ATIVOS LOCAIS MOSTRAM LEVE OTIMISMO APÓS POWELL EVITAR SE COMPROMETER COM MAIS APERTO

Comentários em direções divergentes por parte do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, marcaram a etapa da tarde desta quarta-feira, que termina levemente positiva para ativos domésticos, mas sem tendência única na cena internacional. Depois de elevar as taxas dos Fed Funds à faixa de 5,25% a 5,50%, Powell evitou cravar que essa foi a última alta do atual ciclo monetário, ao mesmo tempo em que não descartou voltar a subir juros. “Um ritmo mais gradual no aperto não significa necessariamente alta a cada duas reuniões”, ponderou Powell. A dualidade na comunicação do BC americano não para aí. Sobre o mercado de trabalho, o presidente do Fed disse que o segmento segue muito apertado, mas caminha para um melhor equilíbrio. A respeito da inflação, ressaltou que ela segue bem acima da meta de longo prazo (2%), mas que modera um pouco desde meados do ano passado. Afirmou, por fim, que há um caminho para pouso suave na economia, mas que a força da economia poderia levar a mais inflação, o que levaria a ação do Fed. “Não queremos dar muito forward guidance; há muita incerteza no momento”, reconheceu. Esse vaivém das falas de Powell foi sentido, em maior intensidade, pelo mercado acionário brasileiro. O Ibovespa rodou em torno da estabilidade, ora em alta, ora em queda, nas duas horas finais, refletindo a titubeação dos pares americanos. Ao fim do dia, descolou, vitaminado também pelo noticiário local favorável desde cedo, com a elevação do rating do Brasil pela Fitch. O índice brasileiro avançou aos 122.560,38 pontos (+0,45%), enquanto o Dow Jones subiu 0,23%, o S&P 500 caiu 0,02% e o Nasdaq recuou 0,12%. Dólar e juros seguiram mais de perto o comportamento externo. A moeda americana à vista caiu aos R$ 4,7282, nova mínima do ano, e o índice DXY recuou aos 100,887 pontos – ambos os recuos foram de 0,46%. Lá fora, a T-note de 2 anos caiu aos 4,828%. Nos DIs, o saldo do dia deu mais gás à aposta de corte de 50 pontos-base na semana que vem na Selic. Agora, a curva embute 75% de chance de queda de 50 pb (de 70% ontem) e 25% de 25 pb (de 30%).

•BOLSA

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•JUROS

•CÂMBIO

BOLSA

Mesmo com a elevação da classificação de risco de crédito do Brasil, de BB- para BB, anunciada de manhã pela Fitch, o Ibovespa manteve cautela até a entrevista coletiva do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, quando veio a cereja do bolo – que, não obstante, viria a perder parte do sabor em direção ao fim da tarde, especialmente em Nova York. A princípio, animou os investidores a possibilidade de o Fed manter a taxa de juros de referência dos Estados Unidos no nível a que foi elevada hoje, em 25 pontos-base conforme se esperava – ou seja, os Fed Funds poderiam permanecer na faixa de 5,25% a 5,50% na próxima reunião, em setembro.

Depois do intervalo decidido pelo Fed na reunião de junho – quando vinha de 10 elevações seguidas -, a chance de uma nova pausa no processo de aumento dos custos de crédito na maior economia do globo levou os três índices de ações em Nova York a se alinharem então em alta, nas respectivas máximas da sessão. O que impulsionou também o Ibovespa, que chegou a subir 0,61%, aos 122.746,72 pontos, no melhor momento desta quarta-feira.

Ao fim, o índice da B3 mostrava avanço um pouco mais acomodado, em alta de 0,45%, aos 122.560,38 pontos, no que foi seu quinto ganho diário consecutivo – e agora no maior nível de encerramento desde 9 de agosto de 2021, então aos 123.019,38 pontos. Na abertura, o Ibovespa apontava hoje 122.002,76 e, na mínima do dia, voltou para 121.370,43 pontos. O giro financeiro desta quarta-feira ficou em R$ 21,9 bilhões. Na semana, o Ibovespa sobe 1,95% e, no mês, 3,79% – no ano, o avanço é de 11,69%.

