CAUTELA PRÉ-CMN E DÚVIDAS COM PROGRAMA AUTOMOTIVO ESTRESSAM DIS E BOLSA

Depois de uma manhã guiada pelo noticiário internacional, a cena doméstica teve peso maior na etapa da tarde, marcada por uma rodada de aversão ao risco. Operadores atribuíram o movimento a uma esperada cautela na véspera da reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que decide amanhã a meta de inflação de 2026 e ratifica as de 2024 e 2025. A expectativa amplamente majoritária no mercado é de alvo de 3%, com mudança de apuração de ano-calendário para meta contínua. Mas hoje uma parcela do mercado colocou dúvidas se o governo, que tem maioria no colegiado, não estaria interessado em elevar a meta, trazendo ruídos que desaguaram em uma certa cautela. Houve também desconforto com a ampliação em R$ 300 milhões do programa de subsídios à compra de carros novos, segundo apurou o Broadcast, após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, mudar de tom e se dizer favorável à extensão da medida. Outra ala do mercado lembrou que os ativos domésticos tiveram forte valorização nas últimas semanas, o que acaba potencializando alguma correção de preços. Não à toa, os vértices mais longos da curva de juros e o Ibovespa concentraram o movimento de ajuste hoje. O DI para janeiro de 2029 subiu aos 10,71% e o Ibovespa caiu aos 116.681,32 pontos (-0,72%). Lá fora, o tom hawkish dos principais bancos centrais em evento do Banco Central Europeu (BCE) em Sintra, Portugal, reforçou temores de recessão global, pressionando juros e, em menor escala, bolsas em Nova York. O juro da T-note de 2 anos recuou a 4,707% e o da T-note de 10 anos cedeu a 3,709%. O índice Dow Jones caiu 0,22%. Houve também procura do dólar como moeda de segurança, com impacto no câmbio local. Fatores sazonais, como fim de trimestre e semestre, também pesaram. O dólar à vista subiu aos R$ 4,8478, avanço de 1,02%.

•JUROS

•BOLSA

•MERCADOS INTERNACIONAIS

•CÂMBIO

JUROS

A curva de juros tinha aumento de inclinação moderado até o meio da tarde, mas na reta final dos negócios o ‘steepening’ ganhou força com a informação, ainda não oficializada, de que o governo pretende ampliar o programa de incentivo à compra de carros e com postura defensiva ante o risco de elevação das metas de inflação amanhã na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN). Até então a curva longa já vinha pressionada pela aversão ao risco no exterior, que puxou para cima o dólar ante as moeda emergentes. As taxas curtas fecharam estáveis e as demais subiram.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 encerrou em 12,97%, de 12,963% ontem no ajuste, enquanto o DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 10,98% (10,95% ontem). A do DI para janeiro de 2027 subiu a 10,39%, de 10,31%, e a do DI para janeiro de 2029 avançou de 10,61% para 10,71%.

Após a ata do Copom dovish ontem ter ampliado a percepção sobre o início do ciclo de cortes da Selic, o mercado de juros hoje fez uma pausa, se preparando para a decisão do CMN amanhã, um dos encontros do colegiado mais esperados dos últimos tempos. Nas últimas semanas, o mercado vinha formando um consenso em torno da manutenção das metas de inflação em 3% para 2024, 2025 e 2026 e aceitando de bom grado também uma eventual mudança do sistema de apuração de ano calendário para horizonte contínuo. A duas horas do fim da sessão, porém, as mesas de renda fixa muniram-se de cautela para outros possíveis cenários.

A reunião será realizada de forma presencial, no Ministério da Fazenda, a partir das 15h. O resultado será conhecido depois das 18h, quando os mercados já estarão fechados. Portanto, eventuais reações ficarão para sexta-feira.

Eduardo Velho, economista-chefe e sócio da JF Trust, afirma que caso tudo se mantenha como está, “esperamos um recuo dos juros nos vencimentos mais longos”. “Se o CMN simplesmente decidir pela elevação da meta central para 3,5% ou 3,75%, os juros futuros devem reagir com alta mais expressiva, mantendo o prazo de cumprimento de 12 meses”, comentou. Por fim, em caso de alteração do sistema para horizonte contínuo, a reação poderá ser de recuo dos curtos e alta moderada dos longos, prevê Velho, para quem essa opção seria mais favorável ante o segundo cenário.

