FISCAL PESA EM BOLSA E REAL, MAS DI SEGUE QUEDA DE TREASURIES ANTE TEMOR DE RECESSÃO

O risco fiscal voltou a dar as cartas nesta quinta-feira, com os mercados de ações e de câmbio refletindo o temor que as medidas para combustíveis e aumento de transferência de renda comprometam as contas públicas brasileiras. Se desde cedo já havia incômodo com o noticiário de Brasília, no princípio da tarde o clima azedou de vez quando o líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), reconheceu que há discussões para mudanças na PEC dos Combustíveis. A ideia é usar para benefícios sociais os quase R$ 30 bilhões extrateto que seriam destinados à compensação a Estados que reduzissem ICMS sobre diesel e gás de cozinha. Três seriam os focos: o aumento da parcela do Auxílio Brasil de R$ 400 a R$ 600 até o fim do ano; a elevação do vale-gás; e a criação do ‘bolsa caminhoneiro’ de R$ 1 mil. Por mais que o parlamentar tenha descartado a necessidade de um decreto de calamidade, o vaivém em torno do plano e a chance de mais pressão política desagradou os agentes. Assim, o Ibovespa cedeu forte, tendo inclusive perdido, na mínima, a marca dos 98 mil pontos. Ao final, a pontuação foi de 98.080,34, desvalorização de 1,45% e menor pontuação desde 4 de novembro de 2020. Destaque para a queda da Petrobras (ON cedeu 2,12% e PN, 1,85%), em meio ao imbróglio da sucessão de José Mauro Coelho no comando da estatal. No câmbio, o dólar escalou até R$ 5,2355 na máxima, tendo fechado no mercado à vista em R$ 5,2298 (+1,02%). O real também sofreu pela perda de fôlego dos preços das commodities na esteira de indicadores que demonstram desaceleração da economia global em momento em que BCs desenvolvidos, em especial o Federal Reserve, ajustam a política monetária para combater a inflação. Esse temor, hoje, foi reforçado pelas prévias dos PMIs compostos dos EUA e da zona do euro. O resultado foi mais um dia de queda nos rendimentos dos Treasuries, o que, aliás, deu impulso às ações de tecnologia em Nova York. Assim, Nasdaq subiu 1,62%, S&P 500 ganhou 0,95% e Dow Jones avançou 0,64%. O recuo dos rendimentos dos títulos americanos fez a curva brasileira ter baixa também. As entrevistas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, de tom levemente “hawk”, foram consideradas de impacto neutro na curva, embora tenham esclarecido pontos importantes do comunicado e da ata do Copom.

•BOLSA

•CÂMBIO

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•JUROS

BOLSA

Na contramão da retomada em Nova York, o Ibovespa estendeu a série negativa pelo terceiro dia, alongando a sequência abaixo dos 100 mil pontos pela quinta sessão, um degrau a mais afastado da linha dos seis dígitos, agora aos 98 mil pontos. Hoje, a referência da B3 foi aos 97.775,07 pontos na mínima, no menor nível intradia desde 4 de novembro de 2020, então aos 95.987,42 pontos durante aquela sessão. No encerramento desta quinta-feira, também o menor desde 4/11/20, cedeu 1,45%, aos 98.080,34 pontos, tendo chegado na máxima aos 100.231,96, saindo de abertura aos 99.523,39 pontos. Na semana, cai 1,75%, colocando as perdas do mês a 11,92% e as do ano a 6,43%. Moderado, o giro financeiro ficou em R$ 24,7 bilhões.

A persistente incerteza sobre o que o governo fará em relação à pressão dos combustíveis sobre a inflação, e o custo fiscal decorrente de eventual atuação sobre os preços, seja de forma direta ou por concessão de benefícios, mantém o apetite por risco contido na B3, no momento em que o câmbio reflete não apenas o avanço dos juros no exterior, mas também as dúvidas sobre a trajetória local para as contas públicas. Hoje, o dólar à vista fechou em alta de 1,02%, a R$ 5,2298, tendo chegado na máxima do dia aos R$ 5,2355.

Apesar da recuperação vista em Nova York – onde os ganhos chegam agora a 4,02% (Nasdaq) na semana -, os dados de atividade no exterior, como os PMIs preliminares de junho divulgados hoje na Europa, têm reforçado a cautela dos investidores, em meio à expectativa para a elevação dos custos de crédito mesmo em áreas onde há muito a política monetária permanecia afrouxada, como a zona do euro.