Em Nova York, os índices de referência não sustentaram a recuperação ensaiada no meio da tarde, sem direção única no fechamento do dia: Dow Jones +0,23%, S&P 500 -0,02% e Nasdaq -0,12%. Passado o apetite por risco suscitado por Powell, veio o refluxo do entusiasmo dos investidores com o mesmo Powell: a indicação dada nesta tarde pelo presidente do Federal Reserve para setembro se fez acompanhar de ressalvas, que recolocaram o mercado na defensiva.

Powell apontou que o processo de redução da inflação para a meta de 2% demandará um período de crescimento econômico abaixo do potencial. Segundo ele, alguma perda de fôlego no mercado de trabalho continua a ser o resultado esperado da recente escalada de juros. Ele indicou também que o Fed está preparado para apertar mais a política monetária, caso seja necessário. E se recusou a fornecer um “forward guidance” mais explícito, sob a justificativa de um nível elevado de incertezas.

“A mensagem do presidente do Fed não pôde ser considerada muito “dovish”, ou seja, mais flexível perante a inflação. Nesse cenário, o rumo dos juros na maior economia do mundo seguirá incerto, representando o principal fator de atenção entre investidores ao redor do mundo”, observa em nota Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.

“Powell manteve que, nas próximas reuniões, o esforço para trazer a inflação à meta de 2% [ao ano] continuará a ser feito, com todos os mecanismos e ações possíveis, e que as pessoas não devem duvidar disso”, diz Acilio Marinello, coordenador do MBA Executivo em Digital Finance da Trevisan Escola de Negócios, acrescentando que os dados macroeconômicos é que definirão se os juros americanos serão mantidos ou se ainda subirão.

“Ficou bem claro o sinal de que o Fed continuará a acompanhar os dados e os efeitos do aperto monetário para entregar a meta de inflação de 2%”, diz João Piccioni, analista da Empiricus Research.

“O obstáculo para a inflação desacelerar ainda mais é o mercado de trabalho dos EUA, que continua robusto – as folhas de pagamento surpreenderam positivamente por mais de um ano. O bom desempenho do mercado de trabalho seguirá apoiando a renda disponível e o consumo, o principal motor econômico dos Estados Unidos”, observa em nota Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. “Esse contexto é necessário para explicar a razão de o Federal Reserve não fechar a porta para novas elevações”, acrescenta.

Nesse contexto de incertezas, as ações de maior peso e liquidez na B3 encerraram o dia sem sinal único, e com variações contidas. Vale ON cedeu 0,35%, enquanto Petrobras ON caiu 0,43% e a PN fechou sem variação. Entre os grandes bancos, o sinal foi majoritariamente positivo (Bradesco PN +1,03%, Itaú PN +0,56%), à exceção da Unit de Santander Brasil (-0,34%), instituição que havia divulgado balanço trimestral antes da abertura desta quarta-feira. Na ponta do Ibovespa, destaque para Méliuz (+8,91%) e Carrefour Brasil (+8,09%), com Ultrapar (-1,81%) e Cogna (-1,74%) no lado oposto. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 122560.38 0.45293

Máxima 122746.72 +0.61

Mínima 121370.43 -0.52

Volume (R$ Bilhões) 2.18B

Volume (US$ Bilhões) 4.62B

17:30

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 123395 0.43137

Máxima 123690 +0.67

Mínima 122230 -0.52

MERCADOS INTERNACIONAIS

O Federal Reserve (Fed) decidiu elevar os juros em 25 pontos-base (pb), seguindo o consenso do mercado e, durante coletiva de imprensa, o presidente do BC americano, Jerome Powell, descartou a possibilidade de corte de juros em 2023, apesar de revelar que ainda não há decisão para a reunião monetária de setembro. Os mercados acionários em Nova York reagiram com volatilidade e fecharam sem direção única, com Nasdaq recebendo pressão da Microsoft e o Dow Jones tendo algum fôlego com Boeing e 3M, seguindo a divulgação de balanços. Já o dólar operou em queda ante rivais e os retornos dos Treasuries caíram. No aguardo pelos direcionamentos de Powell, as commodities recuaram.

Durante coletiva de imprensa, Powell destacou que um possível relaxamento na política monetária em 2024 ainda será debatido. Sobre as próximas decisões, o presidente do BC destacou não querer disponibilizar “forward guidance” mais explícito, em meio a uma série de incertezas, e destacou que ainda não houve decisão sobre setembro.

