Após acumular perda de 5% em agosto, o Ibovespa abriu setembro em alta firme, amparada no crescimento do PIB brasileiro (0,9%) muito acima do consenso no segundo trimestre (0,3%) e no impacto de notícias positivas da economia da China, especialmente nas ações ligadas a commodities. O câmbio teve bom desempenho e a curva de juros desinclinou. O relatório de emprego nos EUA, com aumento da taxa de desemprego e avanço aquém do esperado nos salários, também respaldou os ativos de risco, ao endossar a percepção de que há condições para o Federal Reserve encerrar o ciclo de alta de juros. De volta ao Brasil, o PIB do segundo trimestre desencadeou uma série de revisões para o resultado fechado de 2023, em direção aos 3%. Outro bom indicativo do vigor da economia veio da balança comercial em agosto, de US$ 9,8 bilhões, recorde para o mês. É histórico também o saldo de US$ 63,3 bilhões no acumulado em oito meses, que já superou os US$ 61,5 bilhões em todo o ano de 2022. O Ibovespa fechou a sexta-feira em 117.892 pontos, alta de 1,86%, com avanço de 1,77% na semana. O dólar à vista caiu 0,21%, a R$ 4,9405, mas na semana teve ganho de 1,33%. A curva a termo passou o dia pressionada para cima, mas o avanço das taxas perdeu força. Os trechos curto e intermediário subiam moderadamente no fim do dia ainda, em função de ajustes mais conservadores nas apostas da Selic provocados pela surpresa com o PIB, enquanto os longos operavam perto da estabilidade, deixando de lado, por ora, as preocupações com o risco fiscal. Em Nova York, os mercados absorveram o impacto positivo do payroll de agosto, deslocando o foco para fala mais "hawkish" da presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, sobre possível necessidade de mais elevações de juros, e dados de atividade mais fortes que o esperado. As bolsas perderam fôlego e os retornos dos Treasuries subiram, assim como o dólar ante rivais. O Dow Jones fechou em alta de 0,34% e o S&P 500, de 0,18%. Já o Nasdaq caiu 0,02%. O petróleo avançou mais de 2%, com WTI chegando à marca de US$ 85 o barril pela primeira vez desde novembro, apoiado nos estímulos econômicos da China.
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BOLSA
Boas notícias que enfim vieram da China - entre as quais, recuperação do índice de atividade (PMI) em agosto -, e o PIB brasileiro acima do esperado para o segundo trimestre - que resultou em revisões nas expectativas de crescimento para o ano -, combinaram-se em impulso ao Ibovespa nesta última sessão da semana, na abertura de setembro. Assim, o índice da B3 iniciou o mês em alta de 1,86%, aos 117.892,96 pontos, vindo de perda de 5% em agosto. Hoje, oscilou entre mínima de 115.743,80, da abertura, e máxima de 117.990,61 pontos, com giro a R$ 26,7 bilhões. Na semana, virou hoje do negativo ao positivo, acumulando ganho de 1,77% no intervalo. Em porcentual, o avanço do dia foi o maior desde 14 de junho (1,99%).
Foi também o segundo ganho semanal para o Ibovespa, após alta de 0,37% acumulada na anterior, a qual havia sucedido quatro recuos consecutivos, desde o intervalo entre 24 e 28 de julho. Com o anúncio de estímulos ao combalido setor imobiliário na China, segmento de enorme peso relativo na composição do PIB da segunda maior economia do mundo, Vale ON fechou hoje em alta de 5,85%, acumulando ganho de 10,99% na semana, mas ainda cedendo 18,77% no ano. O papel da mineradora, o de maior peso individual na carteira do índice, liderou os ganhos do Ibovespa no fechamento da sessão, à frente de Bradespar (+5,02%), Alpargatas (+4,99%) e Petz (+4,93%).
O dia foi amplamente positivo para outra gigante das commodities, Petrobras, com a ON em alta de 3,33% e a PN, de 2,16%, no encerramento - na semana, subiram respectivamente 1,86% e 2,06%. Os bancos, à exceção de Bradesco ON (-0,23%), tiveram desempenho positivo na sessão, embora discreto, conseguindo em geral fechar a semana em recuperação moderada - com destaque para Itaú (PN), em alta de 0,88% na sessão e de 2,98% na semana. Entre as maiores baixas do dia, destaque para Méliuz (-5,51%) , IRB (-2,44%) e Marfrig (-0,67%) - apenas sete ações da carteira Ibovespa fecharam a sessão em baixa.