“Banco Central Europeu iniciará no próximo mês o aperto monetário (que já começou para o Banco da Inglaterra), o que, combinado aos PMIs fracos desta quinta-feira, deixou as bolsas europeias em terreno negativo nesta quinta-feira”, observa Dennis Esteves, especialista em renda variável da Blue3.

Além disso, “os PMIs dos Estados Unidos para junho trouxeram mais uma surpresa negativa, tanto no de manufatura como no de serviços, ambos muito ruins, em mínimas de dois anos. Acendem sinal amarelo de recessão. Na Europa, os PMIs estão em mínimas de mais de um ano, o que completa o quadro de desaceleração global e possível recessão”, diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master.

Aqui, a elevação do “voucher” em estudo para os caminhoneiros, de R$ 400 para R$ 1.000, tem causado apreensão no mercado porque “mexeria muito no fiscal”, observa Esteves, da Blue3.

“O ambiente permanece bem negativo para o mercado depois da última semana, que já havia sido muito ruim. O cenário internacional também ficou mais negativo, não temos conseguido nos desvencilhar desde que o Federal Reserve tem se mostrado mais empenhado em promover altas expressivas nos juros. Há receio em torno de uma recessão a caminho nos Estados Unidos. O cenário global está pesado, o que deixa o Ibovespa preso, mesmo com os descontos”, diz Wagner Varejão, especialista da Valor Investimentos.

Ainda assim, na B3, algumas ações conseguiram se descolar da aversão a risco que pesou forte sobre os papéis e segmentos mais líquidos, de maior ponderação no Ibovespa. Na ponta de ganhos do índice, destaque hoje para Locaweb (+9,01%), BRF (+7,80%) e Petz (+6,26%), à frente de Magazine Luiza (+4,51%), Americanas ON (+4,42%) e Via (+3,49%), com o segmento de varejo ainda acumulando fortes perdas no mês como no ano. No lado oposto do Ibovespa, apareceram hoje SLC Agrícola (-6,67%), Qualicorp (-4,32%) e Ultrapar (-4,05%).

Entre as ações e setores mais líquidos, destaque para perda de 3,65% em Vale ON, de 2,12% e de 1,85% respectivamente para Petrobras ON e PN, enquanto as quedas no setor de siderurgia chegaram a 3,65% (Usiminas PNA) e a 2,64% entre os grandes bancos (Bradesco PN). (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:32

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 98080.34 -1.4489

Máxima 100231.96 +0.71

Mínima 97775.07 -1.76

Volume (R$ Bilhões) 2.46B

Volume (US$ Bilhões) 4.76B

17:33

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 99770 -1.04637

Máxima 102005 +1.17

Mínima 99440 -1.37

CÂMBIO

Após uma manhã de volatilidade, o dólar ganhou força ao longo da tarde e fechou próximo do limiar de R$ 5,23, no maior nível desde 11 de fevereiro. Ao fortalecimento da moeda americana no exterior, em meio a sinais de que a economia global pode estar se encaminhando para uma recessão, somou-se o aumento da percepção de risco fiscal doméstico diante iniciativas do governo e de seus aliados no Congresso para turbinar programas de transferência de renda.

A escalada do dólar por aqui se deu em sintonia com a derrocada do Ibovespa a partir do início da tarde, quando o Broadcast noticiou que o líder do governo no Senado, Carlos Portinho (PL-RJ), relatou que há discussões para mudanças na PEC dos Combustíveis. A ideia é usar para benefícios sociais os cerca de R$ 30 bilhões que seriam destinados para compensação a Estados que reduzissem ICMS sobre diesel e gás de cozinha. Na pauta, aumento do valor do Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 até o fim do ano, elevação do vale-gás e voucher para caminhoneiros de até R$ 1 mil.

Nas mesas de operação, comenta-se que o presidente Jair Bolsonaro, em desvantagens nas pesquisas eleitorais e acuado pelas acusações de corrupção no Ministério da Educação, tenta criar uma “agenda positiva” por meio de medidas populistas que ameaçam o já combalido teto de gastos – um pacote que acaba ofuscando os resultados fiscais positivos de curto prazo e aguça a busca por proteção na moeda americana.

