A manutenção do veto, pelo Congresso, à ampliação do Benefício de Prestação Continuada (BPC), que teria impacto fiscal de R$ 20 bilhões em 2021, aliviou um pouco da aversão ao risco local, mas foi insuficiente para impedir que os ativos brasileiros terminassem na contramão do que foi visto no exterior. E um dos casos mais contundentes foi o do dólar, cuja alta e a proximidade do nível de R$ 5,50 fez o Banco Central intervir duas vezes no mercado, num total de US$ 1 bilhão em swaps. Tudo porque, além das incertezas fiscais e sobre o teto de gastos, que já vinham incomodando os investidores nos últimos dias, a debandada do governo, com a saída de dois secretários ontem, num total de cinco baixas em menos de um mês, amplificou a cautela dos agentes. Os temores são de que a agenda liberal do ministro Paulo Guedes perca ainda mais espaço dentro do governo e que o próprio titular da Pasta desembarque da equipe. Ao longo do dia, o presidente Jair Bolsonaro e outros ministros tentaram mostrar que a responsabilidade fiscal está intacta. Mas foi pouco para o mercado. Diante disso, já no fim dos negócios, a informação de que o presidente faria uma declaração ao lado de seus ministros finalmente conseguiu aplacar um pouco mais os ânimos. Ainda assim, a despeito das intervenções do BC, algo que não ocorria desde 29 de junho, o real voltou a cair ante o dólar, na contramão dos pares emergentes. No mercado à vista de balcão, a divisa dos EUA subiu 0,66% ante a brasileira, a R$ 5,4512. Os juros futuros, sobretudo os de longo prazo, chegaram a ampliar o avanço durante a tarde, de olho nas preocupações domésticas e com operações relacionadas ao leilão do Tesouro amanhã. Mas as taxas perderam um pouco de ímpeto nos minutos finais, em reação à manutenção do veto do BPC, por significar um risco a menos para a já frágil política fiscal, e depois devolveram ainda mais prêmios na sessão estendida, à espera da declaração de Bolsonaro. Os DIs curtos também subiram, em reação à cautela generalizada e às vendas do varejo em junho acima do consenso. Com isso, as chances de manutenção da Selic em 2% cresceram para agora 88%. Já o Ibovespa, que chegou a perder o nível de 101 mil pontos no meio da tarde, reduziu bastante as perdas na hora final, diante da decisão do Congresso. Ao final, o índice mostrava leve perda de 0,06%, aos 102.117,79 pontos, com suporte proporcionado por avanços de Petrobras e Vale, bem como pelo comportamento bastante positivo dos índices acionários em Nova York. Eletrobras, por outro lado, figurou entre as principais baixas, justamente devido à saída de Salim Mattar da secretaria responsável pelas privatizações. Em Wall Street, os principais índices ganharam ainda mais fôlego à tarde e o S&P 500 chegou a se aproximar de recorde histórico. O Nasdaq foi destaque de alta, puxado pelos papéis de Apple e Microsoft. O otimismo nos EUA deriva de informações sobre a vacina contra a covid-19, depois que o governo também fechou a compra de 100 milhões de doses da Moderna, e com sinais de que Donald Trump pode assinar novos decretos com estímulos diante do impasse nas negociações entre republicanos e democratas.
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