SOLUÇÃO POLÍTICA A PRECATÓRIOS AGRADA E TRAZ ALÍVIO DOMÉSTICO, ANTE OSCILAÇÃO EXTERNA

A costura para resolver o impasse em torno dos precatórios embalou os ativos brasileiros na etapa da tarde, marcada por certa instabilidade no exterior. A solução apresentada pelos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), após reunião com o ministro da Economia, Paulo Guedes, acabou agradando o mercado mais pela forma do que pelo conteúdo. Isso porque mostrou empenho da classe política no Congresso para desatar o nó das dívidas judiciais, sepultando de vez arranjos que dependessem da boa vontade institucional do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal de Contas da União. A ideia apresentada prevê a criação de um subteto para essa despesa, com base no que foi pago em 2016 (ano de início do teto de gastos) e reajustado pela inflação. O volume a ser pago em 2022 seria algo em torno de R$ 40 bilhões, deixando outros R$ 50 bilhões para ser liquidado em 2023, tudo sob o regime do teto de gastos. Tal qual as demais soluções, essa enfrentou críticas de especialistas em contas públicas, que chegam até a falar em “remendo” em arcabouço fiscal. Os agentes do mercado, porém, se fiam no viés de conciliação legislativa para se atingir um acerto rápido para o problema, que inviabiliza o debate do Orçamento de 2022 e da pauta econômica do governo. Ante este contexto, os juros de prazo mais longo tiveram forte descompressão, com queda próxima de 30 pontos-base em alguns vértices, à medida que este mercado sentiu antes – e com mais intensidade, que gerou prêmios – o imbróglio com as contas públicas do País. O Ibovespa teve sessão de alívio e chegou a flertar com os 111 mil pontos no melhor momento do dia. O índice terminou a terça-feira aos 110.249,73 pontos (+1,29%), com apenas 15 dos 91 papéis de sua composição em queda. E o dólar à vista encerrou em R$ 5,2863 (-0,84%), acompanhando o movimento da moeda americana ante pares emergentes. O mercado doméstico observa ainda o desenrolar das decisões de política monetária, com o Banco Central brasileiro decidindo nova Selic após o fechamento da sessão amanhã. Antes, contudo, no meio da tarde, é a vez do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) dar a sua sentença. A manutenção das taxas é consenso, mas os agentes esperam alguma sinalização sobre retirada de estímulos. Esse quadro reforçou apostas mais conservadoras no mercado externo à tarde, apesar da abertura positiva na sequência de movimentos técnicos diante da crise da Evergrande. Ao final, o índice Dow Jones e o S&P 500 terminaram em queda suave (de 0,15% e 0,08%, respectivamente), mas o Nasdaq subiu 0,22%.

JUROS

Os juros fecharam a sessão com queda expressiva, dando sequência ao movimento que começou ontem com o recuo das commodities e ganhou fôlego hoje com a solução que está sendo costurada para a questão dos precatórios de R$ 89,1 bilhões em 2022 e com a melhora de percepção de risco externo. Os longo prazo caíram quase 30 pontos-base, com o do vencimento de janeiro de 2025 voltando a encerrar abaixo de dois dígitos pela primeira vez desde o dia 6. Os de curto prazo oscilaram bem menos, terminando com um viés de baixa na medida em que foi se consolidando o consenso em torno do aumento de 1 ponto porcentual da Selic no Copom de amanhã.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 caiu de 10,544% para 10,25% e a do DI para janeiro de 2025 fechou em 9,84%, de 10,136% ontem. É a mais baixa desde 6 de setembro, quando fechou em 9,80%. O DI para janeiro de 2022, hoje o mais líquido, fechou com taxa estável em 7,10%. Com o tombo das taxas longas, a inclinação da curva medida pelo diferencial entre os contratos de janeiro de 2022 e janeiro de 2027 saiu de 346 pontos ontem para 315 pontos hoje.

