ATIVOS LOCAIS DEIXAM EXTERIOR DE LADO E TÊM VALORIZAÇÃO DE OLHO EM ARCABOUÇO

Cenário

A retirada das despesas condicionadas do arcabouço fiscal e a perspectiva da votação final ainda hoje na Câmara embalaram os ativos domésticos nesta tarde, fazendo com que eles adotassem uma dinâmica distinta do mercado externo. Na prática, a medida adotada pelos deputados deixa o marco fiscal mais robusto, algo que vinha incomodando os agentes nos últimos dias. Também há de se colocar em conta a trajetória ruim para papéis locais desde a virada do mês, com queda pronunciada da Bolsa, alta do dólar e inclinação da curva de juros, fatores que dão espaço para alguma correção. Driblando a piora de Nova York na esteira das perdas de ações bancárias, o Ibovespa subiu aos 116.156,01 pontos (+1,51%), somente a segunda alta do mês. Nos juros, o DI para janeiro de 2027 cedia a 10,38% há pouco, sofrendo influência, também, da descida dos retornos dos Treasuries de longo prazo. O dólar à vista recuou aos R$ 4,9407 (-0,76%). No exterior, há algum clima de cautela nas bolsas, com queda de 0,51% do Dow Jones, na expectativa dos eventuais direcionamentos da política monetária dos Estados Unidos durante o Simpósio de Jackson Hole. O investidor acompanha ainda as medidas da China para impulsionar a economia, que hoje se refletiram na alta dos metais básicos.

•BOLSA

•JUROS

•CÂMBIO

•MERCADOS INTERNACIONAIS

BOLSA

O Ibovespa voltou a ensaiar recuperação nesta terça-feira, em que chegou apenas ao segundo ganho diário deste agosto, mês no qual a B3 tem sofrido com a retração do investidor estrangeiro, segmento que já acumula saques líquidos na casa de R$ 10,6 bilhões no intervalo até a última sexta-feira, 18. Hoje, o índice de referência da bolsa brasileira subiu 1,51%, aos 116.156,01 pontos, conseguindo se descolar da cautela que prevaleceu em Nova York (Dow Jones -0,51%, S&P 500 -0,28%, Nasdaq +0,06%), especialmente nas ações de bancos americanos, após rebaixamento da nota de crédito da S&P para instituições financeiras regionais.

Nesta terça-feira, o Ibovespa oscilou dos 114.433,39, mínima que correspondeu à abertura, até os 116.285,57 pontos (+1,62%), com giro financeiro mais uma vez bem fraco, a R$ 20,7 bilhões. Na semana, o índice passa a acumular leve ganho de 0,65%, vindo de perdas ao longo das quatro semanas anteriores. No ano, ainda sobe 5,85%. Com a retomada da linha de 116 mil pontos, o Ibovespa volta ao nível de encerramento em que estava há uma semana, no fechamento do último dia 15, quando chegou à 11ª da série de 13 perdas diárias, a mais longa de que se tem registro na Bolsa, desde 1968. A alta de hoje foi a maior desde 21 de julho (+1,81%).

Embora o cenário externo, nebuloso para China como para Estados Unidos - as duas maiores economias do globo -, permaneça como principal fator para a falta de apetite por risco que tem prevalecido desde a virada de julho para agosto, a perspectiva de votação final do arcabouço fiscal, possivelmente ainda esta noite na Câmara dos Deputados, contribuiu nesta terça-feira para alguma descompressão no câmbio e na curva de juros, o que ajudou o desempenho das ações, observa Pedro Canto, analista da CM Capital.

Assim, com ativos de grande liquidez “amassados”, como os papéis de bancos (BB ON +2,26%, Itaú PN +1,56%, Santander Unit +1,25%, Bradesco ON +0,68%), o dia foi também de recuperação para as ações com exposição ao ciclo externo, especialmente Vale, que subiu hoje 2,25% (ON), à frente do setor metálico (destaque para Gerdau PN +1,08%).

"Siderurgia e mineração tinham ficado bem para trás com as preocupações sobre a China, a perspectiva negativa sobre a economia chinesa que havia prevalecido nos últimos dias", diz Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos. Ele destaca que o minério de ferro fechou, hoje, no maior patamar em três semanas, o que favoreceu também a Vale, ação com maior peso individual no Ibovespa e que se mantém muito descontada.

