TEMOR COM EVERGRANDE FAZ BOLSA CAIR A NÍVEL DE NOVEMBRO E DÓLAR SUBIR A R$ 5,33

O temor do colapso da incorporadora Evergrande foi a principal tônica dos mercados internacional e doméstico nesta segunda-feira – embora não seja a única. O investidor ainda tateia para descobrir o quão profunda será a crise em caso de um já quase inevitável calote da companhia em suas dívidas, o que reforça posições defensivas. Ainda que o risco de um evento global como a quebra do Lehman Brothers seja colocado de lado, o mercado busca entender quais serão os impactos do default para a poderosa indústria da construção civil da China e como Pequim reagirá ao provável risco sistêmico. Nos preços, estão sendo colocados os riscos de uma acentuação da desaceleração econômica chinesa, o que tem impacto direto nas commodities. O Brasil, quer seja pela liquidez abrangente, quer pelo perfil exportador, acabou sendo um dos principais alvos da debacle de hoje. Assim, o Ibovespa desabou ao menor nível desde novembro, com baixa de 2,33%, aos 108.843,74 pontos, ainda que o movimento de queda tenha arrefecido na última hora da sessão. Mesmo assim, somente em setembro o tombo do principal índice da B3 já supera os 8%. A Vale seguiu o mergulho do minério de ferro e cedeu 3,30%, enquanto Petrobras ON e PN caíram respectivamente 1,06% e 1,12%, acompanhando o petróleo. O dólar foi o refúgio da tensão e subiu a R$ 5,37 na máxima, em meio a um movimento técnico de zeragens de posições. Tal qual na Bolsa, o movimento de venda do real esfriou nos minutos finais e a moeda americana à vista terminou em R$ 5,3312, alta de 0,93%. Nos juros futuros, por sua vez, o ‘risco Evergrande’ foi notado como desinflacionário, pelo efeito nos materiais básicos, ajudando a descomprimir a curva. É importante frisar que a onda de cautela externa pegou um mercado já com mau humor com a cena doméstica, dado os riscos fiscais e de populismo econômico – de resto, já bastante precificados nos juros futuros. Lá fora, dois outros fatores são pontuados pelos agentes nos movimentos de hoje: o debate em torno do teto da dívida dos Estados Unidos e a disparada de custos de energia na Europa. Isso levou a perdas fortes no Dow Jones (-1,78%), S&P 500 (-1,70%) e Nasdaq (-2,19%), bem como à alta do VIX, o “índice do medo” de Wall Street, que subiu ao maior nível em pontos desde 12 de maio. A busca pela segurança externa foi traduzida na alta do iene ante o dólar e na baixa dos juros dos Treasuries de prazo mais longo. A semana ainda promete mais emoções com as decisões de política monetária no Brasil, nos Estados Unidos e no Japão.

BOLSA

Expectativa quanto a provável default da Evergrande, gigante do setor imobiliário chinês, azedou o humor dos investidores ao redor do mundo nesta segunda-feira, em semana marcada também pela cautela para decisão e sinalização de política monetária do Federal Reserve, nos Estados Unidos, e aqui, pela do Copom, na mesma quarta-feira. Assim, o Ibovespa manteve perdas acima de 3% em boa parte da tarde e fechou o dia limitando a baixa, aos 108.843,74 pontos (-2,33%), entre mínima de 107.520,14 – menor nível intradia desde 3 de março (107.465,78) – e máxima, da abertura, aos 111.434,67 pontos, com giro financeiro a R$ 38,7 bilhões na sessão.

O nível de encerramento desta segunda-feira foi o menor desde 23 de novembro (107.378,92 pontos). Dessa forma, a perda acumulada pelo Ibovespa desde o recorde histórico de fechamento, em 7 de junho (130.776,27 pontos), de quase 22 mil pontos, corresponde agora a 16,77%. Considerando apenas esta segunda-feira, o índice cedeu 2.595 pontos, no que foi a sua quinta perda diária consecutiva, vindo de quedas de 2,07% e de 1,10% nas duas sessões anteriores. A atual é a mais longa sequência de perdas desde o intervalo de seis sessões entre 19 e 27 de janeiro – naquela ocasião, contudo, em apenas uma delas o ajuste foi superior a 1% (-1,10%, em 21/1).