A direção foi de baixa desde a abertura, favorecida inicialmente por uma pausa nas tensões com a chinesa Evergrande dada a avaliação de que as autoridades devem atuar para evitar o risco sistêmico e maior impacto sobre a economia. “Não há notícias novas que sustentem uma mudança de visão de ontem para hoje. O mais justo é admitir que a velha estratégia desse ciclo ‘buy the dips’ continua intacta – quando as grandes quedas se transformam em oportunidades”, avaliam os economistas do Banco Original, Marco Antônio Caruso e Lisandra Barbero.

No meio da manhã, as taxas tocaram máximas, mas ainda em queda, depois da divulgação do edital do Tesouro, que veio com lotes de NTN-B bem maiores para o leilão desta terça-feira. Vendeu na íntegra a oferta de 2,5 milhões, com concentração nos vencimentos de 2026 (1 milhão) e 2030 (1 milhão), com 500 mil para 2055. O risco para o mercado (DV01) foi 165% maior do que na operação de mesmos vencimentos 15 dias atrás, segundo a Necton Investimentos.

No começo da tarde, o recuo ganhou impulso após o fim da reunião entre os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e do ministro da Economia, Paulo Guedes, para discutir uma solução para os precatórios. A alternativa que está sendo costurada pressupõe o pagamento das dívidas respeitando o teto de gastos a partir de uma atualização a ser feita desde 2016. “O saldo alheio ao teto seria da ordem de R$ 50 bi e poderia ser transferido para 2023”, explicou Pacheco.

A proposta recebeu críticas justamente por “jogar” boa parte do problema para frente, mas agradou ao mercado por resolver a pendência no curto prazo e, principalmente, dentro do teto. “É uma solução paliativa e, de certa maneira, com respeito à regra. Mas tem caráter imediatista e não resolve o problema estrutural”, disse a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, alertando para o risco de se criar uma bola de neve.

Para o especialista em contas públicas e economista-chefe da RPS Capital, Gabriel de Barros, a saída, que ainda vai ser negociada com lideranças do Congresso, piora o desenho da regra fiscal. Para ele, o espaço que seria aberto no teto de gastos, de cerca de R$ 50 bilhões, daria brecha não apenas para turbinar o Bolsa Família, mas para atender a arranjos políticos “questionáveis”, como uma possível reedição das emendas de relator (RP9) e a prorrogação da desoneração da folha de pagamento.

A quarta-feira tem agenda econômica concentrada nas decisões dos bancos centrais de Brasil e Estados Unidos, com grande expectativa dos agentes pela sinalização sobre se e como a perspectiva de desaceleração da economia global reforçada pelo episódio da Evergrande pode alterar a rota da política monetária. Aqui, após o Banco Central relativizar dados de inflação de alta frequência como fator de mudança de seus planos de voo, a alta de 1 ponto porcentual da Selic virou aposta de graça, amplamente precificada na curva e nas opções digitais da B3.

Carlos Calabresi, sócio da Garde Asset Management, acredita que aumentos mais fortes que 1 ponto por decisão, que ele já considera um ritmo forte, trariam mais prejuízos do que benefícios, inclusive para a atividade econômica e diz que há um conjunto de riscos grande na parte intermediária da curva que desestimula posicionamentos para aproveitar os prêmios embutidos. “O mercado estima que o fim do ciclo vai ser 10% [de Selic]. Estimamos 9%. Não sei se esse prêmio é suficiente para enfrentar toda volatilidade que o mercado de juros tem enfrentado e o cenário para inflação”, disse Calabresi, ao programa Cabeça de Gestor. Para fazer uma posição em renda fixa [pré], é preciso esperar algum sinal de que a inflação vai começar a cair”, acrescentou. (Denise Abarca – [email protected])