No fechamento, a ação da mineradora era cotada nesta terça-feira a R$ 62,58, ainda cedendo 7,21% no mês e 26,21% no ano. A tonelada do minério, no contrato futuro mais negociado em Dalian (China), subiu hoje 4,47%, a US$ 110,42.

Petrobras ON e PN também avançaram nesta terça-feira, respectivamente, 1,33% e 1,32% (máxima do dia no fechamento) mesmo com o sinal negativo do Brent e do WTI, em Londres e Nova York, na sessão. Na ponta do Ibovespa, IRB (+9,14%), Vibra (+7,61%) e Eztec (+6,99%), com Marfrig (-1,83%), Petz (-1,47%) e Carrefour Brasil (-0,97%) puxando a fila oposta.

Apesar do fôlego mostrado pelo índice em um dia de giro bem fraco, o fluxo externo para a B3 se mantém como um fator de preocupação. Nos primeiros 18 dias do mês, com apenas uma alta diária no intervalo - na última sexta-feira -, quase metade do fluxo de ingresso de capital estrangeiro em 2023 tomou a porta de saída, reduzindo o saldo líquido do ano desse importante segmento a R$ 13,466 bilhões.

“Os juros americanos [dos Treasuries] continuam nos maiores níveis desde 2007, e isso ainda não foi para o preço das ações por lá, cujo desempenho tem sido amparado em especial pelo setor de tecnologia, concentrado no Nasdaq mas com peso também no S&P 500, em meio às novidades em torno da inteligência artificial", diz o analista da CM Capital.

"Aqui, a percepção quanto ao fiscal melhorou, e a Selic está caindo, mas a B3 é vista também como uma ‘proxy’ de China, pela exposição que tem a commodities, o que ajuda a entender essa retirada dos estrangeiros em agosto. Com investidor doméstico apenas, fica difícil subir”, acrescenta Canto, notando que, no fim de julho, o S&P 500 estava a cerca de 5% de sua máxima histórica, e desde então a correção do índice amplo de Nova York é de 4,39% em agosto.

“Alguma coisa não está muito certa com os preços”, diz o analista, destacando o descasamento entre o nível dos índices de ações em Nova York, mesmo com a moderada correção em curso, e os rendimentos dos Treasuries, livres de risco. Como agosto é um mês de férias no hemisfério norte, com movimentos usualmente mais contidos no período, um ajuste mais forte pode vir em setembro com a normalização dos negócios, observa também o gestor de renda variável da Western Asset, Cesar Mikail - caso, até lá, não venham catalisadores que alterem a cautela quanto ao cenário externo.

Nesse contexto, o mercado global estará atento a mais uma edição do simpósio anual de Jackson Hole, especialmente ao pronunciamento do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na sexta-feira, em busca de eventuais pistas sobre a política monetária americana, com os juros de referência por lá já na faixa de 5% ao ano. Os dados, em particular os do mercado de trabalho nos EUA, continuam a vir fortes, o que modifica aquele viés que prevalecia quanto às chances de pausa, de proximidade de fim de ciclo de alta dos juros americanos, que guiava também a retomada de otimismo do mercado no fim de julho, aponta Canto, da CM Capital. (Luís Eduardo Leal - [email protected])

17:32

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 116156.01 1.50893

Máxima 116285.57 +1.62

Mínima 114433.39 0.00

Volume (R$ Bilhões) 2.06B

Volume (US$ Bilhões) 4.18B

17:32

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 118235 1.80824

Máxima 118385 +1.94

Mínima 116750 +0.53

JUROS

Os juros futuros estiveram em baixa durante toda a sessão, tendo ampliado o ritmo e renovado mínimas à tarde, quando informações relativas à votação do arcabouço fiscal na Câmara reforçaram a tendência exibida desde cedo, por sua vez, amparada na melhora nos mercados de Treasuries e de câmbio. Outro vetor de alívio nesta terça-feira veio do leilão do Tesouro, que trouxe lote menor nas Notas do Tesouro Nacional - Série B (NTN-B), evitando assim adicionar pressão à curva.

Às 17h15, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 estava em 12,425%, de 12,432% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caía de 10,59% para 10,54%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 10,38%, de 10,46% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2029 estava em 10,90% (de 10,97%).

O spread entre os DIs para janeiro de 2025 e janeiro de 2029, que ontem avançou a 38 pontos, hoje caiu ligeiramente, a 34 pontos no horário acima. A curva perdeu um pouco de inclinação espelhando a curva americana, na qual a taxa da T-note de 2 anos continuou avançando para além dos 5,00%, mas a de 10 anos e a do T-Bond de 30 anos cederam.

