TENSÃO FISCAL AZEDA HUMOR, LEVA BC A INTERVIR NO CÂMBIO E PRESSIONA DI E BOLSA

Blog, Cenário
O terceiro trimestre de 2021 termina com o mercado doméstico em nível elevado de estresse, dados os impasses quanto ao destino das contas públicas. A pressão de alas do governo e do Congresso para encontrar mecanismos que garantam a extensão do auxílio emergencial trouxe um ingrediente a mais no complexo caldo que envolve o Orçamento do ano que vem. Isso porque esses grupos querem manter o benefício sob a justificativa de que o Auxílio Brasil (que ainda não saiu do papel) não abarcará todos os que hoje recebem ajuda do governo. Para isso, como revelou o Broadcast hoje à tarde, há a ideia de usar a PEC dos Precatórios (mecanismo para viabilizar o 'novo' Bolsa Família) para criar um fundamento legal para esse apoio a vulneráveis. Só que nem mesmo a resistência da equipe econômica a essa manobra acalmou o humor do investidor, sob a percepção de que a divisão no governo está se acirrando. O tom duro usado pelo secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, em eventos fechados hoje corrobora esse cenário. A investidores, ele afirmou que não assinará a prorrogação do auxílio. Não bastassem essas tensões, há também os tradicionais ajustes técnicos de fim de mês e trimestre. No câmbio, em um dia de disputa pela Ptax e rolagens de contratos no mercado futuro, a moeda à vista disparou a R$ 5,4758 na máxima à tarde com a notícia sobre o auxílio emergencial, e o Banco Central anunciou um swap extra de 10 mil contratos, integralmente absorvidos. A ação do BC trouxe relativo alívio e a divisa americana à vista terminou em R$ 5,4462 (+0,29%), ganho mensal de 5,30%. No mercado de renda fixa, o investidor teve de absorver ainda os recados do presidente do BC, Roberto Campos Neto, de que levará a Selic até onde for preciso para debelar a inflação no horizonte relevante. E mesmo com essa sinalização, a curva fechou setembro praticamente com o mesmo nível de inclinação no fim de agosto. Em relação a ontem, contudo, houve pressão nas taxas. Já o Ibovespa não conseguiu se manter no azul nesta quinta-feira e cedeu à pressão vendedora nos minutos finais. O principal índice da Bolsa terminou em 110.979,10 pontos, baixa de 0,11% na sessão, de 6,57% no mês e de 12,47% no trimestre - o segundo pior trimestre desde o início da pandemia, superado apenas por janeiro-março de 2020. No exterior, o dia, o mês e o trimestre foram de tensão e volatilidade. Com o debate de retirada de estímulos intenso, uma crise global de suprimento energético e desaceleração de crescimento na Ásia, as posições conservadoras foram escolhidas. Os principais índices das Bolsas de Nova York acumularam perdas superiores a 4% em setembro e a curva dos Treasuries inclinou-se.
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CÂMBIO Após uma manhã de muita volatilidade, fruto da disputa pela formação da última taxa Ptax de setembro, o dólar se firmou em alta ao longo da tarde, refletindo, sobretudo, os temores relacionados à política fiscal, em meio ao debate em torno da prorrogação do auxílio emergencial e da tramitação da PEC dos Precatórios. No pior momento ao longo da tarde, a moeda chegou a tocar na casa de R$ 5,47, ao correr até a máxima de R$ 5,4758 (+0,84%). A piora coincidiu com informações, apuradas com exclusividade pelo Broadcast, de que uma ala do governo defende a inclusão da prorrogação do auxílio emergencial na PEC dos Precatórios, ideia que encontraria resistências no ministério da Economia. Se não foi incluída na PEC, a extensão do auxílio emergencial, adotado para lidar com os efeitos da pandemia do coronavírus, pode ser feita por crédito suplementar (fora do teto de gastos). O Broadcast também apurou que, em reuniões organizadas pela XP Investimentos e BTG pela manhã, o secretário especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, afirmou que não assinaria qualquer medida relacionada à prorrogação do auxílio emergencial. Segundo relato de fontes Funchal adotou um tom pessimista e disse que há muitas pressões políticas para aumentar o gasto público. A