A coletiva ocorreu após o Fed elevar os juros em 0,25 ponto porcentual, o que já era esperado pelo mercado. Na visão do Pantheon Macroeconomics, apesar de não trazer muitas novidades no comunicado em relação à publicação de junho, o Fed mudou de “modesto” para “moderado” a sua definição do ritmo de crescimento econômico dos Estados Unidos. Considerando o limite máximo do intervalo da meta dos juros dos Fed Funds, essa é a taxa mais alta em 22 anos.

Já segundo a Kinitro Capital, o cenário é que essa alta de juros seja a última do ciclo de aperto, visto que a projeção é que o núcleo da inflação americana desacelere para um ritmo anualizado abaixo de 3% no segundo semestre deste ano. A ideia de que o ciclo de aperto do BC americano terminou foi a mesma da Capital Economics. “Embora as autoridades possivelmente ainda estejam de olho em uma alta final ainda este ano, os mercados futuros estão de acordo conosco de que agora atingimos o pico do ciclo”.

A falta de direcionamento claro sobre os próximos passos Fed levaram as bolsas a reagirem com leve volatilidade, fechando mistas. Nasdaq ganhou pressão adicional da Microsoft, que fechou em queda de 3,76%, seguindo publicação de balanço ontem. Já a Boeing ajudou a dar fôlego para o Dow Jones, com a ação da empresa fechando em alta de 8,72%, também após resultados corporativos. Hoje, o índice Dow Jones fechou em alta de 0,23%, o S&P 5000 caiu 0,02% e o Nasdaq cedeu 0,12%.

Após a decisão de alta, e diante das expectativas que a alta é a última do ciclo, o dólar acelerou queda ante rivais fortes. Segundo o analista Edward Moya, da Oanda, a pressão do câmbio foi causada após o Fed sinalizar “que será paciente com futuros aumentos de juros, o que sugere que, se eles entregarem mais um aumento, provavelmente será em novembro”. Segundo análise, a orientação vai de encontro com sinalizações de bancos centrais europeus, que sinalizaram “claramente” que mais aperto ocorrerá após o verão europeu. No fim da tarde em Nova York, o dólar caía a 140,22 ienes, o euro subia a US$ 1,1098 e a libra tinha alta a US$ 1,2947. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de seis rivais fortes, fechou em queda de 0,46%, a 100,887 pontos.

Nesse cenário, os juros dos Treasuries também finalizaram o dia em queda, apesar de apresentarem volatilidade no momento da decisão. Na visão do CIBC, a queda foi motivada pelas declarações de Powell, “pois ele estava decididamente inseguro de que a economia exigiria taxas de juros mais altas à frente”. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos recuava a 4,828%, o da T-note de 10 anos tinha baixa a 3,857% e o do T-bond de 30 anos caía a 3,933%.

Para o banco canadense, ainda há possibilidade de mais uma alta em setembro, diante do emprego robusto – questão mencionada por Powell. “Mas se, como esperamos, os ganhos de emprego e os sinais de inflação continuarem a esfriar depois disso, a alta de setembro pode ser a última deste ciclo, com o primeiro corte provavelmente não antes do segundo trimestre de 2024”.

A cautela antes da decisão do Fed, entretanto, pressionou as commodities, enquanto notícias da finalização dos cortes de exportação da Rússia estavam no radar de investidores. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para setembro fechou em queda de 1,07% (US$ 0,85), a US$ 78,78 o barril. O Brent para igual mês, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em baixa de 0,86% (US$ 0,72), a US$ 82,92 o barril. (Natália Coelho – [email protected])

JUROS

Os juros futuros oscilaram entre queda moderada nos vencimentos de curto e médio prazos, enquanto os vértices longos rondaram os ajustes, durante todo o dia, com impactos limitados tanto do comunicado do Federal Reserve seguido da entrevista do presidente da instituição, Jerome Powell, quanto da elevação do rating de crédito do Brasil pela Fitch, de BB- para BB. Enquanto o texto deixou em aberto os próximos passos da política monetária americana, as indicações de Powell foram lidas como “levemente” dovish. Assim, a curva local acabou espelhando a dos Treasuries – o yield da T-Note de 2 anos caiu mais do que o retorno da de 10 anos. Já a melhora da nota soberana é vista como positiva, mas esperada.

