DÓLAR TEM MAIOR QUEDA NO 1ºSEM EM 7 ANOS E BOLSA, MAIOR ALTA EM 4, COM RALI DOMÉSTICO

O primeiro semestre termina com uma expressiva valorização dos ativos domésticos, que tiveram as melhores performances dos últimos anos. O dólar, com queda de 9,29% no acumulado do ano no segmento à vista, apresentou a maior baixa ante o real desde 2016, período marcado pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O Ibovespa, com salto de 7,61%, registrou o melhor começo de ano desde 2019, o primeiro da gestão de Jair Bolsonaro. Neste 2023, passadas as turbulências dos primeiros meses da terceira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, o mercado se surpreendeu com a antecipação da apresentação do novo arcabouço fiscal, que está a apenas uma votação na Câmara para começar a valer. A reforma tributária pode ser votada por deputados já na semana que vem, ao passo que retrocessos na agenda reformista, como mudanças que o governo queria fazer no marco do saneamento, foram barradas pelo Congresso. Houve ainda sequenciais surpresas desinflacionárias e com a atividade econômica, notadamente no setor agrícola. Coincidentemente, uma das últimas tensões geradas no começo do governo teve o desenlace ontem: o Conselho Monetário Nacional (CMN) manteve a meta de 3% para 2026, meses após bombardeio de Lula. O ambiente, concluem os investidores, é propício para queda da Selic já em agosto e até em intensidade de 0,50 ponto, aposta que passou a ser majoritária na precificação da curva. Com o efeito na atividade compensando a redução do diferencial de juros no câmbio e impulsionando o lucro das empresas na Bolsa, há apostas para que o rali tenho ainda algum fôlego. Ao fim do dia de hoje, o dólar à vista caiu aos R$ 4,7896 (-1,19%), marcando baixa mensal de 5,59%. O Ibovespa terminou na mínima, em queda leve, aos 118.087,00 pontos (-0,25%), valorização mensal de 9,00%. O reajuste para baixo da gasolina, que prejudicou a Petrobras (ON -5,13%, PN -4,83%, deu suporte também à queda adicional dos juros futuros. No exterior, o sentimento de risco predominou na sessão e no semestre para a maioria dos ativos. Com disparada de 31,73%, o Nasdaq teve o melhor primeiro semestre desde 1983. A sessão marcada pelo feito histórico da Apple ao se tornar a primeira empresa a encerrar pregão com valor de mercado acima de US$ 3 trilhões – o papel da companhia subiu 2,31% hoje e tem ganho de 49,52% no ano. O índice de tecnologia subiu hoje 1,45%.

•CÂMBIO

•BOLSA

•JUROS

•MERCADOS INTERNACIONAIS

CÂMBIO

O dólar à vista encerrou a sessão desta sexta-feira, 30, em baixa de 1,19%, cotado a R$ 4,7896 no mercado doméstico de câmbio, em meio ao sinal predominante de baixa da moeda americana no exterior e à repercussão positiva da decisão de ontem do Conselho Monetário Nacional (CMN) de manter a meta de inflação em 3% para 2024, 2025 e 2026. O real apresentou hoje o melhor desempenho entre as principais divisas emergentes e de países exportadores de commodities, o que é atribuído por analistas à diminuição tanto de riscos institucionais, quanto inflacionários com o desenlace da reunião do CMN.

Afora uma alta pontual nos primeiros minutos de negociação, o dólar à vista operou em baixa ao longo de todo o pregão, com renovação de mínimas à tarde, quando desceu até R$ 4,7838. O dia foi marcado pela tradicional disputa pela formação da última taxa ptax do mês – que, neste caso, representava também a taxa de fechamento do segundo trimestre e do primeiro semestre – e pela rolagem de posições no mercado futuro. O contrato de dólar futuro para agosto, que passa a ser o mais líquido, apresentou giro expressivo, superior a US$ 20 bilhões.

Apesar de terminar a semana em leve alta (0,24%), o dólar à vista encerra o mês com desvalorização de 5,59% – a maior queda mensal desde março do ano passado. No primeiro semestre, a moeda americana recuou 9,29%, a maior baixa semestral em sete anos, desde o primeiro semestre de 2016 (-18,93%). Embora tenha liderado os ganhos entre os pares latino-americanos no mês, o real ainda apresenta desempenho inferior ao dos pesos colombiano e mexicano em 2023.