escalada do dólar só diminuiu após intervenção inesperada do Banco Central com a oferta de até 10 mil contratos (US$ 500 milhões) de swap cambial, absorvida integralmente pelo mercado. Na prática, o BC injetou dinheiro no sistema com uma operação equivalente a venda de dólar futuro. Foi a primeira intervenção "surpresa do BC" desde 8 de julho, quando o dólar bateu R$ 5,30. Naquela época, o BC também ofertou também US$ 500 milhões. Com o arrefecimento do ritmo de alta após a atuação da autoridade monetária, o dólar à vista fechou o dia cotado a R$ 5,4462, em alta de 0,29%. Foi o sétimo pregão seguido de ganhos da moeda americana, que encerrou setembro com valorização de 5,30% - resultado só inferior ao mês de janeiro, quando subiu 5,51%. Na B3, o dólar futuro para novembro era negociado a R$ 5,4680, em alta de 0,58%. Na máxima, chegou a tocar na casa de R$ 5,50. O giro foi muito expressivo, na casa dos US$ 21,9 bilhões. Mais cedo, em apresentação do Relatório Trimestral de Inflação o presidente do Banco Central, Campos Neto, ao comentar a oferta de swaps para lidar com o overhedge dos bancos (até US$ 1,4 bilhão por semana), havia repetido que o câmbio e flutuante e as atuações do BC são para evitar "disfuncionalidades no mercado". No caso do overhedge, Campos Neto disse que é importante atuar, porque se trata de um fluxo "bastante grande, em um ano com bastante incerteza". Segundo operadores, a virada do mês, com rolagem das posições no mercado futuro, tende a provocar solavancos no mercado e contaminar a formação da taxa à vista. Nas mesas de operação comenta-se, contudo, que uma ala do mercado quer esticar a corda para estimular uma atuação mais forte do Banco Central. "O BC tentou se adiantar a pressão de fim de ano do overhedge já oferecendo swap, mas acabou piorando a situação, porque deixou o mercado com a impressão de quer é diminuir a fricção no dólar por que está atrás da curva (na condução da política monetária)", afirma o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, ressaltando que tem tesouraria querendo "peitar o BC". Na avaliação do diretor de estratégia da Inversa, Rodrigo Natali, não havia disfuncionalidade do mercado nem restrição de liquidez que justificasse uma intervenção do Banco Central hoje. "A impressão é de que ele está querendo forçar a barra e segurar o câmbio para tentar de alguma forma conter a inflação e não subir tanto os juros", afirma Natali, que chama a atenção para o volume de intervenções do BC no câmbio, com os leilões de rolagem de swap, leilões para o overhedge e intervenções extras não programadas "O problema é que isso não funciona e mostra fraqueza do Banco Central". O diretor da corretora Correparti, Ricardo Gomes da Silva, observa que o BC precisava atuar para evitar uma alta mais acentuada da moeda. Além das questões domésticas, Gomes da Silva ressalta que, apesar da moeda americana ter perdido força entre a maioria das divisas emergentes hoje, a tendência é de valorização do dólar no exterior por conta da perspectiva redução da liquidez por conta do início da redução dos estímulos monetários nos Estados Unidos. "O mercado se antecipa ao encurtamento da liquidez por conta do 'tapering', e ainda pelo aperto monetário via elevação dos juros em 2022. E aí não tem jeito, o dólar vai continuar valorizando", afirma o diretor da Correparti, que chama a atenção para declarações mais duras do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell. Em fala no Congresso americano hoje, Powell disse que o quadro inflacionário é "frustrante", diante de gargalos na cadeia de produção que perduram e parecem piorar. Isso, disse Powell, deve levar a inflação a ficar mais elevada por mais tempo do que o esperado anteriormente. O presidente do BC espera algum "alívio apenas no primeiro semestre de 2022". O índice DXY - que mede a variação do dólar frente a seis divisas fortes - chegou a operar em alta, na esteira do discurso de Powell, mas depois arrefeceu e passou a trabalhar entre estabilidade e ligeira queda. É preciso ressaltar, contudo, que o índice vem de uma sequência relevante de