Às 17h22, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 caía de 12,63% para 12,62%, ainda no menor nível desde 4/5/2022 (12,51%), e a do DI para janeiro de 2025, de 10,63% para 10,61%. O DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 10,15%, de 10,14% ontem. A do DI para janeiro de 2029 estava em 10,55%, de 10,52%.

A decisão de elevar a taxa dos Fed funds em 25 pontos-base, para a faixa de 5,25% e 5,50%, estava precificada e o mercado buscava sinalização sobre se esta seria a última alta do ciclo. Ainda que o comunicado tenha deixado tal possibilidade em aberto e que Powell tenha evitado dar “forward guidance”, as apostas em mais uma elevação de juros até dezembro recuaram.

Incluídas as ponderações de praxe, como a de que a inflação ainda segue bem acima da meta de 2% e há “um caminho pela frente” no processo de desinflação, Powell disse que elevar os juros até inflação chegar à meta “seria estratégia errada” e que há sinais de arrefecimento da demanda no mercado de trabalho.

“O comunicado foi neutro, mas Powell novamente mostrou que não quer mais subir os juros. O discurso é de quem quer parar, mas temos de aguardar os próximos dados”, disse a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese.

O economista-chefe da Quantitas Asset, Ivo Chermont, destaca a mudança de tom do presidente do Fed ante a última reunião, quando ainda tentava convencer o mercado sobre mais duas altas de juro em 2023, de forma intercalada. “Hoje foi diferente, ele não falou dos ‘dots’ na última reunião, tentou deixar porta aberta para que se os dados piorarem eles poderiam voltar a subir, mas não falou mais em reunião intercalada e deixou o cenário totalmente ‘data dependent’ quando cita que até o próximo encontro haverá mais dois CPIs e dois payrolls. Foi um passo atrás”, afirma Chermont. Para ele, quando o Fed encerrar o ciclo em setembro e fechar a porta a novas altas será positivo em termos de fluxo para o Brasil.

Tanto nos Treasuries quanto nos DIs, a reação mais visível foi na ponta curta, ainda que no livro-texto as taxas longas no Brasil sejam as mais influenciadas pelo humor externo. Porém, no raciocínio do mercado, se o juro nos EUA não subir mais no curto prazo, haverá melhora do câmbio via diferencial de juros e “menor pressão sobre o BC”. Com isso, na estrutura a termo, a aposta no corte da Selic em 0,5 ponto porcentual em agosto avançou hoje um pouco mais (-44 pontos), o que representa 75% de probabilidade, contra 25% de chance de queda de 25 pontos-base, de 70% e 30% ontem, respectivamente.

Com o compasso de espera pelo Fed prevalecendo em boa parte do dia, o impacto do anúncio da Fitch acabou sendo limitado, até porque era, em boa medida, esperado. A mudança é vista como positiva, mas os agentes continuam relativamente céticos sobre possibilidade de o Brasil voltar a conquistar o grau de investimento ainda no governo Lula, como o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse hoje acreditar.

De todo modo, o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, afirmou a elevação do rating vai ajudar na redução da curva de juros e no trabalho do Banco Central. “Mudar um grau vai reduzir nossa curva de juros, vai apoiar o Banco Central, vai apoiar a ancoragem das expectativas, o trabalho do BC, vai atrair capital externo pra o Brasil esta mudança. Precisamos de outras, precisamos avançar para chegar lá e recuperar o grau de investimento”, disse.

Já o ex-secretário do Tesouro Jeferson Bittencourt, economista da ASA Investments, diz que o Brasil só conseguirá atrair de volta o capital internacional nas emissões do Tesouro quando reconquistar o grau de investimento. Assim, ainda a dois degraus do chamado “investment grade” na escala da Fitch, o anúncio de hoje não tem, segundo Bittencourt, poder de reverter a baixa participação de estrangeiros na dívida pública, que era de 20% quando o Brasil tinha o selo, mas caiu para 8% após o rebaixamento da nota de risco de crédito. “Nada muda”, comentou o economista da ASA. (Denise Abarca e Eduardo Laguna – [email protected] e [email protected])

CÂMBIO

O dólar à vista recuou 0,46% em relação ao real nesta quarta-feira, 26, a R$ 4,7282 – a nova mínima do ano no fechamento e o menor nível desde 20 de abril de 2022 (R$ 4,6204). A queda refletiu o otimismo do mercado com a perspectiva de que o aumento de 25 pontos-base nos juros americanos anunciado hoje tenha marcado o fim do ciclo de aperto, além da melhora do rating brasileiro pela Fitch, de BB- para BB.

