IPCA-15 PRESSIONA DI E FAZ BOLSA TROPEÇAR, NA CONTRAMÃO DE NY

Em um dia de agenda cheia tanto interna quanto externamente, a dinâmica local acabou se sobressaindo na maioria dos mercados. A surpresa no IPCA-15 pressionou os juros de prazo médio ao longo de todo o dia, mesmo com uma leitura positiva dos preços de abertura. De certa forma, os agentes colocam nos preços a resistência com a aceleração do ritmo de queda da Selic, e não com a trajetória de baixa em si. O DI para janeiro de 2025 voltou a superar os 10,5%, marca que havia abandonado anteontem. Essa visão acabou penalizando o Ibovespa, que se descolou dos pares americanos. Ainda que com ganho tímido semanal (+0,37%), o índice desceu hoje aos 115.837,20 pontos (-1,02%). Lá fora, o dia foi de modular os discursos em Jackson Hole dos dois principais dirigentes de política monetária global: os presidentes do Federal Reserve, Jerome Powell, pela manhã, e do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, à tarde. Ambos soaram hawkish e indicaram que a política monetária pode ficar restritiva por um período mais longo para debelar as pressões inflacionárias. Mas foi dentro do que os agentes já esperavam, em grande medida. Passados os solavancos iniciais, outras dinâmicas se impuseram. Ações de tecnologia e energia – essas impulsionadas pela subida das commodities na esteira de estímulos na China – ajudaram os índices de Nova York a subir. Dow Jones ganhou 0,73% e Nasdaq avançou 0,94%. O juro da T-note de 2 anos subiu a 5,067%, mas o de 10 anos caiu a 4,23%. O índice DXY fechou em alta de 0,09%, aos 104,077 pontos. Aqui, o dólar à vista recuou aos R$ 4,8756 (-0,09%), mas teve baixa importante na semana (-1,86%).

•JUROS

•BOLSA

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•CÂMBIO

JUROS

O IPCA-15 no teto das estimativas e os sinais vindos de Jackson Hole continuaram pressionando para cima os juros futuros durante a tarde, mas com altas já acomodadas na falta de novos gatilhos. O trecho mais afetado pelo índice de inflação foi o miolo da curva, que capta a percepção do mercado para o ciclo de queda da Selic, em função da redução das apostas na aceleração do ritmo de queda da taxas básica nas próximas reuniões, mesmo com leitura positiva dos preços de abertura. Numa semana que teve a aprovação do arcabouço fiscal na Câmara e terminou com a surpresa para cima da inflação cheia, a curva teve perda de inclinação, com as taxas curtas terminando próximas dos níveis da última sexta-feira, enquanto as longas recuaram.

Às 17h20, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 estava em 12,410%, de 12,381% ontem, e o DI para janeiro de 2025 subia de 10,38% para 10,52%. A taxa do DI para janeiro de 2027 avançava de 10,12% para 10,23% e a do DI para janeiro de 2029, de 10,66% para 10,73%. Na semana, os DI para janeiro de 2024 oscilava 2 pontos para baixo e o DI janeiro de 2025 apenas 1 ponto. Já os DIs para janeiro de 2027 e janeiro de 2029 caíam 11 e 12 pontos, respectivamente. No mercado secundário das Notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B), as taxas subiam ante os níveis de ontem.

O movimento que mais chamou a atenção foi o do DI janeiro de 2025, que subia quase 15 pontos-base no fim da tarde, com liquidez bem acima dos demais. É o contrato que abarca as várias reuniões do Copom daqui até o fim de 2024. Para o encontro de setembro, as apostas de que Copom poderia ampliar a dose de corte para 0,75 ponto porcentual já vinham murchando nas últimas semanas, especialmente após a Petrobras reajustar para cima os preços de combustíveis e na medida em que as expectativas de inflação pararam de melhorar. E hoje cederam ainda mais, com probabilidade em torno de 10%, ante 25% ontem no fim do dia. Na contramão, as chances de redução de 0,5 ponto subiam para perto de 90%, de 75% ontem.

O IPCA-15 de agosto, de 0,28%, veio no teto das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast e superou em 12 pontos-base a mediana de 0,16%, saindo de uma queda de 0,07% em julho. Embora a média dos núcleos tenha acelerado acima do previsto, os preços de abertura, no geral, agradaram, especialmente porque serviços e serviços subjacentes, aos quais o Banco Central tem dado especial atenção, perderam fôlego.

“Apesar do headline ter surpreendido negativamente, a composição segue bem saudável. Mas, em se tratando de Copom, esse cenário não contribui para acelerar o ritmo de corte, como já trazido na última ata”, afirma o economista do Pic Pay Igor Cadilhac.