alta e já está na casa dos 94 pontos. Pela manhã, foi divulgado que o PIB anualizado dos EUA cresceu 6,7% no segundo trimestre, ligeiramente acima das previsões (6,6%). Já o índice PCE avançou 6,5% no período (alta de 6,1% do núcleo). A nota negativa para a economia americana foi a alta de 11 mil nos pedidos semanais de auxílio desemprego, para 362 mil (ante projeção de 335 mil). Em sua fala hoje, Powell também afirmou que os Estados Unidos estão em uma situação muito complicada, já que a inflação está em níveis elevados, enquanto o emprego permanece longe do patamar ideal. (Antonio Perez - [email protected]) 17:44 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima Dólar Comercial (AE) 5.44620 0.2928 5.47580 5.36870 Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0 DOLAR COMERCIAL 5439.500 0.38756 5444.000 5369.000 DOLAR COMERCIAL FUTURO 5479.000 0.78175 5500.500 5392.500 BOLSA O Ibovespa bambeou para o negativo nesta última sessão do mês e do trimestre, um como outro também desfavoráveis. O índice havia conseguido se firmar em leve alta ao longo de boa parte da tarde, mesmo em dia majoritariamente negativo no exterior ante impasse sobre o teto de gastos nos Estados Unidos, e com pressão adicional sobre o câmbio e os juros futuros no Brasil, em meio à retomada de temores sobre a situação fiscal doméstica, com as negociações sobre o Auxílio Brasil e a tramitação da PEC dos Precatórios. Ao final, mostrava leve baixa de 0,11%, aos 110.979,10 pontos, entre mínima de 110.742,83, do fim da tarde, e máxima de 112.371,02 pontos, com giro financeiro a R$ 42,1 bilhões no encerramento. Na semana, cede agora 2,03%. Contido por diversos fatores de incerteza, aqui e fora, o Ibovespa tentou e não conseguiu emendar hoje o segundo dia de recuperação moderada, o que, de qualquer forma, não impediria que setembro alongasse a série negativa iniciada em julho, que colocou o terceiro trimestre de 2021 como o segundo pior da pandemia, superado apenas pelo intervalo entre janeiro e março de 2020, quando o índice cedeu 36,86%, em leitura recorde. Até então, a maior perda acumulada em um trimestre, de 31,88%, havia ocorrido entre julho e setembro de 1998 - antes, em 1995, houve queda de 31,58% no primeiro trimestre ante o quarto de 1994, de acordo com AE Dados. Mesmo com o pior momento da pandemia cada vez mais para trás, em setembro o índice acumulou perda de 6,57% no mês, vindo de quedas de 2,48% e 3,94%, respectivamente, em agosto e julho - no agregado trimestral, a correção negativa foi de 15.822,56 pontos, ou 12,47%. Tendo encerrado o segundo trimestre aos 126.801,66 pontos - não muito distante então do recorde histórico de fechamento, de 7 de junho, aos 130.776,27 pontos -, o Ibovespa acumulou ganho de 8,01% no intervalo abril-junho, após perda de 2,00% nos três primeiros meses do ano, o que colocou os ganhos do semestre a 6,54%. No ano, o índice vira diametralmente e cede 6,75% ao fim do terceiro trimestre. Setembro foi o terceiro pior mês desde o início da pandemia, superado apenas por março e fevereiro de 2020, quando cedeu 29,90% e 8,43%, respectivamente. No meio do dia, rumor de que o secretário especial do Tesouro e do Orçamento, Bruno Funchal, teria feito avaliação muito pessimista sobre gastos públicos, em reuniões fechadas promovidas pelo BTG e pela XP com bancos e fundos, contribuiu para piora nos ativos, com pressão sobre os juros futuros e o Ibovespa oscilando, ainda que pontualmente, para o negativo. Funchal teria reiterado também que não participaria de quaisquer iniciativas quanto a gastos adicionais com auxílio emergencial. Para driblar resistências do Ministério da Economia, integrantes do governo defendem nos bastidores a inclusão da prorrogação do auxílio emergencial na PEC dos Precatórios, em tramitação no Congresso, reportam de Brasília as jornalistas Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes, do Estadão/Broadcast. A previsão constitucional da extensão do benefício derrubaria o argumento dos técnicos da área econômica de que não há hoje fundamento legal para uma nova rodada da ajuda aos vulneráveis. Apesar