DÚVIDAS SOBRE RETOMADA E COVID-19 SE ACENTUAM, AZEDAM BOLSAS E LEVAM DÓLAR A R$ 5,58

Uma série de discursos de membros do Federal Reserve na tarde desta quarta-feira ampliou o mau humor dos mercados globais, já penalizados desde cedo com indicadores mistos dos Estados Unidos e o temor de uma segunda onda de covid-19. Os dirigentes cobraram do governo do presidente Donald Trump medidas fiscais para amparar a atividade econômica. Só que, em meio ao polarizado processo eleitoral, o Congresso americano mergulhou em um impasse político. No campo da saúde, por sua vez, um estudo científico feito em Houston, no Texas, apontou que as mutações do novo coronavírus nos EUA podem tê-lo tornado mais contagioso. A notícia foi interpretada, pelo mercado, como uma dificuldade adicional na eficácia das vacinas que estão sendo produzidas contra a doença. Desta forma, os ativos de risco tiveram piora adicional. Índice mais volátil nas últimas sessões, o Nasdaq perdeu 3,02%. O Dow Jones cedeu 1,92% e S&P 500, 2,37%. No câmbio, o dólar teve fortalecimento generalizado, com o índice DXY (que mede a divisa ante moedas fortes) tocando a máxima desde julho. No Brasil, o movimento de fuga de ações e compra de segurança foi semelhante. O Ibovespa encerrou a sessão em 95.734,82 pontos (-1,60%), com somente oito papéis em alta – o tombo só não foi pior porque a Vale, ação de mais peso do índice, subiu 2,23%. Já o real foi a segunda moeda que mais sofreu ante o dólar hoje, atrás somente do peso do México, penalizado pela expectativa de corte de juros pelo BC local amanhã. Aqui no Brasil, o dólar à vista subiu aos R$ 5,5869 (+2,15%), maior cotação desde 26 de agosto, completando a quarta sessão seguida de avanço. Os juros futuros também não ficaram imunes à liquidação externa. Acompanhando o câmbio, as taxas mais longas foram destaque de alta, inclinando mais a curva. O clima pesado lá fora acabou se sobrepondo à surpresa com o IPCA-15 de setembro, que subiu acima das estimativas. Como houve leitura benigna dos preços de abertura, o índice não foi capaz de mudar substancialmente o quadro de apostas para a Selic. Participantes deste mercado pontuam ainda a expectativa com o leilão do Tesouro amanhã e a divulgação, pelo BC, do Relatório Trimestral de Inflação (RTI).

 

MERCADOS INTERNACIONAIS

As dúvidas sobre a retomada da economia global voltaram a dar o tom para os mercados internacionais e levaram o índice DXY, que mede a variação do dólar ante outras seis moedas fortes, a atingir o maior nível desde o final de julho, com os investidores em busca da segurança da divisa americana. Em meio a um tom cauteloso adotado por dirigentes do Federal Reserve, as bolsas de Nova York pioraram à tarde e fecharam com perdas robustas. Presidente do Fed de Boston, Eric Rosengren se disse pessimista e declarou que seria questão de sorte os Estados Unidos atingirem 2% de inflação daqui a quatro anos. Os juros dos Treasuries, entretanto, operaram sem direção única. Entre as commodities, o petróleo conseguiu obter ganhos, após uma queda nos estoques em solo americano.

 

“O dólar está se mantendo em alta em meio a um profundo oceano de incertezas globais”, afirma o analista de mercado sênior Joe Manimbo, do Western Union. Com o aumento da cautela no mercado à tarde, a moeda americana acelerou contra divisas fortes e emergentes, em um dia em que diversos dirigentes do Federal Reserve enfatizaram a necessidade de mais apoio fiscal para mitigar os impactos econômicos da pandemia de covid-19. O índice DXY fechou em alta de 0,43%, aos 94,389 pontos, no maior nível desde o fim de julho. No final da tarde em Nova York, o dólar subia a 105,44 ienes, o euro recuava a US$ 1,1660 e a libra cedia a US$ 1,2715, depois de ter chegado a subir durante o pregão.

 

Chefe de pesquisa da London Capital, Jasper Lawler destaca que a força do dólar se deve, principalmente, ao aumento de casos de covid-19 na Europa. Segundo o analista, a apreciação recente das moedas europeias ocorreu diante da percepção de que a pandemia estava mais controlada no Velho Continente do que nos EUA, o que, consequentemente, levaria a uma retomada econômica mais rápida. Sem esse diferencial, o dólar se torna novamente uma opção. Para analistas do BBH, entretanto, a valorização do dólar deve ser temporária.

