NY PESA EM BOLSA E DÓLAR, MAS DI CURTO TOMBA COM APOSTA MAIOR DE ALTA DE 1PP DA SELIC

O mau humor externo se acentuou ao longo do pregão desta terça-feira, penalizando a Bolsa e o real nos minutos finais da sessão. Esses dois ativos estavam de certo modo blindados à aversão ao risco do estrangeiro, mas acabaram sucumbindo na reta final. Nos Estados Unidos, o mercado seguiu assimilando os dados de inflação ao consumidor abaixo do esperado, mas agora com uma percepção um tanto quanto distinta. Se antes o arrefecimento dos preços foi bem-recebido por minar o espaço para o debate da retirada mais imediata de estímulo, na etapa vespertina passou a predominar o temor de que o número possa revelar também que a atividade econômica americana está esfriando. Ações do setor financeiro se destacaram entre as baixas, acompanhando a queda dos juros dos Treasuries – Bank of America cedeu 2,69% e JPMorgan, 1,75%. À tarde, o anúncio de produtos da Apple para a temporada desagradou ao investidor – o papel da companhia, de peso forte nos índices, cedeu 0,96%. Internamente, a piora no exterior teve reflexo no Ibovespa e no câmbio. A Bolsa virou rapidamente perto das 16 horas e foi direto para as mínimas, com as ações de blue chips puxando a fila da queda. Ao final, foi computada baixa de 0,19%, para 116.180,55 pontos, e, assim, o otimismo com o tom mais ‘dovish’ do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, foi apagado. Mas o discurso do chefe da autarquia seguiu reverberando nos mercados de renda fixa e câmbio. A indicação dele de permanecer no plano de voo atual foi lida como um sinal de que a Selic subirá 1 ponto porcentual na semana que vem – aliás, aposta que ressurgiu hoje e se tornou majoritária na curva de juros, onde os contratos de prazo mais curto tombaram. Houve efeito tardio também dessas apostas no câmbio, já que uma Selic um pouco menos alta pode diminuir a atratividade de capitais para o Brasil. Desta forma, visto também o peso externo, o dólar à vista subiu a R$ 5,2573, valorização de 0,65%.

MERCADOS INTERNACIONAIS

Ao longo da tarde, as bolsas de Nova York ampliaram suas perdas na medida em que as repercussões sobre a inflação nos Estados Unidos deram espaço aos aguardados lançamentos da Apple. As ações da empresa recuaram conforme produtos como o novo iPhone eram divulgados, o que pressionou os índices acionários. Os juros dos Treasuries, no entanto, voltaram a cair com os sinais de “alívio” inflacionário. No câmbio, o dólar se recuperou das perdas que se seguiram à divulgação do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) dos EUA abaixo do esperado em agosto, o que acabou por pressionar o petróleo, que fechou a sessão perto da estabilidade.

Durante a tarde, o foco do mercado acionário se deslocou do CPI “para a grande revelação da Apple para o iPhone 13, um novo Apple Watch e AirPods”, avaliou Edward Moya, analista da Oanda. Em sua visão, as ações da empresa chagaram hoje bem abaixo de seus recordes, o que poderia permitir uma forte alta caso os lançamentos impressionassem. Por sua vez, em meio à divulgação dos produtos, os papéis da Apple ampliaram perdas, e a big tech terminou a sessão em queda de 0,96%. Outra baixa relevante foi do setor financeiro, com bancos apresentando recuos importantes, como Bank of America (-2,69%), Goldman Sachs (-1,37%) e JP Morgan (-1,75%).

Neste quadro, as bolsas tiveram queda generalizada e que chegou a ultrapassar os 1% no caso do Dow Jones durante a sessão. Ao final, o índice caiu 0,84%, o S&P 500 teve queda de 0,57% e o Nasdaq recuou 0,45%. Na Europa, por sua vez, os índices tiveram uma quadro misto, com o DAX avançando 0,14% em Frankfurt e o FTSE 100 caindo 0,49% em Londres.

