ATIVOS DE RISCO TÊM RALI COM FALA DE POWELL SOBRE JURO E GRÁFICO DE PONTOS DO FED

Os mercados globais já haviam ativado o modo “rali” para o risco depois do anúncio da decisão do Federal Reserve de manter os juros na faixa de 5,25% a 5,50% e das projeções dos dirigentes indicarem um corte maior no ano de 2024, mas tomaram fôlego ainda maior com a entrevista do presidente da instituição, Jerome Powell. Ele admitiu que o colegiado teve discussões preliminares sobre cortes de juros, o que já foi lido pelo mercado como uma sinalização de que a flexibilização está bem próxima. Tanto que as chances de redução já em março dispararam a 76,1%, de 41,3% ontem. Para o acumulado de 2024, as apostas são difusas, mas se concentram mais em 150 pontos-base de redução (35,4% hoje, contra 15,8% ontem). Vale lembrar que a mediana das projeções dos dirigentes é mais contida, de redução de 75 pontos. Neste ambiente, o Dow Jones renovou a máxima histórica (37.090,24 pontos, alta de 1,40%), a T-note de 10 anos voltou a ficar abaixo de 4% pela primeira vez no intraday desde agosto e o DXY rompeu o piso dos 103 pontos. Aqui, o Ibovespa chegou a flertar na máxima com os 130 mil pontos, fechando perto desta marca (129.465,08 pontos, valorização de 2,42%). Somente quatro ações caíram. Nos juros futuros, vértices como janeiro 2026 e janeiro 2027 fecharam em um dígito (9,620% e 9,705%), diante também de apostas que o Banco Central virá com uma abordagem suave no comunicado do certeiro corte de 50 pontos-base da Selic daqui a pouco. A Selic terminal na curva agora está entre 9,0% e 9,25%, de 9,50% ontem. Mas a perspectiva de redução do diferencial de juro inibiu um pouco o rali no câmbio. O dólar à vista caiu aos R$ 4,9208 (-0,92%).

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•BOLSA

•JUROS

•CÂMBIO

MERCADOS INTERNACIONAIS

O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, assumiu em coletiva hoje que o Comitê começou a ter discussões preliminares sobre cortes de juros, depois de manter a taxa básica de juros dos EUA inalterada hoje. A sinalização impulsionou as bolsas de Nova York, com o índice Dow Jones fechando no maior mais alto já registrado e ficando acima dos 37 mil pontos pela primeira vez, enquanto Nasdaq e S&P 500 atingiram maior nível desde janeiro de 2022. A melhora no apetite por risco fez os retornos dos Treasuries despencarem, com o rendimento da T-note de 2 anos ficando no nível mais baixo desde junho e o da T-note de 10 anos voltando a ficar abaixo de 4% pela primeira vez desde agosto na mínima intraday. Com Powell comentando que as taxas de juros estão possivelmente no pico, o dólar ficou pressionado no exterior, levando o DXY a recuar cerca de 1%, o que favoreceu o petróleo, que já subia na esteira da expectativa da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de que a demanda global deve aumentar em 2023 e 2024.

Atendendo às expectativas do mercado, o Fed manteve as taxas inalteradas outra vez, e o comunicado trouxe poucas alterações, reforçando apenas a desaceleração da atividade no país. Powell, porém, em sua coletiva de imprensa, teve uma abordagem “surpreendentemente mais dovish do que o esperado”, escreveu o ING em análise. Enquanto isso, o gráfico de pontos desta reunião trouxe 15 dirigentes prevendo que a taxa básica esteja entre 4,25% e 5,0% até o fim de 2024. O presidente do BC americano assumiu que o comitê começou a falar sobre cortes de juros, e pontuou que este deve ser um assunto para os próximos encontros, apesar de que será abordado “com muito cuidado”. Ele também destacou que as taxas de juros estão no ou muito próximas do pico, e repetiu que o Fed subirá os juros outra vez, caso se faça necessário, mas as sinalizações de cautela ficaram em segundo plano para o mercado.

Depois da coletiva, a ferramenta do CME Group registrou um salto na chance de corte na reunião de março de 2024, registrando 76,1% de probabilidade por volta de 17h40. O CME também aumentou a chance de cortes para 2024, agora apontando 35,4% de probabilidade de corte acumulado de 150 pontos-base no ano que vem. A possibilidade de cortes fez os índices de Nova York subirem a patamar não alcançado desde janeiro de 2022, enquanto o Dow Jones ficou acima dos 37 mil pontos pela primeira vez na história. Na esteira da euforia com a política monetária, os papéis da Apple subiram 1,68% e atingiram US$ 197,73 por unidade, o valor mais alto já registrado pela companhia, de acordo com a Dow Jones, que este ano também atingiu valor de mercado superior a US$ 3 trilhões. O índice Dow Jones subiu 1,40%, aos 37.090,24 pontos, o Nasdaq fechou em alta de 1,38%, aos 14.733,96 pontos e o S&P 500 avançou 1,37%, aos 4.707,09 pontos. Todos os 11 subíndices do S&P 500 fecharam em alta.

