BOLSA TEM MAIOR QUEDA DESDE MAIO, REAL É A PIOR MOEDA E DI INCLINA NO PÓS-FED

Os efeitos do ‘corte hawkish’ do Comitê de Política Monetária (Copom) acabaram sendo ofuscados pela forte aversão ao risco que emanou do exterior nesta quinta-feira, dia seguinte à decisão do Federal Reserve. Os agentes se ajustaram ao cenário em que os juros permanecerão altos por mais tempo nos Estados Unidos, de acordo com as sinalizações das projeções dos dirigentes do Fed e a fala de seu presidente, Jerome Powell. Assim, os ativos locais emularam o comportamento dos seus pares externos. Ou seja, o mercado acionário viu forte queda, o dólar teve valorização e as curvas de juros inclinaram. Em Nova York, os índices cederam mais de 1%. Aqui, o Ibovespa caiu aos 116.145,05 pontos, na maior queda (-2,15%) em termos porcentuais desde 2 de maio. Somente 7 dos 86 papéis do índice brasileiro subiram. No câmbio, o real foi a moeda que teve a pior performance global ante o dólar ante as principais negociadas no mundo. A divisa brasileira é penalizada por sua principal virtude: a boa liquidez ante os pares emergentes. Num dia de fuga do risco, portanto, acaba sendo a “porta de saída” mais fácil. O dólar à vista terminou o dia em R$ 4,9352, valorização de 1,13%. Lá fora, o DXY subiu 0,23%. Nos juros futuros, a esperada desinclinação da curva após a mensagem mais dura do Copom não veio. Nos vencimentos de médio e longo prazo, o exterior pesou mais. Em termos de precificação de Selic ainda este ano, o mercado reduziu um pouco as apostas de queda de 75 pontos-base, mas não as apagou. O cenário-base dos departamentos econômicos segue, contudo, em linha com o plano de voo do Banco Central, de redução de 50 pontos até o fim do ano. No exterior, a T-note de 10 anos permaneceu nos maiores níveis desde 2007.

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•BOLSA

•CÂMBIO

•JUROS

MERCADOS INTERNACIONAIS

Investidores fugiram do risco nos principais mercados do globo nesta quinta-feira, em uma sessão marcada por uma expressão que se incorporou ao léxico das mesas de operações: “higher for longer” – juros mais altos por mais tempo. Ainda que Federal Reserve (Fed), ontem, e Banco da Inglaterra (BoE), hoje, tenham mantido as taxas básicas estáveis, a avaliação predominante é a de que a política restritiva pode perdurar por um período indeterminado. E o risco de uma reaceleração da inflação nem permite descartar completamente novas elevações, sobretudo nos EUA. Essa perspectiva se traduziu em demanda aquecida por dólar globalmente, em detrimento de ativos como petróleo e ações. A commodity, contudo, aparou perdas após Rússia restringir temporariamente exportações de diesel e gasolina. Em Nova York, os papéis de tecnologia foram particularmente penalizados, o que ajudou S&P 500 e Nasdaq a fecharem em baixa de mais de 1%. Na renda fixa, os retornos longos dos Treasuries avançaram, mas o da T-note de 2 anos corrigiu parcialmente o salto da véspera, quando atingiu máximas desde 2006.

“A liquidação no mercado global tem investidores preocupados que os juros não vão cair tão cedo”, resume o analista Edward Moya, da Oanda, em análise sobre um dia que teve aumentos de taxas em Suécia e Noruega, além de manutenção no Reino Unido. O BoE, aliás, levou em conta o alívio da inflação de serviços, informado na véspera, e optou por parar o ciclo de aperto das condições. Mas o presidente da instituição, Andrew Bailey, alertou contra complacência e deixou um recado claro: “vamos manter os juros altos o suficiente pelo tempo suficiente”, disse, em mensagem no X (antigo Twitter). Em resumo, relaxamento monetário ainda está distante no horizonte, como mostrou reportagem do Broadcast publicada às 15h32.

Outro fator que inspirou ressalvas em relação à manutenção foi o placar apertado – 5 dirigentes votaram pelo resultado que prevaleceu e 4 preferiam uma elevação de 25 pontos-base. O Bank of America entende que não haverá mais aumentos. “Mas, na nossa opinião, seria difícil excluir o risco de uma nova alta em novembro, ou mesmo em dezembro, ou fevereiro do próximo ano”, pondera.