 

Presidente da distrital de Boston do Fed, Eric Rosengren afirmou que está pessimista com a recuperação econômica e não demonstrou confiança no aumento da inflação. O presidente do Fed, Jerome Powell, que testemunhou hoje novamente no Congresso, voltou a prometer o uso de todos os instrumentos disponíveis para combater a crise. As bolsas de Nova York, que subiam na abertura dos negócios, entraram em liquidação à tarde, pressionadas por ações dos setores de tecnologia e serviços de comunicação. O índice acionário Dow Jones recuou 1,92%, a 26.763,13 pontos, o S&P 500 caiu 2,37%, a 3.236,92 pontos, e o Nasdaq registrou baixa de 3,02%, a 10.632,99 pontos. As ações da Apple, por sua vez, cederam 4,19%

 

Um estudo realizado no Houston Methodist Hospital, que sugere que mutações do coronavírus nos EUA podem tê-lo tornado mais contagioso, azedou ainda mais o humor dos investidores. As incertezas também vêm das novas restrições anunciadas no Reino Unido para conter a segunda onda da pandemia, do acirramento da polarização política em Washington, que impede a aprovação de um novo pacote fiscal, e da proximidade das eleições presidenciais americanas. “Legisladores democratas e republicanos continuam a conversar sobre a necessidade de um novo pacote de estímulos, mas não há sinal de que algum progresso está sendo feito”, alertam analistas do Citi.

 

Vice-presidente de Supervisão do Fed, Randal Quarles afirmou hoje que espera um crescimento “robusto” nos EUA e em outras economias avançadas no ano que vem, mas ponderou que há diversos riscos para a atividade. Ele mencionou a cautela da população em retomar a vida social, o que pode pesar nos serviços, justamente o setor que registrou desaceleração na Europa, de acordo com os índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) divulgados hoje.

 

Apesar da busca por segurança no mercado, os juros dos Treasuries ficaram sem direção única, com a ponta curta da curva em alta. No horário de fechamento em Nova York, o juro da T-note de dois anos subia a 0,135%, o da T-note de 10 anos avançava a 0,671%, quase estável, e o do T-bond de 30 anos caía a 1,425%.

 

Apesar da aversão a risco e do dólar forte, o petróleo ainda encontrou espaço para subir, apoiado por uma queda nos estoques nos Estados Unidos, de acordo com dados divulgados hoje pelo Departamento de Energia. Na Nymex, o WTI para novembro subiu 0,33%, a US$ 39,93 o barril. Na ICE, o Brent para o mesmo mês avançou 0,12%, a US$ 41,77 o barril. (Iander Porcella – [email protected])

Volta

 

CÂMBIO

O dólar teve nesta quarta-feira o quarto dia consecutivo de alta no Brasil, acumulando no período valorização de 6,7%, saindo de R$ 5,23 no fechamento do dia 17 e terminando hoje em R$ 5,5869, a cotação mais elevada desde 26 de agosto. O que ditou a piora do câmbio hoje foi o exterior, com o dólar ganhando força de forma generalizada e registrando os níveis mais altos em dois meses ante alguns rivais fortes, como o euro, e subindo forte nos países emergentes. No México, avançou 3,2%. O real e o peso mexicano foram as duas moedas com pior desempenho hoje em uma lista de 34 divisas mais líquidas.

 

Crescentes dúvidas dos investidores sobre o ritmo de recuperação da economia mundial, em meio ao aumento de casos de coronavírus na Europa e indicadores mistos da atividade nos Estados Unidos provocaram novo dia de fuga de ativos de risco.

 

No final do dia, a divulgação de uma pesquisa mostrando rápida mutação do coronavírus nos Estados Unidos, tornando-o mais contagioso, ajudou a azedar ainda mais o humor dos investidores. As bolsas caíram forte, puxadas no final da tarde pelas ações do setor de tecnologia, e dólar e iene subiram. O risco Brasil, medido pelo Credit Default Swap (CDS) de cinco anos, derivativo de crédito que protege contra calotes na dívida soberana, deu um salto de 20 pontos, para 250 pontos, o maior nível desde final de junho.

 

“O número de casos de coronavírus na Europa continua a crescer rapidamente e é uma crescente ameaça à recuperação da economia”, alerta a economista da consultoria inglesa Capital Economics, Melanie Debono, que vê riscos de piora das projeções de crescimento da casa para a economia mundial.

