RISCO DE JURO MAIOR E ATIVIDADE MAIS FRACA NO MUNDO PUXA DÓLAR E ENFRAQUECE BOLSA

Se a semana já prometia uma posição cautelosa dos investidores antes de decisões de juros nos EUA, aqui e na Inglaterra, indicadores mais fracos de atividade, especialmente na China, acabaram de azedar o humor dos mercados, em uma segunda-feira marcada por importante aversão ao risco. Afinal, se os agentes já trabalhavam com a possibilidade de o Fed, além de elevar as taxas em 0,50 ponto porcentual na quarta-feira, adotar um tom mais duro diante da persistência inflacionária, os dados da indústria americana, europeia e, principalmente, chinesa trouxeram a percepção de enfraquecimento da economia global. A soma de crescimento menor com juros maiores foi a receita para a queda das bolsas globais e da maioria das commodities, com fortalecimento do dólar ante as demais moedas e avanço dos juros. À tarde, aliás, na medida em que o mau humor ganhou força em Nova York, o Ibovespa testou mínima em 105,2 mil pontos, praticamente zerando os ganhos no ano. Mas com Wall Street buscando recuperação no fim, após fechar abril com o pior desempenho em anos, a Bolsa brasileira reduziu as perdas para 1,15%, aos 106.638,64 pontos. Esse movimento verificado em Nova York também tirou um pouco de pressão do câmbio, mas não impediu a disparada da moeda americana ante o real. Depois de se aproximar de R$ 5,09, o dólar encerrou com valorização de 2,63%, a R$ 5,0727 – acima de R$ 5 no fechamento pela primeira vez desde 18 de março. E claro que a forte alta da divisa dos EUA, em dia em que também houve avanço dos yields dos Tresuries, puxou para cima os juros futuros, com alguns vencimentos acumulando quase 20 pontos-base em prêmios.

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•CÂMBIO

•BOLSA

•JUROS

MERCADOS INTERNACIONAIS

Depois de encerrarem abril com o pior desempenho desde a crise financeira global, as bolsas de Nova York operaram com volatilidade nesta segunda-feira, com destaque para recuo em parte do dia nas ações da Apple, Amazon e Boeing. No fechamento, porém, Wall Street conseguiu ficar no azul, enquanto os juros dos Treasuries subiram e o retorno da T-note de 10 anos superou a marca de 3% pela primeira vez em mais de 40 meses. Investidores se posicionam à espera da decisão monetária do Federal Reserve (Fed) na próxima quarta-feira, com a expectativa de uma alta de 50 pontos-base, o que apoiou avanço do dólar hoje. Temores sobre os impactos da política zero-covid na China seguem no radar, com dados da indústria fracos no país asiático e nos Estados Unidos. Quanto à guerra na Ucrânia, a Alemanha confirmou estar pronta para seguir um embargo europeu às commodities energéticas russas, o que contribuiu para o avanço do petróleo.

O Julius Baer afirma, em relatório, que aumentam os medos em relação aos impactos sobre o crescimento global, à medida que a guerra na Ucrânia “continua cobrando seu preço” e a rigorosa política de zero covid-19 da China pressiona “o que é conhecido como o motor do crescimento global”. Paralelamente, operadores se preocupam com a habilidade do Fed em gerir um “pouso suave” para a economia americana, afirma o banco. Em relatório, o Natwest avalia que a preocupação em relação à China tem crescido entre os investidores e ganha espaço nas mesas de operação, em comparação há duas semanas. Leituras fracas do índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) industriais nos EUA e na China trouxeram certa cautela entre os operadores. A Pantheon diz não ver escapatória para a “bagunça da covid” na China até o próximo ano e que mais desafios serão colocados também para a indústria americana.

Entre os destaques neste pregão, estiveram a leve queda da Boeing (-0,15%) o tombo entre as ações da Spirit Airlines. Os papéis da companhia despencaram 9,36%, após ela rejeitar oferta da Jetblue Airways (+2,63%) e reiterar intenção de fusão com o concorrente Frontier Group. Após operarem no vermelho a maior parte do dia, Amazon (+0,14%) e Apple (+0,13%) fecharam no positivo. A fabricante de iPhones ficou pressionada depois de a Comissão Europeia ter concluído, de maneira preliminar, que a companhia abusou de seu domínio no mercado de carteiras móveis. Meta e Netflix saltaram 5,32% e 4,78%, respectivamente, enquanto Microsoft subiu 2,50% e Alphabet teve alta de 2,18%. No fim do dia, o Dow Jones fechou com ganhos de 0,26%, a 33.061,50 pontos, o S&P 500 avançou 0,57%, a 4.155,38 pontos, e o Nasdaq, 1,63%, a 12.536,02 pontos.