“O PIB do segundo trimestre foi muito bom e, em resumo, surpreendeu a todos, com a alta de 0,9%, na margem. Teremos um crescimento mais próximo de 3% no ano, se não tivermos alteração nos próximos trimestres. E o que chamou atenção foi o desempenho da indústria - e pelo lado da demanda, o consumo”, ressalta Luciano Costa, economista-chefe e sócio da Monte Bravo Investimentos. “Teremos um crescimento muito bom no ano, e que levará efeito positivo para 2024”, acrescenta.
Em relatório divulgado nesta sexta-feira, o Bank of America (BofA) também destaca o desempenho da indústria - especialmente a extrativa, puxada pela produção de petróleo e gás - para o crescimento brasileiro de 0,9% no PIB do segundo trimestre. Por outro lado, o banco aponta que o crescimento lança dúvidas quanto à dimensão do hiato do produto, o que reforça a falta de espaço para a aceleração do ritmo de corte de juros no País.
"Continuamos a projetar atividade econômica mais forte do que o mercado espera, e mantemos nossa recentemente revisada projeção de crescimento de 3% para 2023. Com relação a 2024, nossa previsão é de 2,3%. A redução das taxas de juros, melhores condições no mercado de crédito e o avanço de matérias legislativas fundamentais devem trazer resultados positivos para o próximo ano", acrescenta o BofA.
"Apesar dos 'números acima das expectativas' no PIB, a economia continua em processo de ajuste monetário para combater a inflação, e ainda temos ausência de condições mais amplas e efetivas para a economia decolar de fato”, ressalva Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi (Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento). “Estamos ainda em transição cíclica: precisamos ter equilíbrio no otimismo e no pessimismo”, acrescenta o economista, destacando níveis ainda altos de endividamento e inadimplência, tanto entre pessoas físicas como jurídicas.
"PIB é um dado de retrovisor, estamos olhando nele para a primeira metade do ano, entre abril e junho. Mas o que o resultado divulgado hoje mostrou é que a economia brasileira está mais resiliente do que muita gente esperava, especialmente em relação ao que se pensava no começo de 2023 ou no fim do ano passado", diz Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos.
Após três semanas de ausência, a expectativa de queda para as ações no curtíssimo prazo voltou a aparecer no Termômetro Broadcast Bolsa. Entre os participantes, 14,29% responderam que a próxima semana deve ser de baixa para o Ibovespa; 28,57% preveem estabilidade; e 57,14% esperam alta. Na pesquisa anterior, as projeções se dividiam entre ganho (62,50%) e variação neutra (37,50%). (Luís Eduardo Leal - [email protected])
17:32
Índice Bovespa Pontos Var. %
Último 117892.96 1.85858
Máxima 117990.61 +1.94
Mínima 115743.80 0.00
Volume (R$ Bilhões) 2.66B
Volume (US$ Bilhões) 5.40B
17:43
Índ. Bovespa Futuro INDICE BOVESPA Var. %
Último 119260 1.3168
Máxima 119610 +1.61
Mínima 117800 +0.08
MERCADOS INTERNACIONAIS
Apesar do relatório de empregos (payroll) ter alimentado expectativas de que o Federal Reserve (Fed) será menos rígido nas suas próximas decisões monetárias e de que será possível alcançar o pouso suave nos Estados Unidos, falas interpretadas como hawkish de Loretta Mester, do Fed de Cleveland, que sinalizaram possível necessidade de mais elevações de juros contribuíram para mudar o rumo dos ativos no exterior. Aliados a dados de atividade industrial mais fortes do que o esperado, geraram pressão nas bolsas de Nova York e deram força aos retornos dos Treasuries, enquanto o dólar subiu ante rivais fortes, favorecido pela deterioração do sentimento de risco. Entre commodities, o petróleo avançou mais de 2%, com o WTI chegando à marca de US$ 85 o barril pela primeira vez desde novembro, com ajuda do anúncio de mais estímulos econômicos da China.
A Oxford Economics avalia que o payroll de agosto oferece ao Fed "bastante margem para manter a política estável durante este ano e no próximo", destaca. Segundo a consultoria britânica, a tendência de crescimento dos empregos continuou abrandando e há sinais de melhor equilíbrio entre oferta e procura de trabalho, que vem ocorrendo de forma "mais suave", "mantendo viva a perspectiva de um pouso suave".