A trajetória dos Treasuries não teve hoje um vetor específico, com o mercado todo em compasso de espera pelo simpósio de Jackson Hole, mais precisamente pelo discurso de Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, que poderá dar mais pistas sobre a política monetária. Assim, com os yields renovando máximas em mais dez anos nos últimos dias, houve espaço para pequena correção, que, porém, nem pode ser chamada de alívio, pois as taxas apenas pararam de piorar. O retorno da T-Note de dez anos segue acima de 4,30% e o do T-Bond de 30 anos, nos 4,40%.

Willam Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue, destaca que a escalada dos títulos americanos tem pressionado custos de captação no mundo todo, respaldada em três fatores: a ideia de juros elevados nos EUA por um longo período, o aumento da emissão de títulos após a elevação do teto da dívida e a redução dos estoques de Treasuries pela China. "A taxa da T-Note de dez anos saiu de 3,5% em maio para 4,3% agora", lembrou.

Na etapa vespertina, o exterior foi colocado de lado, com o mercado repercutindo a notícia de que a permissão incluída pelo Senado para que o governo pudesse prever despesas condicionadas no Orçamento de 2024 será retirada do texto do arcabouço na Câmara. O mecanismo será incluído no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO).

“A solução está dada, resolvida. Principalmente porque a cada ano o governo tem que mandar a LDO e tem que mandar o Orçamento. Então, essa não é uma matéria do regime fiscal. Portanto, isso está solucionado”, declarou o relator da matéria, Cláudio Cajado (PP-BA). Ele deve apresentar logo mais seu parecer sobre o projeto, que entrou na pauta de votações da sessão deliberativa.

"Com as despesas condicionadas excluídas do texto, o mercado deu uma animada, na medida em que a decisão reforça o caráter de disciplina fiscal que havia sido afrouxada pelo Senado", comentou o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Nicolas Borsoi, lembrando que estas despesas são estimadas em R$ 32 bilhões.

Ainda na área fiscal, o governo tenta costurar um acordo com a Câmara para editar uma nova medida provisória com taxação de offshores e rendimentos no exterior e com a correção da tabela do imposto de renda, segundo apurou o Broadcast Político. A MP original, que perde a validade no dia 28, havia sido incluída na MP sobre o salário mínimo, o que gerou insatisfação por parte do Congresso.

Tais focos de tributação são vistos como fundamentais para que o governo reforce a receita necessária para suas pretensões de resultados primários estabelecidos no arcabouço, na medida em que a arrecadação vem frustrando. Hoje a Receita informou que a arrecadação somou R$ 201,829 bilhões em julho, abaixo da mediana das previsões, de R$ 204,784 bilhões, e uma queda real de 4,20% ante julho de 2022.

Na gestão da dívida pública, o Tesouro reduziu o lote de NTN-B no leilão para 450 mil, menos da metade ofertada na semana passada (1,3 milhão). As 150 mil para 2026 e as 150 mil para 2033 foram absorvidas, mas a oferta de 150 mil no papel longo (2050) não teve demanda integral (103.550 mil) e a taxa de 5,5150% ficou acima do consenso de mercado.

Borsoi explica que o desempenho da NTN-B longa, penalizada também no secundário nos últimos dias, reflete a aversão ao risco na esteira do aumento das incertezas no exterior. "O mercado tem evitado posições muito direcionais dada a perspectiva de volatilidade. A NTN-B longa é como a Bolsa, que também tem sofrido bastante este mês", explicou. (Denise Abarca - [email protected])

CÂMBIO

O dólar à vista experimentou um recuo mais firme na sessão desta terça-feira, 22, voltando a fechar abaixo de R$ 4,95 pela primeira vez desde o último dia 11. Segundo operadores, houve um movimento de realização de lucros e ajuste de posições no mercado futuro, embalado pelo avanço das commodities metálicas, como minério de ferro, e pelo recuo das taxas dos Treasuries de 10 e 30 anos, que ontem haviam atingindo o maior nível desde 2007. Apetite por ações locais muito descontadas, que levaram o Ibovespa a subir mais de 1%, e a perspectiva de votação final do arcabouço fiscal na Câmara dos Deputados ainda hoje contribuíram para a apreciação do real.