Diante das chances renovadas de cortes precoces e das máximas nas bolsas, os retornos dos Treasuries desabaram e tocaram mínimas, acelerando a queda vista mais cedo, com o retorno da T-note de 2 anos caindo ao nível mais baixo desde junho e ficando abaixo dos 4,5%. O juro da T-note de 10 anos ensaiou queda abaixo de 4% em meio ao Powell, atingindo o menor nível desde agosto, mas não se sustentou a níveis tão baixos. Por volta das 18h (de Brasília), o yield da T-note de 2 anos caia a 4,441%, o da T-note de 10 anos recuava a 4,019% e o do T-bond de 30 anos tinha queda a 4,171%.

Com Powell sinalizando que a taxa de inflação não precisa estar tão próxima da meta de 2% ao ano para o Fed começar os cortes, o dólar se enfraqueceu contra rivais, em pressão particular ante euro e libra, em compasso de espera das decisões de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e Banco da Inglaterra (BoE), que serão divulgadas amanhã cedo. O índice DXY, que mede a força do dólar contra uma cesta de moedas, caiu perto de 1%, aos 102,869 pontos. Entre os destaques no câmbio, o dólar recuava a 143,14 ienes, enquanto o euro subia a US$ 1,0882 a libra avançava a US$ 1,2624.

O dólar em queda ajudou a impulsionar o preço do petróleo, que já subia hoje na esteira da previsão da Opep de que a demanda global deve subir 2,2 milhões de barris por dia. O petróleo WTI para janeiro fechou em alta de 1,25% (US$ 0,86), a US$ 69,47 o barril. O Brent para fevereiro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), subiu 1,39% (US$ 1,02), a US$ 74,26 o barril.

No cenário macroeconômico, o Instituto de Finanças Internacionais (IIF) atualizou suas projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) global em 2024, que deve registrar alta de 3%, enquanto o Brasil deve crescer 2,4% e a Argentina deve recuar 1,3% em 2024, enquanto o novo governo lida com o rombo fiscal e tenta instalar suas reformas, com risco de acelerar a queda no PIB caso imponha um ritmo “acelerado demais” na agenda reformista. Hoje, o governo de Javier Milei anunciou que a eliminação de uma série de subsídios sobre tarifas começará a valer em 1 de janeiro de 2024, e o dólar fechou o dia em 1.070 pesos argentinos, de acordo com o Ámbito Finaciero, depois do governo anunciar que o câmbio oficial deve permanecer fixo em 800 pesos por dólar

BOLSA

Acompanhando Nova York, o Ibovespa começou a buscar máximas para a sessão ainda aos primeiros sinais do aguardado comunicado sobre a decisão de política monetária do Federal Reserve, às 16h. Conforme esperado, o BC americano manteve, em decisão unânime, a taxa de juros de referência na faixa de 5,25% a 5,50% ao ano. E o gráfico de pontos, mais aguardado do que o próprio comunicado, mostrou que 15 dirigentes do Fed veem juros entre 4,25% e 5% em 2024 – e que a maioria dos dirigentes espera juros entre 3% e 4% até o fim de 2025.

Em suma, a leitura do mercado, ante as indicações desta tarde do Fed, é de que os juros na maior economia do mundo, de fato, já passaram do ponto mais alto do ciclo de elevação dos custos de crédito e, para frente, tendem a ser acomodados em níveis mais compatíveis ao apetite por risco – ou seja, haverá cortes na taxa de referência dos EUA, logo adiante, como antecipava o mercado. De acordo com dados da CME, o mercado vê agora 76,1% de chance de que o Federal Reserve iniciará cortes de juros já em março de 2024.

O resultado ficou evidente tanto em Nova York como em São Paulo, com o Ibovespa chegando aos 129.793,35 pontos na máxima da sessão, maior nível intradia desde 23 de junho de 2021, então aos 129,9 mil. A acentuação de ganhos prosseguiu com a fala do presidente do Fed, Jerome Powell, a partir das 16h30, em que os sinais ‘dovish’ acabaram prevalecendo na leitura do mercado. Ao fim, o índice ainda mostrava ganho de 2,42% na sessão, aos 129.465,08 pontos, maior nível de fechamento desde 24 de junho de 2021, então aos 129.513,62 pontos. O giro ficou em R$ 60,6 bilhões, em dia de vencimento de opções sobre o Ibovespa, o que alavanca o volume da sessão.