Sobre o CPI, a LPL Markets avalia que “a tão esperada redução nos picos de preços em segmentos da economia com restrição de oferta pode ter chegado”. Com queda nos preços de automóveis e caminhões usados de 1,5%, das passagens aéreas de 9,1% e de alojamento fora do domicílio de 3,3%, a avaliação da consultoria é de que “os componentes que exibiram a volatilidade no verão [no hemisfério norte] resultante dos gargalos da cadeia de suprimentos estão começando a se resolver, conforme o esperado”. A avaliação é de que a “inflação transitória” tem durado mais tempo do que originalmente pensado, mas que a alta dos preços causada como fatores a exemplo da escassez de semicondutores para o preço dos automóveis pode estar sendo ultrapassada.

Em reportagem publicada às 15h10, a avaliação apresentada por especialistas foi de que a inflação desacelerou principalmente pelo arrefecimento dos efeitos da reabertura econômica, em meio ao impacto da variante delta do coronavírus no setor de serviços. Segundo eles, para o Federal Reserve (Fed), o resultado é um “alívio”, e a previsão de início do tapering, processo de redução das compras de ativos, se mantém neste ano.

Neste cenário, a BMO Capital Markets avalia que a “probabilidade de que a reflação se mostre transitória acaba de aumentar e, com ela, qualquer urgência de aumento de juros pelo Federal Reserve (Fed) foi reduzida”. Assim, a avaliação foi de que “é significativo que o movimento nas taxas dos EUA não tenha levado a uma curva mais íngreme” nos rendimentos dos Treasuries. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos caía a 0,209%, o da T-note de 10 anos tinha baixa a 1,284% e o do T-bond de 30 anos recuava a 1,846%.

Enquanto isso, o “dólar caiu depois que a inflação mais lenta dos EUA serviu como um grande voto de confiança na visão do Fed de que os preços mais altos acabaram se provando temporários”, avalia a Western Union. Por sua vez, ao longo da tarde o movimento diminuiu, e a moeda americana recuperou grande parte das perdas ante as principais rivais, e o DXY, que mede o dólar ante seis moedas rivais, terminou com uma queda de 0,06%. No fim da tarde, o dólar caía a 109,64 ienes, o euro tinha baixa a US$ 1,1806, praticamente estável, e a libra operava em queda a US$ 1,3805.

A reversão no movimento limitou os ganhos do petróleo, que havia sido impulsionado pela divulgação do relatório da Agência Internacional de Energia (AIE). Além disso, o Commerzbank aponta a queda na produção do Golfo do México, na qual 44% ainda não havia sido retomada até ontem. Sem sequer terem se recuperado completamente dos impactos do furacão Ida, Louisiana e Mississippi devem ser atingidos por forte chuvas proporcionadas pelo Nicholas – furacão que tocou o solo do Texas hoje. O WTI para outubro teve avanço marginal de 0,01% (US$ 0,01), a US$ 70,46 o barril, enquanto o Brent fechou em alta de 0,12% (US$ 0,09), a US$ 73,60 o barril.

BOLSA

Em dia negativo em Nova York mesmo com leitura abaixo do esperado para a inflação ao consumidor nos Estados Unidos, divulgada pela manhã, o Ibovespa perdeu fôlego ao longo da tarde, após ter buscado mais cedo, pelo segundo dia, reaproximação de nível anterior ao feriado de 7 de setembro, refletindo relativa melhora da percepção sobre o ambiente político. Hoje, chegou a ser favorecido também por indicação menos ‘hawkish’ do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que levou o mercado a readequar para 1 ponto porcentual a previsão de alta da Selic na reunião do Copom na próxima semana, quando já se preparava para aumento de até 1,5 ponto na taxa básica de juros ante os mais recentes sinais de aceleração da inflação no País.