A análise é semelhante à que se aplicou sobre o Fed, que ontem optou por manter suas referências básicas entre 5,00% e 5,25%. A ênfase, neste caso, se voltou ao gráfico de pontos, que apontou apoio ainda majoritário para mais uma alta ainda este ano. A curva manteve a precificação mais forte de estabilidade, mas a chance de uma nova alta cresceu e o quadro é dividido, conforme indica a plataforma de monitoramento do CME Group.

Tudo somado, operadores buscaram proteção na segurança do dólar em todo o mundo. O índice DXY, que mede a moeda americana ante seis rivais fortes, fechou em alta de 0,23%, a 195,378 pontos. No fim da tarde em Nova York, a libra recuava a cerca de US$ 1,22, com BoE em foco. Exceção à tendência geral, o dólar caía a 147,513 ienes, horas antes da decisão do Banco do Japão (BoJ). Há poucas dúvidas de que os juros serão mantidos, mas parte do mercado especula se haverá sinalização quanto ao programa de controle da curva de juros (YCC, na sigla em inglês).

O cenário apoiou os retornos dos Treasuries na ponta longa, com a do T-bond de 30 anos na máxima desde 2011. No fim da tarde, o rendimento da T-note de 2 anos recuava a 5,135% e ajustou parte dos ganhos de mais cedo. Já o da T-note de 10 anos avançava a 4,478% e o do T-bond de 30 anos aumentava a 4,565%.

Na renda variável, os três principais índices acionários de Nova York sucumbiram ao clima negativo e fecharam em baixa de mais de 1%. O Dow Jones perdeu 1,08%, a 3.4070,42 pontos; o S&P 500 baixou 1,64%, a 4.330,00 pontos; e o Nasdaq se desvalorizou 1,82%, a 13.223,98 pontos. Nem mesmo o impulso que notícias sobre inteligência artificial havia dado à Microsoft se sustentou, com a empresa em baixa de 0,39%.

A cautela também pesou sobre commodities no geral. Mas o petróleo conseguiu terminar perto da estabilidade, diante da informação de que a Rússia introduziu restrições temporárias à venda de gasolina e diesel, em uma decisão tomada para estabilizar os preços dos combustíveis. Com isso, o WTI para novembro perdeu 0,30%, a US$ 93,24, e o do Brent para igual mês baixou 0,04%, a US$ 89,62.

BOLSA

A quinta-feira pós-Copom alinhou a decepção quanto ao fechamento da porta, no curto prazo, para aceleração do ritmo de queda da Selic com o sinal do Federal Reserve, emitido no mesmo dia, de que os juros americanos permanecerão altos por mais tempo – o que contribui para alimentar a percepção de que o BC americano talvez não consiga levar a maior economia do mundo a um pouso suave. Assim, desde a manhã, o dia foi de aversão a risco, com dólar e curva de juros em alta, e queda para o Ibovespa e demais índices de ações, da Ásia à Europa e aos Estados Unidos.

Aqui, a referência da B3 acentuou mínima em direção ao fechamento da sessão, com piora também nas ações de Petrobras (ON -1,44%, PN -1,55%), que até o meio da tarde mostravam ajuste mais comportado. Assim, com desempenhos ruins de outros carros-chefes – como Vale (ON -2,61%, mínima do dia no fechamento) e, entre os grandes bancos, Bradesco (ON -4,29%, PN -3,71%) -, o Ibovespa encerrou em baixa de 2,15%, aos 116.145,05 pontos, entre mínima de 116.012,92, às 16h35, e máxima de 118.695,09 pontos, correspondente à abertura do dia.

O giro financeiro subiu a R$ 26,1 bilhões nesta quinta-feira, o que não costuma ser bom sinal em dias bem negativos como hoje. Na semana, o Ibovespa acumula perda de 2,20%, limitando o avanço a apenas 0,35% no mês e a 5,84% no ano. Foi a maior queda para o Ibovespa desde 2 de maio, quando havia recuado 2,40%, com o índice retrocedendo agora a nível não muito distante do fechamento de 8 de setembro, então aos 115,3 mil pontos.

“O Copom reconheceu uma piora no cenário externo, que se mostrou ‘mais incerto’ – como no comunicado de agosto. O comitê mostrou preocupação diante da alta das taxas de juros americanas”, observa em nota Alexandre Lohmann, economista-chefe da Constância Investimentos, em que destaca também o “uso do plural” no comunicado do Copom da noite passada, em que o comitê, faltando apenas as reuniões de novembro e dezembro para a conclusão do ano, sinaliza estar “fechando a porta para aceleração do ritmo de corte” da Selic ainda em 2023.