No mês, as perdas do Ibovespa chegaram hoje a 8,37%, o que faz este setembro, até aqui, disputar o posto de segundo pior mês da B3 desde o começo da pandemia, superado pelo fundo do poço de março de 2020 (-29,90%) e, agora, praticamente em paridade com fevereiro daquele mesmo ano, quando havia cedido 8,43%.

Em 2021, o índice acumula queda de 8,55%. Em porcentual, a perda desta segunda-feira foi a pior desde o último dia 8, quando havia cedido 3,78%. De lá para cá, o arrefecimento da crise político-institucional deu lugar a outros desdobramentos, negativos, como a elevação do IOF até o fim do ano e os crescentes receios quanto às consequências de eventual insolvência da Evergrande para a economia chinesa e global.

Temores quanto a um risco sistêmico no setor de construção chinês, e os efeitos para a retomada da segunda maior economia do mundo, mantêm as commodities sob pressão, com o minério de ferro em novo tombo, de quase 9% hoje, a US$ 92,98 por tonelada em Qingdao. No dia 8, o minério iniciou série negativa, ainda não interrompida, que se agravaria especialmente a partir do dia 16, quando cedeu 8%, refletindo a piora de percepção sobre a China, visão que já vinha se debilitando há algum tempo com iniciativas regulatórias restritivas em setores como o do aço.

“Os preços das matérias-primas estão associados à nova política do governo chinês, com relação a metas ambientais, diminuição da produção de aço e desaceleração do setor de construção civil no país”, diz Túlio Nunes, especialista de finanças da Toro Investimentos. “Os passivos da incorporadora (Evergrande) giram em torno de US$ 300 bilhões, e as preocupações sobre a alta alavancagem do setor imobiliário chinês ligam o sinal de alerta nos mercados globais. As agências de classificação de risco já reduziram suas notas de classificação para um possível calote”, acrescenta Nunes.

Assim, na B3, o setor de mineração e siderurgia esteve, de novo, entre os mais penalizados da sessão, com Vale ON em queda de 3,30% – que superavam 5%, mais cedo – e CSN ON, de 3,09%, também moderada em direção ao fechamento do dia. As perdas entre os grandes bancos chegaram a 3,75% (Bradesco PN) no encerramento, enquanto Petrobras ON e PN cederam, respectivamente, 1,06% e 1,12%, após perdas superiores a 3% observadas até o meio da tarde.

Filipe Fradinho, analista da Clear Corretora, observa que o preço do minério de ferro acumula queda de 55% em apenas dois meses, o que afeta diretamente o Ibovespa, pela exposição que o índice tem a commodities – em Cingapura, segundo ele, o minério foi negociado a US$ 92,80 por tonelada. A Evergrande “viu suas ações despencarem 10%, em meio a temores sobre a incapacidade da empresa de pagar sequer uma parte de sua dívida que vence na próxima quinta-feira”, acrescenta.

“O mercado já abriu hoje em queda acentuada acompanhando os do mundo todo, por conta dos temores sobre possível default da Evergrande, e os impactos que isso teria sobre o sistema financeiro chinês como um todo. Além disso, há postura mais conservadora dos mercados, primeiro, para o início – iminente – do processo de ‘tapering’ [retirada de estímulos monetários] nos Estados Unidos, e de que forma os bancos centrais, no mundo, se comportarão nesta semana repleta de reuniões. É uma tempestade quase perfeita que vemos aqui, mais uma nesse ano, prejudicando bastante a expectativa de recuperação da Bolsa no médio prazo”, diz Bruno Mansur, especialista da Valor Investimentos.

Neste contexto desafiador, apenas cinco ações da carteira Ibovespa conseguiram resistir ao mal-estar geral para fechar o dia em alta: Copel (+4,68%), Sabesp (+1,81%), CVC (+0,88%), Iguatemi (+0,40%) e Energias BR (+0,11%). Na ponta negativa do Ibovespa, Brakem cedeu 11,54%, à frente de Via (-6,74%) e de Méliuz (-5,91%).