Após o dado, ferramenta do CME Group apontou uma antecipação nas apostas de novo corte de juros pelo Fed, passando de maio para março, que chegou a concentrar 52% de probabilidade pela manhã. No fim do tarde, no entanto, o mercado se ajustava e, apesar de redução de juros ainda ser o cenário mais provável (42,4%) apontado pela ferramenta para reunião de política monetária de março, as chances de manutenção retomaram espaço e subiram para 41,9%, ao passo que as apostas de alta eram de 15,7%.
O corte em março foi defendido pelo ING, destacando que os juros americanos devem ter chegado ao seu pico.
Entretanto, comentários da presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, sobre a força da inflação nos EUA impuseram pressão nas bolsas de Nova York. Para a dirigente, há dúvidas sobre se as taxas estão em níveis restritivos o suficiente para o controle das pressões dos preços, embora tenha notada um alívio inflacionário.
Assim, os mercados acionários fecharam sem direção única, com pressão da Tesla (-5,06%), que cedeu após a empresa ter cortado preços de veículos na China, a segunda vez em duas semanas, segundo a Dow Jones Newswires. No outro lado, a Dell teve alta de 21,25%, com força motivada pelo balanço com lucro acima do que era esperado pelo mercado.
As bolsas também receberam pressão adicional do índice de gerente de compras (PMI, na sigla em inglês) industrial dos EUA, com o indicador medido pelo Instituto para Gestão da Oferta (ISM, na sigla em inglês) e pela S&P Global ambos acima do esperado. O índice Dow Jones subiu 0,33%, o S&P 500 avançou 0,18% e o Nasdaq teve baixa de 0,02%.
Os retornos dos Treasuries, por sua vez, apesar de terem recebido leve pressão após payroll, conseguiram terminar o dia no positivo. Entretanto, a Capital Economics alerta que, apesar da recuperação de hoje, a queda geral dos rendimentos em um contexto de dados econômicos mistos, "sugere que os investidores poderão estar começando a aceitar a opinião de que a pressão sobre os preços continuará a diminuir quase independentemente da forma como a economia se comporta. Mas pensamos que os investidores ainda estão subestimando até que ponto os rendimentos irão cair nos próximos anos". Perto do fechamento das bolsas de Nova York, o juro da T-note de 2 anos subia a 4,886%, o da T-note de 10 anos avançava a 4,167% e o do T-bond de 30 anos aumentava a 4,297%.
O mesmo ocorreu com o dólar, que também virou o movimento e subiu ante divisar rivais. Segundo avalia Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos, "quem acabou sofrendo com o payroll foi o euro e a libra já que dados ruins de inflação tanto do Reino Unido como da Alemanha junto com o payroll culminaram numa desvalorização destas moedas".
Já conforme destaca a Capital Economics, o relatório de empregos deixou o dólar "no caminho certo para terminar a semana ligeiramente mais baixo em relação à maioria das principais moedas", apesar da sua recuperação após o PMI e do "discurso agressivo" de Mester. Entretanto, o payroll não "conseguirá manter o dólar baixo por muito tempo", visto que a atividade econômica dos EUA ainda está robusta, especialmente em comparação com a maioria das outras grandes economias. Por volta das 17h (de Brasília), o dólar avançava a 146,19 ienes, o euro recuava a US$ 1,0774 e a libra tinha queda a US$ 1,2587. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de seis rivais fortes, fechou em alta de 0,60%, a 104,236 pontos.
Ainda com a pressão cambial, o petróleo conseguiu avançar, após a China anunciar incentivos para o mercado imobiliário e aumentar a expectativa de uma recuperação pelo um dos maiores importadores da commodity. Ainda, a CMC Markets aponta as sinalizações da Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+) sobre mais cortes na produção do país em breve. Ainda, notícias de que as exportações de petróleo saudita caíram drasticamente em agosto também ajudaram o óleo no pregão. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para outubro fechou em alta de 2,29% (US$ 1,92), a US$ 85,55 o barril. O petróleo Brent para novembro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou com ganhos de 1,98% (US$ 1,72), a US$ 88,55 o barril. (Natália Coelho - [email protected])
CÂMBIO
Após a arrancada de ontem, quando subiu 1,68% e flertou com os R$ 5,00 nas máximas, o dólar à vista apresentou leve recuo na sessão desta sexta-feira, 1º. Passado o efeito de fatores técnicos sobre a formação da taxa de câmbio, como rolagem de contratos no segmento futuro e formação da última taxa ptax de agosto, houve uma acomodação, com ajustes de posições e realização de lucros.
