MERCADO APARA ‘EFEITO SELIC’ NOS DIS ENQUANTO DÓLAR VAI A MAIOR NÍVEL EM QUASE 1 MÊS

As apostas de cortes ainda mais pronunciados dos juros perderam um pouco de força na tarde desta quinta-feira, à medida que o investidor redobrou as atenções para os efeitos futuros do ciclo de flexibilização na inflação e também absorveu a subida forte das taxas longas dos Treasuries. Houve impacto até na precificação de setembro, que saiu do quadro de “meio a meio” visto mais cedo e migrou para 60% de chance de corte de 50 pontos-base – promessa expressa pelo comunicado – e 40% de redução de 75 pontos. A curva inclinou ainda mais, com subida forte nos juros de prazo mais longo. No câmbio, a questão do diferencial de juro seguiu pesando, com a moeda americana avançando a R$ 4,8987, valorização de 1,94%. Foi o maior nível de fechamento desde 6 de julho. O movimento de realização de lucros recentes também foi sentido em divisas de emergentes, sob a percepção de que os bancos centrais desses países podem seguir o exemplo de Brasil e Chile, e ousar em seus ciclos de redução de juros. Na Bolsa, o Ibovespa virou à tarde e terminou o dia perto da mínima, aos 120.585,77 pontos (-0,23%) no fechamento, sentindo o peso do setor financeiro, que observa também a temporada de balanços. Bradesco (ON -1,01% e PN -0,72%) divulga resultado após o fechamento. Lá fora, as bolsas americanas terminaram em leve queda nesta véspera de relatório de emprego (payroll), indicador-chave para as decisões do Federal Reserve. Dow Jones cedeu 0,19%, S&P 500 perdeu 0,25% e Nasdaq caiu 0,10%.

•JUROS

•CÂMBIO

•BOLSA

•MERCADOS INTERNACIONAIS

JUROS

A reação ao resultado do Copom ditou a dinâmica do mercado de juros ao longo do dia, embora na segunda etapa o ambiente externo negativo tenha tido certo protagonismo, além de uma preocupação maior do mercado com a inflação futura após os sinais do colegiado. De todo modo, não alterou o desenho da estrutura a termo em relação à manhã que, como se esperava, ganhou inclinação, com taxas curtas com expressivo recuo, em torno de 20 pontos-base, refletindo o ajuste ao corte da Selic de 50 pontos, o placar apertado de votação e a sinalização do comunicado para os próximos passos da política monetária. A ponta longa oscilou perto da estabilidade até meados da tarde, quando então passou a subir acompanhando a tensão da curva americana e piora na percepção de risco inflacionário. O leilão do Tesouro, mesmo com risco menor para o mercado, surpreendeu pelo lote robusto de NTN-F, de 2 milhões.

Numa sessão de volume explosivo, às 17h32, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 caía a 12,46%, de 12,636% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 cedia de 10,66% para 10,50%. O DI para janeiro de 2027 subia a 10,13%, de 10,08%, e a do DI para janeiro de 2029 projetava 10,60%, de 10,45%.

As taxas curtas recuaram refletindo tanto a correção das apostas de redução de 25 pontos-base precificadas ontem na curva como aumento da expectativa de aceleração do ritmo de queda nas próximas reuniões, dado que o Copom já indicou a intenção de repetir a dose de 50.

Nesta tarde, a curva precificava -60 pontos, ou 60% de chance de corte de 50 pontos e 40% de probabilidade para 75 pontos, para a reunião de setembro. Ontem, o DI precificava integralmente o corte de 50 pontos. Para o Copom de outubro, outros -60 pontos estão também precificados. Para o fim de 2023 e fim de 2024, o quadro não se alterou em relação ao ontem, com a curva projetando, respectivamente, 11,50% e entre 9,00% e 9,25%.