No entanto, acompanhando piora em Nova York ao longo da tarde, o índice de referência da B3 devolveu os ganhos vistos mais cedo para fechar o dia em baixa de 0,19%, aos 116.180,55 pontos, entre mínima de 115.809,02, à tarde, e máxima de 117.269,82 pontos, pela manhã, saindo de abertura aos 116.404,54 pontos, com giro financeiro de R$ 29,4 bilhões na sessão. Nestes dois primeiros dias da semana, o Ibovespa ainda acumula ganho de 1,66%, limitando as perdas do mês a 2,19% – no ano, cede agora 2,38%.

Com o desempenho negativo de Petrobras (ON -0,74%, PN -1,33%) e Vale (ON -0,71%), além de bancos (BB ON -0,81%), pesando sobre o índice, o Ibovespa se firmou no negativo à tarde, cortando a recuperação ensaiada no dia anterior. “Há uma piora de sentimento no exterior, com a percepção de que a inflação abaixo do esperado nos Estados Unidos possa estar sinalizando estagnação da economia, no momento em que o Fed ainda busca cumprir parte de seu mandato, relacionado ao pleno emprego”, diz Nicolas Farto, assessor de renda variável na Renova Invest.

“Aqui, Vale refletiu a queda do minério de ferro e Petrobras, apesar da alta do petróleo com a formação de nova tempestade em direção aos Estados Unidos, mostra a cautela do mercado ante a presença do presidente Silva e Luna para dar explicações ao Congresso, no dia seguinte a Arthur Lira (presidente da Câmara) ter criticado a política de preços da estatal”, acrescenta.

Na ponta negativa do Ibovespa, Dexco cedeu hoje 3,07%, à frente de CVC (-2,93%) e de BRF (-2,89%). No lado oposto, destaque para Meliuz (+15,10%, pelo terceiro dia segurando a ponta positiva do Ibovespa, com ganhos na casa de dois dígitos nas últimas duas sessões), seguida por Locaweb (+8,21%) e Cosan (+3,89%).

Pela manhã, em evento promovido pelo BTG Pactual, Campos Neto reforçou que o BC fará o que for preciso para alcançar convergência dos preços à meta de inflação no horizonte relevante, mas que não necessariamente reagirá a dados de alta frequência. “Vamos levar a Selic aonde precisar, mas não vamos reagir sempre a dados de alta frequência”, afirmou na manhã desta terça-feira, o que resultou em ajuste nos juros futuros.

O câmbio, por sua vez, seguiu em alta nesta terça-feira, acentuada à tarde (+0,65%, a R$ 5,2573 no fechamento do dólar à vista). “Um dos grandes fatores para pressão na inflação tem sido o câmbio que, por sua vez, tem como fonte as condições institucionais, que seguem frágeis. Assim, não vemos espaço para queda na taxa de câmbio, mesmo com alguma intervenção do BC. Além disso, diante das eleições, há a possibilidade de aumento de gastos fiscais para promover medidas populistas, o que também pode seguir pressionando preços. Assim, hoje cabe quase que somente ao Banco Central o esforço para conter a inflação”, diz Fernanda Consorte, economista-chefe do Banco Ourinvest.

Para o estrategista-chefe da BTG Pactual Asset Management e ex-diretor do Banco Central, Tiago Berriel, a declaração de Campos Neto desta manhã deixou bem claro que o ritmo de alta de juros deve ser de 1 ponto porcentual e os ajustes em função da piora de cenário devem ocorrer no tamanho do ciclo de aperto monetário. “O ciclo de alta de juros deve terminar no início do ano que vem entre 9% e 9,5%”, disse Berriel, no evento MacroDay 2021, promovido pelo banco, do qual Campos Neto também participou mais cedo.

Em outro evento nesta terça-feira, Luis Stuhlberger, sócio-fundador e presidente da Verde Asset Management, apontou que o Banco Central ficou muito atrás da curva e precisa elevar os juros no curto prazo, “e ponto final”. Ainda assim, o gestor acrescentou não estar pessimista quanto às taxas de juros de longo prazo. Segundo ele, os mercados estão vendo atualmente situação fiscal do Brasil pior do que realmente é, em reflexo da preocupação dos investidores com o ambiente político.

