata do Copom de março, anteontem. Já as estimativas intermediárias
para 2025 e 2026 retornaram de 9,0% para 8,50%, nível em que estavam na pesquisa após
o comunicado da reunião.
Agentes do mercado viram, hoje, alguma tendência em ficarem mais conservadores por
causa do front externo amanhã. Apesar de não haver negócios nem aqui nem nos Estados
Unidos, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, discursa e o Departamento do
Comércio informa a inflação ao consumidor medida pelo PCE.
A cautela tem a sua dose de razão. Em março e no primeiro trimestre, a curva de juros
ganhou inclinação por causa das oscilações dos Treasuries – e de renovadas dúvidas
sobre quando se dará o início do ciclo de cortes de juros pelos Estados Unidos. O
diferencial entre as taxas de janeiro de 2029 e janeiro de 2025, uma medida de inclinação,
passou de 5,6 pontos-base na virada do ano para 75,0 pontos-base agora. No mês, subiu
30 pontos.