O estrategista de renda fixa e sócio da Garin Investimentos, Felipe Beckel, afirma que o miolo da curva estava sem prêmio, com alguns contratos, como o janeiro de 2026, cuja taxa vinha operando abaixo de dois dígitos, bastante descontados. “A precificação de Selic na virada de 2025 indicava um céu de brigadeiro no País”, comentou. Para ele, dada a composição, o IPCA-15 de hoje em si não preocupa, mas o cenário de inflação deve passar por volatilidade, afirma, lembrando que ainda está para entrar no índice o efeito dos reajustes da Petrobras e o acompanhamento semanal da Agência Nacional de Petróleo (ANP) mostra alta relevante nas bombas.

Segundo Beckel, o IPCA-15 também repercutiu no mercado de NTN-B, com abertura das taxas de curto prazo, de até 10 pontos até o papel de 2 anos nesta tarde. “É o pessoal desmontando pré e indo para juro real”, explicou.

No exterior, o dia foi pesado, com discursos convergentes de dirigentes do Federal Reserve e do Banco Central Europeu (BCE) na linha da necessidade de combate à inflação. O mais esperado do dia era o de Jerome Powell, que disse que o banco central americano “está preparado” para aumentar mais os juros, se necessário. Ele reconheceu os progressos em direção à estabilidade de preços, mas alertou que a inflação permanece “muito alta”.

“Na mensagem, ele deixou claro que a inflação recuou do pico, mas segue muito alta e o cenário é ‘data dependent’. O Fed manterá a política restritiva até que de estejam confiante de que inflação está caindo forma sustentável. No fundo, está tentando orquestrar pouso suave da economia”, disse Cadilhac. (Denise Abarca – [email protected])

BOLSA

Mesmo em baixa nas duas últimas sessões da semana, o Ibovespa conseguiu acumular leve ganho no período, o primeiro desde o trecho entre 17 e 21 de julho, quando havia avançado 2,13%. De lá para cá, foram quatro perdas semanais, sequência interrompida hoje por ganho de 0,37% desde a última segunda-feira.

Os ajustes negativos de quinta e sexta foram menores do que a alta que os precedeu, na terça (+1,51%) e quarta-feira (+1,70%), após um início de semana ainda em baixa, de 0,85%. Nesta sexta-feira, a referência da B3 caiu 1,02%, a 115.837,20, sem conseguir acompanhar a melhora ao longo da tarde em Nova York, onde os três principais índices de ações se firmaram em alta e subiram entre 0,67% (S&P 500) e 0,94% (Nasdaq) na sessão.

Hoje, as principais ações do Ibovespa voltaram a operar em bloco no negativo, com destaque ainda para o setor financeiro, onde as perdas entre os grandes bancos chegaram a 1,58% (Itaú PN) no fechamento do dia, também ruim para Petrobras (ON -0,79%, PN -0,68%), apesar do avanço acima de 1% para o Brent nesta sexta-feira. Vale ON chegou a ensaiar leve alta, mas fechou o dia em baixa de 0,21%, avançando 1,39% na semana, mas ainda cedendo 7,96% no mês, em meio a preocupações quanto ao ritmo de atividade econômica na China. No ano, Vale ON cai 26,81%.

Em agosto, mês em que esteve bem mais conectado ao cenário externo do que ao doméstico, o Ibovespa cede até aqui 5,01%. Do dia 18, sexta-feira passada, para cá, o índice tem mostrado estabilização, após a série histórica de 13 perdas diárias, entre 1º e 17 de agosto, a mais longa desde o começo de 1968. Apesar de extenso, o grau da correção foi discreto, com o Ibovespa tendo recuado 5,71% no mês até o dia 17. Desde o dia seguinte, 18, em seis sessões, mostrou três altas e três baixas, com a de hoje – mas com ajustes que vinham se mantendo inferiores a 1%, por sessão.

Assim, o índice se lateraliza, tendo suportado o teste dos 114 mil pontos – na mínima do intervalo, no dia 21, foi a 114.066,51 pontos no intradia, menor nível desde 6 de junho, então a 112.695,60 pontos durante aquela sessão. Nesse contexto, o giro financeiro voltou a se enfraquecer, a R$ 18,7 bilhões nesta sexta-feira, em que o índice da B3 oscilou dos 115.396,62 aos 117.252,11, saindo de abertura aos 117.025,02 pontos. No ano, o Ibovespa sobe 5,56%.