A Capital Economics observa, em relatório enviado a clientes hoje, que as repercussões do “caso Evergrande” para o resto do mundo estão crescendo, embora a consultoria avalie que a turbulência ainda não chegou à escala de “sustos” anteriores na China, como a guerra comercial com os Estados Unidos, em 2018 e 2019, ou a desaceleração da economia do país asiático, em 2015 e 2016.

“Pequim provavelmente apoiará o que for necessário para evitar o envio de ondas de choque através de seu sistema financeiro”, avalia em nota Edward Moya, analista de mercado da OANDA em Nova York. (Luís Eduardo Leal – [email protected], com Paula Dias)

17:32

Índice Bovespa   Pontos   Var. %

Último 108843.74 -2.32919

Máxima 111434.67 -0.00

Mínima 107520.14 -3.52

Volume (R$ Bilhões) 3.87B

Volume (US$ Bilhões) 7.25B

17:35

Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. %

Último 109180 -1.86067

Máxima 110190 -0.95

Mínima 107805 -3.10

MERCADOS INTERNACIONAIS

O sell-off inspirado por riscos globais seguiu ao longo da tarde e levou os índices acionários a fortes baixas em Nova York, com o Nasdaq chegando a cair quase 3%. Analistas buscam entender os potenciais impactos da crise envolvendo a chinesa Evergrande, enquanto riscos como o teto da dívida nos EUA e a disparada dos custos de energia na Europa seguem no radar. No câmbio, moedas seguras foram especialmente buscadas, o que levou a uma valorização do dólar e do iene ante a maioria dos ativos. O quadro impulsionou a busca pelo ouro e a renda fixa, o que fez com que os rendimentos dos Treasuries operassem em queda.

“Durante a maior parte da última década, o mundo se preocupou com o forte aumento da alavancagem líquida e bruta da China”, aponta o Barclays, que em relatório a clientes destaca que dos 300 bilhões em passivos detidos pela Evergande, apenas 11,4% são empréstimos bancários. “Por mais surpreendente que possa parecer, Evergrande por si só não tem passivos suficientes para representar um risco para o sistema financeiro da China. Mesmo que as autoridades não tomem nenhuma ação para mitigar os efeitos de um default “grave”, o que permanece muito improvável, em nossa opinião.”

Para a Capital Economics, as repercussões do “caso Evergrande” para o resto do mundo estão crescendo, com um “sell off” nos mercados globais hoje, mas a turbulência ainda não chegou à escala de “sustos” anteriores na China, como a guerra comercial com os EUA em 2018 e 2019 ou a desaceleração da economia do país asiático em 2015 e 2016. “Um dos principais motivos para isso é que muitos investidores presumem que, embora haja alguma dor de curto prazo para os setores afetados, em última análise, os formuladores de políticas intervirão para apoiar a economia em geral e evitar uma desaceleração acentuada ou turbulência financeira”, conclui.

Nos mercados acionários, a incerteza gerou quedas generalizadas, e o índice VIX, conhecido por termômetro do medo, chegou a operar com alta acima de 36%. O pregão foi o pior desde meados de maio para as bolsas de Nova York. Os papéis de tecnologia tiveram algumas das baixas mais relevantes, com Facebook (-2,47%), Apple (-2,14%) e Amazon (-3,08%) sofrendo recuos. Acompanhando a queda nos preços do barril, petroleiras também tiveram importantes perdas, como Occidental Petroleum (-5,42%), Chevron (-2,06%) e ExxonMobil (-2,66%). Ao final da sessão, o Dow Jones teve baixa de 1,78%, o S&P 500 caiu 1,70% e o Nasdaq recuou 2,19%. O cenário foi parecido na Europa, onde o DAX teve queda de 2,31% em Frankfurt e o parisiense CAC 40 caiu 1,74%.

Além da Evergrande, outros riscos à recuperação da economia global seguem no foco dos mercados. A Capital Economics avalia que o aumento da conta de luz na zona do euro pode representar um obstáculo para a recuperação do consumo. Em relatório, a consultoria ressalta que a maior demanda de energia, combinada com restrições na oferta, fez com que os preços do gás natural disparassem na região. Hoje, o índice de preços ao consumidor (PPI, na sigla em inglês) da Alemanha teve seu maior avanço anual desde dezembro de 1974, em alta de 12%. Para o Commerzbank, é provável que as leituras de inflação na principal economia do continente sigam elevadas nos próximos meses, antes de arrefecer em 2022.