Com máxima a R$ 5,2335, registrada na última hora de negócios, o dólar encerrou o dia em alta de 1,02%, cotado a R$ 5,2298 – maior valor de fechamento desde 11 de fevereiro. Com isso, os ganhos em junho já são de dois dígitos (10,04%). No ano, contudo, a divisa apresenta desvalorização de 6,21%.

“O clima político está esquentando. Depois da pressão pela CPI da Petrobras, apareceu o escândalo no Ministério da Educação. O governo pode reagir expandindo mais os gastos, com benefícios como o vale-gás e o auxílios aos caminhoneiros”, afirma o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho. “O fluxo cambial não está ajudando e agora aumentou o risco político. Aos poucos, a possibilidade de reversão das reformas vão sendo inseridas aos prêmios”.

O real também sofre pela perda de fôlego dos preços das commodities na esteira de indicadores que demonstram desaceleração da economia global em momento em que BCs desenvolvidos, em especial o Federal Reserve, ajustam a política monetária para combater a inflação. O índice de gerente de compras composto dos EUA (PMI, na sigla em inglês) caiu a 51,2 em junho, menor nível em cinco anos. Já o PMI composto da zona do euro cedeu de 54,8 em maio para 51,9 em junho, pior resultado em 16 meses. Na Alemanha, maior economia da região, o PMI composto recuou para o menor patamar em 6 meses. Os contratos futuros do petróleo voltaram a cair, com o tipo Brent, em baixa de 1,41%, a US$ 110,05 o barril. Já o cobre perdeu mais de 5% no mercado futuro, descendo à mais baixa cotação em 16 meses.

“A alta do dólar está muito relacionada a dados do PMI dos EUA, que vieram muito abaixo do esperado, o que reforça a cautela dos investidores. Além disso, o presidente do Federal Reserve (Jerome Powell) reafirmou que o compromisso de combate a inflação é incondicional. Isso pressiona as moedas emergentes”, afirma a economista do Banco Ourinvest Cristiane Quartaroli, para quem o ambiente externo pesa mais para o real do que o quadro local.

De fato, em audiência na Câmara dos Representantes do EUA, Powell falou duro contra a inflação, cujo patamar ele atribuiu em grande medida a uma demanda mais forte. Segundo o presidente do BC americano, a alta recente dos preços de energia torna “mais desafiadora” a tarefa do Fed de buscar um “pouso suave” da economia americana.

“A expectativa é que o juro americano deverá continuar a subir para pelo menos 3,75% ao ano. Há membros do Fed que desejam juro a 4% ou 4,25%, que garantiriam queda mais rápida da inflação”, diz Velho, da JF Trust, acrescentando que os dados fracos da zona do euro aumentam as chances de recessão global e contribuem para o fortalecimento do dólar frente ao euro.

No exterior, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – era negociado no fim da tarde em leve alta, na faixa dos 104,400 pontos (máxima a 104,769 pontos), sobretudo por causa do enfraquecimento do euro. O dólar subia frente a divisas emergentes exportadores de commodities, com ganhos mais fortes ante o peso chileno e o colombiano. Já o peso mexicano apresentava leve apreciação ante a moeda americana, após o Banco Central do México (Banxico) elevar a taxa básica em 75 pontos-base, para 7,75% ao ano.

A desvalorização do real só não é maior, dizem analistas, porque a taxa de juros local é elevada e desencoraja carregamento de posições compradas em dólar (que ganham quando a moeda americana se valoriza ante o real). Declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do novo diretor de Política Econômica do BC, Diogo Guillen, pela manhã reforçaram a perspectiva de ao menos mais um aumento da Selic, hoje em 13,25% ao ano, e manutenção da taxa básica em nível elevado ao longo de 2023, o chamado horizonte relevante da política monetária. (Antonio Perez – [email protected])

17:33

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.22980 1.0179 5.23550 5.16700

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL 5245.500 0.70071 5248.500 5178.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5287.000 1.20597 5287.000  

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MERCADOS INTERNACIONAIS

As perspectivas sobre aperto monetário pelo Federal Reserve (Fed) estiveram no foco nesta quinta-feira, com o presidente da instituição Jerome Powell tendo reafirmado o compromisso “incondicional” do banco central em reduzir a inflação nos Estados Unidos. A Diretora do Fed Michelle Bowman defendeu alta de juros de 75 pontos-base na próxima reunião monetária, em julho. Depois de uma sessão mista, as bolsas de Nova York conseguiram se firmar no positivo, enquanto os juros dos Treasuries caíram. As preocupações sobre a possibilidade de recessão nos Estados Unidos pesaram sobre as commodities e o petróleo fechou em queda. O dólar ficou misto frente suas principais rivais, enquanto o índice DXY subiu.