Na ponta do índice nesta última sessão da semana estiveram São Martinho (+4,02%), SLC Agrícola (+1,89%) e Raízen (+1,61%), com Pão de Açúcar (-7,23%), CVC (-6,58%) e MRV (-5,58%) no lado oposto.

Na agenda doméstica desta sexta-feira, os investidores tomaram nota da prévia da inflação oficial de agosto, o IPCA-15, em leitura acima do esperado, e, em menor medida, do IDP, os investimentos diretos no País, que vieram em julho no menor nível para o mês desde 2018, a US$ 4,244 bilhões, apesar da melhora, na margem, em relação a junho. A fraca leitura em comparação a julho de 2022 (US$ 7,2 bilhões) vem no momento em que se monitora de perto os efeitos, sobre a conjuntura doméstica, de um cenário externo ainda desafiador, com juros elevados nos Estados Unidos e na zona do euro e grande incerteza quanto à performance da China.

“O mercado já abriu hoje em ‘risk off’ [mostrando aversão a risco], com os dados do IPCA-15, acima do esperado para o mês. Os DIs em alta já na abertura descartam agora em parte a possibilidade de 0,75 ponto porcentual de corte na Selic em dezembro, que vinha sendo especulada mesmo com o Copom tendo sinalizado, como cenário-base, três cortes de meio ponto até o fim do ano”, diz Rafael Schmidt, sócio da One Investimentos.

Na agenda externa, a atenção esteve voltada, também desde a manhã, ao aguardado discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no simpósio anual de Jackson Hole, nos Estados Unidos. “O discurso do Powell, a meu ver, foi um pouco mais ‘hawkish’, no sentido de combate à inflação, do que os outros, mas a primeira percepção do mercado não foi essa. A princípio, a reação foi muito boa, mas depois os juros voltaram um pouco. Ele bateu muito na tecla de que o PIB está acima do potencial, e que as evidências de algum relaxamento no mercado de trabalho ainda não são o suficiente para fazer com que a inflação convirja para a meta [de 2% ao ano nos EUA]”, diz Helena Veronese, economista-chefe da B. Side Investimentos.

Para Marcos De Marchi, economista-chefe da Oriz Partners, o discurso de Powell foi “bem equilibrado e teve um tom muito parecido com declarações recentes”. O economista destaca “o fato de ter sido dito que os juros reais da economia, de acordo com várias estimativas, estão bem acima do nível considerado neutro”. “É um sinal de que mais altas de juros, a partir daqui, terão que acontecer em cima de dados econômicos mais fortes, especialmente aqueles relacionados ao mercado de trabalho, que seguem mostrando aumentos reais de salários e demanda robusta por mão de obra”, acrescenta De Marchi.

Segundo ele, o discurso mostrou que ainda há “muita incerteza, nesse momento, na condução da política monetária”. “Nesse sentido, as declarações sugerem que a manutenção dos juros em patamar elevado por um período prolongado é preferível a subir ainda mais a taxa básica [nos EUA]”, observa o economista da Oriz.

Após a fala de Powell, no fim do dia veio o pronunciamento de outra autoridade monetária muito relevante, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, que apontou que “apesar dos progressos, a luta contra a inflação ainda não está vencida”, defendendo que os juros sejam mantidos em níveis restritivos pelo tempo necessário para que a inflação convirja para a meta.

O Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira não trouxe alterações ante a pesquisa da semana passada, com o mercado demonstrando otimismo sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo. Entre os participantes, a previsão de alta para o Ibovespa na próxima semana manteve a fatia de 62,50%, enquanto a expectativa de estabilidade repetiu o porcentual de 37,50% da semana passada. Nenhuma das respostas indica queda. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:32

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 115837.20 -1.0155

Máxima 117252.11 +0.19

Mínima 115396.62 -1.39

Volume (R$ Bilhões) 1.87B

Volume (US$ Bilhões) 3.83B

17:34

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 117505 -1.33921

Máxima 119205 +0.09

Mínima 117255 -1.55

MERCADOS INTERNACIONAIS

Falas de diversos dirigentes do Federal Reserve (Fed) destacando a força da inflação e a resiliência da economia americana, seguindo comentários do presidente do BC, Jerome Powell, sobre juros altos por mais tempo no contexto do Simpósio de Jackson Hole, demonstraram um certo alinhamento entre os integrantes do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês). O cenário até colocou pressão nas bolsas de Nova York, provocando volatilidade, mas os mercados acionários americanos terminaram o dia no positivo, com particular melhora em ações de empresas intensivas em tecnologia. Empresas de energia receberam ajuda da força do petróleo. Já os retornos dos Treasuries perderam fôlego ao longo da sessão, enquanto o dólar operava praticamente estável ante euro e libra, com as moedas europeias influenciadas por comentários sobre inflação alta pela presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde.