Em baixa desde a abertura do pregão e com mínima a R$ 4,9265 pela manhã, o dólar à vista encerrou o dia em baixa de 0,76%, cotado a R$ 4,9407. Com isso, a moeda passou a apresentar queda de 0,55% nas duas primeiras sessões desta semana, diminuindo a valorização em agosto, que chegou a se aproximar de 6%, para 4,47%. A liquidez foi mais uma vez reduzida, o que sugere falta de apetite por apostas mais contundentes. Principal termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para agosto movimentou menos de US$ 10 bilhões.

"O dólar já subiu bastante no mês e, com essa recuperação de parte das commodities, o mercado ficou mais propício para venda e realização. E também temos uma alta do Ibovespa, provavelmente com entrada de estrangeiro", afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, para quem "tecnicamente" o dólar tem espaço para voltar para o nível de R$ 4,85.

No exterior, o índice DXY avançava no fim da tarde, operando ao redor dos 103,500 pontos, graças aos ganhos do dólar em relação ao euro. A moeda americana tinha sinal divergente na comparação divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Em relação aos principais pares do real, caía ante os pesos chileno e mexicano e o rand sul-africano, mas subia frente ao peso colombiano. Apesar da decepção ontem com o nível de corte de juros na China, o contrato futuro de minério de ferro mais negociado em Dailan subiu mais de 4%. Há expectativas por mais estímulos por parte do governo chinês, sobretudo para estancar a crise no setor imobiliário.

À espera do discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, na sexta-feira, 25, investidores digeriram hoje alerta do presidente do Fede de Richmond, Thomas Barkin, sobre a possibilidade de que "a inflação permaneça alta", uma vez que dados recentes sugerem "reaceleração" da economia americana além do previsto "há três ou quatro meses". A leitura é a de que pode haver aperto adicional da política monetária. Enquanto as taxas dos Treasuries longos caíam, o retorno da T-note de 2 anos - mais ligado às apostas para o nível dos Fed Funds - subiu e voltou a superar 5%.

Velloni, da Frente Corretora, espera que Powell reitere que os próximos passos do Fed são totalmente 'data dependent', deixando a porta aberta para alta adicional dos juros. Ele observa, contudo, que problemas de liquidez em instituições financeiras e desaceleração do mercado imobiliário, abalado pelas altas recentes dos juros, sugerem que não há espaço mais elevações dos Fed Funds.

Por aqui, as atenções estão voltadas para a agenda econômica no Congresso. O projeto de lei do novo arcabouço fiscal entrou na pauta de votações da sessão de hoje da Câmara dos Deputados, após acordo entre o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), e líderes partidários em torno de alterações feitas no Senado.

O relator do projeto, deputado Cláudio Cajado (PP-AL), afirmou que deve retirar do texto a emenda feita no Senado sobre as chamadas despesas condicionadas, que dependem de aval de parlamentares para serem executadas e cujo valor é estimado em R$ 32 bilhões no orçamento de 2024. Fora da versão final do arcabouço, as despesas condicionadas devem ser contempladas no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO).

Para o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, as dúvidas sobre a capacidade de cumprimento das metas de resultado primário, calcadas no aumento da receita, dão certa rigidez ao dólar no mercado doméstico. "As resistências no Legislativo são significativas em relação às tentativas do governo de aumentar arrecadação com projetos de tributação de fundos offshore a aplicações no exterior. A aprovação do arcabouço nesta semana não garante o cumprimento das metas fiscais em 2023 e 2024", afirma Velho. (Antonio Perez - [email protected])

17:32

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.94070 -0.7633 4.96530 4.92650

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4945.000 -0.98118 4974.000 4935.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5012.500 21/08    

MERCADOS INTERNACIONAIS

A forte pressão sobre ações de bancos esfriou o ímpeto que Nova York exibia na abertura e os três principais índices acionários de Wall Street fecharam sem direção única. Predomina ainda no mercado o temor de que o Federal Reserve (Fed) mantenha postura restritiva por um período prolongado, depois que o presidente da distrital de Richmond, Tom Barkin, alertou para o risco de reaceleração da inflação americana. Como resultado, o dólar se fortaleceu ante rivais e o juro da T-note de 2 anos avançou, na contramão dos retornos de longo prazo, que tiveram alívio após recordes recentes. O dólar blue também voltou a subir ante o peso argentino, no mercado paralelo da Argentina, em meio a novidades de um plano do ministro da Economia do país para estimular o consumo. A China também buscava novas formas de estimular sua economia, com atualizações do BC do país para valorizar a moeda local.