O economista Rafael Rondinelli, do banco Modal, atribui a apreciação do real ao longo de junho em grande parte a uma “percepção mais positiva” em relação ao país. Ele nota que houve diminuição de riscos relacionados à gestão da política monetária, processo coroado ontem pela decisão do CMN e por declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de compromisso com o controle da inflação.

“A ata do Copom foi suave mostrando que o próximo passo é redução da Selic em agosto. Pode parecer estranho que queda de juros seja positiva para o câmbio. Mas, pensando no curto prazo, tende a trazer fluxo de dólares para aproveitar os prêmios ainda altos”, afirma Rondinelli, acrescentando que os resultados expressivos da balança comercial neste ano com a supersafra também favoreceram o real.

O primeiro semestre foi marcado pelo afastamento do risco de trajetória explosiva da dívida pública com o avanço do novo arcabouço fiscal no Congresso. A agenda de classificação de risco S&P Global mudou a perspectiva da nota de crédito brasileira de estável para positiva. Além disso, o economista do Modal lembra que o Tesouro voltou ao mercado internacional em abril, com captação de US$ 2,25 bilhões. Nesta semana, a Petrobras captou US$ 1,25 bilhão em bonds de 10 anos.

Rondinelli vê o dólar provavelmente entre R$ 4,75 e R$ 4,80 no curto prazo, com apetite ainda por operações de carry trade – que exploram diferencial de juros entre países. Ao longo do segundo semestre, o real pode perde parte de seu apelo, dada a combinação de queda da taxa Selic e possível aumento adicional dos juros nos EUA. “O dólar deve voltar a patamares mais próximos de R$ 5,00 e R$ 5,10 no fim do ano. Outras moedas latino-americanas também devem perder um pouco de fôlego nos próximos meses”, diz o economista do Modal.

Lá fora, o índice DXY operou em baixa firme e voltou a romper o piso dos 103,000 pontos, com mínima aos 102,751 pontos. Após a surpresa com o resultado acima do esperado do PIB americano do primeiro trimestre reforçar apostas em mais altas de juros nos EUA, indicadores divulgados trouxeram certo alívio.

Medida de inflação preferida pelo Federal Reserve, o núcleo índice de preços de gastos com consumo (PCE, na sigla em inglês) subiu 0,3% em maio, abaixo da projeção de analistas. A leitura anual do núcleo mostrou desaceleração de 4,7% para 4,6%. Além disso, pesquisa de sentimento do consumidor elaborada pela Universidade de Michigan trouxe queda nas expectativas de inflação.

“A decisão do CMN já estava puxando dólar para baixo. Com o dado de inflação nos EUA sugerindo que o Fed pode promove apenas mais uma alta dos juros, o dólar se enfraqueceu em relação a outras moedas, o que intensificou a queda aqui”, afirma o operador Gabriel Mota, da Manchester Investimentos. (Antonio Perez – [email protected])

18:02

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.78960 -1.1863 4.87100 4.78380

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL 4819.500 -0.85373 4871.500 4816.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4812.500 -1.58487 4895.500 4807.000

BOLSA

O Ibovespa iniciou a semana em tom menor, com três perdas, mas passada a expectativa, no fim da tarde de ontem, para a deliberação do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre a meta de inflação (tornada contínua a partir de 2025, e mantida a 3% para o ano seguinte), o índice parecia a caminho de engrenar dois dias de leve recuperação. Nesta sexta-feira, a forte correção em Petrobras (ON -5,13%, PN -4,83%) impediu que o Ibovespa tocasse 10% de ganhos no mês, como sugeria mais cedo, quando ainda mostrava avanço moderado na sessão. No fechamento, prevaleceu perda de 0,25%, com o Ibovespa na mínima do dia, aos 118.087,00 pontos, e recuo de 0,75% para o índice na semana, o que interrompe série de nove ganhos semanais iniciada ainda em abril.