Até a reunião desta semana, parte minoritária do mercado considerava que poderia haver espaço para um corte maior, de 0,75 ponto porcentual, em dezembro – perspectiva frustrada pelo comunicado da quarta-feira, que ancora a visão de que a Selic fechará 2023 a 11,75%, com cortes de meio ponto, cada, nessas últimas duas reuniões do ano. Ontem, conforme esperado, o Copom reduziu a taxa básica de juros em meio ponto porcentual, de 13,25% para 12,75% – foi o segundo corte consecutivo da Selic, ambos de meio ponto, partindo de 13,75%.

“Avaliamos o comunicado como neutro”, aponta em nota Sérgio Goldenstein, economista-chefe da Warren Rena. “Pelo lado mais hawkish, nota-se um aumento da preocupação com o ambiente externo e com a execução das metas fiscais”, acrescenta o economista. Acelerar o ritmo de redução da Selic neste momento, argumenta Goldenstein, não seria um sinal positivo para a ancoragem de expectativas, na medida em que, desde a reunião anterior, “não se materializaram surpresas positivas substanciais que elevem ainda mais a confiança na dinâmica desinflacionária prospectiva”.

“Para termos uma leitura mais sólida dos próximos passos do BC, será preciso ver como vai se desenrolar toda essa questão de meta de déficit e arrecadação do governo”, diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos. Para 2024, o governo se comprometeu com uma meta de déficit zero, que o mercado tem consumido com muitas pitadas de sal ante as dificuldades evidentes pelo lado da receita, sem cortes de despesa. Nesse contexto, a arrecadação em agosto, divulgada hoje de manhã pela Receita Federal, teve queda real de 4,14% ante o mesmo mês do ano passado e de 14,59% em relação a julho.

Após a divulgação desses dados, o chefe do Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros da Receita Federal, Claudemir Malaquias, comentou que, depois de arrecadação recorde ao longo de 2022, os tributos ligados às empresas estão ditando o desempenho da arrecadação no ano em curso. Dessa forma, o recolhimento do Imposto de Renda de Pessoa Jurídica (IRPJ) e da Contribuição Social sobre Lucro Líquido (CSLL) caiu 23,30% na comparação entre agosto de 2023 e o mesmo mês do ano passado.

Compondo esta cautela maior com relação ao caminho dos juros vis-à-vis inflação e ritmo de atividade, aqui e no exterior, o tom geral do Federal Reserve, na tarde de ontem, foi recebido como ‘hawkish’, ou seja, ainda duro e restritivo com relação ao viés para a política monetária dos Estados Unidos.

Assim, a manutenção da taxa de juros de referência do Reino Unido, nesta quinta-feira, não fez muito efeito nem menos em Londres, onde o índice FTSE 100 fechou o dia em baixa de 0,69%. Na Europa, destaque hoje para queda de 1,59% no índice de ações de Paris (CAC 40); na Ásia, para baixa de 1,37% em Tóquio (Nikkei 225); e em Nova York, para queda de 1,82% no Nasdaq, índice de tecnologia que reúne as ações de ‘crescimento’, mais expostas à perspectiva de curto prazo para os juros americanos.

Na avaliação de James Briggs, gestor de portfólio na equipe de crédito corporativo da Janus Henderson, o Fed entregou ontem “mensagem hawkish, mantendo a orientação de que ainda é esperado um novo aumento de taxa [de juros] nos últimos meses do ano”.

“O Resumo de Projeções Econômicas foi atualizado para refletir uma economia mais resiliente do que a antecipada, com os mercados de trabalho e o consumo, em particular, tendo surpreendido positivamente nos últimos meses”, acrescenta o gestor, em nota. “O presidente [Jerome Powell, do BC dos EUA] reconheceu que a incerteza em torno dessas previsões permanece alta, continuando a destacar que o Fed permanece dependente dos dados, e que a totalidade dos dados recebidos será instrumental na evolução das taxas de juros daqui para frente.”

Com a aversão global a risco que se impôs nesta quinta-feira, as ações de maior peso e liquidez na B3 operaram em bloco no negativo, com destaque para Vale, afetada também pelo ajuste do minério de ferro na China, que caiu hoje quase 2% em Dalian. No setor metálico, além de Vale, destaque também para a retração em Gerdau (PN -2,32%) e Usiminas (PNA -2,66%). Entre os grandes bancos, as ações do Bradesco voltaram a estar entre as mais pressionadas, mas o dia foi ruim também para nomes como Itaú (PN -2,28%), BB (ON -2,29%) e Santander (Unit -1,77%, na mínima do dia no fechamento).