Em seu segundo dia de testemunho ao Congresso americano, Powell admitiu ter “claramente” subestimado a alta inflação e disse haver risco de que a taxa de desemprego suba em meio aos esforços para conter o avanço de preços. Quanto ao Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA, o banqueiro central prevê que o crescimento seja “bem forte” na segunda metade deste ano. Ainda assim, ontem, afirmou que recessão “certamente é uma possibilidade” durante o aperto monetário.

A Capital Economics afirma que o resultado do índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) nos EUA e zona do euro – tanto em serviços quanto na indústria – ainda são consistentes com a visão de uma expansão no segundo trimestre, mas sinalizam peso sobre os três meses seguintes. A consultoria destaca que apesar do medo observado nas negociações, os dados macroeconômicos dão poucos sinais de uma recessão iminente na economia americana.

Ainda que não seja o ideal para o Fed, o Citi avalia que uma “leve recessão” poderia ser bem sucedida em aliviar a inflação. O banco aponta o recuo do PMI nos EUA como um dos mais claros sinais até o momento que a atividade real pode continuar a se enfraquecer.

Com a missão de levar a inflação à meta de 2%, Bowman, diretora do Fed, disse que pode ser “apropriada” uma alta de 75 pontos-base na reunião de julho, seguida de altas consecutivas de 50 pontos-base nas reuniões seguintes, caso indicadores apoiem tal movimentação. Ontem, o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans (não vota), também considerou “razoável” que a próxima elevação seja de 75 pontos-base, mas disse esperar que, mais para o fim do ano, as altas nos juros voltem a ser de 25 pontos por reunião.

Com temores de que o Fed esteja atrasado no aperto monetário e o avanço nos juros dos Treasuries impliquem em queda no mercado acionário, o UBS avalia que há 20% de chance de estagflação nos mercados globais. A probabilidade de um “pouco suave” é de 40% no segundo semestre, afirma o banco.

Depois de alguma oscilação durante o pregão, as bolsas de Nova York fecharam no azul: o Dow Jones subiu 0,64%, a 30.677,36 pontos, o S&P 500 avançou 0,95%, a 3.795,73 pontos, e o Nasdaq teve alta de 1,62%, a 11.232,19 pontos. Os rendimentos do Treasuries, por sua vez, caíram: o retorno da T-note de 2 anos recuava a 3,018%, o da T-note de 10 anos, a 3,082% e o do T-bond de 30 anos, a 3,187%, no fim da tarde em Nova York.

A preocupações com o cenário econômico global pesaram sobre o petróleo. O contrato do WTI para agosto fechou em queda de 1,80% (US$ 1,92), a US$ 104,27 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para o mesmo mês recuou 1,51% (US$ 1,69), a US$ 110,05 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE). O cobre também perdeu forças e o contrato para julho caiu 5,20%, a US$ 3,7390 a libra-peso, na divisão de metais da Nymex, no menor nível em 16 meses.

No câmbio, no horário citado, o euro caía a US$ 1,0530 e a libra recuava levemente, próximo à estabilidade, a US$ 1,2270, enquanto o dólar recuava a 134,94 ienes. O índice DXY fechou em alta de 0,55%, a 104,769 pontos. (Ilana Cardial – [email protected])

Volta

JUROS

Os juros fecharam a quinta-feira em queda, espelhando novamente o comportamento dos Treasuries, com recuo nos yields, mesmo com o dólar ganhando força ao longo do dia. O risco de recessão global, hoje alimentado por dados da economia americana e também na Europa abaixo do esperado, em meio ao aperto monetário pelos principais bancos centrais, segue estimulando a demanda pela renda fixa tanto aqui quanto lá fora e pressionando para baixo também os preços do petróleo. As entrevistas do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, de tom levemente “hawk”, foram consideradas de impacto neutro na curva, embora tenham esclarecidos pontos importantes do comunicado e da ata do Copom.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a sessão regular a 13,51%, de 13,553%, com volume robusto de mais de 800 mil contratos, quando a média diária nos últimos 30 dias é de 530 mil. A taxa do DI para janeiro de 2024 cravou a quarta sessão seguida de baixa, fechando em 12,99%, na mínima, e voltando a ficar abaixo de 13% pela primeira vez desde 1º de junho (12,975%). A do DI para janeiro de 2025 caiu de 12,309% para 12,225% e a do DI para janeiro de 2027, de 12,234% para 12,18%.