Hoje, a reação negativa do mercado a novo corte de preço da gasolina, anunciado ainda pela manhã, foi o mote para um ajuste mais profundo nos papéis da Petrobras que, ainda assim, acumularam ganho na casa de 19% para a ON e a PN no mês – e de 37% e 43%, respectivamente, no ano. O anúncio reforça a reocupação em torno do aumento da defasagem entre o preço doméstico do combustível e a cotação externa do petróleo, em dia de alta moderada para o Brent e o WTI, em Londres e Nova York.

O dia foi negativo para o setor metálico (Vale ON -1,97%, mínima do dia no fechamento; CSN ON -6,19%) e misto para os grandes bancos (BB ON -1,20%, Itaú PN -0,25%, Bradesco PN +1,73%). Na ponta do Ibovespa, Hapvida (+4,29%), MRV (+3,58%) e Energisa (+3,38%), com Renner (-6,50%), CSN (-6,19%) e Petrobras (ON -5,13%) no canto oposto.

Ainda assim, com a gordura que havia acumulado até o dia 21 – que o colocou aos 120,4 mil pontos, no maior nível de fechamento desde abril do ano passado -, o índice da B3 avançou 9,00% em junho, superando o desempenho dos três principais índices de Nova York, que ficou entre +4,56% (Dow Jones) e +6,59% (Nasdaq) no mês. Hoje, oscilou entre a mínima do fechamento e máxima de 119.447,25, saindo de abertura aos 118.387,53 pontos. O giro subiu a R$ 32,7 bilhões nesta última sessão de junho.

O ganho de 9% foi o melhor desempenho mensal para a Bolsa brasileira desde dezembro de 2020, quando o Ibovespa subiu 9,30% – na ocasião, ainda no contexto da forte volatilidade global que marcou o primeiro ano da pandemia de covid-19. Curiosamente, está agora perto do nível em que se encontrava no fechamento daquele ano, então aos 119 mil pontos.

No semestre que chega ao fim, o Ibovespa acumula alta de 7,61%, comparada a uma retração de 5,99% entre janeiro e junho do ano passado, quando temores fiscais domésticos se combinavam a incertezas quanto ao grau de desaceleração da economia mundial, pautada então pelo ciclo de aperto monetário, especialmente nos Estados Unidos.

Um ano depois, a inflação dá sinais de arrefecimento no Brasil e também no exterior, reforçando a expectativa de que os juros americanos estão bem perto – a um ou dois ajustes – do fim do ciclo de alta. Aqui, declarações desta semana do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e a própria ata do Copom, da última terça-feira, recolocaram na mesa a expectativa de corte da Selic na próxima reunião, em agosto, após o comunicado da semana anterior ter adiado as projeções de uma primeira redução, de 0,25 ponto porcentual, para setembro.

Assim, junho de 2023 chega ao fim de forma oposta ao que se viu no mesmo período do ano passado, quando havia cedido nada menos de 11,50%, em seu pior desempenho para o mês em 20 anos – em junho de 2002, havia colhido perda de 13,39%. Agora, tanto o Ibovespa como o câmbio e os DIs futuros mostram uma recuperação de confiança dos investidores: a percepção é de resiliência da economia global, distanciando-a de temores quanto a um baque mais profundo, recessivo, e de correção de rota também no espaço doméstico, corroborada ontem pela deliberação do CMN, que tirou da sala os ruídos do governo sobre o trabalho do Banco Central.

Com a recuperação gradual ao longo do segundo trimestre (2,50% em abril, 3,74% em maio e 9,00% em junho), o Ibovespa fechou o intervalo com ganho de 15,9%, vindo de desempenho negativo nos primeiros três meses de 2023, quando cedeu 7,16%, a pior abertura de ano desde 2020 – em que o começo da pandemia lançou o Ibovespa no abismo, entre fevereiro e março.

Em 2023, em dólar, após ter chegado ao final do primeiro trimestre aos 20.100.65 pontos, o Ibovespa foi a 21.355,22 pontos no fechamento de maio e agora, no fim de junho, chega aos 24.654,87 pontos, refletindo não apenas o avanço nominal do índice da B3 no mês, mas também a apreciação do real frente ao dólar – hoje, a moeda americana, à vista, fechou em baixa de 1,19%, a R$ 4,7896.