Pela manhã, as apostas para o Copom de setembro eram mais agressivas, com 50% de chance para 50 pontos e 50% para 75. À tarde, o mercado ficou mais conservador, em parte pela influência externa, com a curva dos Treasuries piorando, e ainda alguma releitura das indicações do Copom. “O mercado passou a se preocupar com a possibilidade de o BC estar flertando com níveis de inflação maiores no futuro, pois parece estar tomando mais risco”, disse um trader.

Relatório da área de Tesouraria do Banco Santander que circulou pelas mesas durante o dia indicava surpresa com o voto decisivo de Roberto Campos Neto, num momento em que ala técnica que defendeu corte de 25 pontos visando dar suporte à ancoragem das expectativas e estabilidade ao câmbio. “De agora em diante, o cenário mudou com o BC mais propenso a tomar riscos”, afirma o texto, destacando que a nova composição do colegiado para 2024 indica que o alvo da inflação será entre 4% e 4,5%. No fim de 2023, dois diretores considerados que votaram pelo corte de 25 pontos, Fernanda Guardado e Mauricio Moura, deixarão a instituição.

O estrategista de renda fixa da BGC Liquidez, Daniel Leal, viu a reação do mercado hoje como natural diante do desfecho do Copom, mas a abertura da ponta longa surpreendeu. “Começou a abrir quando saiu a portaria do leilão, e, além disso, lá fora hoje está muito feio”, afirmou, lembrando que a taxa da T-Note de dez anos chegou a 4,19% esta tarde.

A analista de renda fixa da XP Investimentos, Mayara Rodrigues, destaca que a ata do Copom, que sai na terça-feira (8), será importante para entender melhor os motivos que levaram o colegiado a decidir pelo corte de 50 pontos. “O mercado espera argumentos técnicos para eliminar as dúvidas sobre influências políticas e entender o raciocínio. E também se as portas ficarão abertas para uma aceleração do ritmo”, afirmou.

No leilão desta quinta-feira, o Tesouro reduziu o lote de LTN para 6 milhões, metade da oferta da semana passada, e vendido integralmente. A oferta de NTN-F caiu de 3 milhões para 2 milhões, mas ainda assim considerado robusto para os padrões do papel, com venda de 1,709 milhão. Vale lembrar que nesta e na próxima semana os dealers do Tesouro estão em período de hiato, o que normalmente reduz a demanda pelos papéis.

Na Necton Investimentos, o estrategista de renda fixa Fernando Ferez afirma que esta semana o Tesouro emitiu R$ 12,5 bilhões, valor bem abaixo do que tem sido a média nos últimos 5 meses (cerca de R$ 30 bilhões por semana). Ele afirma que o ritmo atual de emissão segue elevado, equivalente a rolar 105% da dívida. “Para manter essa rolagem seria necessário a emissão de R$ 28,5 bilhões por semana e com isso o colchão de liquidez terminaria o ano com R$ 1,243 trilhão com 10,3 meses de nível prudencial”, observa. (Denise Abarca – [email protected])

Volta

CÂMBIO

O dólar à vista encerrou a sessão desta quinta-feira, 3, em alta firme e tocou o nível de R$ 4,90 na máxima, sob impacto da decisão do Copom de cortar a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% ao ano, e de um movimento de realização de lucros com moedas latino-americanas em meio ao avanço das taxas dos Treasuries longos.

Após oscilar na faixa entre R$ 4,88 e R$ 4,89 ao longo da tarde, o dólar à vista acelerou na reta final e, com máxima a R$ 4,9002, terminou o dia em alta de 1,94%, cotado a R$ 4,8987 – maior valor de fechamento desde 6 de julho (R$ 4,9299). Nas três primeiras sessões de agosto, a moeda apresenta valorização de 3,58%, após ter encerrado julho com queda de 1,25%.

Operadores relataram uma onda forte de reposicionamento no mercado futuro, com recomposição de hedge cambial e zeragem de posições vendidas na moeda americana, em especial de fundos multimercados locais. Termômetro do apetite por negócios, o contrato de dólar futuro para setembro, com giro expressivo, acima de US$ 15 bilhões.