Ao mesmo tempo, o mercado também reagiu mal à decisão do governo de ampliar, de R$ 500 milhões para R$ 800 milhões, o crédito do programa automotivo, em medida provisória que deve sair ainda hoje, segundo informações coletadas pelo Broadcast junto a fontes. O plano é ampliar o montante apenas para os veículos leves. “É ruim para a percepção de risco fiscal e de postura de governo”, diz um economista, lembrando que o texto do arcabouço fiscal agradou, mas é “super dependente de arrecadação” e não garante as metas de primário.

Lá fora, discursos dos presidentes de bancos centrais das principais economias – Jerome Powell (Federal Reserve), Christine Largarde (Banco Central Europeu) – reforçaram a necessidade de elevar juros para combater a inflação e pressionaram para cima o dólar e para baixo os retornos dos Treasuries e dos bônus europeus, refletindo o temor de recessão global.

A agenda desta quinta-feira traz ainda o Caged de maio e o Relatório Trimestral de Inflação (RTI), além da entrevista do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, sobre o documento. Entre os pontos de interesse no RTI, estão detalhes sobre a mudança na taxa de juro neutro para 4,5% trazida na ata do Copom e sobre a inflação em 2025. Já Campos Neto terá oportunidade de explicar a mudança de tom do comunicado e para a ata.

Nesta quarta-feira, o Tesouro divulgou o relatório da dívida pública em maio. Entre os destaques, o colchão de liquidez caiu de R$ 1,053 trilhão para R$ 983,18 bilhões, suficiente para cobrir 8,06 meses de pagamentos de títulos. Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena, afirma que o recuo foi resultado basicamente do resgate líquido de títulos – houve o vencimento da NTN-B 15/5/2023, além do pagamento de cupom. “O colchão voltará a subir em junho, dado que não há vencimentos no mês e as emissões já alcançaram R$ 134 bilhões até o dia 28”, diz. Amanhã, o Tesouro realiza os últimos leilões de títulos públicos do primeiro semestre. (Denise Abarca – [email protected])

Volta

BOLSA

Após a ata do Copom e o IPCA-15 referentes a junho, ontem, e à espera de outros catalisadores importantes, como o relatório trimestral de inflação e a reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), amanhã, o Ibovespa parecia, até o meio da tarde, a caminho de uma quarta-feira comportada: até então, perto do zero a zero, oscilava menos de mil pontos entre a mínima e a máxima da sessão. Ao fim, o índice da B3, aos 116.681,32 pontos e em queda de 0,72% na sessão, mostrava a terceira perda consecutiva, acentuando correção abaixo da linha de 117 mil – cedida ainda no meio da tarde com a indicação de que o governo prorrogará a política de cortes de tributos para estimular debilitadas vendas das montadoras.

Assim, a referência da B3 fechou no menor nível desde o último dia 7, então aos 115.488,16 pontos, tendo encerrado a quarta-feira passada, dia 21, aos 120,4 mil, no maior nível desde 4 de abril de 2022 (121.279,51). Hoje, no fechamento, a variação entre a mínima e a máxima ia de 116.559,79 (-0,82%) aos 117.936,71, após abertura aos 117.524,21 pontos. O giro ficou em R$ 21,6 bilhões na sessão. Na semana, o Ibovespa cai 1,93%, ainda avançando 7,70% em junho, com mais duas sessões para o encerramento do mês. No ano, o índice sobe 6,33%.

No meio da tarde, o movimento mais avesso a risco, que se refletiu também nos juros futuros, veio pouco depois de relato do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, de que o governo estenderá o programa de redução de tributos para apoiar a venda de veículos, no dia seguinte ao anúncio da Volkswagen de férias coletivas, com o pátio da montadora repleto em São Bernardo do Campo (SP).

O governo deve editar ainda nesta quarta-feira, 28, uma medida provisória que irá ampliar o valor de recursos públicos separados para bancar descontos nos carros, segundo apurou o Broadcast. O plano é aumentar o montante apenas para os veículos leves, reportam as jornalistas Amanda Pupo e Célia Froufe, de Brasília. O programa entrou em vigor no início do mês, com descontos patrocinados pela União também para caminhões e ônibus – mas o crédito separado para essas categorias não teve procura tão alta como para os carros.

