Fatores locais voltaram a manter os ativos no Brasil descolados do exterior, sobretudo no caso dos juros e da Bolsa. Algumas discussões em andamento no Congresso deixaram os investidores avessos ao risco aqui e desconfiados sobre a reversão da piora fiscal recente. Afinal, circulam informações sobre uma possível extensão do pagamento do auxílio emergencial até o fim do ano, sobre a prorrogação do estado de calamidade pública até 2021 e também algumas propostas que são vistas como ameaça ao teto de gastos. Como resultado, a curva de juros inclinou, precificando o aumento do risco. As taxas longas subiram, enquanto as curtas, em meio à produção industrial um pouco mais forte do que o consenso, seguiram mostrando chances amplamente majoritárias de o Copom cortar a Selic em mais 0,25 ponto amanhã, para 2% ao ano. Houve, contudo, redução das apostas de que tal movimento de repita em setembro. No caso da Bolsa, além da questão fiscal como pano de fundo, o noticiário corporativo também pesou. E mais uma vez o motivo principal veio do Congresso: os bancos tiveram perdas expressivas, depois de um tuíte do senador Álvaro Dias indicando a possibilidade de votação em comissão, no dia 6, de projeto que propõe um limite de 30% ao ano para a cobrança de juros do cheque especial e do cartão de crédito. E o recuo aqui só não foi maior porque Vale, que chegou a cair mais cedo, com o leilão de venda de uma fatia do BNDES na empresa, se recuperou. Mesmo assim, o Ibovespa teve o quarto dia seguido de perdas, hoje de 1,57%, aos 101.215.87 pontos, depois de quase ceder os 100 mil pontos no pior momento do dia. Na reta final, a melhora dos principais índices em Wall Street, com destaque para o setor de energia, também acabou limitando as perdas do mercado acionário por aqui. As dificuldades nas negociações por um novo pacote de ajuda nos Estados Unidos, no entanto, penalizaram o dólar ante moedas fortes e, em relação ao real, trouxeram muita volatilidade. Além disso, as incertezas sobre a retomada da economia dos EUA e a contínua expansão de casos de covid-19 em território americano também apoiaram alguma cautela, o que fez o ouro fechar acima de US$ 2 mil a onça-troy pela primeira vez na história. De volta ao Brasil, a moeda dos EUA terminou com baixa de 0,53% no mercado à vista, a R$ 5,2857, depois de, pela manhã, ter tocado na máxima de R$ 5,3768. Os fatores externos, a percepção de piora fiscal no Brasil e uma correção técnica explicam a volatilidade. Ontem, investidores estrangeiros fizeram forte aumento de apostas contra o real, elevando posições compradas em dólar futuro na B3 em US$ 6,3 bilhões, um dos maiores aumentos diários dos últimos meses.
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