Petrobras – que hoje acentuou correção em direção ao fechamento, contribuindo para a piora do Ibovespa – vira para baixo na semana (ON -0,08%, PN -0,38%), com desempenho também negativo do petróleo no intervalo: no mês, as ações da petroleira ainda sobem 6,75% e 5,70%, respectivamente. Na ponta negativa do Ibovespa na sessão, destaque para Magazine Luiza (-6,75%), Soma (-6,71%) e Arezzo (-5,71%). No lado oposto, Suzano (+2,04%), Sabesp (+2,03%, Natura (+1,95%) e CSN Mineração (+1,54%). Apenas sete ações do Ibovespa conseguiram fechar o dia com ganhos

17:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 116145.05 -2.14859

Máxima 118695.09 -0.00

Mínima 116012.92 -2.26

Volume (R$ Bilhões) 2.60B

Volume (US$ Bilhões) 5.29B

17:31

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 117060 -2.07872

Máxima 118640 -0.76

Mínima 116865 -2.24

CÂMBIO

O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 21, em alta de 1,13%, cotado a R$ 4,9352, perto da máxima, a R$ 4,9362, registrada na reta final dos negócios com o aprofundamento da baixa do Ibovespa. A perda de força do real ocorreu em meio a uma onda de fortalecimento da moeda americana no exterior e à alta das taxas longas dos Treasuries, ainda sob o impacto da decisão de ontem do Federal Reserve. Embora tenha mantido a taxa básica no intervalo entre 5,25% e 5,50%, o banco central americano deixou a porta aberta para uma alta adicional dos juros e sinalizou manutenção de política monetária restritiva por período prolongado.

Como é de praxe em episódios de ajuste global de portfólios motivados por aversão ao risco, o real amargou as piores perdas entre as principais moedas emergentes e de países exportadores de commodities. Operadores explicam que é mais fácil para os investidores reduzirem posições em real, dado que a divisa brasileira é mais líquida e, portanto, oferece opção de saída com custos menores. Apesar do escorregão hoje, o real e as demais divisas latino-americanas de países com juros altos, mas chamadas “moedas de carrego”, seguem liderando os ganhos em relação ao dólar em 2023. Destaque para os pesos colombiano e chileno, com valorização de dois dígitos.

Por aqui, analistas afirmam que decisão do Banco Central brasileiro, ontem à noite, de cortar a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 12,75% ao ano, e indicar novas reduções de igual magnitude nos próximos meses ainda não tira a atratividade do real. Apesar do estreitamento do diferencial entre juros interno e externo, o Brasil segue oferecendo taxas reais elevadas para os estrangeiros.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, classificou o comunicado do Copom como “um pouco mais duro na margem”. Além de um recado de que é necessário cumprir as metas fiscais para ancoragem das expectativas de inflação, o comitê sinalizou que pretende manter o atual ritmo de cortes “nas próximas reuniões”, o que tende a reduzir as apostas em redução da Selic em 0,75 ponto porcentual em dezembro.

“A rigor, o Copom ter sido um pouco mais duro deveria, em tese, contribuir para um desempenho melhor do real, mas o ambiente externo está preponderando hoje. A reação adicional ao Fed está levando a abertura dos Treasuries e ao fortalecimento do dólar”, afirma Damico, ressaltando que as projeções dos integrantes do BC americano para juros e indicadores econômicos em 2024 e 2025, incluídas no chamado ‘gráfico de pontos’, trouxeram uma mensagem “bastante dura” para o mercado. “E o Powell, que costumava suavizar o comunicado, desta vez manteve um tom firme, reforçando a confiança de que a atividade está resiliente, o que demanda mais juros”, acrescenta a economista, em referência a declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, em entrevista coletiva.

Nos EUA, dados de seguro-desemprego na semana encerrada em 16 de setembro, divulgados pela manhã, reforçaram a leitura de que o mercado de trabalho continua aquecido. Houve queda de 20 mil no número de pedidos, para 201 mil. O resultado ficou bem abaixo da previsão de analistas, de 225 mil solicitações. O diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, André Rolha, observa que o dólar acelerou os ganhos pela manhã lá fora e aqui após a divulgação dos números de seguro-desemprego, ecoando a mensagem do BC americano de que vai operar no modo ‘data dependent’, ou seja, tomará suas decisões com base nos indicadores correntes.

Do lado doméstico, apesar de o Copom ter sinalizado que não vai acelerar o ritmo de cortes, Rolha afirma que há dúvidas sobre o cumprimento das metas fiscais, o que eleva a percepção de risco e tira parte da atratividade dos ativos locais. Enquanto congressistas e parte do governo ventilam a possibilidade de abandonar a meta de déficit primário zero em 2024, o Ministério da Fazenda se mantém firme no objetivo de aumentar receitas para entregar o resultado previsto no primeiro ano de vigência do arcabouço fiscal.