As taxas não mostravam uma tendência clara no começo da sessão e um recuo mais firme começou a se desenhar no fim da primeira etapa, acompanhando as mínimas dos Treasuries. A taxa da T-note de dez anos passou a flertar hoje com os 3%, ante o nível de 3,15% ontem. Os PMIs norte-americanos abaixo do esperado deram força à ideia de que uma ação mais incisiva do Federal Reserve, necessária para combater a inflação, aumenta o risco para uma economia que parece já estar se enfraquecendo. Mais cedo, PMIs também fracos no Reino Unido e zona do euro já endossavam o pessimismo sobre o PIB global.

“O cenário é muito negativo. A expectativa para juro americano é que deva subir a pelo menos 3,75% até o fim do ano, mas há membros que defendem algo na faixa de 4% a 4,25%, o que na minha avaliação é algo mais prudente para garantir uma redução mais rápida da inflação”, comentou o economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho.

O impacto do cenário externo acabou prevalecendo ante a piora de percepção de risco fiscal em função do ano eleitoral. Além do ‘bolsa caminhoneiro’ de até R$ 1 mil, agora o governo fala em incrementar o valor do Auxílio-Brasil de R$ 400 para R$ 600, retirando a compensação a Estados que reduzissem o ICMS sobre diesel e gás de cozinha.

De volta ao exterior, um cenário de demanda global mais fraca – que também tem dado suporte ao recuo dos preços do petróleo – geraria preços menores, contribuindo com o trabalho dos BCs no combate à inflação. O Brasil é considerado adiantado no processo de ajuste monetário, que deverá ter efeitos plenos ainda nos próximos meses. As declarações dos dirigentes do BC reforçaram hoje a ideia de que o ciclo está no fim e depois disso a Selic deverá passar por um bom período de hibernação, antes de começar a cair.

Guillen, do BC, afirmou que o cenário de Selic estável por todo horizonte relevante teria efeito de baixar a projeção de IPCA de 2023, atualmente em 4,0%, em 0,30 ponto porcentual. Ele reforçou que o BC está brigando por inflação em 2023 mais próxima do centro da meta (3,25%) do que sua projeção atual de 4%. Disse ainda que o BC foi claro “na estratégia para chegar ao redor da meta”. “Ao redor é menos que 4%”, detalhou.

Campos Neto esclareceu que o ano de 2024 ainda não está no horizonte relevante e estimativas sobre o ano foram incluídas no comunicado e na ata porque aumentaram as incertezas, o que pode ter influência no longo prazo. “Decidimos mostrar 2024 por transparência. A incerteza está acima do usual. Não estamos mudando horizonte relevante”, afirmou.

Chamou ainda a atenção a elevação da projeção de taxa de juros neutra do BC de 3,5% para 4,0%. “Isso é mais uma tecnicidade e não uma sinalização sobre a política monetária”, avaliou o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano.

Segundo Serrano, a precificação da curva apontava no meio da tarde alta de 38 pontos-base na taxa básica para o Copom de agosto, ou seja, 50% de chance de alta de 0,5 ponto e 50% de alta de 0,25 ponto, quando consideradas apenas essas duas possibilidades. Para setembro, também num quadro binário, os 18 pontos precificados apontavam 70% de chance de aperto de 0,25 ponto e 30% de manutenção. Para o fim de 2022, a curva indicava Selic entre 13,75% e 14% e cortes a partir do segundo trimestre de 2023.

Dada a melhora do apetite por prefixados, o Tesouro encontrou espaço para elevar as ofertas de títulos no leilão desta quinta. Ante os 3 milhões de LTN na semana passada, hoje a oferta foi de 10 milhões, vendida integralmente. Também conseguiu colocar todo o lote de 450 mil NTN-F, ante as 100 mil ofertadas na semana passada e que tiveram propostas recusadas. (Denise Abarca – [email protected])

17:33

 Operação   Último 

CDB Prefixado 32 dias (%a.a) 13.15

Capital de Giro (%a.a) 6.76

Hot Money (%a.m) 0.63

CDI Over (%a.a) 13.15

Over Selic (%a.a) 13.15