“Mesmo considerando tudo o que se andou até os 120 mil pontos, a Bolsa não está cara, o que se reflete também no fluxo positivo do investidor estrangeiro, que tem acompanhado de perto, mostrando interesse pelo País. Vale lembrar que México está caro, Rússia não é opção e a China tem mostrado PMIs negativos, com ritmo de atividade ainda em contração”, diz Cesar Mikail, gestor de renda variável da Western Asset, contrapondo o bom momento dos ativos brasileiros.

“Aqui, as projeções para o crescimento econômico têm melhorado, e a inflação arrefecido, o que se reflete não só no comportamento da Bolsa mas também no câmbio e nos juros longos”, observa o gestor, destacando que o mercado começa a separar “ruído” ante o que é “efetivo” na condução da política econômica. “Haddad tem sido uma grata surpresa”, acrescenta.

No exterior, a chave também tem se mostrado favorável especialmente nos Estados Unidos, com a resiliência da atividade econômica e dos resultados corporativos mesmo em ambiente de juros bem elevados pelo padrão histórico do país.

“Se considerarmos as empresas de maior capitalização de mercado, o que se tem hoje é um grupo de nomes bem distintos do que prevalecia na recessão de 2008. O setor de tecnologia ganhou muito mais peso, o que se reflete no desempenho bem superior do Nasdaq e do S&P 500 em comparação ao tradicional Dow Jones no semestre. Inteligência artificial é algo que, agora, pode desempenhar o papel que a internet teve nos preços dos ativos, tempos atrás”, aponta Mikail.(Luís Eduardo Leal – [email protected])

18:02

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 118087.00 -0.24974

Máxima 119447.25 +0.90

Mínima 118087.00 -0.25

Volume (R$ Bilhões) 3.26B

Volume (US$ Bilhões) 6.78B

18:09

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 119505 -1.03106

Máxima 121540 +0.65

Mínima 119455 -1.07

JUROS

A última sessão de junho, e do primeiro semestre, foi marcada por um rali dos vendidos no mercado de juros. As taxas terminaram em queda não só na sessão de hoje, como na semana e também no mês. A decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de ontem continuou repercutindo positivamente nesta sexta-feira sobre a curva, que foi influenciada ainda pelo ambiente externo, pela redução dos preços da gasolina e ajustes de carteiras típicos de fechamento de semestre. A manutenção da meta de inflação em 3% para os próximos anos provocou uma onda de revisões para baixo de IPCA e Selic e a aposta num corte da taxa em 0,50 ponto porcentual em agosto já é levemente majoritária na precificação da curva.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou a 12,850%, de 12,924% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 10,87% para 10,74%%. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxa de 10,11%, de 10,32% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2029 cedeu de 10,66% para 10,42%. Com isso, estes vértices seguem renovando os pisos desde 2021.

Ainda que a decisão do CMN tenha saído ontem com o mercado ainda aberto, puxou hoje uma nova rodada de queda nas taxas em geral, seja pelo novo alívio nas expectativas de IPCA, seja pela percepção de que o Copom pode começar o ciclo de cortes da taxa básica de forma um pouco mais agressiva, além de um possível orçamento maior de quedas. “O mercado já está colocando na conta quedas de juro mais rápidas e a discussão é se em agosto pode vir corte de 50 pontos, apesar do BC falar em ‘parcimônia'”, observou o economista da MAG Investimentos Felipe Rodrigo de Oliveira.

No meio da tarde, a curva precificava 60% de chance de redução da Selic em 50 pontos em agosto, contra 40% de probabilidade de 25 pontos, num quadro que ontem era justamente o inverso. Para o fim de 2023, a indicação é de Selic entre 11,50% e 11,75% e para o fim de 2024 a precificação é de 8,95%, ou seja, 9%. Os números foram fornecidos pelo Banco Mizuho.

Para o economista-chefe do PicPay, Marco Antônio Caruso, a manutenção da meta foi o maior acerto da equipe econômica até o momento, abrindo espaço para uma redução das expectativas por uma janela maior de tempo. “O IPCA do Focus tem implícito uma meta que estava perto de 3,5%, fruto da incerteza que existia sobre o que faria o CMN. Não é coincidência que as projeções começaram a piorar justamente desde meados de janeiro, quando o presidente Lula levantou a possibilidade de subir a meta pela primeira vez”, avaliou, no Podcast Diário Econômico. Agora que está consolidado que a meta ficará em 3%, diz, essas estimativas tendem a cair na melhor das hipóteses, em direção a 3%.