 

Para o estrategista e sócio da TAG Investimentos, Dan Kawa, os indicadores mostram uma “acomodação” do crescimento mundial. “A segunda onda está aí”, destaca ele, ressaltando que a letalidade da covid agora é menor que na primeira onda e as medidas de isolamentos, mais brandas, mas certamente terão impacto negativo na atividade. Para ele, a incerteza sobre os rumos da atividade mundial deve durar de dois a quatro meses, o que pode deixar o mercado mais volátil neste período.

 

Em meio “ao mar de incertezas cada vez maior” na economia mundial sobre o ritmo de recuperação do Produto Interno Bruto (PIB), o analista de mercados do banco Western Union, Joe Manimbo, destaca que o dólar se fortaleceu e testou máximas ante várias moedas. Foi ao nível mais alto em dois meses ante o euro e a libra; ao patamar mais elevados em seis semanas ante o dólar canadense e desde agosto ante o dólar da Austrália e o da Nova Zelândia.

 

Nos emergentes, o dólar subiu 3,2% no México hoje, às vésperas da decisão de política monetária do Banxico, que deve cortar novamente os juros, para 4,25% ao ano, o sexto corte consecutivo. Um diretor de tesouraria observa que o México ainda era um dos poucos emergentes em que ainda era atrativo os investidores fazerem as chamadas operações de “carry trade” – tomar dinheiro em país de juro baixo para aplicar em outro de taxa alta. Com a nova redução, estas operações perdem um pouco a atratividade, embora ainda haja espaço, sobretudo quando comparado com o Brasil, onde a taxa básica de juros é de 2%.

 

Nas mesas de operação, operadores comentaram que com o dólar se aproximando dos R$ 5,60, alguns players poderiam estar chamando o Banco Central para atuar. Mas com o movimento de alta global da divisa americana e com outras divisas com pior desempenho que o real, profissionais destacaram que seria pouco provável uma atuação hoje.

 

Investidores estrangeiros, que vinham reduzindo posições contra o real no mercado futuro da B3 nas últimas semanas, interromperam este movimento. Ontem, aumentaram apostas compradas em dólar futuro, que ganham com a valorização da moeda americana, em 21.549 contratos, o equivalente a US$ 1,1 bilhão, de acordo com dados da B3 monitorados pela corretora Renascença. Hoje este movimento foi reforçado, segundo traders de câmbio. No mercado futuro, o dólar era negociado em R$ 5,5900 às 17h, em alta de 2,18%. (Altamiro Silva Junior – [email protected])

 

 

17:37

 

Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima

Dólar Comercial (AE) 5.58690 2.1539 5.59390 5.49020

Dólar Comercial (BM&F) 5.4049 0

DOLAR COMERCIAL 5590.500 2.18424 5598.500 5490.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5568.500 2.6357 5568.500 5515.000

 

 

BOLSA

Com Vale ON (+2,23%) dando algum suporte ao índice em meio a forte avanço do dólar, o Ibovespa chegou a ensaiar leve e brevemente uma reação à tarde, mas acabou inclinado a novo dia negativo em Nova York, onde o Nasdaq mais uma vez esteve à frente na correção dos preços, em queda de 3,02% no fechamento desta quarta-feira.

 

Aqui, o índice de referência da B3 encerrou em baixa de 1,60%, aos 95.734,82 pontos, bem perto da mínima, de 95.728,13 pontos, saindo de máxima a 97.388,94, com abertura aos 97.294,37 pontos. Assim, pela quarta sessão seguida o Ibovespa ficou abaixo dos 100 mil pontos, não conseguindo nem mesmo testar a marca no intradia após 18 de setembro. Hoje, encerrou no menor nível desde 30 de junho, então aos 95.055,82 pontos.

 

Em setembro, as perdas chegam agora a 3,66%, superando as de agosto (-3,44%), quando a recuperação iniciada em abril foi interrompida. O giro financeiro desta quarta-feira foi a R$ 25,2 bilhões, superando o do dia anterior, então muito enfraquecido (R$ 20,1 bilhões). Na semana, o Ibovespa cede agora 2,60%, elevando as perdas a 17,22% no ano.

 

Uma rodada de comentários de diversas autoridades de política monetária nos EUA contribuiu hoje para reforçar a percepção de que o Federal Reserve fez o possível para dar sustentação à retomada econômica, sem contudo se fazer acompanhar por essencial nova rodada de estímulos fiscais, ante a falta de consenso entre democratas e republicanos no Congresso.

 

Com a progressão da tarde, a percepção de risco se agravou com a notícia de que Eric Trump, filho do presidente americano, terá de depor sobre negócios da família antes da eleição de 3 de novembro. A proximidade da disputa eleitoral é um dos fatores que ajudam a entender a persistente falta de consenso entre democratas e republicanos sobre novos estímulos.

