A divulgação de uma carta à nação pelo presidente Jair Bolsonaro trouxe alívio aos ativos domésticos na última meia hora da sessão, mudando a configuração do mercado até então. O chefe do Palácio do Planalto disse respeitar as instituições da República e sinalizou uma trégua na escalada das tensões contra o Supremo Tribunal Federal. Afirmou ainda que palavras "por vezes contundentes" decorreram do calor do momento e clamou por harmonia entre os poderes. A carta foi redigida com auxílio do ex-presidente Michel Temer. O despejo de água na fervura da crise ocorreu na esteira da pressão cada vez maior da Justiça e de parlamentares contra o governo após os atos antidemocráticos de terça-feira. Para o mercado, foi o gatilho para uma virada radical. Em 13 minutos, o Ibovespa saiu do vermelho e percorreu mais de 3,5 mil pontos, chegando à máxima de 116.353,62 pontos. O dólar, já em queda por fatores externos e chance de Selic mais alta, desabou mais de R$ 0,10, batendo a mínima em R$ 5,1943. Ao final, o principal índice da B3 terminou aos 115.360,86 pontos (+1,72%), com alta em 86 dos 91 papéis de sua composição. O dólar à vista caiu a R$ 5,2273, baixa de 1,86%. Os juros futuros, por sua vez, tiveram comportamento distinto, dada a parada entre a sessão regular das 16 horas e a estendida. Na primeira, toda a curva disparou, na esteira do IPCA mais forte do que o esperado, revisões de cenário para Selic e temores com paralisações de caminhoneiros. Posteriormente, depois da bandeira branca do Planalto, os vencimentos mais longos - sensíveis ao risco político - tiveram alívio na estendida. Os mais curtos, contudo, seguem pressionados, pois o cenário segue ruim para a inflação - e já começam a aparecer casas com projeção de Selic a 10% ao fim do ciclo de aperto. No exterior, o dia foi de fraqueza do apetite ao risco. Em Nova York, as incertezas com a atividade econômica por causa do espalhamento da variante Delta do coronavírus penalizou setores ligados à recuperação econômica, como indústria, consumo e energia - esse último, também espelhando a baixa do petróleo, depois do anúncio de uma liberação de reservas de barris pela China. O resultado desse mal estar foi uma procura pela segurança de Treasuries mais longos, influenciados também por um leilão de forte demanda por bonds de 30 anos. Esse contexto provocou a baixa global do dólar, também influenciado, em parte da sessão, pela alta do euro diante do tom um pouco mais duro do Banco Central Europeu quanto a estímulos monetários.
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