Com a queda do setor financeiro, seguindo principalmente o rebaixamento de rating de bancos regionais americanos ontem e com a queda de 55,71% do Republic First Bancorp, antes de sua saída do índice Nasdaq, as bolsas de Nova York não conseguiram se livrar da fraqueza ao longo do dia, fechando mistas, com o Nasdaq com ajuda da Moderna (+4,65%), que manteve alta de ontem após anunciar possível novo tratamento de câncer, além da alta da Apple (+0,79%) e Tesla (+0,83%). Hoje, o índice Dow Jones caiu 0,51%, o S&P 500 cedeu 0,28% e o Nasdaq fechou em leve alta de 0,06%.

A CMC Markets também destaca que o sentimento vem seguindo discussões sobre as chances de o Fed elevar sua meta de inflação para 3%, em vez de 2%. A possibilidade não foi mencionada em nenhum momento pelo BC americano, mas a análise destaca que, se isso acontecesse no simpósio Jackson Hole, o BC poderia não ser tão agressivo com a política monetária.

Entretanto, o que é visto por dirigentes na verdade vai na direção contrária. Comentários mais rígidos de Barkin sobre a possibilidade de uma reaceleração da economia americana e, por consequência, da taxa inflacionária, ajudaram a elevar os retornos da T-note de 2 anos, que ia na contramão dos juros das pontas longas, resultando em um aumento da inversão da curva de juros americana. No fim da tarde em Nova York, o retorno da T-note de 2 anos subia a 5,039%, enquanto o da T-note de 10 anos recuava a 4,328% e o do T-bond de 30 anos cedia a 4,411%.

A alta dos juros dos Treasuries ajudou a elevar os juros do Tesouro japonês, com o retorno do bônus de 10 anos do Japão (JGB, na sigla em inglês) chegando a subir hoje a 0,674%, nas máximas desde janeiro de 2014. Na visão da Capital Economics, a alta não é surpresa, "dado um aumento generalizado nos rendimentos soberanos de 10 anos em outros lugares".

A ideia de juros mais altos por mais tempo na economia americana também ajudou a dar fôlego ao dólar, na visão da Convera, seguindo o otimismo da força da economia americana, "na sequência de dados fortes". Ainda, o mercado também ficava no aguardo do discurso do presidente do Fed, Jerome Powell, no simpósio Jackson Hole. "Uma mensagem que reforça uma perspectiva de taxas de empréstimo elevadas por algum tempo provavelmente manterá um piso sólido sob o dólar". A moeda, entretanto, caía ante o iene, com expectativas de uma intervenção do Banco do Japão, mas mantinha força ante o yuan, apesar do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês) tomar medidas para evitar uma queda mais abrupta, ao fixar a paridade do dólar em 7,1992 yuans.

Por volta das 17h, o euro recuava a US$ 1,0846 e a libra cedia a US$ 1,2730. Na marcação, o dólar recuava a 145,88 ienes. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de seis rivais fortes, fechou em alta de 0,25%, a 103,563 pontos.

Também houve uma retomada da alta do dólar blue ante o peso argentino. Mais cedo, o ministro da Economia, Sergio Massa, destacou que prevê um aumento salarial de valor fixo, créditos para estimular a economia, devoluções fiscais e medidas para que os alimentos não aumentem acima de 5% por mês. Segundo o jornal Ámbito Financiero, o dólar blue operava em alta de 0,97%, a 727 pesos argentinos.

O dólar ajudou a marcar pressão no petróleo, que também reagia às incertezas da demanda futura da commodity diante das perspectivas de mais aperto monetário e diante das incertezas sobre a economia chinesa, conforme avalia a analista da Hargreaves Lansdown Susannah Streeter. Já para a Oanda, apesar da fraqueza de hoje, é necessário uma "mudança significativa" na tendência dos dados das principais economias para uma diferença dos preços do petróleo, de forma que a commodity deverá se manter em uma faixa mais alta entre US$ 80 e US$ 90 o barril.

Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para outubro fechou em baixa de 0,59% (US$ 0,48), a US$ 79,64 o barril. O petróleo Brent para o mesmo vencimento, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou em queda de 0,50% (US$ 0,43), a US$ 84,03 o barril. Também na energia, o gás natural da Dutch TTF para setembro subiu 5,4%, a 43 euros, ainda em meio ao impasse sobre greve de produtores na Austrália. (Natália Coelho - [email protected]).

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