AVERSÃO AO RISCO ATENUA À TARDE, AMPARADA NA MUDANÇA DE SINAL DO PETRÓLEO

As bolsas de Nova York terminaram a sessão desta terça-feira em queda, mas ainda assim próximas das maiores pontuações do dia, à medida que se estabeleceu uma gradual diminuição da aversão ao risco ao longo da tarde. Esse movimento chegou no Ibovespa, que por alguns minutos ficou no azul, mas não teve forças para se sustentar nesse território. A virada nas cotações do petróleo no horário do almoço deu fôlego a alguma recomposição das perdas de mais cedo, essas motivadas pelas dúvidas com a economia global que os dados da balança comercial da China suscitou. O barril voltou à tendência de alta recente na esteira da elevação da previsão do Departamento de Energia dos Estados Unidos (DoE) do preço do Brent no segundo semestre de US$ 79 para US$ 86. Analistas dizem ainda que os cortes de produção da Arábia Saudita e da Rússia também parecem estar surtindo os efeitos pretendidos de impulsionar os preços, ao limitarem a oferta. Assim, o Brent subiu a US$ 86,17 e o WTI foi a US$ 82,92, maior cotação de fechamento desde abril. O movimento ajudou empresas de energia nas bolsas americanas. Entre os índices, Dow Jones cedeu 0,45%, S&P 500 perdeu 0,42% e Nasdaq recuou 0,79%. Aqui, o Ibovespa encerrou a sessão em 119.090,24 pontos, recuo de 0,24%. No mercado cambial, além do movimento do petróleo, operadores citaram internalização de recursos por parte de exportadores após a cotação do dólar superar os R$ 4,94, o que tirou pressão na divisa americana. No segmento à vista, o dólar encerrou em R$ 4,8976 (+0,06%). O real, que apanhou mais que seus pares nos últimos dias, marcados por uma depreciação de divisas latino-americanas, hoje apresentou o melhor desempenho entre as moedas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes. Nos juros futuros, o ajuste em queda forte veio desde a manhã, com o fechamento das curvas externas e ainda repercutindo a ata do Comitê de Política Monetária (Copom). O documento reforçou o padrão de corte de 50 pontos-base para as próximas reuniões, cenário majoritário na pesquisa relâmpago do Projeções Broadcast, mas o mercado seguiu com precificação relevante (entre 30% e 35%) de aceleração da redução a 75 pontos em setembro.

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•BOLSA

•CÂMBIO

•JUROS

MERCADOS INTERNACIONAIS

O presidente da distrital de Nova York do Federal Reserve (Fed), Patrick Harker, trouxe uma visão menos rígida dos próximos passos da política monetária, o que aumentou a discussão sobre as divergências entre os membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) sobre a trajetória dos juros nos Estados Unidos. Entretanto, apesar do pronunciamento de Harker sobre manter os juros em setembro, a aversão ao risco dominou grande parte do mercado hoje, em decorrência da fraqueza das importações da China. O cenário levou as bolsas de Nova York a fecharem em queda, enquanto os juros dos Treasuries caíram e o dólar, subiu. As commodities também cederam em sua maioria, com exceção ao petróleo, que conseguiu virar e terminar o pregão em alta, após revisão para cima no preço do barril do Brent pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos.

Falando em evento no fórum State of the Economy, Harker destacou que, caso não haja novos “dados alarmantes”, há possibilidade de pausa de aperto. O dirigente destacou ainda que a inflação segue alta, embora não deva voltar a subir. Na quinta-feira, os EUA divulgam a leitura de julho do índice de preços ao consumidor (CPI, pela sigla em inglês). Ontem, a diretora do Fed Michelle Bowman chegou a falar de mais altas de juros para o controle da inflação.

Embora tenha destacado em diversas ocasiões a importância de os bancos centrais não descuidarem do controle inflacionário, o Fundo Monetário Internacional (FMI) publicou hoje texto em que chama a atenção aos riscos para a estabilidade financeira e o crescimento econômico do movimento de aperto monetário nas principais economias.

Ontem, a Moody´s cortou o rating de 10 bancos regionais dos Estados Unidos, alegando que o setor ainda está vulnerável a problemas que incluem o estresse do começo do ano. Somou-se a isso a decepção com os dados da balança comercial da China, que apontaram retração além do esperado tanto nas importações quanto nas exportações da segunda maior economia do planeta.

Na visão da Stifel, os números mostram que a China segue enfrentando “barreiras crescentes”. “Juntamente com a deterioração das condições comerciais, uma bolha no mercado imobiliário, níveis crescentes de desemprego entre mais jovens, indicações de deflação e crescimento sem brilho minaram as expectativas de que a economia chinesa será capaz de se recuperar no curto prazo”, avalia o banco.