Tanto Powell quanto Patrick Harker (Fed de Filadélfia) destacaram que novas elevações de juros não estão fora de cena, enquanto Austan Goolsbee (Fed de Chicago), menos rígido, afirmou que as taxas podem ficar no nível atual caso as condições econômicas atuais se mantenham. A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, por sua vez, destacou que ainda há trabalho a fazer para controlar a inflação.

Apesar da rigidez dos comentários, o Goldman Sachs destaca que a linguagem utilizada por Powell sugere que o Fed não elevará mais as taxas neste ciclo de aperto. O PNC também avalia que Powell não pareceu se comprometer com mais aperto monetário, mas “deixou claro que o FOMC estará mais do que disposto a aumentar [a taxa dos] Fed Funds ainda este ano se a inflação não parecer abrandar ou se o mercado de trabalho permanecer demasiado aquecido”.

Embora com apostas ainda bastante divididas, a ferramenta FedWatch do CME Group que passou a apontar chance majoritária (49,9%%) de que os juros aumentem 25 pontos-base em relação ao nível atual até novembro. Já para o início do relaxamento monetário, a expectativa majoritária passou de maio para junho, com 33,7% de chance de uma redução de 0,25 ponto porcentual, também em relação ao nível atual.

Em Nova York, o Nasdaq subiu 0,94%, seguido pelo Dow Jones (+0,73%) e o S&P 500 (+0,67%). A força vinha junto com o avanço de empresas como Tesla (+3,72%) e Apple (+1,26%). Já a Boeing avançou 2,81%%, após relatos de que a empresa poderá voltar a entregar aviões 737 MAX na China, após quatro anos de suspensão. Chevron teve alta de 0,75% e ExxonMobill avançou 1,79%, com o setor de energia (+1,07%) em segundo entre as altas dos 11 subíndices do S&P 500.

Sobre o petróleo, a Oanda avalia que “os cortes na oferta por parte da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e Aliados (Opep+) continuam a apoiar o mercado, mas a incerteza quanto às perspectivas econômicas globais – recuperação lenta na China, possível recessão nos EUA e na Europa – seguem pesando um pouco”.

Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para outubro fechou em alta de 0,98% (US$ 0,78), a US$ 79,83 o barril. O petróleo Brent para novembro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou com ganhos de 1,24% (US$ 1,03), a US$ 83,95 o barril. Na semana, entretanto, ambos os contratos acumularam queda.

Os juros dos Treasuries chegaram ao fim da tarde operando mistos, com mais força nos retornos da ponta curta. O que moverá os retornos agora, segundo a Oxford Economics, será a série de dados da semana que vem, incluindo Jolts e payroll, além de uma série de leilões. No fim da tarde em Nova York, o retorno da T-note de 2 anos subia a 5,067%, o da T-note de 10 anos caía a 4,230% e o do T-bond de 30 anos baixava a 4,283%.

O mesmo ocorreu com o dólar, que desacelerou ao longo da tarde após ganhar força com Powell. A libra e o euro ainda contaram com apoio de comentários de Lagarde, que destacou preocupações sobre desequilíbrio entre oferta e demanda e a necessidade de manter as expectativas da inflação ancoradas. Por volta das 17h (de Brasília), o dólar subia a 146,36 ienes, a libra cedia a US$ 1,2589 e o euro recuava a US$ 1,0807,. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de seis rivais fortes, fechou em alta de 0,09%, a 104,077 pontos, e avanço de 0,68% na variação semanal.

O dirigente do BCE Martins Kazaks afirmou que ainda está inclinado à opção de subir mais os juros na zona do euro, enquanto Margarita Delgado apontou que a inflação na zona do euro “continua reduzindo, mas deve permanecer elevada por muito tempo”. Já Boris Vujcic afirmou que o BCE ainda precisa avaliar novos dados para poder decidir o pico das taxas do BCE. Presidente do BC da Alemanha, Joachim Nagel, por sua vez, afirmou que ainda é cedo para pensar em relaxamento monetário.