O escorregão do real se dá em meio a um movimento de realização de lucros de divisas de países latino-americanos com juros elevados que apresentam valorização expressiva em 2023. A moeda brasileira tem desempenho similar a do peso mexicano, com perdas pouco acima de 3% no mês. A maior queda mensal, na casa de 6%, é do peso colombiano, que ainda assim registra valorização de dois dígitos frente ao dólar no ano.

A economista-chefe da Amor Capital, Andrea Damico, afirma que o real hoje se deprecia em razão tanto da decisão do Copom quanto de um ambiente externo de aversão a risco. Ela afirma o colegiado do BC tenha optado pelo chamado “corte hawk”, com dissenso entre integrantes e tentativa de alinhar as expectativas com anúncio de redução subsequente de 0,50 ponto, parte do mercado passou a especular com aceleração do ritmo de cortes.

“Temos uma reação do dólar ao Copom. Mas há também um cenário externo de ‘risk off’ por causa do ‘downgrade’ do EUA, com alta das taxas dos Treasuries diante necessidade de Tesouro americano de emitir mais dívida”, afirma Damico.

De fato, o escorregão das divisas latino-americanas se dá em meio ao realinhamento das taxas longas americanas, após rebaixamento da rating dos EUA pela Fitch e a alta do retorno dos títulos Japão, país que serve com principal fonte de financiamento para operações com ativos de risco.

O economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, afirma que o real ainda sofre com o “rescaldo” do rebaixamento dos EUA, mas que a “agressividade” no corte de juros pelo Copom levou o mercado a projetar uma redução mais rápida da taxa Selic, o que reduz a competitividade do Brasil na atração de recursos externos.

“A derrubada dos juros em ritmo superior à expectativa de boa parte do mercado, enquanto os países desenvolvidos mantêm taxas e podem até voltar a apertar a política monetária, prejudica o real”, afirma Velloni.

O banco americano Wells Fargo vê risco de baixa para a moeda brasileira diante do fato de o Copom começar a ciclo de redução de juros com corte de 0,50 ponto porcentual. Em julho último, o banco havia divulgado projeção de R$ 4,80 para o câmbio no Brasil. Após a decisão do Copom, a instituição vê risco de uma depreciação maior para a divisa brasileira à frente.

O Wells Fargo também vislumbra perspectiva de baixa para o peso chileno. Na semana passada, o Banco Central do Chile reduziu a sua taxa básica em 100 pontos-base para 10,25% ao ano, surpreendendo analistas, que esperavam corte menor, de 75 pontos-base.

“Dada a orientação futura dos bancos centrais e nossas projeções revisadas para as taxas de juros, claros riscos negativos para nossas projeções do real e do peso chileno se materializaram”, diz o economista do Wells Fargo Brendan McKenna.

A economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, vê o real pressionado no curto prazo pela redução mais forte da taxa Selic e pelo ambiente externo de baixo apetite ao risco, mas descarta a possibilidade de uma escalada mais forte do dólar no mercado doméstico.

“O corte de juros é positivo para a economia e isso acaba trazendo fluxo para cá, o que se reflete de forma positiva no comportamento do câmbio. Além disso, apesar da queda da Selic, vamos continuar a ter taxa de juros de dois dígitos, que ainda é muito atrativa”, afirma Quartaroli. (Antonio Perez – [email protected], com Aline Bronzati)

17:39

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.89870 1.9394 4.90020 4.84230

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4934.000 1.99483 4934.000 4868.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4853.000 02/08    

BOLSA

Vindo de duas leves perdas na abertura do mês, o Ibovespa ensaiou, até perto do fim da tarde, um dia de recuperação moderada após o Copom ter surpreendido, na noite de ontem, parte do mercado ao iniciar o ciclo de cortes da Selic com um ajuste de meio ponto porcentual, e não de 0,25 ponto. A correção mais visível nos ativos brasileiros nesta quinta-feira ocorreu na ponta curta da curva de juros, com a decisão de Minerva do presidente do BC, Roberto Campos Neto, em favor dos diretores que optaram por um corte inicial mais agressivo da taxa de juros de referência – e sinalizando outro corte de meio ponto logo à frente, no próximo Copom.

