O mercado brasileiro foi, mais uma vez, balançado pela insegurança em relação à política fiscal e pela quase certeza de que as bases atuais serão flexibilizadas para acomodar o aumento de programas sociais. Se o começo do dia já era ruim, refletindo declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, dizendo que o governo pediria uma "licença para gastar" além do que o teto de gastos permite, tudo piorou, contraditoriamente, quando surgiu a possibilidade de uma solução que mantenha todas as despesas dentro do teto. Isso porque, se furar o teto parecia ruim, as alas política e econômica do governo chegaram a uma proposta: alterar a regra do teto e aplicá-la retroativamente a 2016. Ou seja, o teto será aumentado de forma que abrigue ainda mais despesas do que se fosse furado. São R$ 40 bilhões apenas com essa medida. Aliada à limitação do pagamento de precatórios, que já era uma medida apresentada pela equipe econômica ao Congresso, o espaço total no Orçamento em 2022 ficará em R$ 83,6 bilhões. A cereja do bolo veio quando o presidente Jair Bolsonaro prometeu, sem explicar de onde sairiam os recursos, uma ajuda financeira aos caminhoneiros, que será anunciada nos próximos dias e que, segundo apurou o Broadcast, também deve ficar em cerca de R$ 400, assim como o Auxílio Brasil. Em um pregão de exterior vacilante, com alta dos yields dos Tresauries e do dólar, o resultado foi bastante negativo. A reação mais forte foi vista no mercado de juros, com as taxas intermediárias chegando a saltar 90 pontos no pior momento do dia. Mas a curva toda sofreu. Os vencimentos curtos, em meio a uma onda de revisões em alta para a Selic, tanto para a próxima reunião quanto para o fim do ciclo, precificam chances majoritárias de o aperto monetário ser de 1,5 ponto porcentual de uma vez só, já na semana que vem. A leitura é de que, sem a ajuda da política fiscal, recairá sobre a monetária a tarefa de conter os preços. Até porque, a desconfiança sobre o rumo das contas públicas afeta em cheio o humor do estrangeiro, o que levou o CDS de 5 anos do Brasil ao maior nível desde março e ajudou na valorização de 1,92% do dólar ante o real, a R$ 5,6676 - maior valor desde 14 de abril, após se aproximar de R$ 5,70 durante a tarde. Ao mesmo tempo, o investidor fugiu do risco da renda variável, o que chegou a colocar o Ibovespa de volta no nível de 105 mil pontos, num momento de queda de todos os papéis que compõem o índice. No fim, o tombo foi menor, de 2,75%, aos 107.735,01 pontos - menor patamar desde 23 de novembro de 2020. Ainda assim, contudo, muito distante do comportamento dos pares em Wall Street, onde o fechamento foi misto. As preocupações sobre a inflação e a desconfiança em relação aos emergentes, com temores de calote da chinesa Evergrande e corte de juros pelo BC da Turquia, foram parcialmente compensadas pela temporada de balanços dos EUA, a ponto de o S&P 500 renovar recorde de fechamento.
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