Na Argentina, o Banco Central voltou a comprar dólares e, segundo o jornal Ámbito Financiero, acumulou na semana um saldo positivo de US$ 226 milhões. Hoje, o dólar blue subiu 0,69%, a 730 pesos argentinos, segundo o mesmo veículo, enquanto investidores ainda aguardavam a divulgação de medidas para a economia, prometidas pelo ministro Sergio Massa.(Natália Coelho – [email protected])

CÂMBIO

Após ter tocado R$ 4,90 no fim da manhã, sob impacto inicial do discurso do presidente do Federal Reserve (Fed, o BC americano), Jerome Powell, no Simpósio de Jackson Hole, o dólar à vista perdeu força ao longo da tarde e encerrou a sessão desta sexta-feira, 25, em queda de 0,09%, cotado a R$ 4,8756. Na semana, a moeda apresenta desvalorização de 1,86% – o que reduziu os ganhos acumulados em agosto a 3,09%.

A movimentação do real ao longo do dia pode ser atribuída, em grande parte, ao ambiente externo. O dólar abriu em queda e desceu até a mínima de R$ 4,8581 na primeira hora de negócios, em meio ao avanço do minério de ferro e de commodities agrícolas, na esteira de anúncio de medidas do governo chinês de apoio ao setor imobiliário. Por aqui, a alta de 0,28% do IPCA-15 em agosto, no teto do intervalo de Projeções Broadcast, tirou força das apostas em corte mais agressivo da taxa Selic e deu suporte ao real. A maré virou com a aceleração dos ganhos da moeda americana no exterior e do avanço das taxas dos Treasuries após Powell sinalizar necessidade de política monetária restritiva por mais tempo.

Ao longo da tarde, contudo, os dois vetores que abalavam o real – taxas dos Treasuries e apreciação do dólar no exterior – perderam força, com investidores digerindo discursos de outros dirigentes do Fed e ponderando a própria fala de Powell. Após tocar máxima aos 104,447 pontos, índice DXY – que mede o desempenho da moeda americana frente a seis divisas fortes – desacelerou bastante, operava no fim da tarde ao redor 104,100 pontos. Houve certa recuperação do euro e da libra com discurso duro contra a inflação da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde.

Além disso, retornos dos Treasuries longos perderam fôlego na segunda etapa dos negócios, com o retorno do papel de 10 anos em baixa. Divisas emergentes pares do real, como peso mexicano e chileno, também ganharam força. Destaque para o rand sul-africano, com ganhos de cerca de 0,70% ante o dólar. As cotações futuras do petróleo subiram, com o contrato do Brent para fechando em alta de 1,24%, a US$ 83,95 o barril.

Após experimentarem perdas fortes na primeira quinzena de agosto, em um claro movimento de realização de lucros estimulado pela mudança de nível das taxas dos Treasuries, as moedas latinas esboçaram uma recuperação técnica nos últimos dias. Esse movimento se dá em meio a altas consecutivas do preço do minério de ferro e à expectativa de medidas mais assertivas do governo chinês evitar alastramento dos problemas no setor imobiliário.

“O discurso de Powell não surpreendeu o mercado. A bolsa americana até que está esperando bem. O ambiente para ativos de risco não piorou hoje e as moedas emergentes estão com bom desempenho”, afirma o diretor de investimentos da Alphatree Capital, Rodrigo Jolig, que vê o real ainda forte nos próximos três ou seis meses. “Já o IPCA surpreendeu um pouco para cima, o que foi ruim para a bolsa e provocou alta dos juros futuros”.

Powell reiterou em seu discurso que os próximos passos do Fed serão dados com cautela e de acordo com indicadores econômicos. Ele ponderou, contudo, que “evidências adicionais” de força da economia podem levar o BC a subir mais os juros. A inflação está em níveis ainda elevados, apesar de leituras recentes mostrarem arrefecimento. A política monetária será mantida em níveis restritivos até que a inflação caia de forma sustentada em direção à meta de 2%.

Para o economista-chefe da Kínitro Capital, Sávio Barbosa, o discurso do presidente do Fed praticamente em linha com as expectativas do mercado. Powell, segundo Barbosa, condicionou as perspectivas para condução da política monetária a três fatores: manutenção da dinâmica da inflação, ritmo do crescimento econômico e continuidade do processo de moderação do mercado de trabalho.

“O presidente do Fed sinalizou que a porta para novos aumentos de juros está aberta, evidenciando quais são seus principais pontos de atenção, mas que os próximos passos da política monetária precisam ser dados com cuidado e que serão dependentes dos dados”, afirma Barbosa, que acredita em manutenção dos Fed Funds. “Também sinalizou que o processo de desinflação deve demandar tempo e que a taxa de juros ficará em nível restritivo até a inflação modere. Ou seja, sinalizou juros altos por mais tempo.” (Antonio Perez – [email protected])

17:34

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.87560 -0.0943 4.90090 4.85810

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4884.000 -0.10227 4907.000 4863.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4916.500 0.13238 4926.000 4900.500