Em direção ao fechamento, contudo, o Ibovespa devolveu os leves ganhos vistos mais cedo e se firmou no negativo até o fim da sessão, em baixa de 0,23%, aos 120.585,77 pontos, com mínima intradia a 120.365,38 pontos, estabelecida no fim da tarde. Na abertura, marcava hoje 120.859,46 pontos e, no melhor momento, chegou aos 122.619,14 pontos. O giro financeiro subiu a R$ 27,2 bilhões nesta quinta-feira. Na semana, o Ibovespa ainda avança 0,33%, mas em agosto, com perdas acumuladas nas três primeiras sessões do mês, recua 1,11%, moderando o ganho do ano a 9,89%.

Na B3, as ações de grandes bancos, que mais cedo operavam sem sinal único, firmaram-se no campo negativo perto do fim do dia, em variações mais visíveis do que as observadas até o meio da tarde. E mesmo com a redução da Selic, as ações expostas a demanda e preços formados no exterior, como as de commodities, andaram à frente dos papéis com exposição ao ciclo doméstico, como os de consumo – por sinal, o ICON fechou o dia em baixa de 1,05%, enquanto o índice de materiais básicos (IMAT) subiu 1,01%.

Apesar da alta superior a 2% para os preços do petróleo na sessão, Petrobras (ON +1,42%, PN +1,28%) e Vale (ON +0,63%) apararam ganhos do meio para o fim da etapa vespertina, incapazes de carregar o índice da B3 em tarde bem negativa para as ações do setor financeiro, as de maior peso conjunto sobre o Ibovespa. Na ponta da carteira, Dexco (+5,27%), Prio (+4,22%), Suzano (+3,65%), Minerva (+2,93%) e Cyrela (+2,78%). No lado oposto, Via (-8,65%), Méliuz (-6,24%), Alpargatas (-5,26%), Eletrobras (ON -5,15%, PNB -4,89%) e Magazine Luiza (-5,11%).

Para os bancos, o dia chegou a se mostrar tão dividido quanto a decisão do Copom, mas o sinal que predominou no fechamento foi o negativo, com perdas que chegaram a 1,01% (Bradesco ON) – exceção, entre as maiores instituições, para Banco do Brasil (ON +0,17%). “As ações de bancos não foram bem na sessão com a ambivalência na curva de juros – os juros mais curtos caindo e os mais longos subindo”, depois do Copom da noite anterior, diz Matheus Spiess, analista da Empiricus Research.

“Parte do mercado esperava corte de meio ponto, passando de 13,75% para 13,25% ao ano já nesta reunião, mas esperávamos aqui uma queda menor, de 0,25 ponto, embora a gente reconhecesse a possibilidade, não irrelevante, de um ajuste maior. O ‘placar’ chamou atenção: 5 a 4 pelo corte de meio ponto, com Campos Neto defendendo a queda maior“, diz Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.

Ao se avaliar a mudança neste Copom em relação ao balanço de riscos, com ênfase maior em fatores externos do que domésticos, o colegiado pareceu ter imprimido tom “dovish”, flexível, ao comunicado da noite de quarta-feira, aponta Rachel. “Mas houve também alguns recados ‘hawkish’: não é porque começaram com corte relevante que se deve concluir que haverá aceleração de ritmo na redução da Selic. Houve tentativa de dar também um recado mais firme em relação à inflação”, acrescenta.

