A permanência de Paulo Guedes à frente do Ministério da Economia, confirmada pelo próprio e pelo presidente Jair Bolsonaro, durante entrevista nesta tarde, ajudou a limitar as perdas dos ativos domésticos e, no caso do real, fez a moeda até mesmo mudar de direção. Os ruídos de que o ministro também entregaria os pontos, após um acordo que resultou na flexibilização do teto de gastos e na saída de quatro secretários, colocaram o mercado na defensiva desde cedo. O principal temor era sobre quem poderia substituí-lo num momento de fragilidade fiscal. Com isso afastado do horizonte e a confirmação de Esteves Colnago, que já fazia parte da equipe econômica, para a vaga de Bruno Funchal na secretária especial do Tesouro e Orçamento, houve algum alívio. Isso não significa, contudo, que tenha havido qualquer sinal de melhora nas contas públicas, mas sim que o risco de uma piora ainda mais intensa ficou menor. Até porque, o próprio Guedes admitiu que o déficit fiscal do Brasil em 2022 será maior e que foi preciso ceder à ala política do governo, que queria ainda mais recursos. Para fechar a longa entrevista, aliás, o ministro disse o que o mercado já está precificando: "se o fiscal piorou um pouco, tem que correr um pouco mais com juro também". E os analistas e investidores sabem disso. Não por acaso, houve uma avalanche de revisões em alta para a Selic, entre ontem e hoje, enquanto a curva de juros indica chance de aperto monetário entre 1,25 ponto e 1,50 ponto porcentual na reunião do Copom da próxima semana. As taxas dos DIs, que chegaram a bater no limite máxima de oscilação durante o momento de maior estresse do pregão, se acomodaram entre a estabilidade e pequena alta, mas o acúmulo de prêmios na semana, sobretudo no trecho intermediário da curva, é expressivo. O dólar, que chegou a bater em R$ 5,75 mais cedo, não só perdeu força como caiu ante o real após as falas de Guedes e Bolsonaro, a R$ 5,6273, com desvalorização de 0,71%. O investidor aparou um pouco da forte alta da semana, acumulada em 3,16% mesmo com a baixa de hoje. Na renda variável, o Ibovespa até melhorou, mas muito menos que os demais ativos. Do tombo para o nível de 102 mil pontos, acabou com perda de "apenas" 1,34%, aos 106.296,18 pontos, somando forte baixa de 7,28% na semana. Em Wall Street, que teve pouco influência sobre os negócios locais hoje, foi o presidente do Fed, Jerome Powell, quem direcionou o tom mais negativo dos mercados, após destacar riscos de inflação mais elevada, a ponto de aumentar apostas em aperto monetário nos EUA já em meados do próximo ano. Ainda assim, o Dow Jones subiu e bateu recorde, enquanto todos os índices acumularam ganhos nesta semana, puxados por resultados corporativos.
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