Inicialmente contrário ao projeto, o Ministério da Fazenda mudou o tom em relação aos descontos: agora, o programa é visto como um catalisador da renovação da frota nacional. Em entrevista à jornalista Miriam Leitão, de O Globo, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, havia antecipado que o programa de incentivo à compra de carros seria estendido.

“Bolsa caiu, dólar subiu e DI futuro também, muito por conta do medo de risco fiscal, que se acentuou após Haddad sinalizar mais estímulo à compra de carro zero. Mercado entende que o governo vai abdicar de mais receita, em injeção de dinheiro num setor que não é tão produtivo. Então, aumenta endividamento: a nova regra do teto de gastos prevê aumento de receita e o governo está abdicando disso, o que vai descasar lá na frente”, diz Gabriel Meira, especialista e sócio da Valor Investimentos.

“O mercado já tem batido no DI futuro, esperando que a inflação [no Brasil] vai arrefecer um pouco, mas que o governo continuará endividado, com reflexo nos juros, que poderão cair menos do que se antecipa”, acrescenta Meira. Ele menciona também incertezas pendentes sobre os juros americanos, com espaço ainda aberto para nova alta na taxa de referência dos Estados Unidos, o que favorece a combinação de Bolsa para baixo e dólar para cima, no Brasil, enquanto o Federal Reserve busca fazer com que a inflação convirja para a meta, por lá.

“Comentários de autoridades de BCs importantes – como os dos Estados Unidos, Reino Unido e Zona do Euro – contribuem para formar consenso de que haverá novos aumentos de juros até o fim do ano no cenário internacional, o que contribui para manter os receios quanto a uma recessão, com juros altos – por mais tempo – sufocando a economia [global]”, observa Alan Dias Pimentel, especialista da Blue3 Investimentos. Nesta semana, além dos catalisadores domésticos, como a ata do Copom e o IPCA-15, os investidores têm monitorado de perto as declarações de autoridades monetárias em seminário promovido pelo Banco Central Europeu (BCE) em Portugal.

Ainda assim, aqui, até a fala de Haddad, o “mercado vinha praticamente no zero a zero, dando continuidade a um movimento natural de realização de lucros, desde a semana passada, após a forte alta acumulada desde o final de março [quando o Ibovespa vinha de mínima do ano, abaixo de 98 mil pontos, no encerramento do dia 23 daquele mês]”, diz Felipe Moura, sócio e analista da Finacap Investimentos. “O cenário se mantém favorável ao risco, mas algumas coisas ainda precisam se materializar – novos gatilhos no radar, como a reforma tributária”, acrescenta.

Por outro lado, “sem dizer de onde sairão os recursos para renovar o programa de incentivo ao setor automobilístico, o mercado voltou a questionar o risco fiscal, sabendo que o governo é gastador e vai tentar sempre abrir brecha para não cumprir [metas]”, aponta Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

No pior momento da sessão desta quarta-feira, os ganhos em Petrobras, em dia de avanço superior a 2% para o Brent e o WTI após queda maior do que a esperada para os estoques dos Estados Unidos na semana, pareciam a caminho de reversão. Mas, ao fim, a ação ON ainda mostrava alta de 0,73% e a PN, de 0,95%, na sessão. Tal efeito positivo, contudo, foi mais do que anulado pela queda de Vale (ON -3,16%, mínima do dia no fechamento) e dos grandes bancos (Bradesco PN -1,65%; Santander Unit -1,37%, mínima do dia no encerramento; BB ON -1,22%).

Na ponta perdedora do Ibovespa, frigoríficos como BRF (-4,27%), JBS (-4,22%) e Minerva (-3,25%) – segmento que havia sido beneficiado, ontem, pela liberação de carne que estava retida em portos da China. Bradespar (-3,70%), Dexco (-3,61%) e Natura (-3,23%) também foram destaque negativo nesta quarta-feira. No lado oposto, Yduqs (+4,63%), Embraer (+4,30%), Gol (+2,59%) e MRV (+2,11%). (Luís Eduardo Leal – [email protected])

18:02

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 116681.32 -0.71607

Máxima 117936.71 +0.35

Mínima 116559.70 -0.82

Volume (R$ Bilhões) 2.16B

Volume (US$ Bilhões) 4.45B

18:03

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 118575 -0.72006

Máxima 119945 +0.43

Mínima 118460 -0.82

MERCADOS INTERNACIONAIS

O compromisso firme de bancos centrais nos EUA e na Europa com o processo de aperto monetário incentivou investidores no exterior a buscarem segurança na renda fixa e no dólar nesta quarta-feira. Como resultado, os rendimentos de Treasuries e títulos europeus sucumbiram aos temores de que uma excessiva escalada dos juros leve as principais economias do globo a um quadro de recessão. Já as bolsas de Nova York hesitaram durante todo o pregão e fecharam sem direção única. Apesar disso, a contundente queda dos estoques americanos de petróleo blindou a commodity, que avançou mais de 2%.