Em Nova York, índice Dow Jones caiu 0,45%, o S&P 500 cedeu 0,42% e o Nasdaq teve baixa de 0,79%, com grandes bancos como Goldman Sachs e Bank of American em queda de 2,05% e 1,91, respectivamente. A busca pela segurança da renda fixa levou os juros dos Treasuries para baixo, Para Peter Cardillo, da Spartan Capital, investidores também precificam o fim do aperto monetário dos EUA, de acordo com a Dow Jones Newswires. Levantamento do CME Group aponta 86,5% de chance de uma pausa no aperto do Fed em setembro. O juro da T-note de 2 anos caía a 4,75%, o da T-note de 10 anos tinha baixa a 4,021% e o do T-bond de 30 anos subia a 4,198%.

O dólar, por sua vez, subiu ante rivais, visto que as preocupações “com uma economia global cambaleante” ajudaram a moeda devido a outra rodada de dados “pessimistas” da China, segundo a Convera. Na Argentina, o dólar blue voltou a subir e no fim da tarde era negociado a 598 pesos argentinos, de acordo com o Ámbito Financiero, em meio a uma estratégia do BC argentino para ampliar a desvalorização da moeda no mercado oficial, como objetivo de cumprir o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), e às vésperas das eleições primárias do país. Por volta das 17h (de Brasília), o dólar avançava a 143,41 ienes, o euro cedia a US$ 1,0962 e a libra tinha queda a US$ 1,2747. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de seis rivais fortes, tinha alta de 0,47%, a 102,528 pontos.

A junção dos dados fracos da China com a pressão do câmbio jogou as commodities para baixo, com exceção ao petróleo, que foi beneficiado pelo relatório de perspectiva de curto prazo (Steo, na sigla em inglês) do DoE, que elevou sua previsão de preços do barril do petróleo Brent para o segundo semestre de 2023, de US$ 79 para US$ 86. Ainda, o órgão prevê a possibilidade da commodity chegar a operar em alta a US$ 88 em novembro e dezembro, se mantendo nesse nível até o primeiro trimestre de 2024.

Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para setembro fechou em alta de 1,19% (US$ 0,98), a US$82,92 o barril. Esse é o fechamento mais alto do contrato mais líquido do WTI desde 12 de abril, quando teve alta a US$ 83,26. O petróleo Brent para outubro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em alta de 0,97% (US$ 0,83), a US$ 86,17 o barril. (Natália Coelho – [email protected])

BOLSA

Mais cedo, o Ibovespa contava nesta terça-feira com tímido apoio de Petrobras, retirado em direção ao fechamento (ON -0,06%, PN +0,10%), e ajuda ainda menor do setor bancário – destaque no encerramento apenas para a recuperação parcial de Bradesco (ON -0,36%, PN +0,46%) -, sem conseguir, dessa forma, quebrar a série negativa deste começo de agosto, com perdas para o índice em todas as seis primeiras sessões do mês, ainda que em grau leve de correção.

Nesta abertura de mês, a referência da B3 cede 2,34% e, na semana, cai 0,35%. Hoje, chegou a esboçar leve ganho no melhor momento da tarde, mas ainda fechou em baixa, de 0,24%, aos 119.090,24 pontos. Apesar do modesto ajuste neste começo de agosto, as seis perdas são a mais longa sequência negativa do Ibovespa desde junho do ano passado, quando emendou oito baixas entre os dias 3 e 14 daquele mês.

No pior momento da sessão, resvalou hoje nos 117.491,95, o menor nível intradia desde 20 de julho, e na máxima desta terça-feira chegou aos 119.552,69 pontos, em leve alta de 0,15% no meio da tarde. As máximas se correlacionaram aos movimentos do dólar, que tocou na mínima do dia a marca de R$ 4,8898, em leve baixa de 0,10%, tendo se mantido em viés de alta na maior parte da sessão, com pico a R$ 4,9412 e fechamento perto da estabilidade (+0,06%), a R$ 4,8976. Na B3, o giro financeiro desta terça-feira ficou em R$ 22,0 bilhões.

Na ponta perdedora do Ibovespa, destaque para Petz (-6,10%), Dexco (-5,36%) e Méliuz (-3,39%), com Hapvida (+6,08%), Yduqs (+3,99%) e Alpargatas (+3,28%) no lado oposto. Itaú, que divulgou balanço do segundo trimestre após o fechamento de ontem, encerrou nesta terça-feira com leve perda de 0,22% (PN), em dia mais uma vez negativo para os grandes bancos, em especial Santander (Unit -1,26%).