17:34

Operação   Último

CDB Prefixado 30 dias (%a.a) 6.14

Capital de Giro (%a.a) 6.76

Hot Money (%a.m) 0.63

CDI Over (%a.a) 5.15

Over Selic (%a.a) 5.15

BOLSA

O Ibovespa teve dia de recuperação técnica após encadear cinco perdas que o colocaram, ontem, no menor nível de fechamento desde novembro. Hoje, sinal de solução para o impasse sobre precatórios e, consequentemente, para o Orçamento de 2022 contribuiu para reforçar o ânimo dos investidores ainda no início da tarde, levando então o Ibovespa às máximas e o dólar às mínimas da sessão. Ao final, o índice de referência da B3 mostrava ganho de 1,29%, aos 110.249,73 pontos, entre mínima de 108.859,22, da abertura, e máxima de 110.923,17 pontos, com giro financeiro a R$ 33,4 bilhões nesta terça-feira. No mês, o Ibovespa cede 7,18%, limitando perda a 1,07% na semana – no ano, cai 7,37%.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que a “solução” acordada nesta terça-feira para o pagamento de precatórios em 2022 “não é calote”. Depois de uma reunião com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro da Economia, Paulo Guedes, Pacheco anunciou que enviará ao Congresso proposta de retirar do teto de gastos a maior parte dos R$ 89,1 bilhões devidos pelo governo em dívidas judiciais e que deveriam ser pagos no ano que vem.

A ideia é corrigir o montante pago com precatórios em 2016, ano em que o teto de gastos foi instituído, e travar o pagamento das despesas nesse valor, que seria de cerca de R$ 39 bilhões a R$ 40 bilhões. Com isso, cerca de R$ 50 bilhões do total previsto para 2022 ficaria “alheio ao limite do teto”, e poderia ser transferido para 2023.

Na avaliação da equipe de Research da Necton Investimentos, nova solução para os precatórios “deve animar o mercado porque traz força política ao debate”. “Solução dentro do teto e com pagamento dos precatórios é a melhor do ponto de vista do mercado”, apontou a Necton, em breve comentário.

“A declaração sobre precatórios agradou por mostrar alguma unidade. Talvez não haja mais espaço para agenda de reformas este ano, mas para contenção de danos, sim”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, observando também que a recuperação de hoje teve impulso do exterior, com Nova York vindo ontem de seu pior dia desde maio. Ao final, após oscilação, NY fechou sem direção única.

Assim, tendo caído mais no mês, o Ibovespa busca diminuir a distância que se alargou ao longo de setembro, até aqui também negativo em Nova York e em outros grandes mercados da Europa e da Ásia, abalados por incertezas sobre a economia chinesa, em especial os efeitos de eventual insolvência da Evergrande sobre o sistema financeiro do país, bem como por alguns sinais, mais fracos, da economia americana.

“A expectativa é de que o governo chinês traga alguma solução, embora o Partido Comunista Chinês (PCC) precise colocar na balança o que é mais danoso: o risco sistêmico da insolvência da incorporadora ou o risco moral de resgatá-la”, diz Filipe Fradinho, analista técnico da Clear Corretora.

Em outro importante desdobramento do dia, o discurso do presidente Jair Bolsonaro na abertura da Assembleia Geral da ONU, no fim da manhã, foi recebido com neutralidade pelo mercado, visto como um aceno à base eleitoral doméstica, embora em tom de menos confronto do que o expedido em 2019, na estreia de Bolsonaro neste foro internacional.

“Poderia ter sido melhor se o tom fosse mais diplomático, como se chegou a esperar, já que ali não deveria estar falando para sua base. A agenda externa está travada há meses, é negativa no meio ambiente, e um ganho de imagem seria importante, quem sabe, até para atrair investimentos”, diz Cruz.

“Bolsonaro tentou adotar um tom mais neutro, apesar de continuar afirmando que os problemas de inflação foram resultado das restrições de circulação no Brasil. Não houve piora nos mercados locais, sobretudo no dólar, que hoje devolveu parte da alta observada ontem, em dia de cautela para os emergentes por conta da aguardada decisão [de política monetária] do Fed, amanhã”, diz Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.

Para Cruz, da RB, o Federal Reserve pode amarrar amanhã comunicação no sentido de um “tapering dovish”, com provável início no primeiro trimestre de 2022, prevalecendo assim alinhamento em torno do pensamento de Jerome Powell, presidente do Fed. Aqui, o Copom deve anunciar aumento de 1 ponto porcentual na Selic, em ritmo que deve ser mantido até o fim do ano – “a dúvida é sobre sinal quanto ao final do ciclo”. De qualquer forma, observa Cruz, o câmbio tem mostrado mais resiliência, o que já reflete certa ancoragem na expectativa de alta para os juros, acima do nível neutro.