Para o ex-secretário do Tesouro Nacional e atual economista-chefe do BTG Pactual, Mansueto Almeida, o que assusta o mercado é a possibilidade de quebra do teto de gastos para que o governo gaste mais que R$ 18 bilhões, espaço para o Bolsa Família. “O que alguns amigos falam é que o governo deveria aumentar o Bolsa Família, pagar os R$ 89 bilhões de precatórios e calar a boca, cumprir a letra da lei. Essa solução ótima não existe”, disse Mansueto.

Para Stuhlberger, a eleição de 2022 chegou aos preços dos ativos muito antes do esperado, e o presidente Jair Bolsonaro, em vez de surfar a melhora da economia, prefere “pregar para convertido”. Segundo o gestor, o mercado está precificando, no momento, chance de não mais de 10% a um nome alternativo ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a Bolsonaro no segundo turno de 2022. “O grau de incerteza é imenso”, afirmou.

“Tivemos desde a manhã um dia movimentado, começando com o crescimento da atividade de serviços no Brasil, mais ou menos em linha com o esperado – um dado positivo, que mostra recuperação. Nos Estados Unidos, havia expectativa para a inflação ao consumidor, em vista do ‘tapering’ (retirada de estímulos pelo Federal Reserve), e a leitura de hoje dá algum sossego ante o receio de descontrole da inflação por lá”, diz João Vitor Freitas, analista da Toro Investimentos. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:32

Índice Bovespa   Pontos   Var. %

Último 116180.55 -0.19172

Máxima 117269.82 +0.74

Mínima 115809.02 -0.51

Volume (R$ Bilhões) 2.94B

Volume (US$ Bilhões) 5.62B

17:38

Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. %

Último 116610 -0.0814

Máxima 117730 +0.88

Mínima 115985 -0.62

JUROS

As declarações consideradas “dove” do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, continuaram alimentando a queda dos juros curtos e intermediários da curva a termo ao longo da tarde e também os ajustes nas apostas para a Selic no Copom da semana que vem. No fim da sessão regular, as taxas curtas tombavam mais de 30 pontos-base e a expectativa de aperto de 1 ponto porcentual da Selic era majoritária ante a opção de 1,25 ponto, com a curva tendo limpado expectativas de avanço mais agressivo de 1,5 ponto que apareceram nos últimos dias. Campos Neto disse que o BC não vai alterar o plano de voo em função de dados de inflação de alta frequência, o que foi lido como um recado claro de que a indicação da última ata do colegiado continua válida.

A mudança sobre a percepção de Selic no curto prazo também engordou o volume de contratos negociados. Com cerca de 1,9 milhão de contratos movimentados hoje, o do Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou com taxa em 7,01%, de 7,324% ontem no ajuste. Na média diária dos últimos 30 dias, este DI girou em torno de 733 mil contratos. O DI para janeiro de 2023 passou de 9,162% para 8,86% e o DI para janeiro de 2027 encerrou a 10,47%, de 10,49%.

A fala de Campos Neto, em evento promovido pelo BTG Pactual, teve efeito avassalador na curva. “Pegou muita gente de surpresa nesta última manifestação permitida antes do período de silêncio do Copom. A curva chegou a colocar na semana passada chance de alta de 1,5 ponto na Selic, o que é uma pedrada”, afirmou o economista-chefe da Ativa Investimentos, Étore Sanchez.

Na curva a termo, a aposta de alta de 1 ponto aparecia com 80% de probabilidade precificada, ante 20% de chance de 1,25 ponto, segundo o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano. Para o Copom de outubro, o mercado está dividido entre as duas alternativas, com 50% de chance para cada lado. Para o fim do ano, a curva projeta Selic em 8,50%.