 

Hoje, o presidente do Fed de Mineápolis, Neel Kashkari, disse que o BC americano está “fazendo o que pode”, mas suas ferramentas são limitadas e precisariam ser complementadas por iniciativas no campo fiscal. “Melhor coisa a se fazer nos próximos meses é colocar mais dinheiro na mão das famílias”, disse Kashkari. “Se pudermos armar o Congresso e outros formuladores de política fiscal, oferecendo dados e análises, queremos ter esse papel central”, acrescentou.

 

Por sua vez, o presidente do Fed de Chicago, Charles Evans, disse que o déficit fiscal não é um problema e que, sem novas medidas de estímulo fiscal, o mercado de trabalho vai desacelerar nos EUA. No segundo dia de depoimento ao Congresso, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse hoje que “a recuperação da economia virá mais rápido com ações fiscais e do Fed”. “Eu acredito que vamos ter mais apoio fiscal, não vou discutir quando e quanto”, ressalvou Powell.

 

“O Fed tem sinalizado que já fez a parte que lhe cabia, derrubando os juros e provendo liquidez à economia. Sutilmente, tem passado a bola para o Congresso, que precisa decidir se haverá uma nova rodada de estímulos fiscais”, diz Shin Lai, estrategista-chefe da Upside Investor Research, acrescentando que os mais recentes dados americanos, especialmente os de consumo, sugerem a necessidade de que mais dinheiro chegue à população.

 

No Brasil, os mais recentes dados sobre emprego e investimento estrangeiro direto mostram também que a situação econômica não ficará confortável sem suporte direto ao consumo na virada do ano e se o governo não reconsiderar posições sobre conservação ambiental, que contribuem para o afastamento em especial dos investidores com perspectiva de longo prazo.

 

“A queda nos investimentos de longo prazo, o FDI, é ruim porque pode mostrar perda de atratividade do Brasil para a economia global. Talvez fosse o momento de sinalizar que o governo está comprometido com esta questão (ambiental), mas a oportunidade foi perdida ontem [no discurso do presidente Jair Bolsonaro na Assembleia Geral da ONU]”, observa Shin.

 

Para complicar a situação, o jornal Washington Post reportou que o maior estudo genético conduzido nos EUA sobre o coronavírus, conduzido em Houston, Texas, mostrou mutação com potencial de evoluir, em meio ao ainda rápido avanço da doença no país. Na Europa, os sinais de uma segunda onda de pandemia se tornaram evidentes nesta virada de verão para outono, já resultando em respostas dos governantes, em países como Espanha e Reino Unido.

 

Assim, houve pouco o que sustentar os preços dos ativos na B3 nesta quarta-feira, diferentemente do dia anterior, quando o Ibovespa obteve leve ganho, ancorado, além da recuperação pontual observada no exterior, na “ata do Copom, que diminuiu as chances de um aumento nos juros, e nos comentários de que um programa Renda Brasil poderia vir de cortes de gastos públicos, animando o mercado (ontem)”, observa Cristiane Fensterseifer, analista de ações da Spiti.

 

Hoje, mesmo com o forte desempenho de Vale (terceira maior alta do Ibovespa no fechamento), não houve como se evitar o retorno do Ibovespa ao campo negativo. “Por aqui, temos um déficit fiscal grande, falta de celeridade nas reformas e a prévia da inflação (IPCA-15), que veio maior que o esperado pelos economistas”, acrescenta a analista.

 

Na ponta do Ibovespa, Braskem cedeu hoje 6,18%, à frente de Totvs (-4,54%) e de PetroRio (-4,52%). No lado oposto, Localiza subiu 13,97%, seguida por IRB (+9,57%) e Vale ON (+2,23%). Petrobras PN e ON fecharam respectivamente em queda de 2,74% e 2,44%, enquanto entre os bancos as perdas também ficaram na casa de 2%, chegando a 2,84% na Unit do Santander.(Luís Eduardo Leal – [email protected])

 

 

17:20

 

Índice Bovespa   Pontos   Var. %

Último 95734.82 -1.60208

Máxima 97388.94 +0.10

Mínima 95728.13 -1.61

Volume (R$ Bilhões) 2.51B

Volume (US$ Bilhões) 4.54B

 

 

 

 

17:37

 

Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. %

Último 95670 -1.37113

Máxima 97545 +0.56

Mínima 95500 -1.55

 

 

 