Na B3, o dia foi de recuperação parcial bem distribuída pelos setores e empresas de maior peso na composição do Ibovespa, à exceção de siderurgia (Gerdau PN -0,90%, CSN ON -0,38%, que chegaram a segurar a ponta negativa do índice na sessão), apesar da interrupção nesta terça-feira da longa série negativa, que retrocedia a 8 de setembro, de correção nos preços do minério de ferro na China.

Em dia ao final misto para o setor, os ganhos entre os grandes bancos chegaram hoje a 2,54% (BB ON), com alta acima de 1% para Petrobras ON (+1,59%) e PN (+2,27%), enquanto Vale ON obteve moderada recuperação de 0,97%, a R$ 84,12, na sessão. Na ponta do Ibovespa, destaque para Méliuz (+13,60%), Via (+11,28%), CVC (+6,50%) e Grupo Soma (+5,62%). Na face oposta, IRB (-1,84%), Sul América (-1,74%) e Raia Drogasil (-1,16%). (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:32

Índice Bovespa   Pontos   Var. %

Último 110249.73 1.29175

Máxima 110923.17 +1.91

Mínima 108859.22 +0.01

Volume (R$ Bilhões) 3.33B

Volume (US$ Bilhões) 6.29B

17:34

Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. %

Último 110225 0.54273

Máxima 111190 +1.42

Mínima 109180 -0.41

CÂMBIO

O anúncio de uma nova proposta para resolver o problema dos precatórios, costurada em encontro dos presidentes das Casas Legislativas com ministro da Economia, Paulo Guedes, abriu espaço para uma rodada de apreciação do câmbio na sessão desta terça-feira (21).

O dólar já abriu em leve queda e trabalhou em terreno negativo ao longo da manhã, em meio à recuperação dos mercados internacionais das perdas expressivas de ontem, no auge dos temores da eventual insolvência da incorporadora chinesa Evergrande. A cautela diante dos futuros desdobramentos para a economia chinesa e, por tabela mundial, do caso Evergrande – aliada à expectativa pela decisão de política monetária do Federal Reserve – limitava, contudo, o fôlego dos ativos de risco e, por tabela, do real.

O enfraquecimento mais agudo do dólar por aqui sobreveio no início da tarde, em meio a declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) e de Guedes dando conta de uma nova solução para o imbróglio dos precatórios que, em tese, concilia o pagamento das dívidas e o reajuste do Bolsa Família, rebatizado de Auxílio Brasil, com o respeito ao teto de gastos.

Renovando sucessivas mínimas ao longo da tarde, o dólar chegou até a furar o piso de R$ 5,26, mas acabou recuperando parte do fôlego no fim da sessão e – após correr entre mínima de R$ 5,2633 e máxima de R$ 5,3372 – fechou em queda 0,84%, a R$ 5,2863. Com isso, a valorização acumulada em setembro caiu para 2,21%.

“Essa demonstração de entrosamento entre o Legislativo e Executivo nessa questão dos precatórios tira uma preocupação mais forte do mercado em relação ao teto de gastos, que vinha pressionando muito o câmbio”, afirma Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, que vê espaço para o dólar recuar ainda mais e até buscar os R$ 5 caso não haja surpresas desagradáveis em Brasília. “Lá fora, é preciso ver essa questão do fantasma da Evergrande e como o mercado vai reagir ao início da redução de estímulos pelo Fed, que deve ser bastante gradual.”

A solução para os precatórios costurada pelo trio Lira-Pacheco-Guedes prevê a retirada do teto de gastos de cerca de R$ 50 bilhões em dívidas judiciais que seriam pagas em 2022. Isso seria possível com a adoção do expediente de corrigir o valor pago com precatórios em 2016, ano em que foi instituído o teto de gastos, e travar o pagamento das dívidas judiciais de acordo com esse valor, que seria algo entre R$ 39 bilhões e R$ 40 bilhões.