“Por enquanto, o real tem se comportado bem, respeitando o nível dos R$ 5,00 no fechamento. O piso está em R$ 4,80. Acredito ainda em um viés baixista para o dólar, mas é preciso que a situação internacional melhore e que o mercado veja sinais mais fortes de que o governo vai cumprir as metas fiscais”, diz Rolha

17:31

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.93520 1.127 4.93620 4.89080

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4938.500 1.05382 4945.000 4897.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4940.500 1.23975 4957.500 4921.000

JUROS

O mercado de juros dedicou a quinta-feira a ajustes aos comunicados do Federal Reserve e do Copom, com taxas em alta firme desde a abertura. Enquanto a mensagem do Copom tentou esfriar as apostas na aceleração do ritmo de queda da Selic, o Fed sugeriu juros elevados por mais tempo nos EUA e manteve na mesa a possibilidade de novos aumentos ainda este ano. A ponta curta subiu menos do que a longa, com ganho de inclinação atribuído especialmente ao ambiente internacional, marcado pelo avanço dos retornos dos Treasuries e do dólar. Nesse ambiente de cautela, o Tesouro optou por não adicionar pressão à curva, trazendo lotes menores no leilão de prefixados.

Às 17h16, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,57%, de 10,48% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2026 subia de 10,15% para 10,29%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,55%, de 10,39% ontem, e a do DI para janeiro de 2029 cruzava novamente a linha dos 11%, marcando 11,08%, de 10,93% ontem. O DI para janeiro de 2031 avançava a 11,39%, de 11,23%.

O diferencial entre as taxas de janeiro de 2029 e janeiro de 2025 voltou a subir, para 50 pontos no horário acima citado, de 44 ontem. Não fosse o “efeito Fed”, a curva teria perdido inclinação considerando o comunicado do Copom considerado “hakwish”, que buscou colocar um freio à ideia de ampliação na magnitude dos cortes da taxa básica para 0,75 ponto ao menos no curto prazo.

A decisão de reduzir a Selic para 12,75% estava precificada, mas o mercado alimentava esperanças de que se a melhora da inflação subjacente vista nos últimos índices de preços se consolidasse haveria espaço para doses maiores de corte, na medida em que também se espera que a atividade responda mais fortemente ao aperto monetário.

Mas os diretores relativizaram o alívio da inflação subjacente, destacaram a resiliência da atividade e o ambiente externo incerto, com aumento dos juros longos nos EUA e perspectiva de menor crescimento na China. De quebra, reforçaram a importância da firme persecução das metas fiscais, o que foi lido como um recado à Fazenda e ao Congresso.

“O Comitê reconhece que a conjuntura atual segue sendo marcada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento e por expectativas de inflação que apresentam apenas uma reancoragem parcial”, avaliam os economistas da Genial Investimentos. Para os profissionais, este cenário demanda serenidade e moderação na condução da política monetária, reforçando a necessidade de perseverar em nível contracionista até que se consolidem o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas.

Contudo, o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano, afirma que o impacto na precificação de Selic nos DIs foi pequeno. “A chance de corte de 75 pontos está entre 10% e 20% nas próximas duas reuniões. Não está muito diferente de ontem. Para o fim do ano, ontem estava entre 11,50% e 11,75% e hoje está mais para 11,75%”, explicou. Entre os Departamentos Econômicos, 57 de 67 casas consultadas pelo Projeções Broadcast preveem manutenção do ritmo de queda da Selic em 0,5 ponto até dezembro.

As taxas longas, que deveriam ceder com o “corte hawkish” do Copom, avançaram mais de 15 pontos-base, com a curva local espelhando a americana, que também ganhou inclinação. No fim da tarde, o yield da T-Note de dez anos avançava a 4,48%, no pico ainda desde 2007.

Nem a surpresa “dovish” do Banco da Inglaterra, que manteve os juros contrariando o consenso de aumento, conseguiu acalmar os mercados, que seguiram repercutindo o comunicado do Fed. A aversão ao risco também foi fomentada pela decisão da Rússia de limitar a exportações de diesel e gasolina.

Na gestão da dívida, diante do estresse na curva, o Tesouro diminuiu a oferta de LTN para 3 milhões, ante 11 milhões na semana passada, no leilão de prefixados. O volume de NTN-F, que no leilão anterior foi de 1,050 milhão, hoje foi de apenas 300 mil. “O Tesouro acertadamente segurou os lotes, mas mesmo assim o mercado não melhorou”, comentou o estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal, reiterando que a redução se deu mais por opção da instituição do que pela falta de demanda.