JUROS

A curva de juros teve importante ganho de inclinação nesta quarta-feira, pressionada pelo aumento da aversão ao risco no exterior que impulsionou o dólar no Brasil a até R$ 5,59 nas máximas. Os juros longos fecharam com avanço de mais de 10 pontos-base, superior aos demais vencimentos. Ativos de economias emergentes foram penalizados pelo crescimento da percepção de que uma nova onda de covid-19 está se fortalecendo nos países centrais e pode comprometer a retomada da economia global. Nos Estados Unidos, o Federal Reserve vem reforçando a necessidade de mais estímulos fiscais, mas o acordo para o pacote trilionário que poderia dar suporte, em pauta no Congresso, segue emperrado. O clima pesado lá fora acabou se sobrepondo à surpresa com o IPCA-15 de setembro, que subiu acima das estimativas. Como houve leitura benigna dos preços de abertura, o índice não foi capaz de mudar substancialmente o quadro de aposta na Selic.

 

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou em 2,97%, de 2,923% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 4,354% para 4,45%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa de 6,43% (6,304% ontem) e a do DI para janeiro de 2027 fechou na máxima de 7,40%, de 7,263%. O diferencial entre os contratos de janeiro de 2023 e janeiro de 2027 vem abrindo paulatinamente desde o último dia 11 e hoje chegou a 295 pontos, maior nível desde 20 de maio (303 pontos).

 

“Há uma preocupação com uma segunda onda de covid-19 e os dados de atividade já começam a indicar perda de ritmo. Isso está repercutindo nos mercados emergentes, com forte valorização do dólar e aumento de prêmios de risco na curva”, disse o estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno, citando como exemplo as quedas dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) de serviços no Reino Unidos, zona do euro e Estados Unidos.

 

Mesmo diante da evolução dos testes com vacinas contra o coronavírus, autoridades já não descartam a possibilidade de voltar a endurecer as regras de isolamento social. Se a situação se repetir nos emergentes, o quadro fiscal se agrava ainda mais no Brasil. “Existem incertezas no curto prazo que podem levar a novas pressões de gastos: a retirada dos estímulos com o auxílio emergencial a partir de 2021 pressiona o Executivo a ter um novo programa social sem ainda achar as fontes de financiamento”, avalia a equipe da J&F Trust, que tem Eduardo Velho como economista-chefe, lembrando ainda que até o momento não há acordo do ‘financiamento’ também para o prolongamento da desoneração da folha de pagamento.

 

Por aqui, o dólar cravou sua quarta sessão consecutiva de alta, saindo de R$ 5,23 no dia 17 para fechar hoje em R$ 5,5869. Os juros hoje acompanharam a oscilação da moeda, com o DI janeiro de 2027 avançando até 15 pontos-base no intraday. Os vencimentos longos seguem ainda sensíveis ao risco fiscal e, nesta véspera de leilão de títulos do Tesouro, o espaço para queda nas taxas já seria mesmo restrito. Nas últimas semanas, o mercado vem antecipando para quarta-feira a montagem de posições. Na quinta-feira passada, a instituição ofertou 19,5 milhões de LTN, um volume robusto, mas ainda assim pouco menos da metade da operação anterior (43 milhões).

 

O estresse nos mercados complica a missão do Tesouro de financiar a dívida porque o mercado pede mais prêmio para aceitar o risco prefixado. Não por acaso um dos DIs que mais subiu hoje (14 pontos-base) foi o janeiro de 2024, um dos vértices em que a instituição tem ofertado grandes volumes. A taxa deste contrato terminou em 5,65%, na máxima, de 5,524% ontem.

 

A ponta curta também subiu, contaminada pela tensão generalizada. A aceleração do IPCA-15, de 0,23% em agosto para 0,45% em setembro, superando a mediana das estimativas (0,39%), teve efeito pontual somente no início dos negócios. “A abertura do índice mostra que alta foi concentrada em alimentos, com núcleos em níveis ainda bastante confortáveis”, disse Rostagno. O grupo Alimentação e Bebidas subiu 1,48%, contribuindo com 0,30 ponto porcentual para a inflação.

 

Muitas instituições revisaram suas expectativas para o IPCA de 2020, mas mesmo assim para níveis bem aquém do centro da meta de inflação de 4,00% – caso do UBS, que prevê agora índice fechando o ano em 2,10%, de 1,90% na estimativa anterior. Com isso, não há alteração no quadro de apostas para a Selic. Até porque, destaca o estrategista do Mizuho, a política monetária agora já está voltada para 2021. (Denise Abarca – [email protected])

 

 

17:36

 

Operação   Último

CDB Prefixado 30 dias (%a.a) 1.92

Capital de Giro (%a.a) 5.56

Hot Money (%a.m) 0.42

CDI Over (%a.a) 1.90

Over Selic (%a.a) 1.90

 

 

 

 

 

 




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