Após a relativa surpresa com a pequena margem na decisão de ontem, em que Campos Neto deixou a companhia da ala da diretoria vista como mais ortodoxa (Fernanda Guardado e Diogo Guillen) em direção aos recém-chegados Gabriel Galípolo e Ailton Aquino, considerados mais alinhados ao governo, o ritmo de redução de juros é questão em aberto, que deve continuar a dividir as apostas do mercado.

“Antecipamos nova redução de 50 pontos-base nas próximas duas reuniões, com o Copom acelerando o ritmo de cortes para 75 pontos-base em dezembro, e a Selic encerrando 2023 em 11,5%, e 2024 em 9,0%”, diz em nota Marcelo Fonseca, economista-chefe da Reag Investimentos. Ele considera que a decisão da noite de ontem foi “compatível com a magnitude total do afrouxamento na política monetária que deveremos ter nos próximos meses.”

De qualquer forma, com o corte mais agressivo promovido pelo Copom, as ações brasileiras chegaram a se descolar, em boa parte da sessão, da cautela externa que ainda prevaleceu nesta quinta-feira. “Ciclos de afrouxamento monetário costumam ser muito proveitosos para ativos de risco”, diz Matheus Spiess, da Empiricus Research.

No exterior, embora em grau bem menor do que o de ontem, quando os mercados reagiram mal ao rebaixamento da nota de crédito dos EUA pela Fitch, o sinal ainda foi majoritariamente negativo nesta quinta-feira para as principais bolsas. Na Europa, fecharam o dia em queda, em pregão marcado pelos dados fracos de atividade do setor de serviços e com cautela após o Banco da Inglaterra elevar o juro básico do Reino Unido em 25 pontos-base, para 5,25% ao ano.

Em Nova York, o dia foi de leves variações, sem sinal único ao longo do dia para as três referências, mas levemente negativo ao final (Dow Jones -0,19%, S&P 500 -0,25%, Nasdaq -0,10%). O CEO da Berkshire Hathaway, Warren Buffett, afirmou hoje não estar preocupado com o rebaixamento do rating dos Estados Unidos pela Fitch, dizendo que sua empresa continua a comprar US$ 10 bilhões em títulos do Tesouro americano a cada semana.

Por sua vez, o Instituto de Finanças Internacionais (IIF) avalia que o choque de inflação nos Estados Unidos já acabou, o que abre espaço para que o Federal Reserve (Fed) corte juros em ritmo mais rápido do que o precificado pelo mercado. “No mínimo, achamos que é hora de o Fed encerrar seu ciclo de alta”, afirma, em relatório. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:32

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 120585.77 -0.22584

Máxima 122619.14 +1.46

Mínima 120365.38 -0.41

Volume (R$ Bilhões) 2.71B

Volume (US$ Bilhões) 5.57B

17:39

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 120760 -0.32191

Máxima 123160 +1.66

Mínima 120730 -0.35

MERCADOS INTERNACIONAIS

Os mercados acionários de Nova York reduziram perdas ao longo da tarde, mas ainda fecharam em queda, recebendo pressão dos juros longos dos Treasuries. O dia, entretanto, foi positivo para commodities, com petróleo avançando mais de 2%, de olho em possíveis cortes pela Organização de Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) e também favorecido pelo dólar mais fraco ao longo do dia, mas ficando sem sinal único, com a libra favorecida pelas expectativas de mais altas pelo Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) após elevação de 25 pontos-base (pb) pela manhã. Já nos Estados Unidos, dirigentes do Federal Reserve (Fed) e analistas de mercado consideraram uma possível tendência de desaceleração da inflação no país, na véspera da publicação do payroll.

As bolsas de Nova York ainda digeriam o rebaixamento do rating dos Estados Unidos pela Fitch. O índice Nasdaq caiu menos que seus pares, fechando em baixa de 0,10%, apesar da força da Tesla (+2,05%). Hoje, o índice Dow Jones caiu 0,19%, o S&P cedeu 0,26%. Nas bolsas europeias, Londres fechou em queda de 0,43% e Paris cedeu 0,72%.