Nos EUA, os líderes do Partido Democrata no Congresso divulgaram uma carta hoje em que pressionam os republicanos a apoiar a suspensão do teto da dívida federal. No documento, a presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, e o líder da maioria no Senado, Chuck Schumer, informam que pretendem colocar o projeto para votação no legislativo ainda nesta semana. Eles alertam, ainda, que um calote do país poderia levar a uma recessão econômica. A cautela reforçou a busca pela renda fixa, e os Treasuries operaram na maioria em queda. Ao final da tarde, o juro da T-note de 2 anos recuava 0,213%, o rendimento da T-note de 10 anos caía a 1,310% e o do T-bond de 30 anos cedia a 1,847%. A queda nos juros somada à cautela impulsionou o ouro, e o contrato do metal com entrega prevista para dezembro encerrou a sessão com alta de 0,71%, a US$ 1.763,80, na Comex.

O dólar teve ganho ante a maioria das moedas. Por sua vez, uma valorização do iene, outra moeda buscada como refúgio, limitou os ganhos do índice DXY, que mede o dólar ante seis rivais, e fechou em alta de 0,09%. Ao final da tarde, o euro ficava perto da estabilidade, com leve alta, a US$ 1,1732, enquanto a libra cedia a US$ 1,3661. Já o dólar se desvalorizava a 109,40 ienes.

Por sua vez, o quadro foi suficiente para pressionar o petróleo. Para a Rystad Energy, a commodity recuou diante da aversão ao risco, do dólar forte e também do gradual retorno da oferta dos EUA, com mais plataformas voltando a operar no Golfo do México após os problemas gerados pela passagem do furacão Ida. O WTI para novembro fechou em baixa de 2,34% (US$ 1,68), em US$ 70,14 o barril, e o Brent para o mesmo mês caiu 1,88% (US$ 1,42), para US$ 73,92 o barril. (Matheus Andrade – [email protected])

CÂMBIO

Os negócios no mercado doméstico de câmbio foram pautados nesta segunda-feira (20) pela onda de liquidação de ativos de risco deflagrada pela crise de solvência da incorporadora chinesa Evergrande, que reascendeu temores de risco sistêmico no mercado financeiro global e de desaceleração mais aguda da economia do gigante asiático.

Em movimento típico de fuga para a qualidade, investidores liquidaram posições em mercados acionários e correram para o abrigo do dólar e dos Treasuries – as taxas da T-note de 10 anos chegaram a cair mais de 4,5%. As divisas emergentes e de países exportadores de commodities – cujos preços despencaram – caíram em bloco em relação à moda americana. O real, por questões técnicas do nosso mercado e já fragilizado pelos problemas locais, foi quem mais apanhou.

Já em alta desde o início dos negócios, o dólar à vista operou sempre na casa de R$ 5,30 e renovou máximas ao longo da tarde, em linha com a deterioração do ambiente externo. Operadores notaram movimento de ordens de stop loss (limitação de perdas) e de montagem de posições defensivas assim que o dólar rompeu R$ 5,36, o que fez a moeda americana correr até a máxima de R$ R$ 5,3772 (+1,80%).

Com arrefecimento da aversão ao risco na reta final do pregão, em linha com a moderação das perdas das Bolsas americanas, o dólar encerrou em alta de 0,93%, a R$ 5,3312 – maior valor de fechamento desde 23 de agosto (R$ 5,3820). À época, o mercado se ressentia do aguçamento da crise institucional, após o presidente Jair Bolsonaro pedir impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, questionava o voto eletrônico e atacava governadores.

O Credit Default Swap (CDS), derivativo que protege contra calotes e serve termômetro do risco-país, subiu de 180,14 pontos, no fechamento de sexta-feira (17), para 198,76, segundo dados da IHS Markit. A última vez que o CDS havia trabalhado na casa de 190 pontos foi em 20 de agosto.