Embora a nova sinalização do BC possa não deixar dúvidas sobre o que o Copom vai fazer, ou seja, elevar a taxa básica em 1 ponto, não é essa a opção defendida por boa parte dos economistas. Em meio à crise hídrica e com as pressões inflacionárias de 2021 cada vez mais transbordando para 2022, a percepção é de que a autoridade monetária teria de ser mais firme. O economista João Leal, da Rio Bravo Investimentos, disse que a fala de Campos Neto não altera a necessidade de um aumento de 1,25 pp na próxima reunião. “Não é simplesmente um dado de inflação acima da expectativa, mas uma pressão inflacionária bastante ampla em toda a economia. Uma alta de 1 ponto pode ser um risco bem grande de perder ainda mais controle nas expectativas para o IPCA de 2022”, disse.

Sanchez, da Ativa, manteve sua previsão de alta em 1,25 ponto mesmo depois da fala de Campos Neto. Na sua visão, se a autoridade monetária cumprir sua promessa de fazer o que for necessário para trazer as expectativas de inflação para a meta, terá de ser mais incisiva e “começar a acelerar já”, lembrando que as expectativas de IPCA em 2021 estão perto de 9% e as de 2022, ao redor de 4%. A de 2021 está muito acima do teto da meta de 5,25% e a de 2022, além do centro da meta de 3,5%.

O Itaú Unibanco revisou para cima seus números para inflação e Selic. A previsão de IPCA subiu a 8,4% e 4,2% respectivamente. “Com piora do balanço de riscos, passamos a projetar alta da Selic para nível mais contracionista, com três aumentos de 1,00 ponto consecutivos e um último de 0,75 ponto ao longo das próximas reuniões, chegando a 9,0% em 2022”, disseram os profissionais.

Os contratos de longo prazo oscilaram perto da estabilidade, mas com viés de baixa trazido pelo índice de inflação ao consumidor norte-americano levemente abaixo do esperado, mas que também não alterou a visão do mercado de que o tapering nos Estados Unidos começa este ano.

Na gestão da dívida, o Tesouro vendeu hoje integralmente a oferta de 1,150 milhão de NTN-B, pouco maior do que a de 900 mil da última operação com os mesmos vencimentos. Porém, optou por colocar lotes maiores nos vértices mais curtos, 500 mil na NTN-B 2024 e 500 mil na NTN-B 2028, e apenas 150 mil na 2040, o que reduziu o DV01 (risco). “Em função do IPCA da semana passada, achei que teria um volume maior na 2024, mas a de 2028 veio em linha com o esperado”, disse Sanchez. (Denise Abarca – [email protected])

17:36

Operação   Último

CDB Prefixado 30 dias (%a.a) 5.89

Capital de Giro (%a.a) 6.76

Hot Money (%a.m) 0.63

CDI Over (%a.a) 5.15

Over Selic (%a.a) 5.15

CÂMBIO

Após manhã de muita instabilidade, com trocas constantes de sinal, o dólar à vista ganhou fôlego ao longo da tarde e registrou novas máximas, encerrando o pregão desta terça-feira (14) em alta firme. O principal catalisador para a arrancada do moeda americana no fim dos negócios foi a deterioração do ambiente externo, com perdas fortes dos índices das Bolsa em Nova York – que respingaram no Ibovespa – e a piora das divisas emergentes. Depois de trabalhar em queda a maior parte do dia, o Índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a seis moedas fortes – também se fortaleceu e renovou máxima, operando perto da estabilidade.

Por aqui, operadores relataram certo desconforto com a interrupção da tramitação da PEC dos Precatórios na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara após concessão de vista coletiva do parecer pela admissibilidade confeccionado pelo deputado Darci de Matos (PSD-SC). Trata-se de um sinal de que haverá um caminho árduo até uma solução para o pagamento das dívidas judiciais e, por tabela, para definição do reajuste do Bolsa Família – condição essencial para a definição do Orçamento de 2022.

Com máxima a R$ R$ 5,2638, registrada na reta final de pregão, o dólar à vista encerrou a sessão a R$ 5,2573, em alta de 0,65%. Na B3, o giro com o contrato futuro de dólar para outubro – principal termômetro do apetite por negócios – foi mais uma vez reduzido, na casa de US$ 10,8 bilhões.