Desse modo, o Boletim Focus da segunda-feira já pode captar os primeiros efeitos do CMN sobre IPCA e Selic.

Outro vetor baixista para as taxas foi a redução do preço da gasolina em 5,3% anunciado hoje pela Petrobras, válido a partir de amanhã. O presidente da companhia, Jean Paul Prates, disse que a medida nada tem a ver com a compensação da volta dos impostos federais sobre o combustível esta semana ou pedido do governo, e sim com um alinhamento aos preços internacionais. Economistas calculam impacto de queda entre 0,11 e 0,13 ponto porcentual na inflação, integralmente no IPCA de julho.

Até o exterior, ontem negativo, hoje colaborou para o fechamento da curva local. O índice de preços de gastos com consumo (PCE, em inglês) dos Estados Unidos em maio, medida preferida de inflação o Federal Reserve, veio em linha com o esperado, com núcleo ligeiramente melhor do que as projeções, aliviando momentaneamente as tensões com a postura do Federal Reserve. O dólar teve queda generalizada e os yields dos Treasuries de longo prazo caíram.

O rali desta sexta-feira coroou uma semana muito positiva para o mercado de juros, que começou com a ata “dovish” do Copom, passando pelo Relatório de Inflação (RI) que mostrou que a projeção de IPCA do BC caiu a 3,1% para 2025, pela entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, na qual admitiu otimismo sobre o cenário para as expectativas e deixou as portas abertas para reduzir a Selic, e culminou com o CMN ontem dissipando as incertezas do mercado sobre a meta de inflação.

Não à toa, houve forte redução da inclinação da curva na semana, com as taxas médias e longas caindo mais do que as curtas. Desde a última sexta-feira, o DI para janeiro de 2024 devolveu 15 pontos; o DI para janeiro de 2025, 27 pontos; e o DI para janeiro de 2027, 28 pontos. No mês, o alívio foi ainda maior, de 37, 78 e 83 pontos, respectivamente em relação ao fim de maio.

Para muitos players, o mercado já está muito esticado, com chances agora de recuos mais pontuais, a depender do desenrolar da agenda de eventos e indicadores. Na próxima semana, há expectativa pela votação do arcabouço fiscal e do texto da reforma tributária na Câmara. O economista da Guide Investimentos Victor Beyruti afirma que ainda há espaço para o mercado andar, “mas não acho que vamos seguir em uma queda linear”. “O arcabouço entendo como já bem precificado, a tributária acredito que possa gerar algum alívio, mas não sem promover alguma volatilidade”, comentou, chamando a atenção também para a sensibilidade dos ativos aos próximos dados de inflação, “uma vez que de agora em diante foco deve ficar em até onde a Selic vai cair e em qual velocidade”. (Denise Abarca – [email protected])

MERCADOS INTERNACIONAIS

A Apple fez história ao encerrar o pregão desta sexta-feira acima da marca de US$ 3 trilhões em valor de mercado, a primeira empresa a atingir e manter este nível em um fechamento. A gigante de tecnologia subiu mais de 2% em Wall Street, acompanhando alta robusta do Nasdaq, que registrou o melhor primeiro semestre em 40 anos. O movimento reflete dia marcado pelo apetite por risco após desaceleração da inflação nos Estados Unidos e na Europa, o que renovou expectativas por pausa no aperto monetário dos bancos centrais destas economias. Esta perspectiva pressionou o dólar e os juros dos Treasuries, adicionando impulso ao mercado de commodities. Entre emergentes, a Argentina comunicou o pagamento de US$ 2,7 bilhões da dívida com o Fundo Monetário Internacional (FMI), em uma transação por meio de yuans que deverá envolver o BC da China.