Com o desempenho de hoje, o Ibovespa passa ao positivo na semana (+1,87%) e também no mês (+1,68%), colocando os ganhos do ano, até aqui, em 17,98%. Em outro desdobramento importante, o forte desempenho desta quarta-feira – o maior ganho em porcentual para o índice desde os 2,70% de 3 de novembro – reaproxima o Ibovespa de suas máximas históricas, de 7 de junho de 2021: então aos 130.776,27 no fechamento, tendo chegado durante a mesma sessão aos 131.190,30.

Superada a expectativa para os sinais do Fed, em que o mercado tomou nota quanto ao reconhecimento, por Powell, de enfraquecimento do ritmo de atividade após o terceiro trimestre, os investidores voltam a atenção para o que virá nesta noite, no comunicado do Copom sobre a decisão de política monetária. A expectativa de consenso é por novo corte de 0,50 ponto porcentual na Selic, o que traria a taxa de juros de referência no Brasil de 12,25% para 11,75% ao ano.

“Estamos com a curva de juros em um dos patamares mais baixos do ano, o que, na minha visão, reflete aposta dos investidores de que a gente pode ter alguma mudança de direcionamento por parte do BC quanto ao ritmo de corte dos juros. Tivemos ontem leitura de inflação abaixo do esperado, e há outros fatores que podem contribuir para a manutenção disso, como a recente queda do petróleo e a atividade econômica também em desaceleração”, diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos. “Uma surpresa positiva do Copom nesta noite seria excelente impulso para o mercado de ações.”

“Nos Estados Unidos, a economia se mantém forte na geração de vagas de trabalho, mas os dados de atividade têm se mostrado mais estáveis, após uma volatilidade no terceiro trimestre, entre força e arrefecimento, um comportamento errático que acabou culminando naquela forte alta nos rendimentos dos Treasuries longos. Mas a partir de novembro, o CPI (índice de inflação ao consumidor) tem estado em linha com o esperado e os dados de atividade têm vindo mais fracos, consistentemente”, acrescenta o analista, referindo-se à percepção que tem prevalecido desde então, de que o ciclo de alta de juros nos EUA foi concluído pelo Fed e há cortes por vir.

Como de hábito, as palavras de Jerome Powell, na entrevista coletiva após a divulgação do comunicado, buscaram equilíbrio, seguindo o mantra de que o BC americano continuará a agir com cautela, baseado nos dados. Ainda assim, ele reconheceu ter havido um abrandamento substancial do ritmo de atividade no país, após o terceiro trimestre. “Os dados mais baixos da inflação ao longo dos últimos meses são bem-vindos, mas precisaremos de mais evidências para aumentar a confiança de que a inflação está se reduzindo de forma sustentável em direção ao nosso objetivo”, acrescentou o presidente do Fed.

Apesar de ter procurado não descuidar do cravo e da ferradura, a fala de Powell reforçou a animação do mercado, que já aflorava meia hora antes do início da entrevista do presidente do Fed, na divulgação do comunicado e das projeções da instituição, no gráfico de pontos.

“O sumário de projeções econômicas trouxe a perspectiva de que os juros vão cair nos Estados Unidos mais do que previsto inicialmente. Os índices futuros também viraram bem para o positivo, com essa sinalização de que o afrouxamento monetário está cada vez mais próximo. A grande questão é saber quando terá início: o mercado está precificando que já a partir de março”, aponta Enzo Pacheco, analista da Empiricus Research.

Destaque na B3 para as ações de grandes bancos, com Itaú (PN +3,03%), Bradesco (ON +3,46%, PN +4,37%) e Santander (Unit +3,18%) à frente do segmento na sessão. Na ponta do Ibovespa, ações com exposição a juros e ao ciclo de atividade doméstico, como as de varejo (Magazine Luiza +10,96%) e construção (MRV +8,23%). O índice de consumo (ICON) encerrou em alta de 4,16% a sessão, bem à frente do índice de materiais básicos (IMAT), que reúne os papéis associados a commodities, em alta de 1,57% no fechamento. Petrobras ON e PN subiram hoje 1,33% e 1,44%, com Vale ON quase sem variação (+0,01%).

Apenas quatro das 86 ações da carteira Ibovespa fecharam o dia em baixa: SLC Agrícola (-0,82%), IRB (-0,76%), BB Seguridade (-0,51%) e Eztec (-0,27%).