Fatores como a fraca leitura sobre o comércio exterior da China em julho – afetando em especial as ações do setor metálico (Vale ON -0,65%, Gerdau PN -2,99%), com exposição ao país asiático – e a ata do Copom, ponto alto da agenda doméstica, divulgada de manhã, contribuíram para a cautela e os movimentos contidos observados ao longo da sessão.

“A ata do Copom não trouxe visão muito clara com relação às próximas quedas da Selic. Uma parte do mercado considera que os próximos ajustes possam ser mais incisivos, com a ancoragem das expectativas de inflação – mas outra parte se mostra mais conservadora. Diante dessa divisão, há um certo tom cauteloso, o que deixa o mercado meio de lado. Lá fora, a inflação continua em patamares elevados, é motivo de alerta ainda, com efeito também para o Brasil”, diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos.

Ele ressalta que fatores externos permanecem em pauta, apesar da visão prevalecente, otimista, quanto à inflação doméstica e a trajetória da Selic, ambas convergindo para baixo no momento, apesar de o setor de serviços ser ainda motivo de atenção.

“A tendência global hoje foi de aversão a risco, com apreciação do dólar e queda das bolsas, desde a manhã. Dados da China sobre a balança comercial desapontaram. E a Moody’s rebaixou as notas de dez bancos americanos. Na Europa, houve anúncio, na Itália, de aumento de imposto sobre lucro de instituições financeiras. Aqui, o Ibovespa chegou a virar para o positivo, mas, mesmo que não tenha conseguido sustentar a alta no fechamento, mostrou perdas menores do que as vistas lá fora”, diz Marcela Rocha, economista-chefe da Principal Claritas.

“A ata do Copom, na nossa opinião, veio mais dura. Apesar da decisão dividida [sobre o corte de 0,25 ponto] e da desconfiança sobre o ritmo de queda de meio ponto porcentual [para a Selic], definição que foi tomada por unanimidade, a barra para um corte de juros mais intenso [do que isso] foi elevada, com o BC preocupado com a reancoragem de expectativas. Os juros futuros recuaram, refletindo a cautela externa também, mas os vencimentos longos mostraram uma retração maior, hoje, com desinclinação da curva”, acrescenta a economista.

Para Alex Carvalho, analista da CM Capital, o cenário externo tem se mostrado mais volátil, com a China trazendo números econômicos que não têm agradado aos investidores, o que se combinou hoje, para a cautela global, com a elevação de tributação sobre bancos na Itália e, especialmente, ao rebaixamento pela Moody´s da nota de crédito de alguns pequenos e médios bancos americanos, na semana seguinte ao corte do rating dos Estados Unidos pela Fitch.

“Tudo isso, lá fora, acontecendo no momento em que a Selic começa a ser cortada”, observa o analista, destacando, por outro lado, que os investidores devem manter atenção aos resultados trimestrais das empresas brasileiras, em busca de oportunidades em ações cujo desempenho possa ter ficado para trás no primeiro semestre.

Após a divulgação de resultados de nomes como Petrobras, Vale, Santander, Bradesco e, de ontem para hoje, Itaú e Eletrobras, o mercado conhecerá amanhã os números trimestrais do BTG, antes da abertura, e do Banco do Brasil, depois do fechamento da B3. Com os números divulgados hoje, antes da abertura, Eletrobras ON e PNB subiram hoje, respectivamente, 1,96% e 0,90%.

“A tendência para o Ibovespa ainda é positiva, mas não deve buscar de imediato o nível dos 123 mil pontos, com que chegou a flertar recentemente. O índice fez ´fundo’ ali pela região dos 116,5 mil pontos, no fim de junho e em meados de julho [no intradia], um suporte importante que, caso venha a ser rompido, poderia levá-lo em direção aos 110 mil pontos”, acrescenta o analista. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:32

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 119090.24 -0.2423

Máxima 119552.69 +0.15

Mínima 117491.95 -1.58

Volume (R$ Bilhões) 2.19B

Volume (US$ Bilhões) 4.46B

17:35

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 119310 -0.159

Máxima 119885 +0.32

Mínima 117620 -1.57

CÂMBIO

Após uma arrancada pela manhã, quando se aproximou do nível de R$ 4,95 na máxima (R$ 4,9412), o dólar à vista perdeu fôlego ao longo da tarde e chegou a operar pontualmente em terreno negativo, com mínima a R$ 4,8898. No fim do dia, a moeda era cotada a R$ 4,8976, alta de apenas 0,06%. Foi o quinto pregão de valorização da moeda americana nas seis primeiras sessões de agosto, o que leva a ganhos de 3,55% no mês.