Depois de alcançar e perder a marca histórica de US$ 3 trilhões em janeiro de 2022, a Apple conquistou o feito novamente e, desta vez, consolidou a marca ao fechar o pregão com ganhos de 2,31%, a US$ 193,97 e valor de mercado de US$ 3,050 trilhões. A fabricante do iPhone é a primeira empresa a atingir a marca em Wall Street, seguida de longe por pares de tecnologia como Microsoft (+1,64%), que possui valor de mercado de US$ 2,532 trilhões, e Alphabet (+0,50%), que tem metade do valor da Apple.

Em entrevista ao Broadcast, conforme reportagem da correspondente em Nova York, Aline Bronzatti (publicada às 17h05), a Wedbush Securities afirmou que vê um renascimento maciço de crescimento da Apple nos próximo 12 a 18 meses, fixando o valor justo da empresa em US$ 3,5 trilhões e projetando capacidade de alcançar US$ 4 trilhões até o ano fiscal de 2025. Esta visão, porém, contraria ala pessimista de economistas em Wall Street, que veem a empresa sobrevalorizada.

O desempenho robusto da Apple nesta sessão refletiu a alta generalizada entre empresas conhecidas como big techs, em dia de apetite por risco que levou o Nasdaq a encerrar Nasdaq a encerrar este semestre com alta de 31,73%, seu melhor desempenho no período desde 1983, conforme dados da Dow Jones Newswires. Em Wall Street, O índice Dow Jones fechou em alta de 0,84%, a 34.407,60 pontos; o S&P 500 também acumulou ganhos, de 1,23%, a 4.450,38 pontos; e o Nasdaq saltou 1,45%, a 13.787,92 pontos.

Nesta sexta-feira, o apetite de risco foi deflagrado já pela manhã, na esteira de dados da inflação na zona do euro e nos Estados Unidos, demonstrando desaceleração na taxa anual do índice cheio. Nos EUA, o núcleo do PCE, que exclui itens voláteis como alimentos e energia, também desacelerou e, na visão do Navellier, pode oferecer base para novo “salto” na decisão de juros de julho do Fed, eventualmente se tornando uma pausa no aperto monetário.

Esta perspectiva pressionou rendimentos dos Treasuries e pesou sobre o dólar, apagando boa parte dos ganhos semanais da moeda americana. Por volta da 17h (de Brasília), o retorno da T-note de 2 anos caía a 4,866%; o da T-note de 10 anos recuava a 3,806%; e o do T-bond de 30 anos tinha queda a 3,842%. O dólar caía a 144,27 ienes, o euro avançava a US$ 1,0912 e a libra tinha alta a US$ 1,2698. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, registrou queda de 0,42%, a 102,912 pontos. No mês, o DXY caiu 1,36% e no primeiro semestre teve baixa e 0,59%.

Entre emergentes, o rublo russo ampliou perdas nesta sessão e atingiu mínimas em 15 meses, de acordo com a Reuters, ainda sob os efeitos das turbulências internas após o motim do grupo Wagner. No horário citado, o dólar subia a 89,535 rublos.

Na Argentina, o dólar avançava a 256,8231 pesos argentinos, seguindo noticiário local. Hoje, o Banco Central da República Argentina (BCRA) permitiu a abertura de contas em yuan no país e o governo anunciou o pagamento de parcela da divida com o FMI, no valor de US$ 2,7 bilhões. Contudo, a dívida deve ser paga pela primeira vez utilizando uma parcela em yuans, movimento para evitar o uso de dólares do BCRA, em uma operação que deve contar também com a participação do Banco do Povo da China (PBoC, na sigla em inglês).

Ainda sobre o yuan, o PBoC informou hoje que pretende manter a moeda estável no segundo semestre de 2023, entre uma série de medidas para enfrentar as “incertezas do cenário econômico internacional”. O BC chinês também anunciou ampliação no fornecimento de crédito para pequenas empresas e o setor agrícola, o que somado ao cenário geral de fraqueza do dólar e apetite por risco impulsionou ganhos de mais de 1% do petróleo e beneficiou commodities em geral. No fechamento, o petróleo WTI para agosto fechou em alta de 1,12% (US$ 0,78), em US$ 70,64 o barril na Nymex, e o Brent para setembro subiu 1,21% (US$ 0,90), a US$ 75,41 o barril, na ICE. (Laís Adriana – [email protected])