Em relatório, os estrategistas de mercados do Brown Brothers Harriman (BBH) Win Thin e Ilan Solot, em Londres, afirmam que a “saga da Evergrande” aumenta os temores em torno do sistema financeiro chinês e de uma contaminação mais ampla dos mercados financeiros.

“Esperamos firmemente uma forte intervenção do governo [Chinês]. Se evitará uma crise como o subprime nos EUA, é possível responder neste momento”, escrevem os estrategistas. “Mas a boa notícia é que investidores e reguladores estavam cientes da situação há muito tempo. Agora, é hora de definir o que ‘grande demais para falir’ realmente significa na China.”

A onda de aversão a ativos de risco vem justamente na semana que abrigará a “Super Quarta” (dia 22), com decisões de política monetária aqui e nos Estados Unidos – o que reforça a cautela no mercado doméstico de câmbio. Além de os integrantes do Fed atualizarem suas projeções para o momento em que os juros serão elevados, o BC americano pode anunciar quando pretende iniciar a redução de compra mensal de bônus (tapering).

Para o economista-chefe e sócio da JF Trust, Eduardo Velho, é provável que o Fed sinalize o início da retirada de estímulos no fim do ano (novembro ou dezembro) ou até mesmo no começo de 2022, uma vez que os resultados recentes do payroll, inflação e a variante Delta ‘confortam’ a ala dovish do Fed. “A despeito do aumento das vendas do varejo, Fed deve estar preocupado com os reflexos da “desaceleração” chinesa sobre os mercados globais”, afirma Velho, em relatório.

Em relação ao comportamento do dólar no Brasil, Velho avalia que o efeito da crise imobiliária na China deve abalar os preços das commodities, sustentando o dólar acima da casa de R$ 5,20, que vê como suporte para a taxa de câmbio.

Por aqui, investidores acompanham as negociações em torno da questão dos precatórios. Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmaram que o ministro da Economia, Paulo Guedes, desistiu de acompanhar a comitiva presidencial na assembleia da ONU em Nova York para negociar uma solução para as dívidas judiciais.

Hoje à tarde, o presidente da Câmara, Artur Lira (PP-AL), confirmou que se encontrará na note desta segunda-feira com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para falar do pagamento dos precatórios. “É importante que a gente ache uma saída rápida para esse assunto porque ele vai impactar em muitos outros assuntos, inclusive no Auxílio Brasil”, afirmou.

Lira também disse que pretende avançar na reforma administrativa. O relator da reforma, deputado Arthur Maia (DEM-BA), deve protocolar um novo texto para ser apreciado esta semana, já que a primeira versão foi criticada por trazer privilégios a categorias da base do governo.

“A vitória do governo na PEC da despesa dos precatórios não é garantida, o que mantém o risco fiscal do descumprimento do teto dos gastos no radar. Além disso, a taxação dos dividendos pode ser reduzida no Senado, o que tira mais receita fiscal de 2022.”, afirma Velho, da JF Trust, acrescentando que a votação da reforma administrativa pode ser um teste para balizar a disposição para a “austeridade fiscal”.

Na B3, o dólar futuro para outubro avançava 0,85%, a R$ 5,3435, com giro na casa de US$ 13 bilhões. (Antonio Perez – [email protected])

17:35

Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima

Dólar Comercial (AE) 5.33120 0.9296 5.37720 5.30680

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0

DOLAR COMERCIAL 5339.500 0.80234 5387.000 5316.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5369.500 1.2731 5369.500 5369.500

JUROS

O mercado de juros esteve durante a maior parte do dia na contramão dos outros ativos domésticos, mas influenciado pelo mesmo pano de fundo dos demais: o temor sobre o ritmo da economia global que tem derrubado os preços de commodities. As taxas fecharam em queda nos vencimentos de médio e longo prazos, computando o potencial desinflacionário que o recuo das matérias primas pode representar especialmente se houver um pouso forçado da economia da China. O país asiático está no olho do furacão por causa da situação de insolvência da gigante imobiliária Evergrande. E, sem novidades do lado político e fiscal hoje, houve espaço para uma correção dos prêmios. As taxas curtas pouco se mexeram, com os investidores já bem posicionados para o Copom na quarta-feira.