Essa combinação de fatores manteve a moeda americana em queda em relação ao real ao longo de quase todo o pregão, exceto por uma leve alta no início da sessão, quando tocou a máxima de R$ 4,7554 (+0,07%). Na mínima, recuou até R$ 4,7230 (-0,57%). O contrato de dólar futuro para agosto, termômetro do apetite por negócios, movimentou US$ 10,5 bilhões e, no horário de fechamento do mercado à vista, recuava 0,46%, a R$ 4,7335.

A melhora do rating brasileiro pela manhã firmou a divisa americana em queda ante o real, mas foi na etapa vespertina do pregão que o movimento se aprofundou, após a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed). Em linha com o esperado pelo mercado, o banco central americano aumentou os juros em 25 pontos-base, à faixa de 5,25%-5,50%, e não sinalizou um novo aumento iminente nas taxas.

Na coletiva após a decisão, o presidente do Fed, Jerome Powell, optou por não descartar, mas também não cravar, a chance de uma nova alta de juros em setembro – o que animou a ala do mercado que acredita que o aumento de juros hoje tenha marcado o fim do ciclo de aperto. Powell afirmou que as próximas decisões vão depender de dados e considerou que elevar os juros até que a inflação volte à meta seria uma “estratégia errada.”

“Ele não traçou um viés de alta, só falou que iria analisar os dados. E, só de não traçar um viés, o mercado entende que não haverá mais subidas de juros, tanto que isso causou uma queda do dólar contra outras moedas fortes”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, lembrando da baixa de 0,33% anotada pelo índice DXY nesta quarta-feira, a 101,015 pontos.

Para o chefe da tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt, a decisão do Fed acabou servindo como um “não-evento” na sessão, uma vez que a alta de 25 pontos-base ficou em linha com o esperado e que as declarações de Powell deram poucas pistas sobre o futuro da política monetária. Isso, combinado à melhora do rating brasileiro, abriu espaço para valorização do real.

“A verdade é que, sem notícias ruins da economia internacional, a tendência é de vermos o dólar escorregando até um nível perto de R$ 4,70”, diz Weigt, lembrando que o dia foi misto para commodities, com quedas nos preços de itens como o petróleo (-0,86% Brent, -1,07% WTI) e o milho (-3,01%), mas estabilidade (0,0%) da soja e alta do minério de ferro (+1,76%) negociado na China.

Para o especialista, a melhora do rating brasileiro pela Fitch pode ter um efeito positivo para os ativos brasileiros, embora ele deva ser limitado, uma vez que o País continua distante do grau de investimento, que é mais atrativo para investidores institucionais. Com isso, Weigt espera que os próximos movimentos da moeda fiquem vinculados a dados da economia americana, que vão indicar se o Fed precisará retomar o ciclo de aperto.

Velloni, da Frente, afirma que o aumento da nota de crédito soberano do País pode resultar na atração de mais investimentos estrangeiros. Para o analista, o mais provável é que o dólar se mantenha em torno de R$ 4,75 enquanto o mercado aguarda não apenas a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima quarta-feira, 2, mas também a retomada da agenda legislativa a partir de 1º de agosto.

“Muito mais impacto do que o Copom terão as falas do presidente da Câmara, Arthur Lira, sobre a reforma administrativa, porque até agora só tivemos ações do governo no sentido da arrecadação, e essa reforma pode ajudar na contenção dos gastos”, afirma.

Hoje, o Banco Central divulgou que o País teve déficit de US$ 843 milhões em conta corrente em junho, abaixo da mediana da pesquisa Projeções Broadcast, que indicava superávit de US$ 1,1 bilhão. O Investimento Direto no País (IDP) também frustrou as expectativas ao somar US$ 1,88 bilhão, abaixo do piso das estimativas, que indicava US$ 5,0 bilhões. (Cícero Cotrim – [email protected])