de a situação fiscal doméstica ainda assombrar os investidores, as empresas do setor de commodities contribuíram para mitigar as perdas do Ibovespa, "com o PMI industrial chinês interrompendo o movimento de queda recente", observa Rafael Ribeiro, analista da Clear Corretora. Destaque para o setor de siderurgia, com Gerdau PN em alta de 3,95%, CSN ON, de 3,05%, e Usiminas PNA, de 2,68%, vindo o segmento de longa correção decorrente do ajuste negativo nos preços do minério de ferro em setembro - em estabilização e recuperação recente. Vale ON fechou em leve alta de 0,58%, enquanto Petrobras ON e PN cederam, respectivamente, 0,07% e 0,58%. Nos Estados Unidos, as bolsas também fecharam em queda, com destaque para o Dow Jones (-1,59%) e para o S&P 500 (-1,19%), "em vista da preocupação dos investidores com a economia, em especial sobre o rumo da inflação - após mais um discurso do presidente do Fed, Jerome Powell", acrescenta o analista. Hoje, Powell reiterou que o Fed monitora "com cuidado" as expectativas de inflação, durante audiência na Câmara dos Representantes, e disse que, no médio e no longo prazo, as expectativas de inflação no país coincidem com a meta de 2%. Ao mesmo tempo, voltou a repetir que, se necessário, o BC usará "todos os instrumentos" à disposição para levar a trajetória dos preços rumo à meta. Na ponta do Ibovespa, PetroRio fechou o dia em alta de 9,50%, Locaweb, de 4,86%, e Gerdau PN, de 3,95%. No lado oposto, pelo terceiro dia, Banco Inter (Unit -7,26%, PN -5,83%), desta vez à frente de Cielo (-4,58%) e de CVC (-3,93%). Os grandes bancos tiveram desempenho misto na sessão, entre perda de 2,91% (Unit do Santander) e leve ganho de 0,14% (Bradesco PN). Em dólar, o Ibovespa fechou setembro a 20.377,34 pontos, vindo de fim de agosto a 22.966,61 pontos, após julho a 23.378,71 pontos e a 25.496,99 pontos no encerramento de junho, tendo chegado a superar a marca de 26 mil no início daquele mês, com o índice da B3 então na máxima histórica também no intradia, a 131.190,30 pontos em 7 de junho, e com dólar a R$ 5,0324 no mesmo dia - foi então a 26.069,14 pontos, superando as marcas observadas em maio, com a moeda americana chegando a R$ 4,90 no melhor momento de junho. "O fechamento de setembro foi bem negativo, após uma manhã que sugeria algo melhor para a sessão, o que envolveu também briga para o fechamento da Ptax (no meio do dia) - dólar ameaçou ceder bastante e acabou virando, devolvendo a queda a partir ali das 9h40, 9h50, logo antes da primeira janela da Ptax, com o mercado ainda digerindo o relatório trimestral de inflação", diz João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos. "Tivemos outros pontos que pesaram para o Ibovespa no mês, além de auxílio emergencial e teto de gastos, e todo o 'taper talk' em torno do que o Fed fará, se a economia continuará a caminhar, com as próprias perdas, quando esses estímulos forem retirados (nos EUA)", acrescenta. (Luís Eduardo Leal - [email protected]) 17:32 Índice Bovespa   Pontos   Var. % Último 110979.10 -0.11496 Máxima 112371.02 +1.14 Mínima 110742.83 -0.33 Volume (R$ Bilhões) 4.23B Volume (US$ Bilhões) 7.78B 17:44 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % Último 110570 -0.53524 Máxima 112510 +1.21 Mínima 110505 -0.59 JUROS Os juros não sustentaram o movimento de queda visto pela manhã e subiram à tarde, em meio a declarações do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, à instabilidade nos mercados internacionais e preocupações com o cenário fiscal. Mesmo com a sinalização do Copom de que levará a taxa Selic para onde for necessário para recolocar a inflação na meta, a curva fechou setembro praticamente com o mesmo nível de inclinação do fim de agosto, refletindo a postura mais hawkish do Federal Reserve - que levou a uma disparada recente nos rendimentos dos Treasuries-, a falta de avanço nas reformas econômicas e indefinições do cenário fiscal. A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 subiu de 9,13% para 9,20% e a do DI para janeiro de 2025, de 10,215% para 10,28%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 