Parte da fraqueza dos mercados também ocorria devido à força dos retornos dos Treasuries na ponta longa, seguindo o corte no rating dos EUA, na visão do Navellier, que destaca que o mercado está “assustado” com notícias de que o Tesouro americano está ampliando sua emissão de dívida. “Em outras palavras, o Tesouro pode ter abocanhado mais do que pode mastigar, mas isso será determinado pela oferta para cobrir os índices nos leilões”. No fim da tarde, o juro da T-note de 2 anos caía a 4,887, o da T-note de 10 anos subia a 4,179% e o do T-bond de 30 anos avançava a 4,300%.

No mercado de commodities, o petróleo subiu na expectativa de mais cortes na produção da Arábia Saudita e da Rússia. “Os sauditas estão fazendo o que for preciso para defender os preços do petróleo e isso pode significar que poderemos ver o petróleo a US$ 90 em breve. A única coisa que atrapalha é o enfraquecimento das perspectivas globais, com várias economias começando a sentir o impacto do aperto monetário”, avalia Edward Moya, da Oanda. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para setembro fechou em alta de 2,59% (US$ 2,06), a US$ 81,55 o barril, enquanto o Brent para outubro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), registrou ganho de 2,33% (US$ 1,94), a US$ 85,14 o barril.

As commodities também ganharam fôlego de um dólar enfraquecido, com destaque para a força da libra diante das perspectivas de que o BoE poderá seguir elevando suas taxas. A moeda britânica chegou a cair ante a divisa americana com as declarações do presidente do BoE, Andrew Bailey, durante coletiva de imprensa sendo consideradas “dovish”, segundo avalia a Oanda. Entretanto, a libra logo reverteu as perdas depois que o presidente da autoridade monetária “expressou preocupação com a inflação de serviços”. Na visão do TD Securities, o BC britânico poderá aumentar os juros mais duas vezes neste ano, enquanto a alta de setembro já parece “provável” pelo ING.

Entretanto, o vice-presidente do BoE para mercados e bancos, Dave Ramsden, destacou que a autoridade monetária não decidiu nada para setembro, apesar de pesquisa da instituição mostrar que empresas já estão projetando inflação menor no Reino Unido, apesar de ainda acima da meta.

Já falando sobre o Banco Central Europeu (BCE), o dirigente Fabio Panetta destacou que a política monetária pode operar pelo aumento de taxas, mas também na manutenção dos juros. No fim da tarde em Nova York, o dólar caía a 142,66 ienes, o euro ficou estável, em US$ 1,0944 e a libra recuava a US$ 1,2703. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou queda de 0,05%, a 102,542 pontos.

Nos Estados Unidos, os olhares começaram a se voltar para o relatório de empregos (payroll), que será publicado amanhã. Segundo a mediana de analistas consultados pelo Projeções Broadcast, a economia dos Estados Unidos gerou 205 mil empregos em julho. A previsão era de desaceleração do salário médio por hora na comparação anual, o que também deve diminuir pressão na trajetória da inflação.

O índice inflacionário do país foi mencionado hoje pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF), que avalia que o choque de inflação do país já terminou, o que daria espaço aos cortes de juros em ritmo mais rápido pelo Federal Reserve (Fed). Presidente do Fed de Richmond, Tom Barkin também destacou que espera que os dados sobre pressões de preços já publicados sejam “um sinal” para uma tendência futura.

Já na China, a incorporadora Country Garden teve suas ações prejudicadas após a Moody’s rebaixar seu rating de Ba3 para B1, com perspectiva negativa, com perspectivas de enfraquecimento em suas as métricas de crédito e o colchão de liquidez. Também fechando em queda em Hong Kong, as ações da Evergrande voltaram a ser negociadas, caindo 47,39% (Natália Coelho – [email protected])