Reunidos em evento em Portugal, os presidentes de Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, Banco da Inglaterra (BoE), Andrew Bailey, e Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, reforçaram o que já vinham dizendo há algumas semanas: a luta pela estabilidade de preços ainda não acabou. No mesmo painel, o líder do Banco do Japão (BoJ), Kazuo Ueda, expôs a divergência da instituição com os pares e reforçou que a inflação permanece muito abaixo de 2%, mais um indicativo de que a normalização monetária ainda não está no horizonte de curto prazo do país insular asiático.

A situação é diametralmente oposta à da Europa, onde a resiliência dos serviços e do mercado de trabalho limitam os progressos no arrefecimento das pressões inflacionários. O Reino Unido enfrenta um quadro particularmente complexo, com desinflação lenta e risco forte de recessão. Diante disso, Bailey defendeu o surpreendente aumento de 50 pontos-base na taxa básica: “Nosso trabalho é devolver a inflação à meta e faremos o que for necessário. Entendo as preocupações que acompanham isso, mas receio sempre dizer que é um resultado pior se não colocarmos a inflação de volta à meta”, disse.

Lagarde também enfatizou que uma pausa no aperto ainda nem está em discussão e antecipou uma provável elevação adicional dos juros em julho, mas ponderou que a decisão de setembro ainda está em aberto. Powell, por sua vez, reforçou que a maior parte do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) espera mais altas na taxa dos Fed Funds, potencialmente mais duas este ano, e não descartou elevações em reuniões consecutivas.

O saldo final das declarações foi uma busca generalizada pelo dólar no mercado internacional, não só pelos prospectos de aperto do Fed, mas também pelo risco de deterioração da atividade global. O índice DXY, que mede a moeda americana ante seis rivais fortes, fechou em alta de 0,40%, a 102,905 pontos, com libra em baixa a US$ 1,2635 no fim da tarde. “Continuamos a pensar que o dólar (e o iene) vai subir na segunda metade do ano, à medida que a tão esperada recessão finalmente se instala e o sentimento de risco piora”, prevê a Capital Economics.

Os riscos à atividade também ampliaram a demanda por bônus de dívidas de países desenvolvidos, com consequente queda dos rendimentos. No caso dos Treasuries, perto do fechamento da Bolsa de Nova York, o retorno da T-note de 2 anos caía a 4,707%, da T-note de 10 anos baixava 3,709% e o do T-bond de 30 anos recuava a 3,805%. Segundo o BMO Capital Markets, os comentários de Powell foram insuficientes para sustentar o impulso aos retornos dos títulos americanos.

Os ecos de cautela se espalharam ainda por Nova York e abortaram a tentativa de recuperação observada no início da tarde. No final, o índice Dow Jones caiu 0,22%, a 33.852,66 pontos e o S&P 500 perdeu 0,04%, a 4.376,86 pontos. O setor de tecnologia, no entanto, demonstrou resistência maior, com Nasdaq em alta de 0,27%, aos 13.591,75 pontos. Em entrevista à Dow Jones Newswires, o estrategista Gennadiy Goldberg, do TD Securities, vê sinais de que o mercado finalmente está percebendo que “o Fed está tentando manter as taxas mais altas por um longo período de tempo”.