10,69%, de 10,573% ontem. O diferencial entre as taxas de janeiro de 2023 e janeiro de 2027 ficou hoje em 149 pontos-base, de 145 pontos ontem e 147 pontos no fechamento de agosto. Pela manhã, as taxas conseguiam dar sequência à baixa de ontem, com o mercado digerindo sem traumas o Relatório de Inflação (RI) e os dados da Pnad, enquanto o exterior não tinha uma tendência bem definida. Se mantiveram em queda moderada inclusive quando saiu o edital do leilão do Tesouro, com lote de 14 milhões de LTN, o dobro em relação ao de 7 milhões ofertado 15 dias atrás nos mesmos vencimentos. No começo da tarde, porém, o recuo perdeu fôlego até que passaram a oscilar com viés de alta, entrando definitivamente em terreno positivo na última hora de negócios. No período vespertino, as taxas dos Treasuries também passaram a subir com o reforço no discurso do Federal Reserve de que o tapering deve começar nos próximos meses. O presidente da distrital de Chicago do Fed, Charles Evans, que tem direito a voto, projetou que a instituição deve dar início à retirada de suas compras emergenciais de bônus entre o fim deste ano e janeiro de 2022. "Tivemos a piora lá fora e também, depois do RTI, o reforço na mensagem de Campos Neto sugerindo Selic terminal mais alta", disse o diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, Rogério Braga. Ele considerou as declarações, dadas durante entrevista sobre o Relatório de Inflação (RI), "hawk". "Saímos mais uma vez com a impressão de que o patamar final é acima do que o boletim Focus precifica", disse. Segundo Campos Neto, o patamar da Selic no fim do ciclo conta mais do que ritmo de alta para convergência da inflação à meta no horizonte relevante. "Explicitamos que a Selic terminal é mais importante que o ritmo em si. E há um trade-off entre essa importância e a vantagem de se ter mais tempo para analisar informações em um ambiente volátil", argumentou o presidente do BC. Ele evitou falar em patamar máximo, mas disse que os próximos dados sobre atividade e inflação vão ser importantes para definir o nível final. Na curva, não houve alteração na precificação das apostas para a Selic este ano, com probabilidade entre 60% a 65% de alta de 1 ponto porcentual para as reuniões de outubro e dezembro. Mas houve ajuste para cima na projeção de Selic para 2022, projetada agora em 10,25%, segundo a Greenbay Investimentos. Entre os economistas, de 33 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, 22 esperam Selic terminal entre 8,50% e 9,25% (mediana de 9%). Para o fim de 2022, a mediana indica juros de 8,75%, com apostas entre 7,50% e 9,50%. Na reta final da sessão regular, as taxas renovaram máximas com o desconforto trazido pela a informação apurada pelo Broadcast de que uma ala do governo estaria pressionando pela inclusão, na PEC dos Precatórios, a extensão do auxílio emergencial, contrariando o que defende a equipe econômica. A previsão constitucional da extensão do benefício derrubaria o argumento dos técnicos da área econômica de que não há hoje fundamento legal para uma nova rodada da ajuda aos vulneráveis. Em reuniões pela manhã organizadas pela XP Investimentos e BTG, o secretário Especial do Tesouro e Orçamento, Bruno Funchal, afirmou com todas as letras que não assinaria qualquer medida nessa direção, segundo fontes que participaram dos encontros (veja detalhes em texto publicado às 16h53). No exterior, a quinta-feira foi de decisão sobre juros em países emergentes que disputam o fluxo do investidor estrangeiro com o Brasil, mas que seguem com taxas menos atrativas que a Selic de 6,25%. A Colômbia elevou juro de 1,75% para 2% ao ano e o México, de 4,50% para 4,75%. (Denise Abarca - [email protected]) 17:43 Operação   Último CDB Prefixado 32 dias (%a.a) 6.25 Capital de Giro (%a.a) 6.76 Hot Money (%a.m) 0.63 CDI Over (%a.a) 6.15 Over Selic (%a.a) 6.15 MERCADOS INTERNACIONAIS Setembro termina com uma série de incertezas nos mercados globais. No último pregão do mês, que também marcou o encerramento do terceiro trimestre, houve volatilidade. Em meio ao impasse em torno da suspensão do teto