O comunicado do Federal Reserve e a posterior entrevista coletiva do presidente da instituição, Jerome Powell, trouxeram mais dúvidas que respostas aos questionamentos dos agentes financeiros sobre a nova postura da política monetária americana com a adoção do critério de inflação média. Se de um lado, o aparato de comunicação do Fed deixou claro o compromisso de manter os atuais estímulos e de usar de toda a munição para atingir o objetivo de máximo emprego e estabilidade de preços, por outro foi considerado vago ao dizer que vai buscar a inflação acima de 2% "por um algum tempo" para chegar à meta média. Também em contraposição, a instituição reforçou a necessidade de mais estímulos fiscais para bancar a recuperação econômica, ao mesmo tempo que revisou para cima as projeções de PIB e inflação americanas. Nesta 'disputa' entre interpretações "dovish" e "hawkish", os mercados surfaram na volatilidade. Os juros dos Treasuries foram de um lado a outro e acabaram, ao fim da sessão em Nova York, terminando perto da estabilidade nos vencimentos mais curtos e com sinal de alta nos mais longos. As bolsas americanas chegaram a andar em bloco na alta, mas encerraram mistas (Dow Jones subiu 0,13% e Nasdaq caiu 1,25%), enquanto o Ibovespa cedeu 0,62%, aos 99.675,68 pontos. Com esse mix de interpretações possíveis, alguns mercados se detiveram a detalhes, caso do câmbio. A sinalização de que os juros nos Estados Unidos não devem subir ao menos até 2023 ajudou o dólar a aprofundar o ritmo de queda. No Brasil, a moeda americana terminou a sessão em R$ 5,2384, menor nível desde 31 de julho. A "Super Quarta" de política monetária, contudo, ainda reserva a decisão do Copom. Nos juros futuros domésticos, as taxas foram pressionadas pela expectativa de que o BC brasileiro adote um tom mais hawkish logo mais. E, por fim, um terceiro fator permeou os negócios locais: a questão fiscal. Nesta tarde, o relator do Orçamento de 2021 e da PEC do Pacto Federativo, senador Marcio Bittar (MDB-AC), disse ter recebido sinal verde do presidente Jair Bolsonaro para incluir em seu relatório um novo programa social. A declaração ocorreu um dia depois de o presidente sepultar o Renda Brasil até 2022 e ameaçar com cartão vermelho quem tocasse no assunto. Bittar, contudo, evitou antecipar valores e de onde sairiam os recursos para viabilizar a nova tentativa de tirar a medida do papel.
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