Num dia de liquidez abaixo do padrão na maioria dos vértices, as taxas longas caíram quase 10 pontos-base. A do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 cedeu de 10,216% para 10,13% e a do DI para janeiro de 2027, de 10,634% para 10,54%. O DI mais líquido, para janeiro de 2023, encerrou a sessão regular com taxa de 8,985%, de 9,052%. Na etapa estendida, o recuo ganhou ainda mais força, com a curva renovando mínimas em toda a extensão perto das 17h30.

As taxas abriram em alta acompanhando o risk off no exterior, mas houve alívio quando o dólar reduziu os ganhos ante o real, dando a senha para os interessados em buscar parte dos prêmios elevados da curva. Nas mesas, comenta-se que os DIs foram a primeira classe de ativos a “sofrer” principalmente com os problemas internos, o que ajuda a explicar o descolamento ante os demais segmentos.

No fim da manhã, a moeda americana voltou a ganhar fôlego, mas aí os juros já não acompanharam. Ao contrário, passaram a acelerar o recuo e a bater mínimas, com o mercado maturando a ideia de que o tombo das commodities pode ter implicações nas políticas estimulativas globais. “Os investidores estão vendo riscos para o horizonte global nos preços das commodities e isso pode ajudar os BCs a trazerem a inflação para as metas”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno. Na quarta-feira, além do Copom, o Federal Reserve também se reúne e não se descarta que o aumento das incertezas sobre o cenário global possa adiar o momento do tapering.

Entre as commodities, chama a atenção principalmente o minério de ferro, que vem numa sequência de queda há dias e hoje caiu abaixo de US$ 100 a tonelada pela primeira vez desde maio do ano passado. O petróleo fechou o dia com queda de até 2%.

Internamente, o quadro continua desafiador, tanto do lado político quanto do econômico. No desenrolar da semana, espera-se uma saída para a questão dos precatórios, mas algum avanço consistente das reformas é cada vez improvável. Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, afirma que os ruídos de Brasília acabaram com os últimos otimistas em relação à possibilidade de reformas pelo menos antes do período eleitoral. “Já não se discute entre os investidores se pode melhorar, e sim até onde deve piorar”, afirma.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou que a reforma administrativa e uma solução para os precatórios devem ser os dois principais assuntos da semana no Legislativo. Ele se reunirá nesta noite com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), para discutir uma alternativa ao impasse do pagamento das dívidas judiciais.

A percepção sobre o fundamentos da economia segue piorando, mas os agentes consideram que tudo já está embutido na ponta curta do DI ao menos até que o Copom se posicione no comunicado da quarta-feira. Na pesquisa Focus, a mediana das estimativas para o IPCA de 2022, ano que conta para a política monetária, subiu para 4,10%, mas parece otimista ante a de algumas casas.

A Rio Bravo, por exemplo, elevou hoje sua expectativa para 4,30%. A meta central para o ano que vem é 3,5%.

“Para controlar essa alta nas expectativas de inflação, o Copom terá que colocar a Selic em um nível também mais alto, demonstrando uma maior preocupação com a aceleração da inflação e com o risco de desancoragem das expectativas para 2023”, explica a Rio Bravo, em relatório. A instituição espera três aumentos de 1 ponto porcentual da Selic até dezembro e mais um ajuste de 0,5 ponto no início de 2022, com a taxa chegando a 8,75%.

Na curva do DI e nas opções digitais, a aposta de 1 ponto tornou-se amplamente majoritária depois da sinalização do Banco Central de manutenção do plano de voo e o que resta agora é aguardar pela mensagem do comunicado. “Esperamos que o comitê deva antecipar novo incremento de 1 ponto para a reunião seguinte, em 27 de outubro”, afirma o Banco Fibra, em relatório. (Denise Abarca – [email protected])

17:35

Operação   Último

CDB Prefixado 30 dias (%a.a) 6.09

Capital de Giro (%a.a) 6.76

Hot Money (%a.m) 0.63

CDI Over (%a.a) 5.15

Over Selic (%a.a) 5.15