Já na renda fixa, o BMO Capital Markets aponta que, passado o fim de semana, foi o retorno da T-note de 10 anos operando acima de 3% que definiu o tom antes da decisão do Fed no dia 4. É a primeira vez desde dezembro de 2018 que tal rendimento atinge essa marca. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 10 anos subia a 3,001%, enquanto o da T-note de 2 anos ganhava a 2,723% e o do T-bond de 30 anos tinha alta a 3,058%. Apesar das vendas, a busca por segurança em meio às incertezas geopolíticas e expectativa sobre o banco central americano favoreceram a divisa americana. O índice DXY, que mede o dólar ante seis rivais, fechou em alta de 0,76%, a 103,744 pontos. No horário citado, o euro caía a US$ 1,0508 e a libra, a US$ 1,2490.

Mesmo com o avanço do dólar, os ativos de petróleo subiram no mercado futuro de olho nas movimentações da União Europeia sobre as exportações russas. Ministros de energia do bloco se reuniram em Bruxelas. Lá, a Polônia, que lida com o corte de fornecimento de gás pela Rússia, pediu para que outros países imponham sanções ao petróleo e gás russo imediatamente. Ao jornal Die Welt, os ministros alemães de Economia e Relações Exteriores, Robert Habeck e Annalena Baerbock, respectivamente, consideram um embargo viável. Habeck, porém, pondera que não há acordo entre os membros da UE até o momento. Segundo reportagem da Reuters, a comissária para energia na UE, Kadri Simon, afirmou que o pagamento por gás em rublos russos seria considerado uma violação às sanções, se feito através do mecanismo gerido pelas autoridades de Moscou. No fechamento, o petróleo WTI para junho fechou em alta de 0,46% (US$ 0,48), a US$ 105,17 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para o mês de julho subiu 0,41% (US$ 0,44), a US$ 107,58 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE). (Ilana Cardial – [email protected])

CÂMBIO

O dólar disparou neste início de semana e fechou acima de R$ 5,00 pela primeira vez desde 18 de março, em meio à onda de fortalecimento global da moeda americana. À cautela em torno da decisão de política monetária do Federal Reserve na quarta-feira (5), que pode trazer um tom mais duro, somaram-se temores de desaceleração da economia mundial em momento de inflação elevada, a chamada estagflação. Dados de atividade industrial abaixo do esperado nos Estados Unidos e, sobretudo, na China assustaram os investidores. Os lockdonws prescritos pela política de covid zero no gigante asiático traçam um cenário ruim para commodities, levando a uma queda em bloco das divisas emergentes.

Por aqui, a moeda operou com sinal positivo desde a abertura e superou a barreira dos R$ 5,00 já na primeira hora de negócios. A onda compradora se acentuou ao longo da tarde com a piora do ambiente externo. A taxa da T-note de 10 anos atingiu 3% pela primeira vez desde 2018 e o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes – escalou até os 103,747 pontos.

Com renovação sucessiva de máximas ao longo da tarde, o dólar correu até R$ 5,0875. No fim do dia, com a virada das bolsas americanas para o positivo e a diminuição das perdas do Ibovespa, o dólar desacelerou os ganhos e encerrou o primeiro pregão de maio em alta de 2,63%, a R$ 5,0727 – maior valor de fechamento desde 17 de março (R$ 5,0343). A desvalorização da moeda americana no ano, que chegou a superar 17%, voltou a ser de um dígito (-9,02%). O real liderou hoje as perdas entre divisas emergentes, seguido pelo rand sul-africano, com baixa na casa de 2%, e pelo peso chileno e colombiano, que caíram mais de 1%.