da dívida dos EUA, uma possível crise global de energia e a proximidade da retirada de estímulos do Federal Reserve, o Dow Jones e o S&P 500 recuaram mais de 1% em Nova York. O Nasdaq quase encerrou com ganhos, beneficiado pela trégua na inclinação da curva de juros dos Treasuries, mas inverteu o sinal nos últimos minutos. Na comparação mensal, os três índices acumularam perdas. O dólar, por outro lado, apesar de ter se enfraquecido hoje ante os pares, fechou em um nível maior do que no final de agosto e também registrou alta trimestral. O petróleo, por sua vez, avançou após a China ordenar que empresas de energia garantam suprimento para o inverno "a qualquer custo". A LPL Financial ressalta que os índices acionários dos EUA acumularam queda mensal pela primeira vez em 2021. "Outubro é conhecido por algumas quedas espetaculares e muitos esperam que coisas ruins aconteçam novamente este ano. 1929, 1987 e 2008 vêm à mente quando pensamos neste mês", afirma o estrategista-chefe da corretora americana, Ryan Detrick. Apesar das superstições, contudo, ele diz que ainda há um "bom presságio" para as ações no curto prazo. No fechamento de hoje, o Dow Jones caiu 1,59%, a 33.843,92 pontos, o S&P 500 recuou 1,19%, a 4.307,54 pontos, e o Nasdaq cedeu 0,44%, a 14.448,58 pontos. No mês, as perdas foram de 4,29%, 4,76% e 5,31%, respectivamente. Do outro lado do Atlântico, o pregão também foi negativo. Em Londres, o índice FTSE 100 cedeu 0,31%, a 7.086,42 pontos, enquanto o DAX teve baixa de 0,68% em Frankfurt, a 15.260,69 pontos. "Depois de começar com o pé direito hoje, os mercados na Europa viram os ganhos da manhã diminuírem lentamente de uma maneira que refletiu bastante a incerteza mais ampla que caracterizou o sentimento durante a maior parte deste trimestre", explica o analista-chefe de mercados da consultoria britânica CMC, Michael Hewson. Nos EUA, o Congresso conseguiu evitar um "shutdown", a paralisação da máquina pública, por meio de uma "resolução contínua" aprovada a toque de caixa no Senado e, depois, na Câmara. Mas o imbróglio em torno do teto da dívida continua e pode se arrastar até a próxima semana. A secretária do Tesouro, Janet Yellen, e o presidente do Fed, Jerome Powell, voltaram hoje a alertar para os riscos financeiros e econômicos de um calote do governo dos EUA, que pode ocorrer pela primeira vez na história se o limite para emissão de dívida não for elevado. O que beneficiou o Nasdaq durante boa parte do dia hoje foi a falta de ímpeto dos rendimentos dos Treasuries. No horário de fechamento do mercado em NY, o retorno da T-note de 2 anos caía a 0,281%, o da T-note de 10 anos recuava a 1,514% e o do T-bond de 30 anos subia a 2,079%, mas perto da estabilidade. A curva de juros americana tem mantido uma tendência de alta desde que o Fed sinalizou que o "tapering", o processo de redução das compras de ativos, pode começar em breve. Mas hoje houve uma trégua nesse movimento. No mercado cambial, a proximidade do "tapering" garantiu um mês de ganhos para o DXY, que mede a variação do dólar contra seis pares. Hoje, o índice caiu 0,11%, a 94,230 pontos, mas acumulou alta de 1,73% em setembro e de 1,94% no trimestre. O peso mexicano, por sua vez, reduziu as perdas em relação à moeda americana após o Banco Central do México (Banxico) elevar a taxa básica de juros em 25 pontos-base, para 6,75% ao ano. O petróleo teve um pregão volátil. Iniciou o dia em queda, após um aumento inesperado nos estoques dos EUA, mas passou a subir com a informação de que a China ordenou a suas maiores empresas de energia que garantam suprimentos para o inverno "a todo custo". Na prática, isso pode aumentar a demanda pela commodity. O país asiático enfrenta uma crise energética, que, segundo alguns analistas, pode se tornar global. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o WTI para novembro avançou 0,27%, a US$ 75,03 o barril. O Brent para dezembro, por sua vez, subiu 0,28%, a US$ 78,31 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE). (Iander Porcella - [email protected])
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