18:21

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 129465.08 2.42245

Máxima 129793.35 +2.68

Mínima 126298.76 -0.08

Volume (R$ Bilhões) 6.05B

Volume (US$ Bilhões) 1.22B

18:24

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 128005 1.16973

Máxima 128095 +1.24

Mínima 126295 -0.18

JUROS

Os juros futuros, já em queda desde a abertura, derreteram após o desfecho da reunião do Federal Reserve. A leitura dovish do comunicado, do gráfico de pontos e da entrevista de Jerome Powell estimulou as apostas no corte dos juros americanos a partir do primeiro trimestre do ano que vem, trazendo um bom presságio para o comunicado do Copom, que sai após o fechamento do mercado. Os rendimentos dos Treasuries tombaram e as taxas locais acompanharam, com crescimento das apostas num ciclo de queda mais extenso da Selic e de taxa terminal mais baixa.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 fechou em 10,07% (mínima), de 10,253% ontem no ajuste, e para janeiro de 2026, em 9,62%, de 9,89%. A taxa do DI para janeiro de 2027 cedeu a 9,70%, na mínima, (10% ontem) e a do DI para janeiro de 2029 caiu de 10,45% para 10,19% (mínima).

As principais taxas encerraram nas mínimas desde meados de 2021, sendo que no trecho intermediário se firmaram na casa de um dígito. A percepção é de que um ambiente externo mais favorável pode abrir espaço para maior ousadia do Copom na política monetária.

A economista-chefe do TC, Marianna Costa, lembra que no comunicado da reunião de novembro o Copom havia dado grande destaque ao aumento dos juros longos nos EUA em seu balanço de riscos para a inflação. “A curva dos EUA fechou muito desde então”, disse, citando que no fim de outubro a taxa da T-note de dez anos chegou a bater 5%. No fim desta tarde, estava em 4,01%.

O gráfico de pontos do Fed mostrou redução nas medianas para juros entre 2023 e 2025 e, no comunicado, os diretores suavizaram o discurso ante o texto anterior. Incluíram a menção ao fato de que a “inflação arrefeceu no último ano”, embora reconheçam que ainda esteja elevada. O Fed também alterou a definição sobre o ritmo de crescimento da atividade, de “expandiu” para “desacelerou”. Já Powell admitiu que discussões preliminares aconteceram hoje sobre possíveis cortes nas taxas de juro.

Esse combo ampliou as apostas de corte de juro nos EUA, firmando março como o mês mais provável para o início do ciclo. Mais do que isso, a chance de que o orçamento total para 2024 atinja 150 pontos-base disparou, pela ferramenta do CME Group.

Na curva local, o “efeito Fed” não alterou o consenso para as próximas reuniões do Copom, incluindo a de hoje, de redução de 0,50 ponto porcentual para a Selic. Apostas na aceleração para 0,75 ponto são ainda marginais, mas podem ganhar corpo a partir do que o Copom indicar no comunicado desta noite.

“Vários pontos estão diferentes em relação ao encontro anterior”, afirmou Costa. Além do ambiente externo ter desanuviado, o cenário de preços melhorou e, embora possa ser prematuro afirmar que o risco fiscal caiu, analistas destacam o fato de que na última reunião a meta de déficit zero ainda estava ameaçada e, ainda, de lá para cá, aos trancos e barrancos, o governo vem conseguindo aprovar no Congresso projetos de aumento da arrecadação.

Pelo lado da atividade, a economista do TC destaca que o PIB do terceiro trimestre, acima da mediana das estimativa, não mudou a percepção de perda de ritmo da economia, como vêm mostrando alguns dados do quarto trimestre. Hoje, o dado do setor de serviços veio nessa linha, com queda de 0,60% em outubro na margem, pior do que o consenso, de estabilidade.

Na curva, a precificação de Selic terminal caiu de 9,50% ontem para a faixa entre 9,0% e 9,25% no fechamento, com o mercado agora projetando cortes até o fim de 2024. “A projeção é de ciclo um pouco mais longo, com as taxa cedendo mais na barriga da curva”, disse o economista-chefe do Banco Bmg, Flávio Serrano.

Na Nova Futura Investimentos, o cenário do economista-chefe, Nicolas Borsoi, é de que o Copom cortará a taxa básica hoje em 0,50 ponto e manterá no comunicado a mensagem de que esta dose é a apropriada para as próximas reuniões. “Mas não descarto que altere para ‘próxima reunião’ ou até tire esse trecho da ata”, disse, o que, na sua avaliação, abriria as portas para apostas de queda de 0,75 ponto nos encontros seguintes.