Apesar da escalada do dólar, o Banco Central não deu às caras no mercado hoje, talvez porque o movimento de valorização da moeda americana tenha sido global e não tenha havido “disfuncionalidade” na formação da taxa de câmbio. As duas últimas intervenções do BC foram no dia 22 (venda de US$ 571 milhões em leilão à vista) e no dia 26 (venda de US$ 500 milhões em contratos de swap cambial).

Já está na conta do mercado que o Copom anuncie uma alta de 1 ponto porcentual da taxa Selic, para 12,75%, na quarta-feira à noite. Espera-se que o Banco Central deixe a porta aberta para uma elevação residual em junho, talvez de 0,50 ponto porcentual. Embora a taxa real doméstica seja a maior do mundo (à exceção da Rússia) e o diferencial de juros interno e externo tenda a se manter ainda em níveis elevados, investidores se mostram cautelosos e evitam aumentar exposição à moeda brasileira no curto prazo, dada a incerteza no ambiente externo.

Lá fora, além da provável elevação da taxa básica em 50 pontos-base, o BC americano pode acenar um ajuste monetário rápido e intenso. Já é grande a especulação de uma elevação dos Fed Funds em 75 pontos-base em junho. Além de caminhar para pôr a taxa básica rapidamente no nível neutro (talvez até acima dele), o Fed deve começar a reduzir seu balanço patrimonial, o que significa tirar dinheiro do sistema.

“O dólar segue bastante pressionado, principalmente por conta da reunião do Fed nesta semana. Dados de renda e consumo nos Estados Unidos ainda estão em alta, gerando pressão inflacionária. O rendimento dos Treasuries continua a subir e o fluxo estrangeiro para a nossa bolsa mostra reversão”, afirma o economista Bruno Mori, da Planejar.

Entre os indicadores do dia, o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da indústria dos Estados Unidos, medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês), recuou de 57,1 em março a 55,4 em abril. O resultado contrariou a previsão de alta a 57,8 dos analistas. Apesar de vir abaixo do esperado, o dado mostra atividade em expansão.

A economista-chefe da Armor Capital, Andrea Damico, afirma que, com a economia americana aquecida e a inflação elevada, o Fed deve promover pelo menos quatro altas de 0,50 ponto dos juros nas próximas reuniões. Em seguida, deve desacelerar o ritmo para 0,25 ponto, levando os Fed Funds a 4% no fim do ciclo, “tendo em vista a necessidade de juros restritivos para combater a alta da inflação”.

Na China, às voltas com medidas de restrição para combater a covid-19, o índice de gerente de compras (PMI) industrial caiu de 48,1 para 46 em abril o nível mais baixo desde fevereiro de 2020, momento em que a pandemia do coronavírus tomava o mundo.

“O PMI da China foi anêmico. Essa política chinesa de covid zero está comprometendo as cadeias de suprimento. É mais um fator de aversão ao risco que favorece o dólar. Existe uma busca de proteção no mundo que gira muito entorno do ambiente inflacionário global. O mercado quer pistas de como os BCs vão atuar”, afirma o diretor de produtos de câmbio da Venice Investimentos, Andre Rolha. (Antonio Perez – [email protected])

17:28

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.07270 2.6301 5.08750 4.96640

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5128.500 2.21226 5133.500 5010.500

DOLAR COMERCIAL 5124.500 1.81033 5124.500 5124.500

BOLSA

O mês de maio começou com mau agouro nos mercados globais, arrastando o Ibovespa de volta aos patamares de janeiro e minguando a alta do índice no ano. O cenário de elevação de juros nos Estados Unidos e aqui, na quarta-feira, que já prometiam deixar o mercado cauteloso nesta semana, se somou a dados piores que o esperado da indústria nos Estados Unidos, na Europa e, principalmente, na China, consolidando o ambiente de aversão a risco.

Com receio de que a atividade global já cambaleante seja ainda mais prejudicada pelo ambiente de aperto monetário e pelos novos lockdowns na China, os investidores retiraram recursos de ativos de risco e enxugaram investimentos em emergentes como o Brasil. Com isso, o Ibovespa encerrou o dia em queda de 1,15%, aos 106.638,64 pontos, nível não visto desde janeiro.

Na mínima do dia, chegou a tocar os 105.218,19 pontos, patamar no qual se manteve por boa parte da tarde. Já no fim do pregão, contudo, uma melhora dos índices em Nova York, que encerraram o dia praticamente estáveis, levou a referência da Bolsa de volta aos 106 mil pontos.