Ao adotar essa regra, o restante dos 89,1 bilhões que teriam de ser honrados em 2022 ficaria “alheio ao limite do teto” e poderia ser transferido para 2023. Haveria espaço, portanto, para acomodar o Auxílio Brasil – que neste ano será bancado pelo aumento temporário do IOF – no Orçamento de 2022.

Pacheco disse que a proposta “não é calote e também não é o parcelamento” [previsto na PEC original do ministério da Economia], mas “uma prorrogação”. Além da resolução do problema dos precatórios, também há expectativa de avanço da reforma do Imposto de Renda no Senado, já que o governo conta com a arrecadação com tributação de dividendos para ajudar a bancar o Auxílio Brasil.

A economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, observa que, a despeito da reação positiva do mercado, a solução proposta é apenas um remédio paliativo para o Orçamento de 2022. “Essa tratativa é positiva e reduz um pouco a percepção de risco fiscal para o próximo ano, o que traz um alívio em um primeiro momento. Mas acaba jogando o problema para 2023 e há o risco de um efeito bola de neve”, diz Abdelmalack, alertando que a taxa de câmbio ainda muita volatilidade.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis moedas fortes – operou em leve queda, na casa dos 93100 pontos. O dólar teve um desempenho misto em relação a divisas emergentes e de países exportadores de commodities, que tendem a ser mais afetados em caso de uma desaceleração maior do crescimento chinês por conta da insolvência da Evergrande.

A grande expectativa nas mesas de operação é pelo comunicado da decisão de política monetária do Fed, com eventual anúncio de data de início da redução de compra de bônus, e, em especial, pela atualização das projeções econômicas e de elevação dos juros dos integrantes do BC americano.

O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou, no Simpósio de Jackson Hole, no fim mês passado, que o tapering não está diretamente ligado ao processo de alta de juros, esperado atualmente para 2023.

Abdelmalack lembra que uma alteração da expectativa de início de aperto monetário para 2022 pode levar a um fortalecimento do dólar. A tendência global de apreciação da moeda americana por aqui pode ser amenizada, contudo, por uma taxa Selic mais elevada.

A expectativa da maioria do mercado é que o Copom anuncie amanhã uma elevação da Selic em 1 ponto porcentual, para 6,25% ao ano. Haveria novas elevações ainda neste ano e, quiçá, no início de 2022, levando a taxa básica para patamar superior a 8%. “Isso pode trazer fluxo de investimento estrangeiro para cá e propiciar uma valorização da nossa moeda”, afirma a economista-chefe da Veedha.

Na B3, o dólar futuro para outubro avançava 0,80%, a R$ 5,2955, com giro na casa de US$ 12,9 bilhões (Antonio Perez – [email protected])

17:34

Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima

Dólar Comercial (AE) 5.28630 -0.8422 5.33730 5.26330

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0

DOLAR COMERCIAL 5286.000 -0.97415 5346.500 5271.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5318.000 -0.95912 5321.000 5310.000

MERCADOS INTERNACIONAIS

Os mercados internacionais ajustaram posições hoje, após a sessão turbulenta de ontem e antes da decisão de política monetária do Federal Reserve amanhã. Depois de algum sobe-e-desce, as bolsas de Nova York e os juros dos Treasuries fecharam sem direção única, o dólar teve ligeira desvalorização ante rivais e o petróleo subiu. Além das dúvidas que rodeiam a Evergrande, o teto da dívida nos EUA e a questão energética na Europa seguem no radar, em dia de discursos de líderes mundiais na Assembleia Geral das Nações Unidas.

A primeira onda de “sell-off” parece ter acabado, enquanto os investidores aguardam clareza sobre a redução de estímulos monetários pelo Fed e as consequências dos pagamentos de empréstimos perdidos da Evergrande, observa a Oanda. Conforme reportagem publicada às 12h59, analistas esperam que o presidente do Fed, Jerome Powell, dê sinais mais claros sobre o início do tapering e acreditam que o gráfico de pontos a ser divulgado amanhã pode indicar pela primeira vez que, em sua maioria, os integrantes do BC americano esperam elevação dos juros já em 2022.