Analistas atribuíram a reação do real ao longo da tarde a movimentos de ajustes de posições no segmento futuro, com realização parcial de lucros no intraday, em meio à virada dos preços do petróleo no mercado internacional, após quedas de mais de 2% pela manhã. O contrato do tipo Brent para outubro fechou em alta de 0,79%, diante de revisão para cima na projeção do Departamento de Energia (DoE, na sigla em inglês) dos Estados Unidos para o preços da commodity no segundo semestre de 2023. Operadores relataram também internalização de recursos por parte de exportadores no período vespertino, estimulada pelo dólar acima de R$ 4,90.

O real, que apanhou mais que seus pares nos últimos dias, marcados por uma depreciação de divisas latino-americanas, hoje apresentou o melhor desempenho entre as moedas emergentes e de países exportadores de commodities mais relevantes. Lá fora, dados fracos da balança comercial chinesa em julho avivaram temores de desaceleração mais forte da economia global, deprimiram preços de commodities metálicas e agrícolas e levaram a uma busca pela moeda americana e pelos Treasuries, cujas taxas recuaram. Termômetro do desempenho do dólar frente a seis divisas fortes, o índice DXY voltou a superar a linha dos 102,500 pontos, com máxima aos 102.796 pontos.

Por aqui, o movimento comprador teria sido em parte acentuado pela manhã com a divulgação da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que reforçou a perspectiva de cortes seguidos da taxa básica em 0,50 ponto porcentual. Uma ala dos analistas pontua, contudo, que esse primeiro impacto provado pelo documento se dissipou ao longo da tarde, dado que o nível de juro real ainda seguirá elevado, potencialmente atraindo investidores.

Para o analista de câmbio sênior Elson Gusmão, da corretora Ourominas, a ata do Copom não teve papel relevante na formação da taxa de câmbio hoje. Tirando o ambiente externo de pouco apetite por risco, o mercado parece mais atento, segundo ele, ao ruídos em torno da aprovação final do novo arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados, cujo adiamento pode sustentar um dólar mais alto no curto prazo. “Mas a tendência ainda é de queda do dólar. Temos juros ainda algo e o investidor estrangeiro pode voltar a trazer dinheiro para a bolsa”, afirma Gusmão.

À tarde, o relator do novo arcabouço fiscal na Câmara, deputado Cláudio Cajado (PP-BA), confirmou que o projeto de lei que substitui o atual teto de gastos não será incluído na pauta de votações desta semana. Ficou definido que haverá um encontro com técnicos do governo na próxima segunda-feira, 14, para discutir as alterações feitas no texto pelo Senado.

Em sua ata, o comitê repete a mensagem de que vai manter “uma política monetária contracionista” para promover a ancoragem das expectativas, que vê ainda como parcial, e levar a inflação à meta de 2%. Os membros do comitê, diz o documento, “unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões”, em referência a cortes de 0,50 ponto porcentual. Tal ritmo seria o “apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”. Há a ponderação de que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária.

Para o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, que tem uma visão construtiva para o real, ao reforçar o a sinalização de ritmo de corte de 0,50 ponto por reunião, o Copom “deu o tom cauteloso para que a curva de mercado precifique ciclo mais contido de afrouxamento monetário”. Oliveira mantém previsão de que o Copom leve a taxa Selic para 10,75% em um primeiro ciclo de queda ainda no primeiro trimestre. “Após pausa técnica, o Copom pode retomar ciclo de corte até 9,75% para o final do ano de 2024”, afirma o economista. (Antonio Perez – [email protected])

17:35

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.89760 0.0613 4.94120 4.88980

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4919.000 -0.0508 4962.500 4911.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4967.500 0.53814 4967.500 4967.500

JUROS

O mercado de juros continuou se ajustando em forte queda ao longo da tarde, ainda repercutindo a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) e a dinâmica baixista das curvas no exterior, por sua vez refletindo dados fracos do comércio exterior na China. No documento, os diretores reforçaram a mensagem do comunicado, de que o ritmo de cortes da Selic em 0,50 ponto porcentual é apropriado para as próximas reuniões, mas ainda assim o mercado manteve as apostas na aceleração para 0,75 ponto no Copom de setembro e vê agora possibilidade de taxa terminal abaixo de 9%. Apesar disso, a curva perdeu inclinação com os vértices intermediários e, principalmente, longos mostrando queda mais acentuada.