“Hoje foi um resultado de um mix de coisas. Inflação altíssima no mundo, inclusive nos EUA, principal economia do mundo, e o ruído de que pode haver recessão com a retirada de estímulos à economia. Somado a isso tem a guerra, que gera impacto muito forte para a inflação mundial, principalmente energia. E para piorar, a China fechada por conta do covid. Foi a cereja do bolo”, aponta Lucas Mastromonico, operador de renda variável da B.Side Investimentos.

A derrocada de hoje, aliada à sucessão de baixas das últimas semanas, minguou os ganhos tidos neste ano pelo Ibovespa. Em 2022, o índice acumula alta magra de 1,73%. Ante o cenário de desaceleração chinesa, os ativos ligados a commodities entraram com força no vermelho hoje, com uma perspectiva que não só a oferta global de manufaturados vai ser negativamente afetada, com uma nova rodada de disfunções na cadeia de suprimentos, mas também a demanda por commodities, o que impacta diretamente o Brasil.

“Os últimos PMIs (índice de gerentes de compras da indústria) sugerem que a atividade teve um início mais fraco no segundo trimestre, à medida que os lockdowns na China levaram a uma forte queda na atividade lá. E os componentes que olham para o futuro – incluindo novos pedidos e novos pedidos de exportação – sugerem que a atividade vá enfraquecer mais”, aponta a consultoria britânica Capital Economics em relatório.

Os ativos ligados a commodities metálicas sofreram, com Vale em queda de 0,44% e Gerdau chegando a recuar 2,55% (PN). Além disso, nem mesmo o barril de petróleo acima dos US$ 100 foi suficiente para segurar as ações das petroleiras, com PetroRio figurando entre as maiores quedas da bolsa (-5,81%) e Petrobras terminando o dia em queda de 1,79% (ON) e 0,99% (PN). Somado à alta inflação interna e juros altos, varejo e techs também sofreram, além dos bancos, com a B3 capitaneando as perdas, com queda de 3,7%. O giro financeiro de hoje foi de R$ 32,8 bilhões.

“Estamos vendo uma continuidade do que aconteceu na sexta-feira no fim do dia, setores mais cíclicos, tanto domésticos quanto globais, liderando a queda na bolsa. Isso é explicado pelo receio dos mercados por uma aceleração de juros nos Estados Unidos, um ciclo mais longo e talvez até mais acentuado nas próximas reuniões”, aponta Luiz Adriano Martinez, administrador de portfólio da Kilima Asset.

Na próxima reunião de política monetária americana, na quarta-feira, o mercado espera que o Federal Reserve (Fed) suba os juros em 0,50 pontos, mas acredita que a atual conjuntura levará o banco central americano a deixar a porta aberta para altas mais agressivas.

Para Martinez, o comportamento do índice brasileiro em maio será ditado por dois fatores, sobretudo: o quão agressivo o Fed se propuser a ser e os sinais vindos da economia chinesa. “A maneira como a China está tratando a covid está prejudicando bastante a economia corrente. O que precisa ser definido é se essa piora é só restrita ao lockdown. Se num segundo momento, quando as medidas deixarem de ser implementadas, será que a economia volta com a mesma força de anteriormente?”, questiona. (Bárbara Nascimento – [email protected])

17:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 106638.64 -1.14717

Máxima 107883.84 +0.01

Mínima 105218.19 -2.46

Volume (R$ Bilhões) 3.29B

Volume (US$ Bilhões) 6.54B

17:28

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 107950 -0.9133

Máxima 109500 +0.51

Mínima 106490 -2.25

JUROS

O azedume da cena externa nesta segunda-feira pegou em cheio o mercado de juros local. O pano de fundo é a super semana de política monetária, com decisões do Federal Reserve, do Banco Central do Brasil e do Banco da Inglaterra. A onda de vendas de Treasuries de prazo mais longo, de ações e de moedas emergentes – com o real especialmente mais debilitado – causou a subida forte das taxas de Depósito Interfinanceiro (DI), com algumas escalando acima dos 20 pontos-base nos piores momentos da sessão. O diferencial entre os vértices 2027 e 2024, uma medida de inclinação da curva, passou dos -75,2 pontos na sexta-feira a -69,5 pontos hoje.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 passou de 13,038% no ajuste de sexta-feira a 13,080% hoje. O janeiro 2024 subiu de 12,582% a 12,680%. O janeiro 2025 avançou de 12,031% a 12,165%. E o janeiro 2027 saltou de 11,83% a 11,985%.