Apesar disso, o petróleo encontrou espaço para reverter as perdas de ontem e saltou mais de 2%. O movimento reflete principalmente a queda de mais de 9 milhões nos estoques da commodity nos EUA, indicada pelo relatório do Departamento de Energia (DoE). Assim, o WTI mais líquido negociado em Nova York fechou em alta de 2,75%, a US$ 69,56, e o Brent em Londres avançou 2,39%, a US$ 74,24. (André Marinho – [email protected])

CÂMBIO

O dólar à vista avançou 1,02% em relação ao real nesta quarta-feira, 28, quando encerrou a sessão cotado em R$ 4,8478. O movimento acompanhou a valorização global da moeda americana, em meio a incertezas sobre o aperto monetário nas economias desenvolvidas. Profissionais também atribuem o desempenho da divisa brasileira a uma realização dos lucros acumulados nos últimos pregões e à sazonalidade de fim de trimestre e semestre.

A combinação de fatores externos e domésticos levou a divisa brasileira a encerrar o dia com uma das piores performances em uma cesta de 25 moedas emergentes. O dólar sustentou alta ante o real durante toda a sessão, entre a mínima de R$ 4,8132 (+0,30%) – atingida ainda no primeiro minuto dos negócios – e a máxima de R$ 4,8716 (+1,52%). O contrato de dólar futuro para junho movimentou US$ 15 bilhões no dia.

No cenário doméstico, a avaliação de profissionais de mercado é que um movimento de realização de lucros pesou sobre o mercado de câmbio duas sessões após a moeda americana ter encerrado a segunda-feira, 26, cotada em R$ 4,7672 – o menor nível do ano. Dias antes do fechamento do semestre, a compra de dólares por empresas, de olho em remessas de dividendos para matrizes estrangeiras, também puxou as perdas do real.

“Existe uma realização, porque o dólar ficou muitos dias abaixo de R$ 4,80 e chegou a essa mínima. Eventualmente, aparecem os compradores”, afirma o chefe da Tesouraria do Travelex Bank, Marcos Weigt. “As outras moedas já realizaram, com exceção do peso mexicano, e, como temos um fechamento de semestre, isso acaba influenciando nas compras de empresas para remessa de dividendos.”

A alta global da moeda americana também serviu como combustível para o seu desempenho em relação ao real. Em meio à percepção de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Banco Central Europeu (BCE) e Banco da Inglaterra (BoE) podem avançar mais no aumento de juros, o índice DXY – que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes – avançava 0,49% no fechamento do mercado doméstico.

Os temores com os próximos passos da política monetária foram desencadeados por declarações de dirigentes do Fed, BoE e BCE em fórum da autoridade monetária europeia em Sintra, Portugal. O consenso entre os presidentes dos BCs Jerome Powell, Andrew Bailey e Christine Lagarde foi de que novos aumentos de juros serão necessários para controlar a inflação, embora eles não tenham previsto recessão nas economias.

Como resultado, a ferramenta de monitoramento do CME Group passou a apontar 81,4% de chance de um aumento de 25 pontos-base da taxa dos Fed Funds na próxima reunião do BC americano, ante 76,9% na véspera. Apesar de altas acima de 2% nos preços do petróleo, o desempenho do real e de pares exportadores de commodities também acabou limitado na sessão por quedas da soja (-2,26%) e milho (-4,32%) na Bolsa de Chicago.

No noticiário doméstico, a informação apurada pelo Broadcast de que o governo planeja ampliar de R$ 500 milhões para R$ 800 milhões o crédito para financiar descontos no valor de carros ampliou a incerteza em torno do futuro do arcabouço fiscal. Mas os agentes permaneceram em compasso de espera pela decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) sobre a meta de inflação nesta quinta-feira, 29.

“O dólar acabou atingindo um ponto de realização enquanto ainda estamos vendo o arcabouço meio enroscado no Congresso, e a precificação disso acaba entrando efetivamente na conta do estrangeiro sobre o Brasil”, afirma o economista-chefe da Frente Corretora, Fabrizio Velloni, que vê o dólar no fechamento desta sessão mais próximo do seu “valor justo”, em torno de R$ 4,80.

Para Weigt, do Travelex Bank, ainda há uma tendência de médio prazo de valorização do real e do peso mexicano em relação ao dólar, que, aqui, dependerá da decisão do CMN. “O CMN é o ponto mais importante desta semana: se não mudarem a meta, fica tudo tranquilo, as projeções do Focus para o IPCA devem cair, tudo acalma e o dólar volta a cair”, afirma o profissional. (Cícero Cotrim – [email protected])

18:02

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.84780 1.0232 4.87160 4.81320

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL 4855.000 0.82027 4871.500 4813.000

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4880.000 0.98293 4893.000 4837.500