“Se o Fed se esforçar para lidar com a intensificação do escrutínio após a revisão da ética, o Fomc [Comitê Federal de Mercado Aberto, na sigla em inglês] pode perder dois de seus membros hawkish”, afirma Edward Moya, analista da Oanda, referindo-se aos pedidos de demissão ou afastamento dos presidentes das distritais de Dallas, Robert Kaplan, e Boston, Eric Rosengren, por grupos da sociedade civil diante da informação de que eles negociaram ações e outros ativos em 2020 enquanto tomavam decisões de política monetária.

A notícia de que a Evergrande deixou de pagar juros devidos a ao menos dois bancos ontem, segundo informou a <i>Bloomberg</i>, manteve o assunto latente nos mercados. O Julius Baer avalia que os setores mais vulneráveis ao choque pela Evergrande são o bancário, de seguradoras, de commodities e industrial, mas que efeitos devem ser “contidos”. O Danske Bank espera que a turbulência gerada pela gigante do setor imobiliário piore antes de melhorar, com uma interveção do governo chinês em última instância para evitar efeitos mais graves sobre a economia. De acordo com o UBS, ainda há outras dez incorporadoras na China com “posições potencialmente arriscadas”, com vendas por contrato somadas equivalentes a 2,7 vezes as da Evergrande.

No fechamento, o Dow Jones caiu 0,15%, a 33.919,84 pontos, o S&P 500 teve baixa de 0,08%, a 4.354,19, e o Nasdaq subiu 0,22%, a 14.746,40.

Já os juros dos Treasuries ficaram sem sinal único em meio à volatilidade dos mercados. No fim da Tarde de Nova York, o retorno da T-note de 2 anos caía a 0,205%, a de 10 anos avançava a 1,319% e o da T-bond de 30 anos subia a 1,851%.

Apesar das notícias de Evergrande terem causadao “pânico”, há “um raio de esperança” de que o efeito sobre os mercados e as commodities seja mínimo, na visão da Rystad Energy. O petróleo conseguiu recuperar parte das perdas de ontem, apesar de seus contratos futuros terem alternado entre perdas e ganhos ao longo da sessão. O petróleo WTI para novembro fechou em alta de 0,50% (US$ 0,35), a US$ 70,49 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para o mesmo mês subiu 0,60% (US$ 0,44), a US$ 74,36 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE).

Os metais também avançaram, com os contratos futuros do ouro e cobre tendo fechado em alta. Parte do impulso se deu pelo leve recuo do dólar antes moedas rivais. O índice DXY caiu 0,08%, a 93,204 pontos. No fim da tarde em Nova York, o dólar caía a 109,20 ienes, o euro tinha alta a US$ 1,1734 e a libra avançava a US$ 1,3670. “Ainda que as preocupações com a China tenham diminuído, elas permanecem elevadas, sugerindo que os ativos considerados portos-seguros podem manter a vantagem no curto prazo”, diz Joe Manimbo, analista da Western Union.

Ainda no radar dos investidores, está a negociação para elevar o teto da dívida americana. A Oxford Economics considera que, caso o Congresso dos Estados Unidos não eleve o teto da dívida até meados de outubro e entre em default, o Tesouro deve priorizar os pagamentos a detentores de bônus. Esse cenário, destaca a consultoria, “jogaria a economia de volta à recessão, provocaria danos significativos à confiança das famílias e das empresas e colocaria os mercados financeiros em parafuso”.

Na Europa, operadores monitoram a crise energética na região. A queda da produção doméstica e importações limitadas por gasodutos contribuíram para que a oferta caísse a níveis muito baixos, diz o Barclays. Os preços do gás na Europa atingiram as máximas de “vários” anos e devem seguir elevados até 2022, pressionando a inflação ao consumidor, prevê o banco inglês.

Em Assembleia da ONU, o líder americano Joe Biden priorizou a pandemia, as ações à crise climática e a ordem do poder global como suas prioridades. Já o presidente chinês, Xi Jinping, reforçou seu compromisso com metas climáticas e afirmou que não mais construirão usinas de carvão no exterior. (Ilana Cardial – [email protected])