A mínima do dólar (R$ 5,1996) veio pela manhã, na esteira da divulgação da alta de 0,3% do índice de inflação ao consumidor (CPI) nos Estados Unidos em agosto, abaixo das expectativas (+0,4%). Esse resultado reforçou a leitura do Federal Reserve de que a alta da inflação é transitória e deu vazão à aposta de que o início da redução da compra mensal de bônus (‘tapering’) virá apenas no último bimestre deste ano.

Na avaliação do diretor de estratégia da Inversa Publicações, Rodrigo Natali, a queda acentuada das bolsas americanas ao longo da tarde trouxe uma onda de aversão ao risco, já que se esperava uma recuperação dos índices após as perdas recentes. “O CPI era o último dado que tinha potencial de ser forte para mexer com a expectativa do tapering. O resultado pesou bem no DXY pela manhã, mas agora parece que o mercado já começa a se ‘hedgear’ para o encontro do FOMC”, afirma Natali, em referência ao encontro do comitê de política monetária do Fed no próximo dia 22.

Por aqui, o mercado de câmbio recebeu, em um primeiro momento, de forma amena a sinalização do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, de que não haverá aceleração do ritmo de alta da Selic – atualmente em 1 ponto porcentual – no encontro do Copom neste mês (dias 21 e 22). Em evento pela manhã, Campos Neto repetiu que vai “levar a Selic aonde precisar”, mas ponderou que o BC não “vai reagir sempre a dados de alta frequência”, no que foi interpretado como uma referência a alta de 0,87% do IPCA em agosto, estopim para que parte do mercado passasse a trabalhar com a perspectiva de alta de 1,25 ponto porcentual ou de até 1,50 ponto da Selic neste mês.

A sinalização de Campos foi criticada por economistas e gestores, por representar supostamente um risco de desancoragem das expectativas de inflação para 2022. Diversas casas já projetam inflação mais elevada e crescimento mais baixo no ano que vem, o que joga contra a moeda brasileira.

Natali, da Inversa, observa que, dada a forte queda dos juros futuros mais curtos, o dólar até que subiu pouco por aqui, já que há uma diminuição da atratividade de operações com arbitragem do diferencial de juros interno e externo. “O desempenho da taxa de câmbio está até tímido, talvez porque tem muita gente vendida em dólar. Hoje pode ser só o começo desse movimento [de depreciação adicional do real]”, diz Natali, ressaltando que, ajustado pelo risco, a moeda brasileira não é a mais atraente entre emergentes para o carry trade.

O estrategista da Inversa vê hoje três fatores que podem levar a uma alta do dólar nos próximos meses: o início do ‘tapering’ nos EUA, o problema fiscal doméstico e a perspectiva de que se consolide o cenário de polarização nas eleições presidenciais de 2022, com disputa entre Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Em evento hoje, o economista-chefe do BTG Pactual e ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou que, com a melhora das contas externas, o dólar só não está abaixo de R$ 5,00 hoje porque “estamos produzindo muitos ruídos”, em especial em relação ao reajuste do Bolsa Família. Para o economista, se o Brasil mantiver o compromisso com as regras fiscais, a taxa de câmbio deve ficar em R$ 5,00 ou abaixo desse nível nos próximos anos.

Já o estrategista-chefe da BTG Pactual Asset Management e ex-diretor do Banco Central, Tiago Berriel, afirmou que o dólar parece estar respondendo às incertezas fiscais e institucionais domésticas. “Espero que tenhamos tempo de usufruir no câmbio de termos de troca mais favoráveis”, afirmou Berriel. (Antonio Perez – [email protected])

17:38

Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima

Dólar Comercial (AE) 5.25730 0.6451 5.26380 5.19960

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0

DOLAR COMERCIAL 5259.000 0.47765 5277.500 5213.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5289.500 0.34313 5289.500 5289.500