Segundo operadores, a alta das commodities, em meio a dados positivos da indústria da China, que anunciou medidas de apoio ao setor imobiliário, e o resultado mais forte do que o esperado do PIB brasileiro no segundo trimestre abriram espaço para queda do dólar. Moedas pares do real, como peso chileno, peso colombiano e rand sul-africano também se valorizaram.
Nas primeiras horas de negociação, a divisa ameaçou romper o piso de R$ 4,90 com o exterior, na esteira da divulgação do relatório de emprego nos EUA, e tocou mínima a R$ 4,9005. O ritmo de baixa diminuiu ainda pela manhã e, com máxima a R$ 4,9481, o dólar à vista encerrou o dia cotado a R$ 4,9405, em queda de 0,21%. Na semana, contudo, a moeda acumula valorização de 1,33%, atribuída, em parte, ao aumento dos prêmios de risco em razão de dúvidas sobre a gestão da política fiscal.
Consultor econômico da Remessa Online, André Galhardo observa que houve desconforto com os vetos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na sanção do novo arcabouço fiscal, o que ajudou a impulsionar o dólar no mercado local. Foi vetado por Lula o item que impedia a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de excluir despesa do cálculo da meta fiscal - o que trouxe preocupações em torno de aumento de gastos.
Para o consultor, houve certo exagero, contudo, na reação dos investidores ao Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), divulgado ontem, em que o governo estipula ampliar as receitas em R$ 168 bilhões para cumprir a meta fiscal de déficit primário zero em relação ao PIB em 2024. "Não entendo porque o mercado ficou em polvorosa com o orçamento, que veio em linha com o esperado. O governo tem que perseguir uma meta. Existe dificuldade em ampliar receitas, mas, se o resultado já for melhor na margem, o cenário se torna mais benigno", afirma Galhardo, para quem o mercado pode se "acalmar em relação ao orçamento nas próximas semanas", o que pode beneficiar o real.
Pela manhã, o IBGE divulgou que o PIB do segundo trimestre subiu 0,9% em relação ao primeiro, acima da mediana de analistas ouvidos pelo Projeções Broadcast (+0,3%). Na comparação anual, houve alta de 3,40%, também superior à mediana (+2,7%). Casas como BTG Pactual, JP Morgan e Bradesco revisaram para cima as estimativas para crescimento do PIB neste ano. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que a pasta vai revisar a estimativa para o PIB neste ano, atualmente de 2,5%. Segundo o ministro, a economia brasileira deve encerrar este ano com crescimento em torno de 3%.
No exterior, o índice DXY - termômetro do comportamento do dólar frente a moedas fortes - operava em alta firme no fim da tarde, ao redor de 104,200 pontos. Pela manhã, o Dollar Index recuou e tocou mínima aos 103,272 pontos com a divulgação do payroll. Houve criação de 187 mil vagas nos EUA em agosto, acima do esperado (175 mil). Mas salário médio cresceu aquém das expectativas e taxa de desprego subiu de 3,5% para 3,8% - pontos que sugerem pressões inflacionárias menores e, em consequência, fim da alta de juros nos EUA.
Dados mais fortes da indústria dos EUA em agosto e declarações da presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, deram força novamente ao DXY. Segundo Mester, há dúvida se os juros dos EUA estão nos níveis restritivos necessários para conter a inflação.
Monitoramento da CME mostra que as chances de o Federal Reserve manter a taxa básica inalterada em setembro superam 90%. Houve também aumento das apostas de que o BC americano pode antecipar o corte dos FedFunds de maio para março de 2024.
Galhardo, consultor da Remessas Online, observa que a sequência de indicadores sobre criação de vagas de emprego nos EUA divulgados ao longo desta semana - como relatório Jolts, relatório ADP e payroll - mostram que o mercado de trabalho americano parece estar se acomodando.