Desde a madrugada, os mercados apontavam para um dia de perdas fortes dos ativos atrelados ao risco, com notícias ruins do front da guerra da Rússia contra a Ucrânia e da economia da China. Em relação ao conflito, há sinais de escalada das tensões. No caso chinês, a atividade mostra sinais de debilidade, em função dos lockdowns para evitar a reincidência da covid-19.

Ao fim das contas, uma vez que pressionam ainda as cadeias de produção, esse cenário só piora as expectativas globais de inflação,que devem ser alvo do endurecimento do tom dos formuladores de política monetária nas decisões desta semana.

“O Fed planeja embarcar em um ciclo de alta rápido, apesar desses ventos contrários, quando historicamente, as taxas de juros e a produção tendem a se movimentar. Isso aumenta o risco de maior volatilidade do mercado nos próximos meses”, nota o economista para Estados Unidos do Credit Suisse, Justin Guo, em comentário sobre o noticiário de hoje enviado a clientes.

“Hoje é 100% mercado global. Com dólar forte e Treasury a 3%, não dá para não seguir. Tem muita incerteza lá fora, e a gente tá seguindo aqui”, comenta o gerente de renda fixa de uma corretora paulista, que pediu anonimato. “O Fed, assim como o BC, está com um cenário muito incerto pela frente. Está difícil para os dois fornecerem guidance”, acrescenta.

Mesmo porque, aqui no Brasil, as perspectivas de inflação também seguem se deteriorando. No boletim Focus, a mediana para o IPCA de 2022 subiu pela 16º semana consecutiva, de 7,65% para 7,89%, cada vez mais distante do teto da meta deste ano (5,0%). Para 2023, foco principal da política monetária, o afastamento do centro da meta (3,25%, com margem de 1,75% a 4,75%) também continua, com o aumento de 4,00% para 4,10%.

Em termos de precificação de Selic, é unânime na curva que haverá aumento de 100 pontos-base nesta semana, tal qual explicitado pelo BC em sua comunicação recente. Para junho, as apostas se dividem em manutenção da taxa em 12,75% (28%) e subida de 25 pontos-base (72%). Para o encerramento do ano, a Selic estimada é de 13,20%. Os cálculos são feitos pelo Broadcast com base em modelo do professor Alexandre Cabral.

Em relatório enviado a clientes, o Goldman Sachs diz esperar que o BC deixe um guidance aberto para a próxima reunião, ao mesmo tempo que sugerirá uma alta de intensidade menor no encerramento do ciclo.

“Dado o cenário de inflação atual e prospectivo muito desafiador, deterioração adicional das expectativas de inflação (especialmente para o final de 2023), intensas pressões inflacionárias e perspectiva estrutural de alta de commodities, esperamos que o Copom deixe a porta aberta para outra alta menor da Selic em junho. Encerrar o longo ciclo de aperto em junho (com um aumento moderado da taxa) seria justificado em nossa visão pelo fraco perfil de crescimento do PIB real, efeitos defasados de uma política monetária já claramente restritiva e o aumento incerteza geopolítica e econômica global em meio à alta volatilidade financeira”, escreveram os economistas do Goldman.

Antes da decisão sobre os juros, o mercado conhecerá amanhã cedo os dados da produção industrial brasileira em março, para o qual o consenso aponta para uma desaceleração dos 0,7% de crescimento em fevereiro para 0,2% (pesquisa do Projeções Broadcast, com intervalo de -1,2% a 1,1%). Hoje, o índice de atividade econômica do BC (IBC-Br) apontou para uma perda de tração da economia no segundo mês do ano, com alta de 0,34% na margem (menor que a mediana de 0,40%). (Mateus Fagundes – [email protected])

17:26

 Operação   Último 

CDB Prefixado 30 dias (%a.a) 12.52

Capital de Giro (%a.a) 6.76

Hot Money (%a.m) 0.63

CDI Over (%a.a) 11.65

Over Selic (%a.a) 11.65