“Acho que as discussões nas mesas da Faria Lima agora são se o Copom sinaliza pra começar em janeiro ou março. Faz sentido o Copom buscar uma maior flexibilidade pra política monetária agora”, disse. Para o economista, o ciclo nem precisa ser longo. “Podem terminar no mesmo local, com uma Selic terminal entre 9,0% e 9,5%, mas chegar lá mais rapidamente”, explicou.

CÂMBIO

O dólar à vista caiu 0,92% em relação ao real hoje, a R$ 4,9208, em meio a um ambiente de fraqueza geral da moeda deflagrado pela decisão de política monetária nos Estados Unidos. O Federal Reserve (Fed) manteve os juros na faixa de 5,25% a 5,50%, conforme antecipado. Mas o aumento na projeção do banco central americano para os cortes em 2024, de 50 para 75 pontos-base, sustentou um forte aumento do apetite por risco global e deu a senha para a queda da divisa aqui.

Não à toa, a moeda americana oscilou entre queda e alta moderada até meados da tarde e chegou a tocar a máxima de R$ 4,9772 (+0,20%) durante a manhã, em vários momentos pressionada pela saída de fluxo cambial. Mas inverteu o sinal rapidamente após a decisão do Fed, divulgada às 16h. Em 20 minutos, de 15h59 a 16h19, perdeu quase cinco centavos na cotação. Depois, puxada por sinais dovish do presidente do Fed, Jerome Powell, chegou a tocar a mínima de R$ 4,9153 (-1,03%).

O comunicado de política monetária dos EUA mostrou que a mediana das projeções de dirigentes do Fed agora indica queda dos juros a 4,6% em 2024, um nível compatível com redução de 75 pontos-base no ano que vem. Durante a entrevista coletiva para comentar a decisão, Powell repetiu que a autoridade monetária está “preparada para apertar ainda mais” se for necessário. Mas reconheceu que a taxa dos Fed Funds está pelo menos próxima ao pico e que o Fed já teve “discussões preliminares” sobre reduzir os juros.

“A principal mensagem é que o comitê, hoje, chegou ao nível que eles entendem ser o mais restritivo neste ciclo e estão começando a discutir quando cortar”, afirma o estrategista-chefe da gestora AZ Quest, André Muller. Ele diz que o tom foi mais dovish do que o esperado pelo mercado – o que se refletiu na forte queda global do dólar, no derretimento dos rendimentos das Treasuries e na disparada das bolsas, aqui e lá fora.

Depois da decisão do Fed e da coletiva de Powell, o mercado migrou para a expectativa de um corte inicial dos juros em março, com 76,1% de chance, segundo o CME Group. A maior parte dos agentes espera que o BC americano corte os juros em 150 pontos-base em 2024.

O índice DXY, que mede o desempenho do dólar na comparação com uma cesta de seis rivais fortes, fechou o dia com 102,915 pontos, em queda de 0,90%. A moeda americana também perdeu força em relação a de outros emergentes, como o peso mexicano (-0,30%) e o peso chileno (-0,49%). E recuou na comparação com divisas de outros países exportadores de commodities, a exemplo do dólar australiano (-1,66%) e do neozelandês (-1,17%). O petróleo subiu mais de 1%.

O CIO da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, afirma que o aumento global do apetite por risco é o principal responsável pelo desempenho do dólar e da Bolsa brasileira hoje. Ele destaca que a decisão do Fed também parece acabar com a preocupação de uma redução no diferencial de juros entre Brasil e Estados Unidos, que prejudicou o real ontem. “Como o mercado espera que o Fed corte em março, o carrego até aumentaria, porque não vejo o BC acelerando os cortes a 75 pontos”, afirma.

Já o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, considera que o discurso de Powell e o comunicado do Fed foram cautelosos para evitar uma sinalização de timing dos cortes, mas impõem um viés de otimismo nos mercados. “Sinalizar cortes em 2024 é ótimo para as bolsas internacionais”, afirma.

Com a decisão do Fed, a espera pela decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de hoje ficou em segundo plano. O consenso do mercado é de que o BC diminuirá a Selic de 12,25% para 11,75%. O noticiário fiscal também foi acompanhado, enquanto o governo tenta aprovar seu pacote de aumento de receitas para zerar o déficit primário em 2024.

Às 18h08, o contrato de dólar futuro para janeiro de 2024 caía 0,91%, cotado em R$ 4,9240. O giro financeiro, termômetro do apetite por negócios, era de US$ 13,5 bilhões no horário mencionado.

18:24

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.92080 -0.9182 4.97720 4.91530

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4921.500 -0.94596 4981.500 4919.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4948.000 -0.84168 4993.000 4948.000