Às 17h20, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 estava em 12,460%, de 12,476% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caía a 10,45%, de 10,53%. No miolo da curva até o DI janeiro de 2027, as taxas voltavam a operar na casa de apenas um dígito. A deste contrato projetava 9,98%, de 10,11% ontem. O DI para janeiro de 2029 cedia a 10,44%, de 10,57%.

De forma geral, o mercado viu a ata com um tom mais hawkish do que o comunicado, o que, no entanto, não foi suficiente para fazer refluírem as apostas de que o ritmo pode ser acelerado nos próximos encontros. No meio da tarde, a curva precificava entre 30% e 35% de chances de redução de 0,75%, contra entre 70% e 65% de probabilidade de que se repita 0,50, quadro semelhante ao de ontem (32% a 68%). Para o fim do ano, a projeção é de 11,50% e para o fim de 2024 já há apostas na taxa abaixo de 9% (entre 9% e 8,75%).

Para aqueles que sentiram falta de uma explicação mais técnica para a opção pelo corte de 0,5 ponto em detrimento do 0,25, o Copom argumentou na ata melhora do quadro inflacionário aliada à queda das expectativas em prazos mais longos. “Esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, disse o BC no comunicado e na ata.

Ante a desconfiança de que depois da entrada dos dois novos diretores (Gabriel Galípolo e Ailton Aquino) com votos mais “dovish” o colegiado poderia ficar ainda menos ortodoxo no futuro, dada a expiração de mandato de dois membros chamados de “mais técnicos” (Fernanda Guardado e Mauricio Moura) no fim do ano, a ata disse que o colegiado teve entendimento “unânime” de que deve-se garantir a credibilidade e a reputação do BC em qualquer formação da diretoria. “Foi unânime o entendimento de que, independentemente da composição da diretoria colegiada ao longo do tempo, deve-se garantir a credibilidade e a reputação da instituição”, diz a ata.

“Depois da virada de mão do Copom, o mercado está testando os limites do BC”, afirmou o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, para explicar o comportamento dos DIs.

Para Helena Veronese, economista-chefe da B.Side Investimentos, o fechamento da curva foi na contramão do que mostrou a ata, e o cenário para os próximos cortes está agora ainda mais dependente dos dados. “É esperado que a inflação vai voltar a subir e ainda há o risco para combustíveis”, afirmou, referindo-se à defasagem entre preços internos e externos.

Conforme relatam os repórteres Denise Luna e Gabriel Vasconcelos, o preço do petróleo no mercado internacional deve evoluir neste segundo semestre para US$ 90 ou mesmo ultrapassar essa marca, trazendo mais tensão aos preços da Petrobras, em especial no diesel, cujo último reajuste, para baixo, ocorreu há 85 dias. O movimento pode ser uma pedra no caminho da Petrobras, que tem conseguido manter os preços estáveis tanto no diesel como na gasolina, esta última sem reajuste há 40 dias.

Borsoi, da Nova Futura, destaca ainda que a reação da curva à ata hoje foi potencializada pelo ambiente de queda global de juros, após a frustração com a balança comercial de julho na China, que pesou bastante no setor de commodities, embora o petróleo tenha virado para cima no meio da sessão. As exportações (-14,5%) e as importações (-12,4%) caíram muito mais do que as previsões de queda de 12,5% e 5,1%, respectivamente.

Além da China, receios com o setor bancário nos Estados Unidos agravaram a aversão ao risco, provocando uma corrida para a segurança dos Treasuries. A taxa da T-Note de dez anos, referência global, chegou a cair abaixo de 4% pela manhã, mas no fim da tarde estava em 4,02%, de 4,08% ontem no fim da tarde.

Diante do cenário ainda nublado para a política monetária dos principais bancos centrais, a volatilidade deve aumentar nas próximas semanas. “A conjuntura para juros como um todo é difícil, para além de somente a volatilidade dos dados. Temos o Banco do Japão soltando o controle da curva e os diretores do Federal Reserve começando a mostrar algumas divergências”, explica o economista da Nova Futura.

Passada a ata, a primeira prévia do IGP-M de agosto, amanhã, pode ser um teste para o fôlego dos vendidos em juros, dada a expectativa de um número mais forte em meio à piora do dólar nas últimas semanas, antes do IPCA de julho, na sexta. Lá fora, o próximo grande gatilho para os ativos é o índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos, na quinta-feira.

No leilão de NTN-B, o Tesouro reduziu a oferta quase à metade, a 450 mil, de 800 mil na semana passada. Vale lembrar que o período de hiato das instituições dealers termina só no dia 10. Efetivamente, foram vendidas hoje 340.400. (Denise Abarca – [email protected])