"Estou no grupo que acredita que o ciclo de alta nos juros acabou, mas não se pode descartar uma nova elevação completamente", diz Galhardo, lembrando que, na semana passada, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou no Simpósio de Jackson Hole, que a porta para mais aperto monetário não está fechada. (Antonio Perez - [email protected])
17:43
Dólar (spot e futuro) Último Var. % Máxima Mínima
Dólar Comercial (AE) 4.94050 -0.2141 4.94810 4.90050
Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0
DOLAR COMERCIAL FUTURO 4965.000 -0.25113 4968.000 4920.000
DOLAR COMERCIAL FUTURO 4968.000 -0.49389 4968.000 4968.000
JUROS
Os juros futuros avançaram na ponta curta da curva nesta sexta-feira, 1º, enquanto o mercado ajustava as apostas no ritmo de cortes e no nível terminal da taxa Selic após a surpresa positiva com o crescimento do PIB no segundo trimestre. A sessão também foi de alta, mais moderada, no trecho intermediário da curva. Com o risco fiscal em segundo plano, as taxas longas apresentaram viés de baixa.
Às 17h35, o contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 - que reflete as apostas na Selic do fim de 2024 - subia seis pontos-base em relação ao ajuste anterior, de 10,521% para 10,585%. O DI para janeiro de 2026 ganhava cinco pontos, de 10,145% para 10,195%, enquanto o para janeiro de 2024 estava próximo da estabilidade, com taxa de 12,385%, de 12,382% no ajuste anterior.
Nos trechos longos, o DI para janeiro de 2027 tinha viés de alta, de 10,346% para 10,360%, e o contrato para janeiro de 2029 recuava levemente, de 10,824% para 10,820%. Como resultado, a curva perdia inclinação, com queda do spread entre os contratos para janeiro de 2025 e janeiro de 2029, de 30,3 pontos-base no ajuste anterior para 23,5 pontos. O yield da T-Note de dois anos subia 1 ponto-base e o da T-Note de 10 anos, 7 pontos.
Analistas atribuem o movimento das taxas na sessão a uma retirada das apostas de queda mais rápida da taxa Selic, após o IBGE ter informado que o PIB brasileiro cresceu 0,9% no segundo trimestre - 0,6 ponto porcentual acima do consenso, de 0,3%. No mercado, a leitura foi de que a atividade mais forte dificulta uma aceleração no ritmo de afrouxamento monetário, e pode indicar juros mais altos no fim do ciclo.
"O PIB ajudou a subir um pouco as taxas intermediárias, que refletem justamente onde a taxa Selic vai poder chegar", resume o estrategista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno. "Dado que o BC colocou um piso de 50 pontos-base por reunião para o ciclo de cortes, e que o PIB mais forte dificulta a aceleração, o mercado se ajusta para precificar esses 50 pontos."
Nas contas de Rostagno, a precificação de taxa Selic no fim de 2023 embutida na curva de juros passou de 11,62% no ajuste de quinta-feira, 31, para 11,66% na tarde desta sexta-feira, refletindo a mudança na precificação após o PIB mais forte do que o esperado. A mudança foi mais intensa na precificação para a taxa básica de juros no fim de 2024, que subiu 15 pontos-base, de 9,39% para 9,54%.
O PIB mais forte do que o previsto no segundo trimestre levou a uma onda de revisões nas estimativas de crescimento da economia em 2023, incluindo de casas como Goldman Sachs (2,65% para 3,25%), JPMorgan (2,4% para 3,0%) e Barclays (2,1% para 3,0%). Pesquisa relâmpago feita pelo Projeções Broadcast mostra que a mediana agora indica alta de 3% para o PIB do ano, de 2,4% no levantamento anterior.
Além do crescimento mais forte da economia, o economista da Guide Investimentos Rafael Pacheco destaca que o aumento dos rendimentos dos Treasuries ajudou a puxar a alta dos DIs. Apesar do payroll ter mostrado crescimento do desemprego nos Estados Unidos, de 3,5% em julho para 3,8% em agosto, o PMI industrial do país subiu mais do que o previsto e levantou dúvidas sobre os próximos passos do Federal Reserve (Fed).
"Lá fora, o PMI um pouco acima do esperado e as falas da [presidente do Fed de Cleveland] Loretta Mester, que falou de um desemprego ainda baixo e de inflação ainda alta, acabaram puxando essa alta dos Treasuries, que bate aqui", diz Pacheco. "Para alguém que estava mais dove, esperando cortes de 75 pontos da Selic este ano, a combinação dessas coisas pode levar a uma revisão."
A combinação entre a incerteza sobre a política monetária do Fed e a percepção de uma economia doméstica mais forte serviu para deixar em segundo plano o risco fiscal, que puxou a alta dos juros nas últimas duas sessões. Os DIs também responderam pouco a declarações de autoridades como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o diretor de Política Monetária da autarquia, Gabriel Galípolo, que falaram ao longo do dia. (Cícero Cotrim - [email protected])